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Artigo adicionado em 09/02/2005, às 01:40

BIG BROTHER BRASIL: uma visão nerd
Srta.Ni e as incríveis aventuras de 12 homo não sapiens trancafiados na mesma jaula Reality shows? Nada contra. Acompanho os criativos reality shows da TV a cabo, vez por outra. Fã, mesmo, sou apenas do Queer Eye for the Straight Guy. Eu vi O Aprendiz. Com ele, aprendi coisas razoavelmente úteis para enfrentar o mercado […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Reality shows? Nada contra. Acompanho os criativos reality shows da TV a cabo, vez por outra. Fã, mesmo, sou apenas do Queer Eye for the Straight Guy. Eu vi O Aprendiz. Com ele, aprendi coisas razoavelmente úteis para enfrentar o mercado de trabalho, e morri de rir do Roberto Justus. Eu vi No Limite. No começo, achei interessante ver pessoas comuns sendo submetidas a provas esdrúxulas, e podendo eliminar participantes no decorrer do show. No quarto ou quinto episódio, eu cansei, e parei de ver. O causo é que não tenho paciência para acompanhar as estripulias de pessoas sem graça, seja na TV, seja no rádio, seja na vida real. Se pessoas conhecidas, ao vivo, às vezes conseguem despertar em mim o sentimento de “Céus, você é tão deprimente que eu seria capaz de me atirar no Titicaca só por pena de você”, podem imaginar o show de horrores que é, para mim, assistir a pessoas deprimentes sendo filmadas na televisão. Não são atores interpretando, não são pessoas com algo interessante para me contar. São pessoas deprimentes aparecendo na televisão, e invadindo minha casa toda noite. Sim, isso tudo foi para dizer que eu resolvi assistir a Big Brother Brasil.

Quem leu esse parágrafo marcado de mágoa e ódio latente, não precisa se assustar tanto assim. Vou respirar fundo, libertar meu coração do ódio, para não ser tragada pelo Lado Negro da Força, e confessar: eu achava que Big Brother era pior. Passou a primeira edição, a segunda, a terceira e a quarta edição desse programa, e eu falando mal, sem nem ao menos ter acompanhado dois programas seguidos – maldita atitude típica de abomináveis pseudointelectuais das neves. Ok. Dessa vez, me redimi, e me propus: sim, vou assistir ao quinto Big Brother. Mas não é que eu acabei mudando meu conceito em relação aos tais… “brothers”? Por isso, não tenho mais vontade de pegar todos os espectadores do programa, trancafiá-los na casa e botar fogo em tudo. Agora tenho vontade de pegar todos os espectadores, trancafiá-los na casa, e rir, rir muito deles.

Mas todo meu esforço não foi em vão. Vou compartilhar com vocês esse meu processo de integração ao mundo normal – para poder entender o que é que as pessoas ao meu redor querem dizer com “Ontem fulano foi para o paredão!” (E, depois dessa, vou cobrar d’A ARCA um adicional de insalubridade ^_^). Pronto para aprender algo sobre o mundo real e as pessoas que o habitam? Então… Welcome to the real world.

– Então, percebi que os componentes do Big Brother não são assim tão absurdamente estúpidos como eu imaginava, na época em que a única coisa que reparava neles era sua incrível obsessão por andarem pelados pela casa. Mas se eles tivessem umas conversas mais legais, facilitariam as coisas. Sei lá, falar de filmes de ficção científica, por exemplo. Ou começar uma discussão sobre qual Batman foi melhor retratado no cinema… Ou… Bem, acho que fui clara nesse ponto.

– Chega a ser humilhante a diferença entre os frufrus escolhidos a dedo pela Globo e os sorteados, não? As moçoilas são todas… Como diria o Zarko? Tetéias. E os rapazolas também, com seus músculos e seu corpitcho malhado. Sem dúvida, a seleção da Globo é: “pode posar nu em uma revista quando sair do programa? Tá dentro”. E então, chegam as sorteadas Aline e Marielza, que não foram escolhidos por esse processo, e, cá entre nós, não seguem os padrões de beleza ditados pelos gostosões da tevê.

– E isso retoma a frase “incrível obsessão por andarem pelados pela casa”. Parte do contrato para os novos participantes de Big Brother certamente é andar com o mínimo de roupas possíveis. O lema é: estou em rede nacional, preciso mostrar o que tenho. Já que corpo bom é quase só o que a maioria de lá tem, é isso que resta para os espectadores: mulheres e homens com roupas mínimas, fingindo que aquela pose sexy ao lado da piscina é algo totalmente natural.

– Falando nisso, a cada dia que passa, tenho mais vergonha das mulheres desse mundo. Estar na televisão, mostrando cada centímetro do corpo, e ficar provocando os homens lá da casa, com cara de “Nossa, como sou indefesa e não uso roupas” é o ó do borogodó. Se não bastasse isso, as briguinhas entre elas são realmente de deprimir qualquer um. “Eu tenho celulite”. “É, mas fulano ficou secando você”. “Ai, você ficou com inveja?” – diálogos assim são praticamente uma peça do Shakespeare.

– Daí que eu me familiarizei com os participantes. No momento em que estou escrevendo isso aqui, tem o Sammy, que é praticamente o sonho de consumo de garotas que sonham com o mocinho perfeito, engraçado e bonzinho. Tem o Jean, repleto de filosofias tiradas de biscoito da sorte chinês. Tem a Karla, também conhecida como Maria vai com as Outras dos infernos. Tem a Pinky, que parece (ou finge muito bem) que tem um estilo interessante, e – anotem o que digo – vai ditar a moda de polainas nesse inverno. Tem a apresentadora Natália, que é tipo uma Mara Maravilha do Mundo Bizarro. Tem o Alan e o PA, que são praticamente a mesma coisa que o Rogério, que já saiu da casa. Tem a Aline, que ainda não teve tempo de inventar uma personalidade para ela. Tem a Grazi, que foi miss-qualquer-coisa, gosta de exibir seus “dotes de miss”, não é lá muito inteligente, mas é simpática e não é tão repulsiva quanto aquela tal de Tatiana, que é pior do que a “Laura cachorrona” da novela. Com a diferença de que ela não é uma personagem de novela.

– Se você acha que apenas a descrição deles foi suficiente para te encher de desesperança perante o futuro da humanidade, não leia esse parágrafo. Pois, desde meus tempos de aluna da quinta série, não me deparo com intriguinhas tão profundas. Acontece que a turminha acabou se dividindo em dois grupos: Sammy, Jean, Pinky e Grazi, que apelam para o lado mais sentimental da coisa toda, e aparentemente têm um grau menor de futilidade, versus todo o resto, em especial a tal de Tati, e seus seguidores. O pior nem é ver que eles se dividiram e ficam trocando farpas a todo instante. O pior é ver as intrigas que eles criam, falando “Ah, mas você vai para o lado de lá, para o lado deles. Você vai para o grupinho deles!”, ou “Eles estão com sede de vingança!”. Me sinto de volta aos meus doze anos. E, o horror: essas atitudes são tomadas por seres entre seus 20 e 30 anos de idade.

– Dos dois grupinhos, um arma altas estratégias para poder abocanhar o milhão (o milhão de reais, quero dizer), fazendo coisas que as menininhas de doze anos adoravam fazer com o grupinho das outras meninas – como, por exemplo, mandar a mais boba ir espiar, fingindo ser amiga das outras, e depois voltar, contando tudo o que as “inimigas” falaram de mal. Eu respiro fundo, e finjo que pessoas normais não fazem isso na vida real, para manter meu grau de otimismo. Já a outra turminha fala que não está lá para jogar. Falsidade por falsidade, acabei simpatizando com o zen Jean e sua turma. E olha que não sou a única: o Rogério foi expulso da casa com 92% dos votos. Fico feliz que o público esteja gostando mais dos menos deprimentes. Mas faço de conta que isso não é totalmente culpa da parcialidade da Globo, que em tudo que é canto faz questão de mostrar quem são os “vilões da história”.

– Agora, mais pavoroso que isso tudo junto é acessar o site oficial do Big Brother, e ver o boletim, de minuto em minuto, que conta o que é que os BBBs estão fazendo agora. Dê uma olhada nesses trechos: “16:40 – Natália alisa cabelo com bobes: Natália alisa seus cabelos. A VJ estica os fios e os enrola com bobes no Quarto Zen”. “09:52 – PA vai ao banheiro mas dorme de novo: Em meio à paz total, PA se levanta, vai até o reservado e lava as mãos na pia do banheiro. Em seguida, ele volta a se deitar”. E eu me pergunto: Existe gente que acessa esse site diariamente e lê isso? Então, começo a cantarolar A Cavalgada das Valquírias, para que a resposta não venha me assombrar.

– Tá, então pode ser um programa cheio de “emoção”, “intriga”, “comédia”, e você pode se divertir a valer com as aventuras dessa turma da pesada. Até eu me peguei torcendo para que o Sammy vencesse naquele paredão, verdade. Mas não penso um nanossegundo se for para escolher entre assistir Big Brother ou ver um DVD, ou ir a uma pizzada com amigos, ou jogar RPG. E olhe que eu nem gosto tanto assim de amigos. Opa, quer dizer… de RPG.

– E não é a primeira vez que ouço e me assusto com minha vizinhança gritando e comemorando vitórias em paredões, escolhas de líderes e finais de Big Brother. Isso também pode ser conhecido como “falta de vida para cuidar”.

– Ainda não captei como o Big Brother pode estar tendo uma vida tão longa. Tudo bem, compreenderia se as pessoas conseguissem assistir a um mês do reality show. E só. Mas ele já está na quinta edição! E ninguém desiste – a audiência, pelo que sei, ainda aumenta. Será que os 31 milhões de pessoas que votaram no último paredão não percebem que passar meses na frente da televisão, vendo pessoas sem fazer nada dentro de uma casa não é uma coisa muito… Ahm… Divertida?

– O El Cid até tenta, mas acho que ele não consegue entrar no Big Brother para representar os nerds por lá. E isso porque existem fortes concorrentes às próximas edições (se é que, misericórdia, elas vão existir): toda essa safra de adolescentes que têm fotologs muito interessantes, em que mostram seu corpo sarado, sua cara de mau, e seus, com o perdão da palavra, “MIGUXOS na balada”. E digo isso sem medo de represálias, porque imagino que os fiéis leitores d’A ARCA não costumem fazer isso.

– Uma coisa que incomoda? As pessoas acharem que, só porque fulano esteve na tevê, é alguém importante. Pedir autógrafo de ex-BBB? Ora, vamos! Você vai falar o que para o seu neto? “Meu filho, esse aqui é o autógrafo de um cara que ficou dois meses trancafiado dentro de uma casa, sem fazer nada”.

– Façamos as contas: foram 5 edições de Big Brother. Com uma média de 14 participantes cada um. O que dá um total de 70 ex-BBBs perdidos pelo mundo. Eles já fizeram ensaios sensuais, já participaram de inúmeros programas, já tiveram CDs lançados em sua homenagem… E só. Acabou a fama, porque eles não têm muito mais o que contribuir para a sociedade. E a Marielza (a mulher que saiu porque teve um derrame, ou algo parecido) ainda disse que vai escrever um livro sobre sua experiência no BBB. Céus, do que será que ela vai falar?

– Reparei que os ilustres BBBs não têm assunto entre si. É bem adequado o clima pesado que fica quando o Pedro Bial diz “Vamos dar uma espiadinha”. Aliás, o apresentador parece mais entediado que uma tarde de domingo. Acho que ele não agüenta mais uma edição, o pobre coitado.

– Sim, falei mal. E poderia falar mais. Mas, depois de assistir uns programas, não tenho mais ímpetos assassinos em relação aos fãs dele. E, diacho, aquela festa da Alice no País das Maravilhas teve a decoração mais perfeita que já vi!

– E a lição de hoje foi: não preciso ligar a televisão para ver pessoas desconhecidas se degladiando (ou, como preferir, pessoas únicas e interessantes a seu modo). Basta dar uma volta no quarteirão e escutar a conversa dos outros. É mais divertido. E depois vocês me avisam quem saiu no próximo paredão.


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