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Em alguns casos, as evidências são claras. Só de você olhar um cartaz, ler uma sinopse resumida, assistir um trailer ou até mesmo tomar conhecimento do nome do diretor, do roteirista e dos atores envolvidos em uma produção, já é possível identificar se o trabalho será bom ou ruim. Atualmente, o exemplar mais notório é, sem dúvida, o tal do Quarteto Fantástico idealizado pela tentativa de cineasta Tim Story. Ah, pelo amor de Deus, o cara dirigiu Táxi! E se nem um nome decente o cara tem (Tim Story, pra mim, é nome de filme da Pixar), será que alguém ainda acredita que ele tenha a capacidade de realizar um bom trabalho com a equipe do Sr. Fantástico? Bem, como estava dizendo, alguns trabalhos conseguem se transformar em tragédias anunciadas desde o início de sua produção – o que parecia ser o caso deste Ladrão de Diamantes (After The Sunset, 2004), novo longa comandado pelo competente diretor Brett Ratner (A Hora do Rush, Dragão Vermelho).
Vou explicar: este trabalho deu todos os indícios de que seria, no mínimo, um filmeco para se assistir na TV aberta quando não tivesse mais nada de importante a se fazer. Os elementos: uma sinopse envolvendo um tema bem batido (no caso, um roubo de diamantes); Pierce Brosnan fazendo um papel que não é James Bond, mas tem todas as características de James Bond (aliás, papel este que lembra muito Thomas Crown, a Arte do Crime, também com Brosnan); a totosona Salma Hayek no principal papel feminino – ok, eu sei, ela é linda e fez um bom trabalho em Frida, mas no geral ela é bem canastra; um cartaz americano bem bisonho (eu olhei aquilo e pensei: “Ué, novo filme do Robert Rodriguez? Cadê o Sin City?”), e um cartaz brazuca mais torto ainda; e por último, um trailer que agradou menos que o conjunto da obra já citado. Afinal, o que se vê no negócio é um monte de cenas bem ao estilo Missão Impossível e Onze Homens e um Segredo, com um zézinho descendo do teto com aquelas roupinhas coladas e roubando um bagulho hiper-ultra-mega-seguro. Mas as aparências enganam, às vezes.
Pois bem: encarei a sessão e, na saída, fui obrigado a concordar: mais uma vez, torta na cara! Mais ou menos como em Entrando Numa Fria Maior Ainda, só que ao inverso. Enquanto a fita do Ben Stiller tinha tudo pra ser um filmão e acabou decepcionando bastante, Ladrão de Diamantes se mostrou uma ótima surpresa, daquelas que você assiste e sai do cinema de alma lavada. E o melhor de tudo: ela parece clichê, mas até que não é muito não. Tudo bem, aqui temos um roubo de algum artefato guardado a sete chaves e depois, a fuga dos ladrões para um paraíso tropical. Mas geralmente os longas-metragens com esta temática costumar terminar assim, enquanto que este filme começa deste jeito.
Bem, a trama é mais ou menos assim: Max Burdett (Brosnan), apelidado de “O Rei dos Álibis”, e sua parceira de crimes e namorada Lola Cirillo (Hayek) acabam de concluir mais um plano: o roubo do segundo dos três diamantes de Napoleão. Segundo a lenda, as três pedras enfeitavam o escaravelho da espada de Napoleão, e foram retiradas da espada quando o imperador partiu para seu exílio – e cada um dos diamantes estariam avaliados em aproximadamente mais de 80 milhões de dólares. Enfim, Max e Lola encerram mais um plano bem-sucedido, para o desespero do atrapalhado agente do FBI Stan Lloyd (o hilário Woody Harrelson, talvez o ponto alto da película) – que parece ser o único que realmente sabe com quem a polícia está lidando, já que persegue e tenta prender Max (sem sucesso) há anos.
Depois deste segundo assalto, Max e Lola decidem pendurar as chuteiras e curtir a “aposentadoria” numa paradisíaca ilha no Caribe. O que era pra ser somente “um merecido descanso”, toma outros rumos quando o casal percebe estar sendo seguido pelo agente do FBI, doente por vingança. Stan está convicto de que Max e Lola não tiraram férias naquele lugar por acaso, e tem um motivo nobre para isso: a Ilha Paraíso receberá a visita de um transatlântico, cuja atração principal é a exposição do… Já adivinhou? É isso mesmo: o terceiro diamante de Napoleão, o único que falta na coleção de Max. Seria uma grande coincidência? Ou a tal “aposentadoria” é só fachada para que Max possa tranqüilamente passar a mão na pedrinha sem que ninguém apareça para torrar seu saco?
De qualquer forma, Stan, mesmo sem jurisdição, decidiu que desta vez não deixará barato. Porém, Max, que não é burro nem nada, rapidamente se torna “amigo” do detetive (!), de modo a talvez despistá-lo. Mas… afinal, Max desistiu ou não de roubar? Onde entra Lola nesta história? Ela quer mesmo largar a vida de crimes ou está somente blefando? Stan age por justiça, vingança pessoal ou interesses próprios? E a bela policial local, Sophie (Naomie Harris), pode estar envolvida? E qual será o grau de ligação de Max com o perigoso Henri Mooré (o sempre ótimo Don Cheadle), o bandidão mais temido da ilha?
Claro que todas estas perguntas serão respondidas muito rapidamente – e de qualquer jeito, até lá todo mundo já adivinhou o que vai acontecer. Aliás, os rumos da história são muito fáceis de se descobrir. Talvez estes sejam os únicos pontos negativos a se destacar. O que importa, mesmo, é que a fita é muito bacana! Os diálogos são bons, as atuações são muito descompromissadas (principalmente a de Woody Harrelson, que mostra estar se divertindo a valer no papel), e o público se diverte às pampas durante a projeção. Sim, não há nada que faça a platéia exclamar: “Minha nossa, que excelente longa-metragem! Sem dúvida, ficará marcado para sempre nos anais da indústria cinematográfica”. É só um bom filme, divertido, engraçado, gostoso de ver. Altamente recomendado, sim, mas a nível de diversão rasteira, de passatempo fast-food. Se é o que você procura, Ladrão de Diamantes é um trabalho de alta qualidade, perfeito dentro desta proposta. Nada mal para um projetinho feito sem muitas pretensões. E nada mal pra mim que, como já disse, esperava mais um filmeco… Tá bom, admito! Sou um pusta dum velho ranzinza, às vezes! Eu sou chato e deveria ser mais calminho! Estou tentando, tá? 😀
Ah, esqueci de dizer: a Salma Hayek… ai, ai, ai… 🙂
:: ALGUMAS CURIOSIDADES
– Apesar de parecer que foi tudo uma beleza, os atores enfrentaram um pequeno problema durante as filmagens de Ladrão de Diamantes: o frio. Em algumas cenas de praia, inclusive, é possível notar até a fumacinha da respiração dos atores. E eu fiquei esperando pra ver se a Salma Hayek também estava com frio…! Desculpem, meninas que lêem A ARCA, geralmente não sou machista e sei que a piadinha foi infame, mas precisava soltar esta! 😛
– Assim como aconteceu com O Aviador, de Martin Scorsese (cujo material promocional precisou ser substituído por conter um erro na grafia do nome de uma atriz), a divulgação de Ladrão de Diamantes custou um pouco mais além da conta devido a um erro. A rede americana de cinemas AMC firmou uma parceria com a New Line para divulgar o filme em suas salas, com pacotes gigantes de pipoca personalizados com imagens dos personagens. O problema: O nome de Salma Hayek foi escrito “Hayak”. O erro foi corrigido, mas fico imaginando o que devem ter feito com trocentos saquinhos gigantes de pipoca…
– A fantástica casa de praia do Casal Max e Lola nas Bahamas é, na verdade, uma sede de salva-vidas e fica na praia de Sycamore Cove, ao norte de Malibu, na Califórnia.
– Esta o Benício vai adorar: Na cena em que estão pescando tubarões, os personagens de Pierce Brosnan e Woody Harrelson cantam uma musiquinha. É, na verdade, a mesma canção que os trêbados Quint, Matt e Brodie cantam em Tubarão! Show me the way to go home…
– O personagem Luc, barman camarada de Max, é interpretado por Troy Garity, filho de Jane Fonda e considerado uma das grandes promessas do cinema neste ano, depois de faturar vários prêmios com seu papel no drama para a TV Soldier’s Girl. Outro ator que aparece, mesmo rapidamente, em Ladrão de Diamantes é Chris Penn, irmão de Sean Penn e ator de fitas como Cães de Aluguel.
– Em dado momento do filme, é possível ouvir Maria Rita, a filha de Elis Regina (mas isso ninguém sabe!), cantando o clássico Agora Só Falta Você, originalmente interpretado por Rita Lee.
LADRÃO DE DIAMANTES (After The Sunset) :: EUA :: 2004
direção de Brett Ratner :: roteiro de Craig Rosenberg e Paul Zbyszewski :: com Pierce Brosnan, Salma Hayek, Woody Harrelson, Don Cheadle, Naomie Harris, Chris Penn, Mykelti Williamson, Troy Garity :: distribuição New Line Cinema/PlayArte :: 100 minutos.
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