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CONFIRA AINDA:
:: Crítica: A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton
:: Vídeos: confira aqui, aqui e aqui
:: E mais: – os websites bizarros do filme!
A esta altura, você já deve ter ido ao cinema e assistido à mais nova invenção maluca do Tim Burton: a refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolates. Ah, ainda não viu? Então você já leu o livro com a história original, certamente. Também não? Tudo bem, a gente te perdoa. Mas aposto que você já sabe de toda a história do filme. Lembra com uma certa nostalgia de um menininho loirinho, uns baixinhos verdes cantores, e sente calafrios quando ouve falar no nome Willy Wonka (ok, talvez essa última parte só se aplique a mim). Estamos falando da primeira versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, feita em 1971 e dirigida por Mel Stuart (que não fez mais nenhum sucesso desde então, continuando sua carreira como cineasta na televisão). Que tal aproveitar a estréia de sua versão “reloaded” e relembrar desse clássico senhor das Sessões da Tarde, que fez várias crianças dos anos 70 terem vontade de encontrar um cupom dourado em todas as barras de chocolate que abrem? Vamos lá, então? Temos tanto tempo e tão pouco para fazer. Um minutinho…mexa isso, inverta!
Charlie (Peter Ostrum) é um menino pobre, que sustenta praticamente sozinho a sua família – composta por uma mãe e quatro avós que não se levantam há 20 anos, passando todo o tempo deitados em uma cama. Um dia, uma grande novidade é anunciada: Willy Wonka (Gene Wilder), dono da famosa e misteriosa fábrica de doces Wonka, vai fornecer um suprimento vitalício de chocolate e abrir sua fábrica para os cinco felizardos que encontrarem um cupom dourado dentro de uma das barras de chocolate de sua marca, vendida por todo o mundo. Wonka é um cara um tanto quanto excêntrico (e, de longe, o mais legal do filme), que, um dia, revoltado com a visitação constante e espionagem dos seus segredos industriais, tinha fechado todo o seu império, impedindo que as pessoas adentrassem seus “doces domínios” (fala a verdade, essa ficou bonita!). Todos os continentes entram em polvorosa, todo mundo querendo encontrar o tal chocolate premiado, pessoas comprando estoques, ricaços participando de leilões de caixas, seqüestradores cobrando resgate em barras Wonka, e tudo o mais.
Enfim, os cinco vencedores aparecem. São eles: Veruca Salt (Julie Dawn Cole), Violet Beauregarde (Denise Nickerson), Mike Tevê (Paris Themmen), Augustus Comilão (Michael Bollner) e… o próprio Charlie mencionado acima, é claro (antes que alguém reclame, esses nomes variam de dublagem para dublagem, e são diferentes no livro e no inglês original). Os cinco são crianças, e recebem o cupom dourado, que traz a seguinte inscrição: “CUPOM DOURADO WONKA. Saudações a você, o sortudo ganhador desse Cupom Dourado do senhor Willy Wonka. Apresente esse cupom nos portões da fábrica às dez da manhã do primeiro dia de outubro, e não chegue atrasado. Você pode trazer com você um membro de sua família… E apenas um… Mais ninguém. Nem em seus sonhos mais loucos você não poderia imaginar as maravilhosas SURPRESAS que esperam por VOCÊ”.
Dia primeiro de outubro, a criançada vencedora e mais uma multidão de curiosos se posta à frente da fábrica, todos ansiosos para verem ao menos de relance a figuraça que é o Willy Wonka. E, para felicidade de todos, ele aparece. É então que Wonka abre a porta de sua fantástica fábrica para os vencedores e seus respectivos acompanhantes, e a bizarrice começa. Sim, bizarrice, porque durante todo o percurso, o dono da fábrica se mostra cada vez mais sinistro, falando só frases de efeito, e mostrando seus segredos absurdos: cômodos estranhos, geringonças esquisitas e um monte de piadas nonsense e literais, no melhor estilo Alice no País das Maravilhas, tudo isso no “Mundo da pura imaginação” de Willy Wonka. Mas o mais sinistro ainda está por vir: Wonka avisa para que ninguém toque no que não for convidado a tocar, e que siga suas instruções à risca. Mas a turminha que o segue não é composta pelo que possamos chamar de “crianças modelo”. Veruca é mimada até não poder mais, e grita “Eu quero um desse!” para tudo o que vê. Violet é viciada em chicletes, e não pára de mascar e fazer bolas em público. Mike é viciado em televisão. E Augustus é guloso. Charlie é o mais bonzinho do quinteto, e consegue passar mais da metade do filme olhando para tudo, com a boca aberta.
O que se sucede é que cada uma dessas crianças vai se metendo em situações que acabam em desastre. Por exemplo: Augustus, o primeiro a sumir do mapa, se empolga quando vai beber um pouco do rio de chocolate da fábrica, acaba caindo lá dentro e indo parar no cano… que leva para a sala de suspiros. Então, seres verdes aparecem, cantando, e somem com o garoto e seu parente que o acompanha. Só lembrando: Oompa Loompas são criaturas baixinhas, da terra dos Loompas, um lugar desolado e cheio de feras, que ameaçam seus indefesos habitantes. Por isso, Wonka “adotou” alguns e colocou-os como seus funcionários. Por essas e outras é que acho que o Tim Burton não teve muitos problemas com o roteiro desse filme. E mesmo que ele tenha feito algumas mudanças (e com certeza fez), uma “tolicinha” aqui e ali pode ser feita pelos mais sábios.
No final, sobram Charlie e seu avô (Jack Albertson), que também tinham cometido um deslize, e, por isso, também não caem nas graças do seo Wonka (apesar de não terem sofrido algum acidente bizarro, como o ocorrido com seus companheiros). Por isso, o excêntrico cidadão fica irritado de vez, e desiste de fornecer o almejado suprimento vitalício de chocolates para Charlie, o único sobrevivente da excursão. O que acontece depois? Ora, todo mundo sabe. E se você não sabe, não serei eu que vou contar. Desculpe, perguntas somente no fim da sessão. Devemos insistir.
“A Fantástica Fábrica de Chocolates” de 1971 é, também, um musical fajuto. É musical porque tem seis músicas cantadas pelos personagens no decorrer do filme. E é fajuto porque são só SEIS músicas, que não têm toda aquela pompa digna de musicais. Mas, enfim, eles cantam. E a música dos Oompa Loompas (também conhecidos como Lumpa Lumpas) é a mais lembrada. Para mim, Willy Wonka é a estrela desse filme, de longe. Sem ele, nada seria assim tão perfeito. Suas frases – uma mistura de Mestre dos Magos e País das Maravilhas – são impecáveis, e dão medo. E aquele túnel bizarro, que mostra uma galinha sendo degolada, seguida pelas frases assustadoras ditas pelo senhor Wonka, quase me fazem me esconder debaixo do sofá. É estranho, mas divertido. E o método educacional de Willy Wonka e de seus Loompas deveria ser lançado em um livro igual ao daquele Doutor Delamare. Já pensou? “Se seu filho não pára de mascar chiclete, é só enchê-lo de suco de tomate, até ele inchar, virar uma amora e quase explodir – literalmente. Depois, role-o até a cozinha, e o esprema”. =D
Estranhamente, “Fantástica Fábrica” não fez taaaaaanto sucesso assim na época do seu lançamento, mas, com o tempo, virou um símbolo cult. Talvez porque a criançada em si não veja tanta graça nesse filme, e, como acontece com todos os filmes de criança que só os adultos gostam, ele ganhou o singelo nome de “cult”. E assim brilha uma boa ação em um mundo gasto.
:: CURIOSIDADES
– O filme é lotado de diálogos com referências. Só para citar alguns exemplos: o lateiro (seja lá o que for isso – é assim que o cara é chamado na dublagem da Herbert Richers) que fala com Charlie na frente da fábrica de Wonka pela primeira vez, na verdade está citando um poema de William Allingham. Willy Wonka fala praticamente só usando referências (e isso me fez ficar ainda mais apaixonada por ele). Na versão legendada, quando Wonka diz “Is it my soul that calls me by my name” – é uma referência a Romeu e Julieta, de Shakespeare. Outra fala sua: “We are the music makers and We are the dreamers of dreams” é um trecho de uma canção de Arthur Shaungenssy. “Where is fancy bred In the heart or in the head” é de outro livro de Shakespeare, O Mercador de Veneza. “All I ask is a tall ship and a star to sail her by” é de um poema de John Masefield. “The suspense is terrible, I hope it lasts” é da peça A Importância de ser Prudente, de Oscar Wilde. E ainda tem mais, muito mais.
– Roald Dahl, o autor do livro original, tinha feito o roteiro do filme praticamente idêntico ao seu livro. Mas outro roteirista, David Seltzer, o reescreveu, alterando praticamente metade dele. Aliás, foi ele o felizardo responsável por fazer com que quase todas as falas de Wonka sejam referências. Nerd que é nerd não consegue negar. Talvez por isso, Roald Dahl não tenha gostado do filme.
– Nas primeiras versões do livro, os Oompa Loompas são descritos como uma tribo de pequenos pigmeus importados da África. Em outras edições, eles são “uns hippies brancos e baixinhos”. No filme de 1971, são anões verdes com uma aparência de biscoito. E nessa nova versão, são anões com roupas vermelhas e fones de ouvido. Já que ninguém nunca chegou a um consenso quanto a isso, declaro que eu sou um Oompa Loompa. Nunca, nunca se duvide daquilo de que ninguém tem certeza.
– Os atores que interpretaram os Oompa Loompas eram de diferentes países: além de norte-americanos, havia turcos, ingleses e alemães. O destino dos Oompa Loompas: quase todos já estão mortos hoje. Ângelo Muscat, que também trabalhou em Magic Mystery Tour, dos Beatles, confeccionava gaiolas, e morreu meses depois da estréia do filme. Rusty Goffe trabalhou com George Lucas, em Star Wars, como alguns dos seres baixinhos e pequenos andróides, e em Willow – Na Terra da Magia.
– “Fantástica Fábrica” foi indicado ao Oscar de melhor música, e Gene Wilder concorreu ao Globo de Ouro de melhor ator de comédia/musical.
– Existe uma banda de rock que se chama Veruca Salt.
– Fred Astaire era um dos indicados para interpretar Willy Wonka, mas não ganhou o papel por estar “velho demais”. Imagine o Wonka sapateando… Ia ser mágico.
– Uma cena que foi cortada do filme mostrava um homem escalando uma montanha para falar com um velho sábio. “Qual o sentido da vida?” – ele pergunta. O sábio responde: “Você tem uma barra Wonka?”. O homem lhe entrega uma barra. Quando o ancião abre a barra e não encontra o cupom dourado, diz: “A vida é uma decepção.” Parece que ninguém riu dessa cena, e um amigo do diretor explicou que “Ninguém riu, porque para muita gente, a vida é realmente uma decepção”. Agora, se isso é verdade ou não, eu não sei.
– O estranhão Marilyn Manson é fã da “Fantástica Fábrica”, e já usou uma frase do filme em uma de suas músicas. Além disso, a fonte do letreiro do filme original também foi utilizada em encartes, posteres e colantes do cantor.
– Julie Dawn Cole (a Veruca Salt), que tinha 13 anos na época, “gostava” de Peter Ostrum. E… Bem… É isso aí.
– Eu lamento acabar com todas as suas ilusões infantis, mas… Os Oompa Loompas foram dublados nas músicas.
– A foto do paraguaio que falsificou o cupom dourado, que aparece no jornal, é Martin Bormann, o último homem que teve contato com Hitler. A produção pensou em usar uma foto do próprio Hitler, mas acabou optando por colocar a foto de Bormann. Que, aliás, não fez muito sentido, já que o público não reconheceu o cidadão.
– Jack Albertson (o avô de Charlie no filme) já tinha contracenado com a esposa de Roald Dahl, Patricia Neal, no filme .
– Quem se lembra daquela seita Jim Jones, em que quase mil pessoas se suicidaram, tomando uma bebida letal? Pois adivinhem o filme que colocaram para a criançada assistir antes de beber a bebida…
:: POR ONDE ANDAM AS CRIANÇAS?
Como quase sempre acontece em casos como esses, quase todas as crianças não estão mais à ativa no show-business hoje em dia. Mas ainda recebem os louros por sua participação no filme de 71, vendendo fotos autografadas e participando de convenções sobre o filme.
:: PETER OSTRUM (Charlie)
Peter tinha 12 anos quando fez o bobo-alegre-mas-bonzinho Charlie. E esse foi seu único trabalho como ator. O menino chegou a receber propostas para participar de outros filmes, mas desistiu da carreira de ator. Acabou se formando como veterinário, em 1984, e hoje cuida dos animaizinhos e de seus dois filhos. Hoje ele mora em Glenfield (Nova York), e vive no anonimato, morrendo de vergonha de um dia ter sido o Charlie. Ultimamente está sendo mais lembrado, por causa da refilmagem, e participou dos extras da edição especial do DVD de “A Fantástica Fábrica”, junto às outras “crianças”.
:: DENISE NICKERSON (Violet)
Depois de “Fantástica Fábrica”, Denise tentou seguir carreira como atriz, e sua última aparição foi em 1978. Hoje, com 46 anos, ela é enfermeira e tem um filho.
:: JULIE DAWN COLE (Veruca Salt)
A moça agora mora na Inglaterra, e continua trabalhando como atriz, em “produções secundárias” (leia-se “filmes e séries inglesas que não conhecemos”).
:: PARIS THEMMEN (Mike Teevee)
Depois de tentar se manter fazendo pontas em filmes (nos quais nem apareceu nos créditos finais), e participando de peças teatrais, com 14 anos ele desistiu de atuar. Divide seu tempo entre viagens pelo mundo, produções e direção de comerciais para a TV. E, caso alguém queira saber, ele ficou careca.
:: MICHAEL BOULLNER (Augustus Gloop)
Assim como Peter Ostrum, o menino gordinho cresceu sem continuar sua carreira de ator. Hoje, o pobrezinho virou contador, e está com 47 anos.
E aqui, como fazemos o serviço completo, aqui estão as letras das canções entoadas pelos Oompa Loompas. Você nunca entendeu o que eles diziam? Então confira aqui a versão em inglês e a tradução da musiquinha viciante cantada pelos serezinhos verdes, e preste atenção na psicologia Wonka contida nelas. Note também como os Oompa Loompas são seres bondosos, que nos ensinam com muita gentileza o que devemos fazer para vivermos na felicidade, assim como eles:
:: Música para o Augustus (o menino comilão)
Oompa Loompa, doompadee doo
We have a perfect puzzle for you (Temos um enigma perfeito para você)
Oompa Loompa, doompadee dee
If you are wise you will listen me (Se você for esperto, vai me ouvir)
What do you get when you guzzle down sweets? (O que você ganha comendo muitos doces?)
Eating as much as an elephant eats? (Comendo tanto quanto um elefante?)
What are you at getting terribly fat? (E se você ficar terrivelmente gordo?)
What do you think will come of that? (O que acha que vai acontecer?)
I don’t like the look of it (Eu não quero nem ver.)
Oompa Loompa, doompadee doo
If you’re not greedy you will go far (Se você não for guloso, você vai longe)
You will live in happiness too (Você vai viver feliz também,)
Like the Oompa Loompa doompadee do (Como os Oompa Loompa Doompadeedoo)
:: Música para a Violet (a menina do chiclete)
Gum chewing’s fine when it’s once in a while (Mascar chiclete é legal, se for só de vez em quando)
It stops you from smoking and brightens your smile (Faz você parar de fumar e alegra seu sorriso)
But it’s repulsive, revolting, and wrong (Mas é repulsivo, revoltante e errado)
Chewing and chewing all day long (Mascar e mascar o dia inteiro)
The way that a cow does (Igual uma vaca faz)
Oompa Loompa doompadee dah
Given good manners you will go far (Tendo boas maneiras, você vai longe)
You will live in happiness too (Você vai viver feliz também,)
Like the Oompa Loompa doompadee do (Como os Oompa Loompa Doompadeedoo)
:: Música para a Veruca (a menina metida)
Who do you blame when your kid is a brat (Quem você culpa quando sua criança é malcriada)
Pampered and spoiled like a Siamese cat? (Mimada e estragada como um gato siamês?)
Blaming the kids is a lion of shame (Culpar a criança é uma vergonha)
You know exactly who’s to blame: (Você sabe exatamente quem deve culpar:)
The mother and the father! (A mãe e o pai!)
Oompa Loompa doompadee dah
If you’re not spoiled then you will go far (Se você não for estragado, você vai longe)
You will live in happiness too (Você vai viver feliz também,)
Like the Oompa Loompa doompadee do (Como os Oompa Loompa Doompadeedoo)
:: Música para o Mike (o menino viciado em TV)
What do you get from a glut of TV? (O que você ganha vendo muita televisão?)
A pain in the neck and an IQ of three (Uma dor no pescoço e um QI de três anos de idade)
Why don’t you try simply reading a book? (Por que você não tenta simplesmente ler um livro?)
Or could you just not bear to look? (Ou você não suporta nem olhar?)
You’ll get no
You’ll get no
You’ll get no
You’ll get no
You’ll get no commercials (Você não terá comerciais)
Agora, para terminar, essa é para os verdadeiros fãs: quantas falas tiradas do filme eu usei nessa matéria?
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