Deus cria os dinossauros. Deus destrói os dinossauros. Deus cria os homens. Os homens destróem Deus. Os homens criam os dinossauros. Os dinossauros destróem os homens. E as mulheres dominam a Terra. Para quem não captou, essa é uma citação tirada do primeiro filme O Parque dos Dinossauros. E eu, agora, completo: as mulheres destróem as mulheres. E os gays dominam a Terra.
Não sou uma defensora dos fracos e oprimidos, nem tenho vontade de ser madrinha de uma parada gay, mas foi aquele parágrafo acima que me passou pela cabeça assistindo a Queer Eye for the Straight Guy nesse último domingo. O que? Ainda não descobriu esse programa? Antes tarde do que nunca. No próximo domingo, salve o tédio desse dia, ligue na Sony às 20 horas e prepare-se para bons momentos de risadas – mas não esqueça da caderneta para anotar as preciosas dicas dadas pelo Fab Five.
O reality-show “Queer Eye for the Straight Guy” tem como missão resgatar das profundezas de sua deprimência algum homem heterossexual (quanto mais porco grosseirão, para eles, melhor), transformando o troglodita em um ser, por assim dizer, mais apresentável. Os responsáveis por isso são um decorador, um estilista, um expert em cultura, um especialista em beleza e um chef – todos gays e dispostos a “mudar o mundo”, que começaram essa mudança com homens dos mais desleixados encontrados por aí. Mas esqueça reality-shows como Extreme Makeover – a função desse quinteto tresloucado é muito maior que simplesmente mudar a aparência da vítima. A missão do programa é muito maior do que uma mudancinha temporária. Em um dos últimos episódios exibidos, o participante do programa sofria de depressão e ia se submeter à transformação para marcar uma transição na sua vida. Então, ele não ganhou apenas uma aula de culinária, e sim um curso completo de culinária, em que, além de aprender a cozinhar, também faria novas amizades. Isso é que é classe.
:: MISSÃO: UM OLHAR “DIFERENTE” PARA O CARA HETERO
Para participar da mudança radical proposta pelos cinco fabulosos, o sujeito tem mesmo que ser um projeto de gente mal vestida e mal educada, mas – mais importante que isso – ele tem que estar prestes a passar por algum motivo importante, alguma virada na vida. Seja uma festa ou passeio marcando o fim de uma depressão, ou pedindo a amada em casamento, ou reunindo a família novamente… Os cinco rapazolas pegam essa missão praticamente impossível, e, com um bom dinheiro e olhar clínico, renovam a vida do participante do programa. Para isso, cada um ataca de um lado: Jay cuida da parte cultural, ensinando coisas variadas que vão de etiqueta a dança, Thom bota a casa do indivíduo abaixo, e se encarrega da nova decoração e arrumação (as mudanças feitas nas casas são absurdamente maravilhosas), Kyan se esforça para transformar a cobaia em um ser mais bonito, Ted ensina culinária, e Carson cuida do guarda roupa (sim, o programa se encarrega de não só fornecer a roupa para o evento em questão, mas faz o favor de renovar todo o guarda roupa do “straight guy”).
Em uma hora de programa vemos a visível transformação do escolhido do dia, que, tendo sua casa, seus hábitos e maneiras dissecados por quatro gays que não têm papas na língua, e não têm vergonha de abraçar e trocar beijinhos de amigo com “caras comuns”, fica um tanto quanto confuso (e isso é hilário). O mais divertido do programa não é apenas o senso de humor dos cinco protagonistas, mas ver como uma decoração, uma mudança na aparência e umas aulas de etiqueta e culinária fazem uma enorme diferença. E os salvadores da pátria fazem isso sem a intenção de fazer com que o cidadão hetero vire uma drag queen (se isso fosse exibido em tevê aberta, juro de pés juntos que a intenção do programa seria outra) – o cara continua lá, com sua masculinidade intocada, mas seguindo as dicas dos cinco novos amiguinhos experts em coisas de qualidade. Não é um luxo?
E, ainda, ao término de cada programa, o Fab Five dá dicas bacaninhas sobre os assuntos tratados no episódio. Era de se esperar que uma idéia interessante dessa gerasse filhotes. Foram eles: um livro com dicas do grupo – um verdadeiro guia para quem quer aprender mais sobre o que falam no programa, e um cd com a trilha sonora (com nomes desconhecidos e estrelas mais que conhecidas como Elton John e Sting). E, na TV, Queer Eye for the Straight Girl (apresentado por três moços e uma mulher) estreou esse mês nas terras gringas, mas ainda não tem previsão de lançamento por aqui. Além disso, uma paródia foi feita pelo Comedy Central, em que heteros é que se encarregam de deixar um homossexual menos “delicado”.
:: CONHECENDO AS FIGURAS
:: Kyan
Kyan Douglas é o responsável pelos cuidados no visual. E isso inclui sessões de salão de beleza, aulinhas de higiene e de como se fazer apropriadamente a barba, manicure, pedicure e aulas de academia. O mais bonitinho e querido pelas garotas, Kyan, de 34 anos, começou sua carreira na área de beleza com um curso de massagem terapêutica, e daí em diante fez cursos e mais cursos se especializando em estética. Além disso, Kyan também é especialista em cores, e já fez projetos para televisão e revistas.
:: Ted
Ted cuida da parte gastronômica. São aulas de culinária que tentam (mas nem sempre com muito sucesso) fazer com que os trastes saibam ao menos fazer um café – e, para trastes com maior QI, algumas dicas para diferenciar tipos de molhos, vinhos e bebidas também são úteis. O mais charmoso e querido pela Srta.Ni, Ted tem 39 anos e é conhecido por seus trabalhos jornalísticos nas revistas Chicago (como editor e crítico gastronômico) e Esquire (como co-autor de uma coluna chamada Coisas Que um Homem Deveria Saber, que fala sobre moda, sexo, etiqueta de negócios e coquetéis, e que virou uma série de quatro livros).
:: Carson
Carson Kressley, o loirinho mais “frenético” de todos os cinco, é o guia de moda. Visitas a lojas de roupas, sapatos e acessórios, e dicas fashion estão sob sua responsabilidade. Nascido em 1969, Carson começou no mundo da moda como estilista independente, e, anos depois, passou a trabalhar na Polo Ralph Laren, primeiramente na área de roupas esportivas para homens, e, depois, no setor de Publicidade. Além de publicitário, estilista e apresentador, Kressley também é eqüitador.
:: Rai
Rai Rodriguez é o responsável pelos ensinamentos de cultura, comportamento e estilo. O que envolve trivialidades como: como se comportar socialmente e em público, como conduzir uma conversa, e como dar seus primeiros passos em uma pista de dança. Rai tem 27 anos, e adquiriu seus conhecimentos de comportamento e cultura na sua carreira de ator, cantor e dançarino. Sim, ele é um ator completo e já participou de vários musicais, entre eles, a peça Rent, da Broadway. Atualmente, além de participar de “Queer Eye”, Rai está em cartaz com a peça off-Broadway Zanna, Don’t! e se apresenta em clubes noturnos modernosos de Nova York.
:: Thom
Thom Filicia é o decorador. Enquanto os outros do grupo saem às compras, carregando o felizardo hetero junto com eles, Thom fica na casa do indivíduo, transformando o que antes poderia ser chamado de ninho de ratos em uma casa lindamente arrumada e organizada. Thom, também de 1969, tem uma empresa de decoração, a Filicia Inc, e já apareceu em muitas revistas e jornais sobre o assunto. A revista House Beautiful elegeu o moço como um dos 100 melhores profissionais da área nos Estados Unidos.
Agora, não me venham com essa conversa de “eles são um bando de bichas loucas”, que isso é dor de cotovelo. Afinal, quem foi que deixou que eles passassem a perna (sem trocadilhos aqui, por favor), e evoluíssem mais rápido, aprendendo a cozinhar, a cuidar de uma casa, se vestir e ter bom gosto? Mas eu sou otimista. Mais uns anos, e todo mundo acorda (sim, mulheres também, por que não?), que ter bom gosto, ser moderno e sentir atração pelo sexo oposto não são necessariamente coisas que se auto-excluem.
|