Novembro foi o mês das estréias de novas séries e temporadas na Sony. E dia 4 de novembro estreou aqui no Brasil a série Desperate Housewives (traduzindo ao pé da letra, é algo como Donas de casa desesperadas. Pra variar, o nome não foi traduzido…). Essa série é mais uma das que seguem o mais novo estilo Sony: não é uma comédia com platéia e aquelas gargalhadas nas horas exatas (como Friends e Seinfeld, só pra citar dois exemplos). Funciona praticamente como uma novela, com um enredo que continua por vários episódios, personagens mais bem elaborados e locações externas.
“Desperate Housewives” é, como muita gente diz, uma espécie de sucessor de Sex and the City – porque, assim como ele, trata da vida de quatro mulheres, falando de sexo, de seus problemas pessoais, de relacionamento e todo o resto de coisas pelas quais as ditas “mulheres modernas e bem resolvidas de hoje em dia” passam. Mas existe aí uma diferença entre as duas séries: enquanto a primeira se passava em Nova York e mostrava personagens vivendo suas vidas de solteiras, em “Desperate Housewives” as protagonistas vivem em um subúrbio dos Estados Unidos (chamado Wisteria Lane), são donas de casa, casadas, mães solteiras ou não. E a imagem da vida perfeita delas, vivendo naquelas casas bem cuidadas, sem muros e ostentando bandeiras dos Estados Unidos é menos feliz do que parece. A mulherada desse seriado não parece estar muito satisfeita com a vida de dona de casa, e, com o passar dos episódios, vai mostrando que nenhuma delas é o que parece ser.
Isso fica bem claro logo no primeiro episódio, quando Mary Alice Scott (Brenda Strong), cansada de sua vidinha pacata, resolveu quebrar a rotina e se suicidar (claro, porque se matar é a melhor forma de quebrar a rotina… ¬_¬) abandonando um marido e um filho. Então, lá do além, ela começa a se intrometer na vida das amigas, contando e comentando suas histórias aos telespectadores.
O seriado consegue misturar de uma forma bem legal comédia, drama e romance, com um enredo já cheio de conflitos desde o primeiro capítulo: além do suicídio de Alice, cuja causa ninguém sabe ao certo, o seriado fala de casos extraconjugais, divórcio, filhos, e todas as outras coisas que envolvem um casamento (ou a falta dele). Apesar de não deixar isso muito claro, “Desperate Housewives” acaba fazendo uma crítica ao “american way of life”, que pregava uma família feliz e perfeita, mas que ultimamente anda em decadência. Mas essa crítica não é tão cruel assim – basta ver que seu maior público nos States é da ala mais conservadora da população.
:: QUEM É QUEM
Assim como em Sexo e a Cidade, as personagens são bem estereotipadas. Assim, cada uma é uma caricatura que representa um tipo feminino. Então, vemos a mulher que tenta ser a esposa perfeita, a mãe solteira meio maluca que procura um par, a mulher que abandonou uma carreira de sucesso pra cuidar de três crianças pestinhas, e a ex-modelo (que é a cara daquela moça da novela) que trai o marido com um jardineiro menor de idade.
São elas:
:: LYNETTE (Felicity Huffman)
Uma executiva que largou sua carreira para dedicar-se exclusivamente ao lar e à sua família: um marido bonitão e três filhos pestinhas. Como era de se esperar, o marido de Lynette não está assim tão disposto a abrir mão de sua carreira para cuidar da casa, mesmo sabendo que a esposa ganhava mais que ele. Se não bastasse isso, o casal não leva muito jeito para educar suas crianças.
Felicity Huffman nasceu dia 9 de dezembro de 1962, em Nova Iorque, e já é um rosto conhecido para qualquer um que costuma assistir a seriados com certa freqüência. Ela fez pequenas aparições em Frasier, The West Wing, Law & Order e Arquivo X. Mas a série mais importante em seu currículo é Sports Night, em que trabalhou num papel fixo (ela era a Dana Whitaker), e chegou até a ganhar uma nominação ao Globo de Ouro por essa série. Felicity também participou de alguns filmes para a TV e peças teatrais (inclusive ganhando um prêmio em 1997 pela peça Cryptogram).
:: GABRIELLE (Eva Longoria)
Gabrielle Solis representa a mulher fútil e sensual (?) – é uma ex-modelo, que se casou com um cara rico, mas não ficou contente com isso. Apesar de seu marido, um descendente de latinos, viver tentando ganhar sua atenção com presentes, Gabrielle só quer saber de se encontrar com o amante: um jardineiro mais novo que ela (interpretado por Jesse Metcalfe, que foi eleito o ator mais sexy dos EUA pelas revistas US Weekly e People). Nos últimos episódios, seu esposo, Carlos Solis, chegou até a recorrer à ajuda de sua mãe – que é interpretada por ninguém mais, ninguém menos, que Lupe Ontiveros – a Rosalita do filme Os Goonies.
Eva Longoria nasceu no Texas, em 15 de março de 1975, e ainda não tem uma carreira muito sólida como atriz. Na verdade, a Gabrielle de “Desperate Housewives” é seu primeiro papel mais importante. Ela é formada em Quinesiologia, seja lá o que for isso (é uma espécie de ramo da medicina que mistura quiropraxia e acupuntura). Depois de formada, decidiu ser atriz e foi até Los Angeles para começar sua carreira. Então, fez uma série de trabalhos como atriz – seu papel mais conhecido é como a detetive Gloria Duran da série não muito bem-sucedida L.A. Dragnet. Eva também atua como comediante, co-produzindo e atuando em um show cômico que conta com atores latinos.
:: BREE (Márcia Cross)
A moça que tem nome de lugar da Terra Média lutava para ser a esposa perfeita, mas não obteve muito sucesso com isso – seu marido acabou pedindo o divórcio.
Nascida em Massachusetts, no dia 1 de janeiro de 1961, Marcia sempre quis ser atriz, desde seus tempos de escola. Então, desde cedo já começou a atuar em peças teatrais. Seu primeiro trabalho para a televisão foi na década de 80, na série The Edge of Night. Nos anos seguintes, Márcia Cross fez alguns filmes para a tv, mas atuou muito mais em seriados: ela já apareceu em vários seriados; como Seinfeld, The King of Queens, Cheers, Spin City, C.S.I. e Toque de um Anjo – e ganhou destaque em Melrose Place, como a doutora Kimberly, e em Everwood, como Linda Abbott. Além de todo esse currículo como atriz, Márcia Cross ainda é psicóloga.
:: SUSAN (Teri Hatcher)
Susan é a mãe solteira da turma – aquela que não consegue um par perfeito, mas está sempre buscando – e fazendo a escolha errada. É a típica personagem insegura e um pouco amalucada.
Teri Hatcher nasceu em 8 de dezembro de 1964, na Califórnia, e, isso todo mundo sabe, era a Lois Lane do seriado Lois e Clark. Teri estava 6 anos longe de seriados, até que aceitou participar de “Desperate Housewives”. A atriz, que é considerada a mulher mais bem vestida e sexy da televisão, participou de filmes e séries como Star Trek, Saturday Night Live, MacGyver, Pequenos Espiões, uma das Bond girls no filme Tomorrow Never Dies, e em Seinfeld (ela ganhou fama depois de ter participado de uns dois episódios da série).
:: O SUCESSO
“Desperate Housewives” é uma série muito bem sucedida nos Estados Unidos. Contrariando o que ocorre normalmente, a audiência do programa aumentou depois do primeiro episódio – isso que já tinha começado com um número bom de telespectadores: 21 milhões só na estréia, na rede ABC. Curiosamente, apesar da temática feminina, 40% da audiência, nos EUA, é de homens.
Todo esse sucesso chega a ser irônico em uma época em que os Estados Unidos andam cada vez mais preocupados com a “indecência na tevê”, multando os programas que, assim como “Desperate Housewives”, têm um certo teor de referências a sexo – tanto assim que duas empresas “de família” pararam de exibir seus anúncios nos intervalos do programa. Mas isso não é problema, já que, segundo a ABC, devido ao sucesso do seriado, a procura é grande: são cobrados cerca de 300 mil dólares por 30 segundos de propaganda. “Desperate Housewives” também foi indicado ao Globo de Ouro nesse ano na categoria melhor comédia, e tem muitas chances de ganhar.
Até agora, a série mostrou a que veio, e é a maior promessa de longa duração dos últimos lançamentos da Sony, porque mostra uma história real e crítica sem chegar a ser um protesto panfletário, e tem uma história divertida, que, apesar de não ser uma comédia propriamente dita, cativa a audiência; talvez porque aprenderam direitinho a estratégia já muito usada nas novelas das nossas terras tupiniquins: nenhum episódio amarra todas as tramas – sempre acabam deixando pelo menos um gancho em aberto, pra deixar todo mundo curioso no final.
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