Esse subtítulo resume o pensamento que passou pela minha cabeça durante grande parte do filme. E isso não é só porque eu estava realmente sonolenta na sala escura do cinema numa segunda feira de manhã. É porque Alfie – O Sedutor definitivamente não contribuiu para que eu tivesse vontade de ficar com meus olhos abertos durante toda a projeção. Afinal, o filme trilha o tênue caminho entre um filme “divertidinho – e nada mais” e um filme insuportavelmente cansativo.
Vamos às explicações: “Alfie – O Sedutor” é uma refilmagem de um filme de 1966, que trazia Michael Caine no papel do protagonista, um conquistador barato (infelizmente não vi essa versão original do filme, então não posso fazer comparações com a nova versão, mas a crítica em geral diz que a antiga é muito superior a esse remake). Alfie (Jude Law, de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã) é um chofer de limusine, que às vezes é contratado por umas madames ricas, e aproveita para fazer também outro tipo de serviços com as donzelas – no que ele próprio chama de caridade: transando com elas, Alfie faz um favor às mulheres, aos seus maridos e a ele próprio, é claro. Mas suas “vítimas” não se restringem às suas clientes – ele não dispensa um olhar 43 à primeira moçoila que cruza seu caminho.
Assim, o filme começa mostrando o dia a dia e os “hábitos sedutores” de Alfie. Acostumado a trocar de mulheres como troca de roupa, o rapazola dá o fora assim que percebe que as moças querem um relacionamento mais duradouro. Por isso, desde o começo do filme já sabemos qual será a virada da história: alguma das mulheres vai fazer com Alfie o que ele costuma fazer com elas, dando origem a uma série de acontecimentos que o farão repensar seu comportamento. E, basicamente, é isso que acontece. É lógico que isso podia acontecer muito naturalmente, transformando “Alfie- O Sedutor” em uma comédia divertida, um romance bonitinho ou, pelo menos, em um filme de Natal simpático. Mas o filme não virou nada disso. Agora, se eu contar mais detalhes da história, vou acabar estragando as poucas surpresas que o filme apresenta, e acabar com ele de vez – por isso, paro por aqui.
Para começar, estamos falando de uma comédia dramática. E como comédia, “Alfie – O Sedutor” deixa muito a desejar. Afinal, numa comédia, por mais suave que ela seja, alguém deve rir. E nesse filme, os momentos mais engraçados rendem apenas algumas risadas baixinhas e constrangidas. Da próxima vez, é bom que o diretor Charles Shyer (de O Pai da Noiva) lembre pelo menos de que uma boa comédia dramática deve ter obrigatoriamente Robin Williams ou Jim Carrey no elenco.
Não que Jude Law seja ruim. Ele é um bom ator, é claro, disso não posso discordar. O problema maior aqui é o roteiro, que fez com que Alfie ficasse conversando com a câmera o tempo todo, como se estivesse contando sua própria história enquanto o filme acontece. Quando você menos espera, em uma cena ele pára, vira para a câmera e começa a conversar com o público. Essa estratégia é legal, sim, mas em uma peça de teatro. Na tela do cinema, acreditem, isso realmente irrita. Mas irritaria menos não fosse uma coisa: essa conversa com o público não passa de um monte de explicações sobre como o personagem é, como se sente, ou o que está acontecendo na cena. Como se o público fosse burro o bastante para não entender o que o filme está querendo dizer naquele momento. Duas vezes, por exemplo, o personagem vira-se para a câmera dizendo “Não sei se vocês perceberam, mas rolou um clima aqui”. Parece que o roteirista ficou com medo de que ninguém captasse a idéia da história que escreveu, e resolveu explicar cada detalhe dela para nós. E isso chega a um absurdo no final do filme: em qualquer história decente que tem uma mensagem final, a moral da história já fica subentendida na cena final. E em “Alfie – O Sedutor” não é diferente. O pior é que o protagonista ainda chega com sua última fala, nos explicando a moral da história, deixando tudo com a cara daquelas fábulas da Tia Nastácia. E o público com cara de “Ah, puxa vida. Eu já saquei, Alfie. Obrigada pela informação”. Por pouco eu tive vontade de fazer igual minha bisavó, que quando estava esclerosada, gritava para os apresentadores de telejornais, dizendo: “Por que você fala tanto? Cala essa boca!”.
Tirando esse, que é o maior defeito do filme, temos uma seqüência de clichês, com direito até ao velhinho que surge do nada, na hora exata, para contar episódios da sua vida e, sem querer, dar uma lição de moral ao nosso protagonista. Jude Law tem como companheiros de tela atores da estirpe de Susan Sarandon, a bela Marisa Tomei, e Nia Long, que aqui trabalha muito bem. Mas nem eles conseguiram salvar o filme, que talvez valha a pena apenas para as meninas que acham o Jude Law bonito (o que definitivamente não é o meu caso) o verem andando de lambreta, trajando terno e gravata, com seu perfeito sotaque britânico. Ah! E quem assistia o seriado The Nanny vai se deparar com a Renée Taylor, aquela atriz engraçada que fazia o papel da mãe da Fran Drescher, lembram?
No mais, não posso dizer que “Alfie – O Sedutor” é um total desastre e amaldiçoá-lo para todo o sempre. Afinal, vejam só, eu nem cheguei a pensar a dar cabo de minha vida durante a sessão. Talvez, para alguém que está muito cansado, acabou de sair de férias e está tão feliz que qualquer coisa que vier é lucro, pode até ser um filme divertidinho. Não é tão ruim que mereça entrar na lista de filmes odiados, mas é ruim o suficiente para ser esquecido no dia seguinte. Aliás, de que filme eu estou falando, mesmo?
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