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Artigo adicionado em 07/12/2004, às 03:41

YELLOW SUBMARINE
All together now! Era uma vez (ou talvez duas), um paraíso chamado Pepperland. É assim que começa uma das animações musicais mais insanas que já surgiram nos cinemas, Yellow Submarine. E, como não podia deixar de ser, em se tratando de insanidade, esse filme é inglês e um rebento da década de 60. Isso talvez […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Era uma vez (ou talvez duas), um paraíso chamado Pepperland. É assim que começa uma das animações musicais mais insanas que já surgiram nos cinemas, Yellow Submarine. E, como não podia deixar de ser, em se tratando de insanidade, esse filme é inglês e um rebento da década de 60. Isso talvez explique o porque de tantas cores e do clima psicodélico dessa animação que traz como protagonistas ninguém menos que Os Beatles.

A história, entremeada de humor britânico (cheio de referências e de trocadilhos) e imagens pra lá de bizarras conta as aventuras do quarteto, que sai a bordo de um submarino amarelo para salvar a cidade de Pepperland das garras dos Maldosos Azuis (ou Blue Meanies). Sim, isso mais parece uma historinha simples – e sim, é realmente uma historinha simples, sem grandes evoluções emocionais ou tramas complicadas, como os críticos adoraram – mas tem um clima tão divertido que, quando menos se espera, o filme acaba e ninguém nota a falta de um enredo à la Disney.

Tudo começa numa bela tarde em Pepperland, em que sua população anda feliz e saltitante, ouvindo as músicas de uma tal de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Então os Maldosos Azuis, seres que não suportam o amor, a música e as cores atacam a cidade, transformando sua população em estátuas sem cor e dando um fim em seus músicos. Mas eles não contam com a astúcia do Capitão Fred, o único sobrevivente que consegue escapar e buscar ajuda, viajando em um submarino amarelo.

Pois então ele sai pilotando o submarino em direção a Londres (ao som de Eleanor Rigby) e encontra Ringo, filosofando em uma das esquinas da cidade. Assim, o convence a chamar o resto da banda, para que o acompanhassem até Pepperland e salvassem a cidade com sua música. Assim se forma a tripulação do submarino amarelo, que enfrenta criaturas bizarríssimas e passa por cenários tão “comuns” quanto um mar de buracos (isso mesmo, de buracos), até chegar ao seu destino e tentar combater os malvados seres azuis. Isso tudo sem esquecer dos diversos números musicais do filme, apresentando músicas já conhecidas da banda.

:: A INSPIRAÇÃO E A PRODUÇÃO

Logo depois que terminaram as gravações de Magical Mystery Tour, em 1967, a pré-produção de “Submarino Amarelo” já começou – o filme foi principalmente baseado na música Yellow Submarine, e alguns elementos do disco Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, e seu produtor foi Al Brodax (ele também assinou o roteiro, ao lado de Jack Mendelsohn, Lee Minoff e Eric Segal). Al Brodax já tinha trabalhado com desenhos animados dos Beatles anteriormente – fez uma série animada de TV para a rede ABC, com os quatro músicos ingleses como protagonistas, e que durou 39 episódios. Foi isso que o inspirou a fazer outro longa do quarteto (que já tinha participado de Help! e A Hard Day’s Night)… Mas dessa vez em forma de desenho animado. Conversou, então, com Brian Epstein, o empresário dos Beatles, e obteve sinal verde, já que sua série para a tevê tinha sido razoavelmente bem sucedida.

Os próprios Beatles, na verdade, nem estavam tão empolgados assim com essa produção, porque tinham detestado a série televisiva. Não participaram sequer da dublagem do filme; que é, por sinal, um tanto quanto deprimente. Paul Angelis faz a voz de Ringo, John Clive dubla John Lennon, Dick Emery faz Paul e Peter Batten (que nem foi creditado, pois teve que ser substituído no final do filme por Paul Angelis) empresta a voz a George. Os músicos visitaram poucas vezes os estúdios e só cederam ao filme quatro músicas inéditas (ou “sobras de estúdio”, que na sua maioria não haviam sido feitas especialmente para o filme): It’s All Too Much, Only A Northern Song, All Together Now e Hey Bulldog. No fim das contas, quando viram o desenho em sua fase final, acabaram gostando da idéia e fizeram uma pequena aparição em carne e osso no fim do filme.

Dirigido por George Dunning (que já fora o responsável pela série de desenhos), “Yellow Submarine” foi feito em pouco tempo – dos primeiros traços até sua estréia no cinema se passaram apenas 11 meses, mas, se for contada a pesquisa e toda a preparação antes da produção, o filme demorou 2 anos para ser feito. Trabalhou para isso uma equipe de 40 animadores e 140 artistas técnicos, que, apesar de terem quebrado paradigmas da animação na época, e de desenharem livremente, pesquisaram para isso: estudaram até os passos de cada um dos Beatles, para reproduzirem fielmente nos desenhos o jeito de caminhar e a personalidade de cada um.

:: DESENHOS E ROTEIRO – UMA VIAGEM SÓ 🙂

O roteiro do filme é uma mistura de, nada mais, nada menos que cerca de vinte textos diferentes. A equipe da produção simplesmente se inspirou em várias músicas dos Beatles, e misturou e inverteu tudo. Tanto foi assim que, no meio dessa bagunça toda, o diretor de arte reparou que não existia um inimigo bem estruturado no roteiro. Foi então que criou os personagens malvados da história, e assim nasceram os Malvados Azuis – que, aliás, são azuis por obra do acaso – ele deixou a cargo dos coloristas que inventassem uma cor para aqueles seres esquisitos. O script final foi escrito por Al Brodax, Jack Mendelsohn, Lee Minoff, Erich Segal e Roger McGough (esse último não foi creditado no filme original, mas ajudou bastante na composição do texto final – ele era um poeta de Liverpool).

Dunning e John Coates (um dos produtores do filme) queriam fugir dos padrões Disney de qualidade e inovar. E, para isso, precisavam encontrar alguém com talento e criatividade para cuidar da parte artística da animação. Foi então que se depararam com o trabalho de Heinz Edelmann (um ilustrador e desenhista) em uma revista alemã e, sem pensar duas vezes, pediram para que o artista fosse até Londres para falar com os responsáveis pela produção. E foi o que ele fez. Chegando lá, Edelmann rabiscou alguns desenhos para o diretor e o produtor, que ficaram realmente satisfeitos e o contrataram.

Seu estilo de desenho livre, misturando estilo realista com cartoon influenciou todo o desenho de “Submarino Amarelo”. Ele, como diretor de arte, teve toda a liberdade de supervisionar o trabalho de todos os artistas. Em uma entrevista feita por Laura Gross com toda a equipe do filme, Edelmann disse que “pensava, no início, que o filme seria uma série de pedaços interconectados, e o estilo deveria variar a cada cinco minutos para manter o interesse até o final”.

:: UM MARCO NA ANIMAÇÃO

“Yellow Submarine”, apesar de não ter sido recebido, como filme, com tanta empolgação na crítica inglesa, foi um marco na animação da sua época – já que a Disney dominava essa indústria muito mais do que o faz hoje em dia, e o lançamento desse clássico trouxe para os longas animados uma nova cara: nada de bichinhos bonitinhos e cantores da Disney, feitos com cores e desenhos caprichadíssimos. Esse terceiro filme dos Beatles (e único longa com o quarteto em forma de desenho animado) tem influências da arte pop e do surrealismo, num desenho muito parecido com o de Terry Gilliam (que fazia as animações para os programas e filmes do Monty Python).

O filme é de 1968, portanto os Beatles já tinham se acostumado muito bem com o sucesso e a banda não estava mais com toda a força que tinha no início (embora isso não impedisse que seus discos e suas músicas ainda visitassem o topo das paradas nas rádios). O LSD era a droga alucinógena da vez (hummm, e isso explica muita coisa), e os quatro Besouros estavam adentrando no território do nonsense psicodélico. Basta dar uma olhada na capa do álbum “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” para entender do que estou falando: um monte de personalidades misturadas, como O Gordo e o Magro, Aldous Huxley, Karl Marx, Marylin Monroe e muitos outros, em pé sobre um lindo jardim de… maconha (aliás, é nesse disco que aparece a música A Day in the Life, que tem em seu final uma nota tocada em uma freqüência só audível pelos cachorros).

“Yellow Submarine” virou um marco na animação, porque reuniu em um filme só todas as técnicas mais utilizadas e mais modernas em desenhos animados e ilustrações da década de 60. Depois de seu lançamento, outras empresas de animação se inspiraram na arte psicodélica do filme, e então pipocaram na mídia vários anúncios comerciais cheios de arco-íris, florzinhas e borboletas coloridas. Curiosamente, apesar desse sucesso em sua arte, “Submarino Amarelo” foi o único desenho animado em que Heinz Edelmann participou.

:: AS MÚSICAS

O disco com a trilha do filme, lançado em janeiro de 1969 na Inglaterra e nos EUA, e em abril do mesmo ano aqui no Brasil, chegou ao terceiro lugar nas paradas (talvez porque, enquanto isso, outro álbum da banda – White Album – estivesse ocupando o primeiro lugar). Ele trazia as seguintes músicas:

LADO A

1. Yellow Submarine (composta por John Lennon e Paul McCartney e gravada em 1966, apareceu pela primeira vez no disco Revolver, ficando em primeiro lugar nas paradas da Inglaterra, e em segundo nos Estados Unidos).
2. Only a Northern Song (de George Harrison, data de 1967, inicialmente deveria ser incluída no álbum “Sgt. Pepper’s”, mas foi substituída por Within You Without You).
3. All Together Now (única música composta especificamente para o filme, por Paul, é de 1967 e é basicamente uma música para crianças – durante alguns anos era comum ouvir torcidas de futebol na Inglaterra cantando “All Together Now”).
4. Hey Bulldog (é de 1968 e foi feita por John e Paul – a letra original de John falava de um tal de Bullfrog, e não um Bulldog. Decidiram transformá-lo em BullDOG quando Paul começou a latir no meio da gravação. Essa música só apareceu na versão inglesa do filme, pois foi cortada na versão norte-americana. Porém, no DVD, que foi lançado em 1999, a cena do cachorro de três cabeças em que aparece a música retornou).
5. It’s All to Much (também de 67, essa música é de George Harrison, e é bem influenciada por drogas. A versão do disco é diferente da do filme).
6. All you need is Love (essa música de John Lennon foi uma contribuição a um programa da BBC chamado Our World, o primeiro a ser transmitido simultaneamente a todo o planeta. Foi lançada pela primeira vez em um single, e mais tarde no álbum norte-americano de Magical Mystery Tour. Fez sucesso e alcançou o primeiro lugar em rádios de vários países).

LADO B

1. Pepperland
2. Sea of Time
3. Sea of Holes
4. Sea of Monsters
5. March of the Meanies
6. Pepperland Laid Waste
7. Yellow Submarine in Pepperland

Todas essas músicas, instrumentais, são de George Martin (exceto a última, que ganhou uma versão no fim dos anos 80 no Brasil, que chegou a ser abertura da novela Pantanal). Em 1999, para acompanhar o lançamento do DVD, a trilha sonora foi relançada, com as músicas remasterizadas, e com algumas modificações, como por exemplo a exclusão dos instrumentais do lado B do disco e a adição de todas as músicas que fazem parte do filme, inclusive as que já fazem parte de outros álbuns da banda.

:: CURIOSIDADES

– Em junho de 2005, a Melhoramentos lançou um livro de 40 páginas com a história do “Submarino Amarelo” para crianças, mantendo os nomes originais em inglês, mas fugindo um pouco da viagem hippie do filme – ao contrário da versão de 1969, que foi a primeira versão em livro do filme que aportou no Brasil.

– Na seqüência em que o submarino vai passando pela tela ao som de Eleanor Rigby, várias figuras meio fotográficas aparecem. O que pouca gente sabe é que essas figuras são membros da produção. O homem com cachimbo é Al Brodax, os dois homens com guarda-chuvas são Dunning e Heinz Edelmann, entre outros.

– Peter Batten, que tinha ficado responsável pela dublagem de George, não pôde terminar seu trabalho pois foi preso enquanto o filme ainda estava em andamento. Ele era um desertor do Exército Britânico.

– Logo depois da cena de Eleanor Rigby, em que aparecem chaminés, ocorre um efeito tridimensional. Isso foi sem querer – até hoje os animadores não descobriram como conseguiram dar esse efeito na animação.

– O filme tem muuuitas referências – não só a músicas dos Beatles quanto a filmes e a situações que só os ingleses podem reconhecer. Só para citar algumas, existem falas que fazem referências a Noviça Rebelde, Shakespeare e Einstein, e no meio do filme aparecem figuras já conhecidas, como Mandrake e Marylin Monroe.

“Yellow Submarine” foi feito na época em que o movimento hippie estava no auge, todo cheio de suas flores e maluquices coloridas, por isso nada de tentar compreender “o que será que eles quiseram dizer com isso ou aquilo” – porque o melhor sentido dele é que ele não tem sentido algum (tirando a mensagem básica transmitida através do “All you need is love”, é claro). E, cá entre nós, quem é fã de Monty Python e dos livros de Lewis Carroll (autor de Alice no País das Maravilhas) não tem o menor problema em entrar no clima nonsense desse clássico – e, vale lembrar, ser fã dos Beatles também ajuda bastante. Enfim, fica aqui minha dica a todos aqueles que ainda não viram esse clássico psicodélico do humor britânico.

Leia mais:
:: Paul McCartney vai produzir desenho animado
:: O DVD do Yellow Submarine não está disponível lá no Submarino, mas você pode comprar o CD clicando aqui!
:: E pode comprar o livro SUBMARINO AMARELO clicando aqui!


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