Os Playmobils eram aqueles bonecos nanicos de 7 centímetros e meio de altura, guardados com cuidado ao lado de seus objetos montáveis (que teimavam em desaparecer misteriosamente, às vezes engolidos pelo seu irmão caçula, certo?). Às vezes eles faziam umas pontas improvisadas nas brincadeiras de Barbie, na falta das Chuquinhas ou de Kens, isso é fato (bem, era melhor do que fazer de conta que o Arqueiro, do HeMan, era filhinho da Barbie, como eu fazia – ficava uma coisa linda!), mas, quando entravam em brincadeiras onde eram protagonistas, viravam as estrelas. Com seus milhares e coloridos apetrechos em miniatura, era como brincar de casinha, para as meninas, e de bonequinho, para os meninos (daí todo mundo brincava sem culpa).
Nesse ano, o Playmobil completou três décadas de sucesso fora do Brasil. Sim, eles são mais novinhos que o seu concorrente Lego, mas mesmo assim têm muito o que comemorar, já que são poucos os que atingem os trinta anos, com esse corpinho de sete… centímetros. Tudo começou em 1974, na Alemanha, país onde os bonequinhos são sucesso até hoje. Na verdade vos digo que eles não foram os primeiros seres em miniatura produzidos na indústria dos brinquedos. Desde a Antigüidade, criaturinhas pequenas já levavam felicidade às crianças, como os famosos soldadinhos de chumbo. O tempo passou, e a criançada continuou apreciando brinquedos pequeninos, embora os materiais tenham mudado com o passar dos tempos.
O plástico, material rei das últimas décadas, é a matéria-prima dos bonecos Playmobil, e, indiretamente, é o culpado pelo seu nascimento. Ou, melhor dizendo, o petróleo, material daonde provém o plástico, é o verdadeiro culpado pelo nascimento dos pequeninos. A primeira grande crise do petróleo, que ocorreu em 1973, ocasionada pelos países árabes produtores do líquido preto do capitalismo (aquele outro que não é a Coca Cola), teve repercussão mundial, pois o preço do barril foi praticamente quadruplicado. Há trinta anos atrás, o mundo já girava em torno de petróleo, novas reservas de petróleo e mais petróleo. E com isso, uma quebradeira geral ameaçava atingir os setores que dependiam do produto, como, por exemplo, as indústrias de brinquedos, que utilizam plástico em larga escala nas suas criações.
Geobra, uma empresa alemã, não estava fora desse pânico geral: ela tinha finalmente apostado na produção de carrinhos de plástico, depois de anos trabalhando com produtos e brinquedos de metal (a empresa existe desde 1876). Sua produção, então, estava ficando muito cara devido à crise internacional, e, correndo o risco do fechamento das portas da empresa, o atual presidente Horst Brandstätter (um cidadão responsável pelo enorme sucesso dos bambolês, nos anos 50) saiu em busca de alguma coisa que salvasse sua produção. Hans Beck, o chefe de desenvolvimento e criação da companhia, foi quem achou essa salvação, ao ver ali a oportunidade para pôr em prática uma idéia que já tinha há algum tempo. Foi então que ele deve ter dito: “por que não diminuir o tamanho dos nossos brinquedos? Daí a gente economiza plástico, e aposto que as crianças nem vão reparar” (isso foi licença poética minha). Assim, pequenos bonecos de plástico, com vários objetos adequados ao seu tamanho começaram a ser fabricados. Mas é claro que não foi tudo tão simples assim: os caras eram profissionais, e pesquisaram bastante para investirem nesse novo brinquedo. Para terem uma base de como projetar a nova coleção, foram analisados desenhos de crianças – daí, baseado nesses desenhos, nasceu o modelo conhecido hoje: dois olhos e uma boca sorridente, pintados numa cabeça ligeiramente desproporcional. Simples assim.
Logo na feira de Nuremberg, que marcou sua estréia no mercado, a novidade já começou a fazer sucesso entre a criançada e seus pais, apesar de ter sido meio que ignorada pelos grandes fabricantes. Mesmo assim, a Geobra continuou investindo na sua nova aposta, e se deu bem. Em 1974, os primeiros Playmobils viram a luz do sol e das estantes das lojas de brinquedo. No início, os modelos eram simples, mas já eram temáticos: os primeiros representavam índios norte-americanos, operários e cavaleiros da Idade Média. A idéia do Playmobil é simplíssima: não fosse o fato de um ter um cocar, outro usar um capacete e o terceiro carregar um elmo, e a cor do seu figurino, eles seriam idênticos.
Um ano depois, já estavam sendo exportados para outras partes do mundo. Aqui no Brasil, chegaram em 1976, mesmo ano em que surgiram as primeiras mulheres-playmobil. Em 1981, nasceram as primeiras crianças e bebês, com seus 5,5 e 3,5 centímetros de altura, respectivamente. Os acessórios viraram parte quase indispensável da coleção toda – bem diferentes entre si – sejam eles armas, uniformes, veículos, ferramentas de serviço ou canequinhas de chopp.
Se, com aquele cabelo de plástico removível, seu corpitcho quadrado e seu rosto sem nariz, os Playmobils perdem para as Barbies e suas concorrentes femininas no quesito beleza e sofisticação, em outra área o páreo é complicado: a quantidade de miniaturas criadas para completar o universo dos bonequinhos é imensa. A coleção infinitesimal da família Playmobil conta com diversos cenários, como prisões, navios pirata, naves espaciais, cidades completas, fazendas, Velho Oeste, Arca de Noé, etc. etc. etc. E esses cenários vêm sempre acompanhados dos seus habitantes, os membros mais felizes da coleção (felizes, sim – já viu um Playmobil deprimido?).
O Playmobil pirata é o favorito de Hans Beck, que tem, hoje, 74 anos – ele já se aposentou, e hoje colhe os frutos de sua criação. E que frutos! Para se ter uma idéia, hoje a população de Playmobils é acrescida de 4 milhões de peças que nascem diariamente, e podem ser encontrados em lares do mundo inteiro aproximadamente 1,7 bilhões de bonecos – ou seja, se formassem um país, teriam mais habitantes que a China! E, dizem, se todos esses habitantes resolvessem um belo dia brincar de roda e dessem as mãos uns aos outros, seriam capazes de dar duas volta completas no planeta Terra. Nada mal, se lembrarmos do tamanho dos bonequinhos, não?
:: NO BRASIL
Aqui, quem adotou a família em miniatura, em 1976, foi a Trol (“Bom motivo para ser criança”, lembram? ^_^), extinta empresa de Dílson Funaro (ministro da Fazenda na época do Sarney), que produziu muitos presentes de Natal para a criançada dos anos 80. Com o falecimento de Funaro, a empresa acabou falindo e fechando suas portas – e com ela, foram levados os Playmobils. No início da década de 90, a Estrela trouxe de volta da Alemanha a febre, já renovada e reformatada. Pouco depois, quando a Estrela andou perdendo a concessão de alguns brinquedos (entre eles a da Barbie), os Playmobils foram varridos do mercado novamente, em 1998. Agora, os saudosistas podem encontrá-los vagando pelos sites de leilão virtual, por preços nem sempre muito simpáticos.
:: FESTA DE 30 ANOS
Para comemorar os trinta anos do Playmobil, um museu na Alemanha fez uma exposição em sua homenagem (que já foi encerrada), contando sua história – apresentando modelos dos bonequinhos, do primeiro protótipo até as mais modernas invencionices. Escolha um cenário ou uma profissão quaisquer, como um circo ou um jardineiro. Pode ter certeza de que as chances deles já terem sido transportados para o pequeno mundo do Playmobil é grande. Da década de 70 para cá, já foram lançados mais de 600 modelos diferentes dos bonequinhos, que, apesar das mudanças de figurino, conservam a mesma base de trinta anos atrás – com algumas pequenas evoluções, como por exemplo a articulação das mãos e dos pés, e a possibilidade de segurar objetos com suas mãozinhas, coisas que não possuíam no início.
A exposição contou com a contribuição de diversos colecionadores, que, fornecendo seus “preciosos”, conseguiram formar inclusive um circo enorme, com prédios e centenas (isso mesmo, centenas!) de funcionários-playmobil. Isso sem contar a simulação de uma guerra com 5 mil e duzentos playmobils de uma coleção particular.
Até hoje, o Playmobil resiste, firme e forte, lá fora, sem interromper sua produção, mesmo diante das inovações tecnológicas feitas para atrair a geração 90. É só comparar: fabricantes internacionais de brinquedo como a Mattel vez por outra enfrentam quedas no seu lucro, enquanto a Playmobil não pára de crescer em seu país natal (e fora dele). A Geobra continua responsável pela sua produção, ao lado de seus produtos metálicos – e os bonequinhos representam nada menos que 99% de seu faturamento anual.
Uma das justificativas para esse sucesso é que a empresa sabe que os brinquedos tradicionais e simples sempre têm um público (as crianças menores ainda se sentem mais atraídas por bonequinhos de plástico do que por videogames), e não aposta em figuras da moda, que costumam sugar boa parte do lucro com o preço de seu licenciamento – sem esquecer também de sua constante renovação, sempre lançando novidades no mercado. A empresa também tem lá suas estratégias: como crianças muito pequenas não se davam muito bem com as peças “engolíveis”, já foi criada uma linha especial para elas, com peças maiores. Outro exemplo é o investimento do Playmobil no mercado para meninas, que até então representam apenas 30% do público do brinquedo.
Os bonequinhos cresceram, se multiplicaram e povoaram a Terra, derrubando as barreiras dos preconceitos sofridos pelos “meros” brinquedos em miniatura – adentraram até o universo dos softwares (a Ubbi Soft Entertainment lançou aqui no Brasil, em 2002, jogos virtuais para crianças pequenas, com os Playmobils como protagonistas). Mas o maior salto do Playmobil talvez tenha sido seus parques temáticos. Sim, são ao todo seis parques temáticos, chamados Playmobil Funparks – dois nos EUA, um na Grécia, um na França, um em Malta e um em Zirndorf, na Alemanha. O parque alemão é o mais completo, com 90 mil metros quadrados, e dividido entre 6 áreas temáticas (como, por exemplo, castelo medieval ou barco pirata), contando com bonecos Playmobil pouco maiores que uma criança real, em meio a cenários do mesmo estilo do brinquedo.
Diversas gerações ainda se encantam com as possibilidades do Playmobil. Os mais velhos autodenominam-se colecionadores, os mais novos que tiveram a sorte de herdar as coleções dos parentes mais velhos não têm vergonha de armar brincadeiras com os personagens, e os ainda mais novos acham as pecinhas muito apetitosas, é verdade.
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