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Artigo adicionado em 08/11/2004, às 09:07

Crítica: SIDEWAYS – ENTRE UMAS E OUTRAS
Uma viagem de auto-conhecimento e análise à crise de meia-idade… regada a muito vinho! Alguns filmes, por mais simples que sejam em questão de enredo, cenários e efeitos visuais, têm os culhões de mexer com o público. Aliás, alguns não precisam de nada disso, só mesmo daquela velha ideologia imortalizada pelo cineasta brazuca Glauber Rocha: […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Alguns filmes, por mais simples que sejam em questão de enredo, cenários e efeitos visuais, têm os culhões de mexer com o público. Aliás, alguns não precisam de nada disso, só mesmo daquela velha ideologia imortalizada pelo cineasta brazuca Glauber Rocha: “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Os filmes de Alexander Payne são assim. O diretor americano, que ficou conhecido no círculo independente dos states com Ruth em Questão, se tornou respeitadíssimo com o hilariante Eleição (este último produzido pela MTV) e consagrou de vez sua carreira com o premiadíssimo As Confissões de Schmidt (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Roteiro em 2003), não utiliza nenhuma técnica inovadora e nenhum grande astro em suas produções, e mesmo assim só faz filmão. Uma pena que seus trabalhos não conseguem atingir metade do público que mereciam por conta disso.

Acostumado a dissecar temas polêmicos e universais com roteiros aparentemente simplistas e cômicos, Alexander Payne já virou de cabeça pra baixo a vida de Laura Dern no meio de uma discussão pró e anti-aborto (‘Ruth em Questão’), botou Matthew Broderick e Reese Whiterspoon em pé de guerra por conta de uma campanha política-escolar (‘Eleição’) e desenvolveu uma insólita amizade entre Jack Nicholson e um menino órfão da Tanzânia (‘As Confissões de Schmidt’). Em Sideways – Entre Umas e Outras (terrível subtítulo!), seu novo trabalho, o roteiro de Payne – escrito em parceria com Jim Taylor, seu colaborador habitual – não traz nenhum enredo subliminar. Ao contrário, é a história mais simples e direta que o diretor nos traz. E provavelmente, seu melhor filme. Talvez, digo numa boa, o melhor filme do ano.

:: UMA IMPRESSÃO DIGITAL NO TOPO DE UM ARRANHA-CÉU

Em ‘Sideways’, não há exatamente uma história com começo, meio e fim. Há uma situação corriqueira e absurdamente comum que serve de palco para a dissertação de uma amizade regada violentamente a sonhos dilacerados, solidão, desilusões e… vinho tinto e branco. Logo no início do longa, somos apresentados a Miles (Paul Giamatti, excelente) e Jack (Thomas Haden Church). Miles é um fracassado e recém-divorciado professor de língua inglesa em um colégio secundário em Los Angeles, e Jack é um ex-galã da TV e atualmente ator de comerciais. Os dois são grandes amigos, mas os caminhos da carreira e da vida pessoal de cada um tomaram rumos muito diferentes, causando um distanciamento considerável.

Logo nas primeiras cenas de ‘Sideways’, Miles e Jack embarcam numa viagem de carro. O destino é a pequena cidade de Santa Ynez, na Califórnia, conhecida nos states como a “capital do vinho”. Para cada um, o passeio tem um significado: Miles é um expert em vinhos, capaz de relacionar os ingredientes e até o ano de fabricação apenas pelo seu aroma, e quer tentar relaxar um pouco enquanto não recebe uma resposta de uma editora que pode vir ou não a publicar seu primeiro (e enorme) romance; Jack se casará na semana seguinte, e acredita que a viagem é a oportunidade ideal para viver intensamente seus últimos sete dias de solteiro (leia-se: o cara quer transar com a primeira garota que aparecer em sua frente). Acima de tudo, ambos querem reanimar a amizade meio que esfriada com o tempo.

Até os primeiros trinta minutos do filme, a rotina de Miles e Jack segue sem grandes novidades, com visitas às mais belas paisagens de plantações de uva e informações técnicas para a fabricação de um bom vinho. As primeiras mudanças acontecem com a chegada em Santa Ynez: Miles reencontra uma velha amiga, a garçonete Maya (a belíssima Virginia Madsen), agora uma especialista em vinhos, e descobre que nutre por ela muito mais do que uma mera amizade (mas é covarde demais pra cutucar este sentimento); e Jack conhece e se sente imediatamente atraído pela provadora e mãe solteira Stephanie (Sandra Oh), com quem acaba tendo um “rolinho” – sem que ela tome conhecimento, óbvio, de que o cara está preste a ser “encoleirado”.

A amizade entre Miles e Jack é posta em cheque quando o segundo revela ao primeiro que tenciona desistir do casamento… faltando três dias para o enlace. O passeio de sete dias, que deveria ser apenas um entretenimento para esfriar a cabeça, detona uma bela duma crise de meia-idade em ambos, e termina por se tornar uma viagem de auto-conhecimento e auto-análise tanto para o escritor quanto para o ator – e para a platéia, também!

:: PESSOAS COMO EU E VOCÊ

Já que tudo é tão simples, o que há, afinal, de tão especial assim em ‘Sideways’? Bem, o roteiro é um primor em diálogos ácidos e cômicos e situações bem amarradas. Ajuda (e muito) as atuações inspiradíssimas do quarteto central. O trajeto de Miles e Jack acaba se tornando universal: não é difícil o público se identificar com qualquer uma das situações pelo qual as personagens passam. E a trilha sonora fantástica do inglês Rolfe Kent (de Sexta-Feira Muito Louca) vai parar na estante de muita gente – inclusive da minha – na ocasião do lançamento em CD, cortesia das deliciosas melodias que rolam ao fundo de quase 100% da fita.

Mas talvez o grande trunfo de ‘Sideways’ seja a facilidade que possui em retratar o típico “gente como a gente” e dizer muito com tão pouco: o longa emociona, diverte, inspira e deixa o espectador com um belo dum sorriso no rosto ao final da sessão. E tudo isso com atores de verdade no lugar de astros, sem a necessidade de efeitos visuais ou pirotecnia, e despejando na telona casos comuns, com pessoas comuns, que poderiam ser qualquer um de nós. E quando chega a tão esperada “segunda chance” para as personagens, é confortante saber que nós também podemos ter a nossa segunda chance. Basta se mexer pra isto. 🙂

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

Paul Giamatti iniciou sua carreira em 1990 e já possui mais de 40 filmes em seu currículo, além de ser considerado um dos grandes atores americanos da atualidade. Entre seus longas mais notórios, destacam-se a controversa versão de Tim Burton para Planeta dos Macacos, o polêmico Histórias Proibidas, de Todd Solondz, e o excelente Anti-Herói Americano, na qual deu um banho de interpretação como o excêntrico Harvey Pekar. O ator poderá ser visto (ou melhor, ouvido) em breve nas telonas com a animação em CGI Robots.

– Ainda falando sobre Paul Giamatti, o ator participou de O Mundo de Andy – Man On The Moon, de Milos Forman, aquele que conta a história de Andy Kaufman. Mas seu nome não consta nos créditos. Ele faz o papel do alter-ego de Andy, o insuportável Tony Clifton. Seu nome consta nos créditos do longa como Tony Clifton mesmo – uma brincadeira com a mania de Kaufman em afirmar que Clifton, no caso ele mesmo, era uma pessoa à parte.

Thomas Haden Church é mais conhecido do grande público pelo papel de Ned no popular seriado Ned & Stacey. Apesar de ter 19 filmes no currículo (e ganhar prestígio com a série de TV), ‘Sideways’ é seu primeiro papel de destaque nas telonas. Aliás, seu personagem aqui é praticamente uma versão madura de outra figura bem conceituada das telinhas, o estúpido Joey Tribbiani imortalizado por Matt LeBlanc em Friends.

Virginia Madsen foi uma das grandes promessas na década de 80 que acabaram não vingando com o passar dos anos. Apesar de não parar de trabalhar nos anos 90 (já fez mais de 60 produções), seus papéis sempre foram pequenos e, em sua maioria, em filmes made for TV. O último papel de destaque no cinemão pipoca foi como a loira que enfrenta uma certa entidade em O Mistério de Candyman (1992).

Sandra Oh, mesmo desconhecida do grande público, também é veterana: já trabalhou em exatas 35 produções, dentre elas O Violino Vermelho (1998), Amor Maior que a Vida (2000), O Diário da Princesa (2001) e Sob o Sol de Toscana (2003). Sandra foi forçada a aprender a andar de motocicleta para uma cena crucial – e engraçadíssima – de ‘Sideways’.

– Como não poderia deixar de ser, aí vai um comentário absolutamente nerd: em pelo menos duas cenas, Jack dá uma sacudida em Miles e diz: “Não vá para o lado negro da força! Não vá para o lado negro da força!”. É, e depois dizem que somos minoria…

– O único filme que Alexander Payne escreveu e não dirigiu foi Jurassic Park 3, de Joe Johnston, em parceria com Jim Taylor e o novato Peter Buchman.

– Os vinhos citados ao longo da projeção de ‘Sideways’ são raríssimos e fazem parte da coleção pessoal de Payne que, assim como Miles no longa, também é um amante inveterado desta espécie de bebida.

– As magníficas ilustrações que enfeitam tanto o cartaz original quanto o site oficial são assinadas pelo conceituado artista Robert Neubecker, cujo trabalho é freqüentemente usado por empresas como Microsoft, NYTimes, Disney, Citibank, entre outras.

SIDEWAYS (idem) :: EUA :: 2004
direção de Alexander Payne :: roteiro de Alexander Payne e Jim Taylor :: baseado no livro de Rex Pickett :: com Paul Giamatti, Thomas Haden Church, Virginia Madsen e Sandra Oh :: distribuição Fox Searchlight :: 123 minutos.


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