| Como já  está se tornando costume, a idéia para esta nova  coluna surgiu enquanto eu lia o caderno de cultura de um dos  principais jornais do país. Não sei se era a ‘Folha’  ou o ‘Estadão’. Aliás, nem sequer me lembro o  nome do autor da matéria. Acho até que o texto  é antigo, visto que eu o estava lendo na sala de espera  do meu barbeiro preferido, aqui em Atibaia. Mas isto não  importa, na verdade. O importante é que tudo começou  com o Robinson Monteiro.  A tal matéria  era, na verdade, uma crítica do disco de estréia  do ex-calouro do Raul Gil. Mas se estendia a toda esta safra  de músicos, tipo André Leono, Leila Moreno e Kelly  Moore, que começam a tomar conta das rádios e  programas de TV com suas baladas black, a la Whitney Houston  e Mariah Carey. Você pode não reconhecer de primeira  nenhum dos nomes aos quais me refiro, mas com certeza deve ter  ouvido alguma de suas músicas – isso se você não  vive em Marte ou Saturno.
  O sujeito até admitia que a voz de Robinson é  realmente poderosa (coisa inegável, no meu ponto de vista).  Mas aí…ele começava a desfilar um festival de  bobagens com aquele gostinho amargo dos textos ‘intelectualóides’.  O crítico afirmava, sem medo de ser feliz, que esta onda  de novos cantores é uma verdadeira ‘praga comercial’.  "Como se já não bastasse ter que aturar a  verdadeira Whitney Houston, ainda temos que ouvir seus clones  tupiniquins", dizia o texto. Segundo ele, a coisa toda  se parece demais com o axé e o pagode que, mesmo sem  a mesma força de outrora, ainda estão presentes  na mídia popular. E  completa: ‘o Brasil realmente não consegue se livrar  do brega, não interessa que forma ele tome’.  Sinceramente:  estes caras preferem ver as loiras e morenas da axé music  rebolando o traseiro na boquinha da garrafa a ouvir uma canção  rasgadamente romântica? Pode ser grudenta, tudo bem…mas  será que falar de amor abertamente virou sinônimo  de coisa ‘brega’? Para esta nova safra de ‘moderninhos’ que  infestam os meios de comunicação paulistanos,  parece que sim. 
 :: Hã…moderninhos?  É, você  deve conhecer pelo menos um deles, acredite. São aqueles  caras que cultuam o underground, sonham em ir para Londres nas  férias e abominam toda e qualquer banda ou músico  que tenha gravadora ou que esteja tocando demais nas rádios.  Não lêem gibis de super-heróis, preferem  quadrinhos europeus e os independentes americanos. Detestam  blockbusters tipo "Senhor dos Anéis" e "Guerra  nas Estrelas": curtem muito mais o "Transpointting",  do Danny Boyle. E no mundo da música…ah, rapaz…aí  sim é que está o grande problema. Parece que estes  sujeitos não gostam de ABSOLUTAMENTE nada que não  seja:  1) Clássico  absoluto de um determinado gênero, tipo Beatles e Ramones.  Se a banda ainda estiver na ativa (tipo os Rolling Stones),  eles vão dizer sem pestanejar que preferem os primeiros  discos do grupo do que esta fase atual, que está ‘comercial  demais’…  2) Uma banda completamente desconhecida, daquelas que só  os amigos dos músicos conhecem e cujos discos são  dificílimos de encontrar;  3) Completamente esquisito, com instrumentos estranhos como  batedeiras e todo o tipo de experimentação sonora  que, em algum momento, vai te fazer perguntar: ‘mas o que diabos  eu estou ouvindo mesmo?’  4) Um grupo com leve inspiração punk, com vocais  e instrumentais desleixados, sem preocupação com  a produção – mas um detalhe: jamais deve se parecer  com hardcore;5) Totalmente  eletrônico – nada de ‘putz-putz-putz’, daquele tipo que  você jamais ouviria na Jovem Pan, mas sim numa daquelas  raves nas quais eles encontram com todos os colegas críticos  de música…
  6) Lançado pela gravadora Trama. Tudo bem, admito  que forcei a barra…mas que posso fazer se 90% dos lançamentos  dos caras se encaixam em pelo menos quatro dos itens acima?  🙂  Não tenho nada contra os gostos destes fulaninhos – aliás,  muito pelo contrário, porque curto muitas coisas que  eles veneram de paixão. Mas sou contra esta postura xiita  e ignorante de rotular tudo que está fora da esfera de  gosto pessoal deles e de sua turminha ‘bacana’. Eles são  cool, eles são cult, o resto do mundo é estranho,  esquisito, diferente, inadequado. Por que diabos tudo tem que  ser preto e branco? Que tal experimentar um pouco do cinza?  Por que a gente tem que ser assim tão radical?  E o jeito que os caras falam, aquele discurso mala sem alça…  É igualzinho àqueles críticos velhos e  chatos que estão presos para sempre nos anos 60, os intelectualóides  que criticam o cinema pipoca americano e adoram cinema francês,  alemão, iraniano… "A indústria do entretenimento  está comercial demais" parece ser a frase preferida  dos caras, enquanto infestam o Espaço Unibanco aplaudindo  mais uma mostra de filmes do Godard. A gente já falou  de um deles aqui mesmo, nesta coluna, lembra? Dá uma clicada para refrescar a sua memória…  Para eles, tudo que é novidade na mídia é  uma bosta. Kelly Key? Uma bosta. Linkin Park? Uma bosta. KLB?  Uma bosta. Nickelback? Uma bosta. Tudo acaba entrando junto  no mesmo balaio de gato e eles acabam não separando o  joio do trigo, colocando seus gostos pessoais em tudo quanto  é crítica/matéria/texto/ensaio/análise  – por mais que aleguem que são completamente ‘imparciais’.  Ainda bem que, aqui n’A ARCA, a gente nunca se fingiu de imparcial…   O grande problema  desta história é que esta trupe atualmente domina  os cadernos de cultura dos principais veículos de comunicação  da mídia de São Paulo. Se você parar para  pensar que ‘Veja’, ‘Istoé’, ‘Época’, ‘Folha de  São Paulo’, ‘Estado de São Paulo’, ‘Carta Capital’  e tantos outros são meios que atingem o Brasil inteiro,  com muito mais penetração do que um jornal ou  revista local, produzidos e distribuídos com muitíssima  dificuldade… Por isso, este grupinho seleto de críticos  paulistanos se tornam muito mais formadores de opinião  do que qualquer jornalista da região. Entenderam a gravidade  do problema? 
  :: A  revolta do brega se aproxima!  Pois bem: pau  na bunda deles (desculpem o linguajar, mas é isso aí).  Que Robinson e companhia ainda têm muito a melhorar no  repertório, concordo plenamente. Mas daí a chamar  esta nova onda lançada pelo genial Raul Gil de ‘praga’  é um exagero sem tamanho! A música deles pode  ser brega…mas que bom que, finalmente, o verdadeiro brega  volta a dominar as nossas rádios, dando um chega pra  lá nas musas baianas e grupinhos de samba neo-romântico  (porque pagode é uma coisa muitíssimo diferente  do que eles fazem). Eu sou brega e assumo isso sem medo…porque  o Brasil é brega. E só eles se recusam a ver.  Motivado pelo nosso mestre maior, o genial Falcão, lanço  agora o ‘Manifesto Brega contra os Moderninhos‘.  Viva o Amado  Batista, nosso ‘Roberto Carlos do Nordeste’! Salve Reginaldo  Rossi e Sidney Magal, o pai da Sandra Rosa Madalena, a mulher  com quem eu vivo a sonhar! Hip-hurra para o mestre Silvio Santos!!!!!    Muitas saudades do Ovelha, do Biafra, do Nahim, do Gilliard,  do Luan e Vanessa, do Jessé! Onde está o Roupa  Nova? E os anos 80, então? Quer coisa mais brega e maravilhosa  que aquilo? Atari, Genius, velotrol, Dip-Lik…Eu ainda lembro  de todas as letras do Trem da Alegria e do Balão Mágico!  Eu chorei quando ouvi "Take On Me", do A-Ha, pela  primeira vez. E ainda me arrepia fundo quando vejo a imagem  do Bozo na TV.  Ainda tenho gravados  em VHS clássicos como "Curtindo a Vida Adoidado",  "Admiradora Secreta", "O Último Americano  Virgem" e "Feitiço de Áquila".  E o que dizer de John Hughes? Nosso MESTRE! "Clube dos  Cinco", "Gatinhas e Gatões"… quer coisa  mais legal?  Ahhhhhhh, sim: adoro o tal do ‘metal farofa’ (ou hair metal,  como queiram). Cabelos armados, roupas de couro ou com estampa  de ‘tigrinho’ grudadas no corpo e baladas pesadas mas cheias  de letras românticas, tudo isso é simplesmente  ducaralho, como diria o El Cid. Saudações d’A  ARCA ao Poison, ao Scorpions, ao Twisted Sister, ao Van Halen  (do David Lee Roth, que era muuuuuuuito mais legal), ao Aerosmith,  ao Bon Jovi…  Se tudo isso é ser brega, sou brega com muito orgulho,  principalmente porque nós vivemos no país mais  brega do mundo! Assuma agora mesmo o seu lado brega e vamos  protestar pelo nossos direitos!Eu detesto óculos  da Chilli Beans. Prefiro muito mais aqueles ray-bans falsificados  do (011) 1406 que a gente compra em qualquer camelô! Aliás,  sou muito mais uma visita aos camelódromos e brechós  da cidade do que umas comprinhas nas lojas modernosas da Galeria  Ouro Fino. Se eu quiser colorir o cabelo, vou usar papel crepon  mesmo. Se quiser um tênis colorido, pode deixar que um  spray resolve o problema. Não  uso aquelas bolsas tipo carteiro, que todo web-designer parece  ter obrigação de pendurar transversalmente no  peito. E admito: adoro comer no Mc Donald’s – com toda a certeza  você NUNCA vai me ver usando uma daquelas camisetas pedindo  a morte do Ronald McDonald ou de qualquer destes ícones  ‘capitalistas’. Sou anarquista e revolucionário há  muito tempo, desde muito antes desta molecada achar que o Che  Guevara está na moda, colocando a cara do coitado do  sujeito em camisetas e todo tipo de penduricalhos. E sei que  a verdadeira revolução se faz de dentro pra fora,  nunca de fora pra dentro.
  O meu ‘case’ de CDs mistura muito bem o "Belle and Sebastian"  que eles tanto cultuam com alguns CDs do Falcão, do Rappa,  a trilha sonora do filme do Senhor dos Anéis e pérolas  do metal farofa como Poison e Scorpion. Esquisito? Nada disso:  eu sou é feliz, sei curtir tudo de divertido que a vida  oferece. Não sou como esta casta de ‘pseudo-intelectuais’  que ficam se preocupando em provar quem conhece a banda mais  obscura e tentando encontrar defeitos em tudo que seja ‘mainstream’.  Cuidado, hein: isso dá ruga.   OBS 1: Eu não quero viajar para Londres nas férias.  Prefiro, sem sacanagem nenhuma, conhecer a Birigui decantada  pelo Tubaína, na boa.
  OBS 2: Se algum fêla-da-puta copiar este texto e mandar  pela internet dizendo que foi o Arnaldo Jabor que escreveu,  eu prometo que corto as bolas dele fora e dou para os meus porcos  comerem! |