O Dia das Crianças se aproxima! Quem aqui vai ganhar presentes? Tecnicamente, todos os maiores de 12 anos não podem mais receber congratulações ou presentes nessa data, já que a famigerada “adolescência” chega cada vez mais cedo… Mas, poeticamente falando, nós temos a nossa querida “criança interior”, que é quem faz nerds com barba na cara ainda pararem em frente às vitrines de lojas de brinquedos, babando.
Se a sua criança interior está viva ou não, isso é responsabilidade sua, mas é fato que um dia você foi uma criança, e deve ter acompanhado uma tonelada de séries, programas e desenhos que faziam a sua felicidade diária. E é pensando nisso que A ARCA resgata esses três clássicos infantis que passavam há cerca de 10 a 15 anos atrás na TV Cultura. Super-supimpas e merecidamente premiados, esses programas eram dirigidos às crianças, com esperanças de transformá-las em seres inteligentes, coisa que hoje é meio rara em termos de programação infantil. É com o maior orgulho e com grande prazer que eu lhes apresento:
:: RÁ TIM BUM
Nos anos 70, a Globo e a Cultura uniram-se à Children’s Television Workshop (ou Sesame Workshop) – a produtora responsável pela divulgação internacional do programa Vila Sésamo – e, juntas, adaptaram para as telas brasileiras a famosa Vila, que ficou no ar aqui até 1976. Esse foi o primeiro investimento da TV Cultura no setor de programas culturais destinados à criançada, que foi logo seguido por Catavento, criado em 1985, e que, mais tarde, mudou seu formato e seu nome para Rá-Tim-Bum – o primeiro da trilogia de programas que possuem como marca registrada a expressão final do Parabéns a Você.
Em 1990 foi ao ar o programa Rá Tim Bum, com uma idéia muito bacana: juntou entretenimento e educação num programa para crianças pequenas, que ensinava coisas triviais como as cores, o alfabeto e lógica, além de incentivar a criatividade dos pequenos. Mas isso sem nunca tratá-los como seres burros ou dotados de alguma espécie de deficiência auditiva, como fazem os Telettubies.
O programa propriamente dito começava quando uma família feliz e comum, composta por um pai, uma mãe, uma menina engraçada (Lia) e um menininho ruivo (Ivo), ligava sua televisão para assistir ao Rá-Tim-Bum. Então passavam os quadros feitos especialmente para prender a atenção das crianças. O roteiro inteligente tratava das atividades pré-escolares, de noções de higiene, educação, saúde e moral, mas sem ficar repetindo coisas óbvias, dentro de um cenário e figurinos feitos de forma exótica, e bem modernos (considerando-se – ou não – seu ano de estréia). As personagens bizarras ensinavam a molecada, dentro de um roteiro divertido e cativante.
Rá Tim Bum foi produzido com o apoio do Sesi, e teve direção de Fernando Meirelles (diretor de Cidade de Deus), contando com a participação de nomes consagrados em muitas áreas – a trilha sonora era de Edu Lobo, e interpretada por gentes como Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Paulo Tatit.
Momentos nostalgia. Você se lembra…
…do Euclides e da Sílvia? o meu favorito vem primeiro. Oras, o Euclides era ruivo, serelepe, inteligente e usava roupas coloridas. E era melhor amigo de uma cobra, a Sssssílvia. O Euclides era interpretado pelo ator Carlos Moreno, o garoto propaganda da Bombril, e a Sílvia era prima da cobra Celeste, moradora do Castelo Rá Tim Bum.
…do Máscara? um detetive muito parecido com o Spirit do Will Eisner, mas que era um fiasco. Seu amigo, o rato Róy, conseguia ser mais inteligente que ele.
…do Zero e Zero Zero? dois ETs que passeavam pela Terra dentro de sua nave espacial – dizem as más línguas que um deles é a atual Mamma Bruschetta, fofoqueiro(a) do programa Mulheres, na TV Gazeta.
…da Nina e de sua Boneca Careca? uma atriz adulta que interpretava uma criança muito bem, falando com a câmera escondida em seu quarto, e cuidando de sua boneca careca.
…dos quadros musicais? os porquinhos que tomavam banho entoando “experimente a refrescante sensação de bem estar, tome um banhinho já!”, “Viu como se faz” e o clássico “Estava a velha no seu lugar…”.
…do Professor Tibúrcio? um professor esdrúxulo, feito por Marcelo Tas (o atual apresentador de Vitrine), que sempre abria suas aulas com um “Olá classe!” e um bando de criancinhas respondiam “Olá, professor Tibúrcio!”
…da Esfinge? era um moço vestido de esfinge. E ele fazia perguntas elementares, como “quantos morangos aparecem nessa cena?”, para que as crianças respondessem. Eu nunca acertava, diga-se de passagem.
…do Senta que lá vem a história…? um menino mordia uma maçã, e sentava-se para assistir à história do dia. As historinhas eram divididas em blocos durante o programa, e muitas vezes eram adaptações de contos de fada conhecidos.
Foi o programa Rá Tim Bum que ditou o caminho da rede Cultura em relação aos programas infantis educativos de qualidade. Foi premiado no Brasil e no exterior, e teve uma boa audiência, que só foi menor que o programa ao qual ele deu origem – o Castelo Rá Tim Bum.
:: Glub Glub
Glub Glub não seguiu a mesma linha que a série Rá Tim Bum, mas também era dirigido às crianças, e também era educativo – com a diferença de que fazia isso exibindo desenhos animados de diversos países, que eram apresentados e comentados por um casal de peixes.
Os atores Carlos Mariano (Glub), Gisela Arantes (…Glub também), e, depois, a carangueja Carol (Andréa Pozzi), vestiam as máscaras em formato de peixe (ou caranguejo), e punham-se em trajes verdes, interagindo em frente a uma tela da mesma cor, que, depois, era substituída pelo desenho animado que era o cenário do programa: um desenho animado representando o fundo do mar. Hoje, os “Glubs” ainda são atores, mas longe da televisão: Carlos Mariano atua em teatro – participou da peça Trair e Coçar é só Começar, que ficou em cartaz durante 15 anos; e trabalha também em curtas. Gisela Arantes também atua em peças teatrais, como atriz e autora, faz locuções e filmes publicitários, e cuida de eventos culturais.
O programa estreou no dia 9 de setembro de 1991, e, assim como os “Rá Tim Bum”, tinha meia hora de duração e passava de segunda a sexta feira, tendo mais de 600 programas gravados. Os “frutos do mar” apresentavam desenhos animados curtos, que eram por vezes produções “alternativas”, trazidas de países diferentes do circuito habitual: não só produções norte-americanas passavam lá, mas também desenhos alemães, ingleses, tchecos, entre outros; feitos nas mais diferentes técnicas – várias delas em stop-motion (usando massinha, colagem, marionetes), e outras em animação tradicional.
A abertura e o cenário de Glub Glub foram feitos por Flávio Del Carlo, um veterano na animação aqui no Brasil – é cenógrafo, desenhista e diretor de arte. Pra quem não se lembra, a abertura mostrava um pescador que carregava uma televisão em seu barco – a TV cai no mar, um peixe elétrico morde sua tomada e consegue ligá-la. Então, o casal de peixes pode começar a assistir aos desenhos, que passavam naquela televisão submarina.
Momentos nostalgia. Você se lembra…
…de Johnson e seus amigos? um elefante cor de rosa de pelúcia, que morava no quarto de um menino chamado Michael, e tinha como amigos uma sanfona (?), um carrinho e uma bolsa de água quente.
…do aviãozinho Jimbo? era um avião que falava e tinha amigos – assim como Jay Jay o Jatinho, mas era uma animação em 2D.
…do Zeca e do Joca? uma animação de Praga (República Tcheca), que mostrava dois amigos carecas, que usavam boina (veja mais no site http://patandmat.net/).
…do Socorro, Vovó? uma velhinha que morava com um gato, e que, quando via alguém em perigo, ia socorrê-lo.
…do Pare com Isso? um desenho bizarro, que mostrava criaturas cujos nomes eram ordens que os pais davam às crianças. “Pare com Isso e Arrume Tudo. E esses são seus amigos: Penteie seu cabelo, Lave seu Rosto, e Rápido!. Brinque Lá Fora e seu brinquedo favorito. O pequenino Fique Calmo, e o chato Agora Não! As duas abelhas, Sossegae Silêncio, o dorminhoco Vá Para a Cama e Não Faça Isso. Tome Cuidado, Coma as Verduras, Escove os Dentes, e o Grande e Mau EU DISSE NÃO!“.
O Glub Glub parou de passar em 1994, mesmo ano em que o maior sucesso infantil da Cultura nasceu:
:: Castelo Rá Tim Bum
O Castelo Rá Tim Bum foi ao ar em 9 de maio de 1994, com uma boa publicidade, que já antecipava o sucesso que o programa iria fazer. Contava a história de um menino de 300 anos, o Nino (Cássio Scapin, que interpretou também o Santos Dumont na mini série Um Só Coração), que morava num castelo perto da cidade, e que, devido à sua idade, não pôde ingressar numa escola. Ele vivia sozinho e sem amigos, junto ao seu tio Vítor (Sérgio Mamberti) e sua tia Morgana (Rosi Campos), até um dia em que três crianças são levadas ao seu castelo, correndo atrás de uma bola do menor do trio – o Zequinha.
Pedro (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Rachel) e Zequinha (Freddy Allan) viraram os melhores amigos de Nino, e iam visitá-lo todos os dias. Castelo Rá Tim Bum, diferentemente de seu antecessor, tinha um enredo, que sempre enfocava um assunto em especial. Apesar de seguir uma história, existiam quadros que passavam durante a programação: Morgana e suas aulas de História, Mau, seus trava-línguas e sua gargalhada fatal, os experimentos de Tíbio e Perônio (o Tíbio era interpretado por um dos criadores do programa, Flávio de Souza), entre muitos outros.
O programa fez enorme sucesso na época, e chegou até a disputar pontos no Ibope com as novelas da Globo e do SBT. Ele parou de ser produzido em 1997, mas teve um filhote famoso: Castelo Rá Tim Bum – O Filme estreou nos cinemas em 1999, com direção de Cao Hamburger, quem cuidava da direção do programa, e financiado pelas leis de incentivo à cultura e pela iniciativa privada. O filme não conta com a presença do Cássio Scapin. Nele, Nino é interpretado por um menino, Diego Kozievitch, e o castelo é bem mais obscuro, e menos colorido. É um filme infantil bem bacana, com uma boa produção e uma trilha sonora impecável (eu assisti a esse filme às 3 horas da madrugada, então ou estava com muito sono, ou o filme é bom mesmo…).
Depois de Castelo Rá Tim Bum, a TV Cultura, em parceria com a Fundação Bradesco, investiu na Ilha Rá Tim Bum, que, se comparado aos seus antecessores, é um tanto quanto deprimente. A idéia de crianças e pré-adolescentes presos numa ilha acabou se enrolando e perdendo a diversão-educação que era comum nos tempos áureos da Cultura. A Cultura foi perdendo audiência a partir de 1995, e uma das grandes causas desse retrocesso foi o fim do programa Castelo Rá Tim Bum.
Momentos nostalgia. Você se lembra…
…do Doutor Abobrinha? seu nome verdadeiro era Pompeu Pompílio Pomposo. O Dr. Abobrinha (Paschoal da Conceição) sempre armava planos mirabolantes, entrando disfarçado no Castelo e tentando fazer com que o Nino assinasse um contrato de venda. Frase: “Um dia esse castelo será meu, meu meeeu!”
…da Caipora (Patrícia Gaspar)? ela aparecia quando alguém assobiava, e contava histórias da Amazônia e do Folclore brasileiro. Frase: “Cracatau (?)”.
…do Bongô (Eduardo Silva)? um entregador de pizza gente fina, que usava roupas super coloridas e dançava dança de rua. Frase: “E aí, galerinha?”
…das músicas? elas apareciam diversas vezes. O ratinho de massinha que tomava banho é o mais lembrado, mas quem não se lembra da “Lava uma mão, lava outra, lava uma” ou do “Eu vou mostrar para a moçada como se faz”? – quase todas elas são do cantor e compositor Hélio Ziskind.
…do Castelo no Glub Glub? sim, isso existiu. Em um episódio, o Castelo vai parar no fundo do oceano, e Nino e seus amigos encontram-se com os peixes do Glub Glub.
Com esse sucesso em programação infantil na década passada, a Cultura conseguiu alcançar 3 prêmios Emmy, e transmite seus programas para mais de 20 emissoras pelo Brasil. Agora, o canal exibe alguns desenhos e séries estrangeiros, enquanto reprisa os episódios do Rá Tim Bum e do Castelo Rá Tim Bum, de segunda a sexta, às 13 e 13:30h, respectivamente. Aí está uma ótima chance para relembrar os velhos tempos. E resta a dúvida: será que a família Rá Tim Bum foi mortalmente ferida depois da Ilha Rá Tim Bum?
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