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Artigo adicionado em 28/09/2004, às 04:25

Relembrando A PEQUENA LOJA DOS HORRORES
Não alimente as plantas! Uma planta carnívora que veio do espaço sideral e se alimenta de sangue. Um nerd atrapalhado que trabalha numa floricultura. Um dentista sádico que usa um avental de couro. Misture tudo, coloque alguns bons números musicais no meio e tenha A Pequena Loja dos Horrores. Um musical de humor negro, às […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Uma planta carnívora que veio do espaço sideral e se alimenta de sangue. Um nerd atrapalhado que trabalha numa floricultura. Um dentista sádico que usa um avental de couro. Misture tudo, coloque alguns bons números musicais no meio e tenha A Pequena Loja dos Horrores. Um musical de humor negro, às vezes beirando o trash, outras beirando a avacalhação total, e outras seguindo a linha “filme família”. Sim, Frank Oz (conhecido pelo seu papel como a voz do Mestre Yoda, em O Império Contra-Ataca, diretor de Nosso Querido Bob e de dois filmes dos Muppets), o diretor do filme, misturou tudo e inverteu, nessa “adaptação da adaptação”, que por isso mesmo divide radicalmente as opiniões dos telespectadores.

E isso porque “A Pequena Loja dos Horrores” da qual estou falando é a de 1986, e não a original, que foi escrita por Charles Griffith e dirigida por Roger Corman (ambos mestres dos filmes B), em 1960. Essa produção de 60 foi feita com baixíssimo orçamento, e é um trash bizarro e tosco, realmente tosco – isso não quer dizer que o filme seja ruim; é legal sim, bem humorado e insano, apesar de suas sérias restrições orçamentárias (e não é um musical, embora o seo R.Pichuebas garanta que é sim – quem entende essas pessoas que gostam de “Tommy, o Mago do Pinball”? o_O).

Essa versão original de “A Pequena Loja” foi feita em apenas dois dias e uma noite, e foi um dos primeiros trabalhos de Jack Nicholson. Ele faz uma pequena ponta no filme (a mesma executada por Bill Murray na versão de 86), embora seja anunciado como grande estrela da produção em muitos lugares, inclusive no DVD lançado no Brasil em junho desse ano na revista DVD World Classic. Essa versão do disco para o Brasil parece ter sido feita sem o mínimo de cuidado – desde a capa, que nada tem a ver com o filme antigo, até a tradução terrível na sinopse da contra-capa.

“A Pequena Loja dos Horrores” de 60 deu origem a uma peça musical off-Broadway em 1982, com letras de Howard Ashman e músicas de Alan Menken. Apesar de esses nomes estarem intimamente associados aos musicais da Disney, não há muito o que temer em relação às músicas de “A Pequena Loja dos Horrores” (para aqueles que abominam as músicas felizes dos desenhos); nessa peça as músicas são muito bacanas mesmo! O musical foi para o circuito da Broadway em seguida, e foi encenado em vários países, inclusive aqui no Brasil por um curto período, no início da década de 90.

E em 1986, Frank Oz fez a adaptação da peça para as telas do cinema. Portanto, essa versão final é a adaptação da adaptação; e mistura algumas coisas do filme original com outras coisas da peça, mas mantém ao menos um pouco da estrutura básica, e mantém também a localização temporal – a década de 1960. O filme concorreu ao Oscar pela música Mean Green Mother, que foi a única totalmente criada especialmente para a película, pelos mesmos compositores da partitura original.

:: PRÓLOGO

“No dia vinte e três de Setembro, no início de uma década não muito distante da nossa, a espécie humana repentinamente encontrou uma ameaça mortal à sua existência. E esse terrível inimigo surgiu, como geralmente os inimigos o fazem, no mais inocente e improvável dos lugares”.

Assim como na peça musical, o filme é conduzido por um coro de três moçoilas engraçadas (interpretadas aqui por Trichina Arnold, Michelle Weeks e Tisha Campbell), que geralmente são a deixa para que um número musical comece, e que não têm outra função na história. Elas moram em Skid Row, um bairro pobre no subúrbio, onde o filme se passa. É lá que Mushnik (Vincent Gardenia) tem uma floricultura quase falida, cujos únicos dois funcionários são Seymour (Rick Moranis – Querida Encolhi as Crianças, Os Caça-Fantasmas) e Audrey (Ellen Greene).

A loja de flores está correndo o risco de ter suas portas fechadas, quando Seymour, um nerd estereotipado e desajeitado, aparece com uma estranha planta em suas mãos. Audrey II, como é batizada carinhosamente, parece uma simples planta carnívora exótica. Ao ser colocada na vitrine, a plantinha começa a atrair clientes que, fascinados por ela, adentram a loja e resolvem gastar fortunas com flores. Assim, a plantinha vai crescendo e alcançando proporções gigantescas; e não só a loja começa a fazer sucesso, como também o antes ignorado Seymour.

Está tudo muito bem, está tudo muito bom, tirando o fato de que a planta mostra uma incomum capacidade de falar (e de cantar também, oras, estamos falando de um musical), e pela ainda mais incomum dieta da planta: sangue. Seymour vê-se entre uma planta cujo cardápio inclui sangue humano (e que não é autótrofa – ou seja, sobra para seu “dono” a tarefa de alimentá-la) e o sucesso pessoal. No meio desse dilema, o personagem de Rick Moranis ainda arranja tempo para revelar seu amor para a bizarra e esganiçada Audrey (a Audrey Primeira, que trabalha na loja, e cujo nome inspirou a alcunha da planta). Acontece que a moça loira namora um hilário dentista sádico com complexo de Elvis Presley, interpretado por Steve Martin

Nomes clássicos da comédia da época (que participaram ao menos uma vez de Saturday Night Live, em seus tempos áureos) aparecem nessa obra prima. Além de Martin e Moranis, fazem pequenos papéis no filme os atores James Belushi, Bill Murray, Miriam Margolyes, John Candy e Christopher Guest.

Quem só assistiu à versão original do filme deve ter notado as grandes diferenças no enredo dela em relação à versão musical. Nesta, dentre outras divergências, a mãe hipocondríaca de Seymour não existe, o dentista ganha uma dimensão maior e tem um caso com Audrey, e a planta é extremamente mais complexa – psicologicamente e tecnicamente falando. O desenho da Audrey II foi feito por Lyle Conway, que já havia trabalhado com Frank Oz em seus outros projetos. Sua confecção foi bem detalhista – envolveu mais de 15 mil folhas feitas à mão, gelatina, folhas de parreira e mais de 10 quilômetros de cabos. Para um filme de 1986, em que computação gráfica como a utilizada no Gollum, de O Senhor dos Anéis, ainda não era uma alternativa, os efeitos visuais estão muito bons – e isso foi resultado de um enorme trabalho por parte da produção e dos atores.

Como Audrey II aparece em vários tamanhos e ângulos, foram confeccionados vários modelos diferentes dela – o maior deles pesava quase uma tonelada, e precisava de cerca de 60 técnicos para manipularem a criatura. Além disso, todas as cenas em que a planta aparece falando ou fazendo movimentos rápidos foi filmada em 16 quadros por segundo, numa espécie de stop-motion (com a diferença de que normalmente, nessa técnica, são gravados 24 quadros por segundo, e não 16). Isso quer dizer que, quando contracenavam com Audrey II, os atores tiveram que agir em câmera lenta também. Imagine a beleza que não deve ser dublar uma música em câmera lenta (que havia sido gravada por eles três meses antes), e interpretando ao mesmo tempo! A voz da planta carnívora é (muito bem) emprestada pelo cantor Levi Stubbs, que fazia parte da banda The Four Tops.

:: SPOILER! Não leia esse tópico se não quer saber o final do filme

No filme de 1986, o final, apesar de ter uma ironia nem um pouco sutil na última cena, acaba sendo um “e viveram felizes para sempre”, totalmente diferente do final bizarro da versão original, em que Seymour se revolta e resolve se matar, jogando-se dentro da planta (“Eu não fiz por querer!”). Na versão de 86, o final do filme ia seguir a linha do musical da Broadway, que é bem parecida com a do filme de 60 – com a diferença de que, na peça, a planta devora Audrey e Seymour, e sai pelo mundo para pôr em prática seu intento: a dominação mundial. Ou, como diz a última música da peça: “As plantas encontraram idiotas que as alimentavam, foram crescendo e começaram a realizar o seu propósito aqui: que era, basicamente, comer Cleveland e Des Moines e Peoria e Nova York… e onde você vive!”

Quando Frank Oz já tinha filmado todo o filme (inclusive a cena final igual à da peça), ele percebeu que dificilmente um final trash como esse funcionaria bem no cinema. Assim, a versão original para o final do filme só pode ser encontrada em uma das versões em DVD lançadas nos Estados Unidos. As outras versões não trazem essa cena nos extras devido a uma briga judicial – por isso, os sortudos que compraram o primeiro lançamento do DVD acabaram possuindo um item de colecionador.

Sabe aquela idéia de que musicais são “feitos para gays” e são deprimentes? Se ela não foi desfeita mesmo quando você assistiu a Moulin Rouge, então só lhe resta assistir “A Pequena Loja dos Horrores”. Sua idéia de “musicais doces” tem boas chances de passar após esse filme.

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