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Artigo adicionado em 18/08/2004, às 03:47

OLGA BENARIO PRESTES
Os fatos históricos que inspiraram o filme. Muito cuidado com SPOILERS, hein? Já estamos acostumados a assistir filmes com o tema “judeu bonzinho perseguido pelos nazistas e morto numa câmara de gás”. É, o filme Olga, que estréia essa sexta nos cinemas, também fala sobre isso. Mas possui um diferencial interessante: a protagonista realmente existiu. […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Já estamos acostumados a assistir filmes com o tema “judeu bonzinho perseguido pelos nazistas e morto numa câmara de gás”. É, o filme Olga, que estréia essa sexta nos cinemas, também fala sobre isso. Mas possui um diferencial interessante: a protagonista realmente existiu. “Olga”, de Jayme Monjardim, certamente deve ter em seu roteiro alguns fatos romanceados ou suprimidos (afinal, é um filme, e baseado no livro homônimo de Fernando Morais), por tratar-se de um filme histórico, mas com um pouco de ficção. Entenda melhor, então, a história da militante alemã que foi casada com Luís Carlos Prestes.

Olga Benario nasceu em Munique, em 1908, de pais social-democratas. Leo Benario, o pai de Olga, era um advogado que lidava bastante com causas de operários, auxiliando-os em seus processos. A partir daí, a moça alemã começou a entrar em contato com as idéias dos operários. Com apenas 15 anos, e já com uma certa cultura e idéias políticas bem formadas, (em parte devidas à leitura de grandes obras alemãs), Olga começou a freqüentar a Juventude Comunista, onde foi recebida com desconfiança, por ser burguesa, mas depois tida como uma das melhores militantes. Esse primeiro contato de Olga com a política e o ideal comunista não agradou sua mãe, que foi contrária às idéias da filha até o fim de sua vida.

Foi nessa facção comunista que Olga conheceu Otto Von Braun, com quem teve um relacionamento amoroso, e por quem supostamente protagonizou a cena da libertação do réu no tribunal (que aparece no início do filme). “Supostamente” pois não há uma comprovação histórica dessa cena, embora digam por aí que ela apontou a arma contra a cabeça do juiz e, junto com os companheiros do partido comunista, libertou Otto Braun.

Após essa cena, Olga e Otto fugiram para Moscou, na extinta União Soviética. Lá, viveram juntos, e a moça viu seus ideais políticos crescerem ainda mais para ela: foi aclamada pela Juventude Comunista, participou de treinamentos militares no Exército Vermelho, aprofundou seus estudos no Comunismo e trabalhou ativamente pelo Comintern (Partido Comunista Russo). Todas essas ocupações acabaram afastando-a de Otto.

:: ENQUANTO ISSO, NO BRASIL…

A Coluna Prestes fazia sua caminhada de aproximadamente 25 mil quilômetros. O que esses malucos queriam, caminhando assim? Bem, essa Coluna foi um dos chamados “movimentos tenentistas”. Lá pelos idos de 1920 o Brasil enfrentava sua fase mais aguda das Oligarquias, com os coronéis, os latifúndios e todo o kit que acompanha esses famigerados nomes.

Para protestar contra o então atual Governo que, além dos problemas políticos e sociais, era violento, parte da população começou a se organizar em revoltas. E os tenentes também. Estes no início lutavam contra o caos e a desorganização em que o Exército se encontrava, mas depois passaram a defender causas políticas e sociais, organizando-se em movimentos militares.

Pronto, chegamos onde queríamos – a Coluna Prestes. Luís Carlos Prestes e Miguel Costa foram os responsáveis por esse movimento, um dos mais famosos no tenentismo. Esses cidadãos reuniram algo como 3000 homens, com o objetivo de atacar o Rio de Janeiro e tomar o poder, livrando o País da corrupção em que caía. Esse objetivo inicial foi mudado depois – a Coluna Prestes passou por 9 estados brasileiros indo contra o governo e principalmente atraindo a atenção para si, “limpando a barra” para que revoltosos em outras regiões pudessem se manifestar. Esse movimento tenentista foi perseguido por tropas de coronéis, pelo Exército oficial e até por cangaceiros armados pelo próprio Governo, mas não foi vencida. Um general da época chegou até a afirmar: “Dir-se-ia que nossos adversários adivinham sempre onde não estamos e para ali marcham”.

A Coluna Prestes foi um evento curioso, e seria matéria-prima para um filme inteiro, mas no caso de “Olga”, aparece apenas citada em um diálogo.

:: OLGA VEM AO BRASIL

Em um de seus treinos de pára-quedismo e pilotagem de aviões, Olga Benario ouviu falar da Coluna Prestes. Tempos depois, foi incumbida da missão de escoltar Luís Carlos Prestes, então líder de um levante comunista, até o Brasil. A URSS na época era o modelo socialista-comunista perfeito aos militantes de outros países, que freqüentemente iam até Moscou, e eram auxiliados pelo Comintern. Olga Benario em verdade veio até o Brasil na condição de espiã soviética, como uma das enviadas para ajudar os líderes daqui a fazerem a revolução comunista – mas isso sob o aval de Stálin, o ditador. O movimento ao qual ela fazia parte visava depor os governos de determinados países para neles implantarem o comunismo, e de forma revolucionária. Para isso, violência podia (e às vezes devia) ser utilizada. Certo, Olga lutou por sua causa, e quanto a isso estava certíssima, mas não podemos esquecer desses detalhes cruéis – afinal, nem tudo são rosas.

Aqui no Brasil, Olga e Luís Carlos Prestes tiveram que passar por marido e mulher. Isso mais tarde deixou de ser apenas fachada, pois ambos se apaixonaram e casaram-se de verdade.

:: GETÚLIO VARGAS E A INTENTONA COMUNISTA

Getúlio Vargas estava no poder a 5 anos quando idéias políticas bem diferentes entre si começaram a pipocar pela população. De um lado as idéias fascistas chegavam ao Brasil, trilhando o caminho que já havia seguido em outros países. Era a época da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, e alguns políticos daqui acabaram simpatizando com esses movimentos. Do outro lado estavam os comunistas. A Aliança Nacional Libertadora (ANL) representava a extrema esquerda. Líderes trabalhistas e sindicais estavam entre seus componentes, que embora fossem na maioria socialistas, contavam também com representantes da classe média não-socialistas, mas de esquerda. Desse partido faziam parte Luís Carlos e Olga Benario.

Vargas, que precisava de um pretexto para acabar com a “ameaça comunista” acabou encontrando-o numa carta que Luís Carlos Prestes lhe enviou. Esta carta era um manifesto, que ditava claramente: “Todo poder à ANL”. Enfim, Getúlio Vargas pôde fechar o partido, que continuou seus trabalhos pouco tempo depois, de forma clandestina. Dessa forma, muitos aliados de Prestes abandonaram a Aliança, que foi pendendo cada vez mais para o lado comunista e “revolucionário” da coisa.

Assim, no dia 27 de novembro de 1935 o Comintern recebeu a informação dada pelos enviados russos ao Brasil: tudo estava pronto para a Intentona Comunista. Não, Intentona não é nome de gente. Intentona Comunista foi apenas o nome dado a esse levante militar da ANL, que, um decreto de “estado de guerra” e 10 mil pessoas presas depois, foi rapidamente sufocado.

Dentre essas 10 mil pessoas encontravam-se Olga Benario e Luís Carlos Prestes. O rígido general Filinto Müller encarregou-se de organizar a busca ao casal militante, que enfim encontrou-os escondidos em sua casa. Apesar dos muitos protestos de Olga, ambos foram separados e levados para prisões diferentes.

Após alguns meses como presidiária aqui no Brasil, Olga foi extraditada. Levada sem aviso prévio para um navio que carregava ela e mais algumas militantes comunistas de volta a Alemanha, Olga foi parar num cárcere alemão, esperando uma filha de Luís Carlos Prestes. É aí que entra em cena a história de que Getúlio entregou Olga nas mãos de Hitler, de presente, porque queria ser amiguinho dos nazistas. É claro que, pensando bem, isso não é muito singelo, mas nada foi tão simples assim.

Se é verdade que Getúlio entregou Olga Benario à Alemanha para conquistar a simpatia dos nazistas, o presidente brasileiro não teve muito retorno dos caras da suástica por causa disso. E também não podemos esquecer que Alemanha e Brasil tinham um acordo de extradição. Getúlio Vargas agiu de má fé sim por, em busca de seus interesses políticos, permitir a extradição de Olga – Vargas sabia que ela era um dos membros mais influentes no partido comunista, e através disso feriria o orgulho deles e atingiria pessoalmente Luís Carlos Prestes. E isso não foi muito, digamos, elegante de sua parte.

Olga Benario, ao ver-se na Alemanha, não gostou muito da idéia. Queria que sua filha nascesse no Brasil e, principalmente, temia ir parar na Alemanha nazista: ela era comunista e judia! Em Barnimstrasse, numa prisão de mulheres em que Olga ficou, incomunicável, nasceu Anita Leocádia, sua filha. Era dia 27 de novembro de 1936, exatamente um ano após o fracasso do levante comunista. Sua filha, com apenas 1 ano de vida, foi repentinamente tirada de seus braços e levada embora. Olga só pôde animar-se novamente quando descobriu que Anita não estava num orfanato nazista, como pensava, e sim com sua sogra – que, inclusive organizou inúmeros protestos na Europa contra as prisões e a ditadura que se instalava no País.

Dois anos depois do nascimento da filha, Olga Benario foi transferida para um campo de concentração chamado Lichtenburg, onde passou um ano e meio em uma solitária, por vezes sendo chamada a interrogatórios e outras vezes encontrando com amigas do tempo da Comintern. O campo de concentração de Ravensbrück foi seu próximo destino. Lá, num campo exclusivo para mulheres, Olga ainda demonstrava seu espírito de liderança: organizava peças teatrais, dava aulas a outras presidiárias, dando a elas lições que iam desde noções de higiene até ideais políticos.

Sua estadia no campo de concentração durou até fevereiro de 1942. Então, Olga Benario teve seu triste fim: foi executada na câmara de gás de Bernburg, junto a outras 200 prisioneiras, como mais uma das vítimas da injustiça segregadora nazista.

Luís Carlos Prestes ficou sabendo da morte da esposa dois meses após o acontecido. Sua atitude, anos depois, foi um tanto quanto polêmica. Mesmo sabendo que o Getúlio Vargas não impediu a extradição de sua esposa, esteve ao lado do ditador, e o apoiou, dizendo que tudo era em nome de sua causa comunista, depois que o partido havia sido legalizado e bem tratado novamente por ele.

Junto com a notícia da morte, Prestes recebeu uma carta escrita por Olga Benario enquanto estava a caminho de Bernbug, endereçada a ele e à filha. Dois trechos dessa carta exemplificam bem o ideal de Olga Benario, que acabou como mais uma da lista dos heróis que acabaram morrendo pelo seu ideal.“Lutei pelo justo, pelo bom e até o fim. Vocês não terão nada para envergonhar-se de mim (…) Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue”.

Leia mais:
:: Leia a crítica do filme OLGA


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