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Artigo adicionado em 17/07/2004, às 01:35

QUENTIN TARANTINO
O cara que faz poesia com violência… Em Janeiro de 1991, um filme independente de enredo simples e estrelado por ilustres desconhecidos tomou de assalto o festival de Sundance e, no ano seguinte, o resto do mundo. Seu diretor-roteirista, um estreante de 28 anos, passou a ser referência básica para a maioria das produções que […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Em Janeiro de 1991, um filme independente de enredo simples e estrelado por ilustres desconhecidos tomou de assalto o festival de Sundance e, no ano seguinte, o resto do mundo. Seu diretor-roteirista, um estreante de 28 anos, passou a ser referência básica para a maioria das produções que viriam a seguir. O filme era Cães de Aluguel, e o cabeça do projeto, Quentin Tarantino, um ex-balconista de videolocadora, que foi considerado na época o “novo Martin Scorsese”, pela violência quase poética contida no filme. Hoje, 12 anos e quatro (ou cinco) filmes depois, o cara virou lenda.

:: SALADA POP

Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), na verdade, é o segundo trabalho de Tarantino atrás das câmeras – o primeiro, My Best Friend’s Birthday, filme amador de 1987, é item de colecionador, e muito difícil de encontrar em vídeo até mesmo nos States. Antes disso, Tarantino, que também é ator, fez uma ponta em três episódios da jurássica série Super-Gatas (hã?) e foi assistente de produção de um filmeco B do Dolph Lundgren chamado Potência Máxima (o quê?). Voltando a Cães de Aluguel, a película deveria ter sido rodada originalmente em preto e branco com uma câmera caseira e colegas do cara como atores. Mas um amigo do set era amigo de um amigo de um amigo de ninguém menos que Harvey Keitel, que teve acesso ao roteiro e decidiu produzi-lo.

A história pode ser resumida em uma única linha: cinco estranhos são contratados por um figurão que quer pôr em prática um plano de assalto a uma joalheria. A nível de segurança, cada um deles recebe uma cor como codinome. Temos então o Mr. White, Mr. Pink, Mr. Orange, etc. O plano dá errado, algumas pessoas morrem e os caras descobrem que entre eles há um delator. E resta saber quem é o indivíduo. Simples assim. Além de Harvey Keitel, o elenco era composto de nomes não muito conhecidos, como Tim Roth, Chris Penn (pra quem não sabe, irmão menos famoso do oscarizado Sean Penn), Steve Buscemi (numa interpretação hilariante) e Michael Madsen (que transformou seu Mr. Blonde num dos vilões mais cruéis da história), além do veterano e já falecido Lawrence Tierney como o mentor do assalto. Mesmo com um fiapo de roteiro e atores que ninguém conhecia, Cães foi aplaudido em todos os cantos e se tornou um imenso sucesso graças à montagem ágil, à trilha sonora recheada de “sub-clássicos” dos anos 60, às centenas de referências pop e, sobretudo, aos excelentes diálogos – só pra se ter uma idéia, logo na primeira cena, o bando discute o verdadeiro sentido da letra de Like a Virgin, da Madonna, antes de ir cometer o roubo! Sem contar que a tão famosa “cena da orelha” já se tornou uma das seqüências mais nervosas do cinema.

Há dois anos atrás, o filme comemorou dez anos de lançamento e ganhou lá fora um box em DVD com cinco capas diferentes, cada uma delas com um personagem e sua respectiva cor. Aqui no Brasil, existe uma versão chinfrim que está sendo vendida em bancas de jornal a menos de quinze reais (então vê se toma vergonha na cara e vai logo comprar).

:: O AUGE DA CARREIRA

Em 1994, os únicos trabalhos de Tarantino se resumiam à direção de um episódio do ER (pra quem não sabe, o popular “Plantão Médico”), ao roteiro de Amor à Queima-Roupa (True Romance, 1993), de Tony Scott – na verdade, um aperfeiçoamento de My Best Friend’s Birthday – e a autoria do argumento de Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994), que é desconsiderado pelo cineasta, pela afirmação de que o diretor Oliver Stone transformou seu enredo em um “samba do crioulo doido”. A poeira do primeiro sucesso baixou e todo mundo achava que Tarantino era fogo de palha. E então, eis que surge, bancado pelo pequeno estúdio Miramax, o que muitos consideram o ponto máximo da sua carreira: Pulp Fiction – Tempo de Violência, que mostrou que o diretor tinha um estilo próprio de direção: narrativa fragmentada, montagem acelerada e uma trilha sonora que chega a ser um personagem da trama, tamanha sua importância.

Pulp Fiction, narrado de forma não-linear e inspirado nas antigas pulps (revistinhas policiais de bolso), se tornou um divisor de águas nos anos 90: custou 8 milhões de dólares e rendeu quase 108 milhões só nos EUA, uma marca violenta para um estúdio independente; ganhou 42 prêmios, incluindo a Palma de Ouro em Cannes e um Oscar de Melhor Roteiro Original; vendeu pra burro o CD da trilha sonora, recheado de surf music e diálogos do filme, ajudando a estourar nas paradas o hit Girl You’ll Be a Woman Soon, do Neil Diamond e regravada por Urge Overkill; influenciou a partir daí todas as produções cinematográficas e botou no mundo um monte de “filhinhos”; levantou a carreira de dois atores que andavam em baixa, sendo que estes atendem pelos nomes de John Travolta e Bruce Willis; e firmou a amizade de Tarantino com Uma Thurman, parceria que mais tarde renderia um capítulo bem rentável na carreira do diretor. Alguém aí pensou numa história que é dividida em dois “volumes”?

Com este filme, Quentin Tarantino mostrou ter total domínio de técnica, unindo várias historinhas aparentemente sem nexo. Estas histórias envolvem dois matadores de aluguel (Travolta e Samuel L. Jackson), o temido chefe desses caras (Ving Rhames), a mulher dele (Uma Thurman), um boxeador decadente (Willis), um casal de assaltantes (Tim Roth e a meio sumida Amanda Plummer), entre outros. Com incontáveis referências cinematográficas – que vão do clássico faroeste Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1955) ao seriado Os Vingadores (The Avengers, 1966) – e muita sanguinolência, Pulp Fiction agradou em cheio por equilibrar tensão e comédia num filme em que acontecem coisas inacreditáveis e os caras terminam tudo tomando um cafezinho. É impossível ficar indiferente à seqüência em que o chefão Marsellus Wallace passa por uma situação meio que “constrangedora”… hehehe…

:: O LONGA QUE NINGUÉM ENTENDEU

Depois de Pulp Fiction (que está disponível no Brasil em VHS e DVD), Tarantino deixou de ser comparado a Scorsese para se tornar um adjetivo. Atuou em alguns filmes como A Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995), do colega Robert Rodriguez, e Vem Dormir Comigo (Sleep With Me, 1994), sendo que neste último sua participação ficou muito conhecida por seu diálogo improvisado (ele comenta sobre as evidências gays em Top Gun…). Produziu Parceiros do Crime (Killing Zoe, 1994), o divertido primeiro longa do seu amigo e co-roteirista em Pulp Fiction, Roger Avary. Roteirizou e dividiu a cena com George Clooney no bizarro Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996), também de Rodriguez, e dirigiu um dos quatro episódios do fraquinho Grande Hotel (Four Rooms, 1995). Mas voltar à direção pra valer, nada.

No ano de 1997, chegou aos cinemas o terceiro longa do indivíduo, o incompreendido Jackie Brown, uma deliciosa homenagem à blaxploitation, subgênero de filmes policiais muito popular nos anos 70, geralmente estrelados por atores negros e que fez surgir “obras-primas” como Foxy Brown (1974), Sheba Baby (1975) e o muito conhecido Shaft (1971). Inspirado no livro Ponche de Rum, de Elmore Leonard – cujos livros também inspiraram O Nome do Jogo (Get Shorty, 1995) e Irresistível Paixão (Out Of Sight, 1998) – o filme conta a história da aeromoça Jackie Brown (Pam Grier, atriz de muitos dos filmes da blaxploitation, e arrancada da tumba por Tarantino), que é flagrada pelo FBI traficando dinheiro a mando de um vendedor de armas e, com isso, é pressionada a entregar o mané. Então, Jackie Brown resolve passar a perna em todo mundo pra ficar com a grana. Mas isso lhe rende uma enrascada das boas.

Mesmo contando com um elenco de peso como Samuel L. Jackson, Robert DeNiro, Robert Forster (outro que saiu do sarcófago), Bridget Fonda (que está simplesmente uma tetéia nesse filme) e Bruce Wayne, digo, Michael Keaton, a película não decolou, tendo custado 12 milhões e rendido pouco mais do que isto. Este detalhe prejudicou sua distribuição no resto do mundo, inclusive no Brasil. Na verdade, trata-se do trabalho mais adulto de Quentin Tarantino, mais centrado nos diálogos e nas referências aos filmes dos anos 70 do que na pancadaria que já era a marca registrada do diretor. Mais uma vez, a trilha sonora é uma atração à parte, em especial a música tema de abertura, Across 110th Street, de Bobby Womack, que também é tema de Foxy Brown. E não há como não cair na gargalhada com a personagem de Bridget Fonda, uma surfista completamente mala-sem-alça (e o personagem de Robert DeNiro que o diga!). No Brasil, Jackie Brown está disponível apenas em VHS (o que é uma grande SA-CA-NA-GEM!!!!).

Depois do fracasso de seu terceiro filme, Tarantino amargou um bom tempo fora dos sets, fazendo um ou outro trabalho como produtor executivo (no caso, das duas seqüências de Um Drink no Inferno – que terrível…) e atuando em dois papéis pequenos, um na série de TV Alias e outro naquela bomba chamada Little Nicky – Um Diabo Diferente, cometida pelo Adam Sandler em 2000. Nisso, todos já acreditavam que o termo “fogo de palha” encaixava bem com a carreira do cara. E eis que Quentin Tarantino, em 2003, surge com um novo trabalho, que demorou seis anos para ser concluído, chegou aos cinemas ianques de mansinho e, em pouco tempo, se tornou um fenômeno. O nome do filme? Vai dizer que você ainda não sabe?

:: NOSSA PRÓXIMA ATRAÇÃO!

Pra quem não esteve no planeta Terra nos dois últimos anos, Kill Bill: Vol. I estreou em outubro de 2003 nos EUA e rapidamente se tornou cult, graças à sua maneira muito particular de contar uma trama que consegue ser ainda mais simples que Cães de Aluguel: uma ex-assassina profissional conhecida como A Noiva sofre um ataque no dia de seu casamento, vê o noivo e alguns amigos serem mortos e passa quatro anos em coma. Acorda e põe em prática seu plano de vingança, que consiste no extermínio de quatro ex-“colegas de profissão” (que participaram da emboscada) e do mandante do crime, um certo Bill. O filme, dividido em dois capítulos, ou “volumes” se você preferir, segue a trajetória da Noiva para concluir sua tarefa. Logo no início, nota-se que Tarantino não está pra brincadeiras: a noiva, interpretada de maneira brilhante por Uma Thurman (que assina a co-autoria da criação dos personagens), arrebenta a cara de uma rival sem dó nem piedade. Detalhe: na presença da filhinha desta. Clara homenagem aos filmes de kung-fu da década de 70, Kill Bill: Vol. I deixa um pouco de lado os diálogos ácidos para se tornar uma salada de referências pop com uma narrativa muito bem elaborada que vai e volta no tempo, misturando seqüências em anime com jogos de luzes e sombras, cenas em P&B e uma trilha sonora que seria completamente maluca se não fosse tão perfeita. Afinal, que outro diretor conseguiria fazer Don’t Let Me Be Misunderstood, do Santa Esmeralda, soar ideal para uma cena de uma batalha entre dois samurais?

O trabalho conta com um elenco escolhido a dedo: além de Thurman, Tarantino escalou as delícias Lucy Liu e Vivica A. Fox, a sumidaça Daryl Hannah e Michael Madsen para dar vida à gangue, e desenterrou duas lendas vivas do cinema B: David Carradine (o Caine do seriado Kung Fu), para fazer o papel de Bill, e o lendário Sonny Chiba (este último repetindo o papel de Hattori Hanzo, que o consagrou na série de TV Shadow Warriors, de 1980). E também mexeu com a tara de meio mundo com a ninfeta Chiaki Kuriyama no papel da máquina de matar com roupa de colegial, Gogo Yubarin.

Kill Bill: Vol. I bateu um recorde impressionante no seu lançamento em DVD nos EUA: vendeu pouco mais de dois milhões de cópias num único dia. Enquanto isso, aqui na nossa terrinha, existe aquela tão polêmica cópia pobrezinha em formato fullscreen

Com estes quatro filmes, não há dúvidas de que Quentin Tarantino é realmente O CARA, e que seis anos de intervalo entre um trabalho e outro não são suficientes para que o público esqueça de quem estamos falando. Os elementos são sempre os mesmos: referências diretas a um determinado gênero, atores há muito esquecidos, roteiro dividido em estrutura não-linear (Pulp Fiction), ou em flashbacks (Cães de Aluguel) ou em capítulos (Kill Bill), além da trilha sonora esquisita. E o cara consegue fazer só filmaço! Pra quem ficou ansioso pra conferir alguma coisa dele, é só voar para o cinema e dar uma olhada em Kill Bill: Vol. II – o “quinto filme” de Tarantino – ou pra locadora, ou então esperar por seus novos projetos: Sin City, de Robert Rodriguez (em que Tarantino assina a direção de um dos segmentos), e Inglorious Bastards, previsto para 2005 e ambientado na Segunda Guerra Mundial (!). O que vai sair disso, não sei. Mas que eu serei o primeiro da fila, não tenho nem dúvidas. 🙂

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– À exceção de Kill Bill, Tarantino atuou em todos os seus filmes. Em Cães de Aluguel, era o Mr. Brown, fez o esquisitão Jimmy em Pulp Fiction e, em Jackie Brown, era apenas uma voz em um telefone.

– Em Cães de Aluguel, na tão comentada “cena da orelha”, o policial torturado interpretado por Kirk Baltz diz que tem um filho pequeno. Esta fala foi improvisada pelo ator, e Michael Madsen, que interpreta Mr. Blonde, o algoz, ficou tão perturbado com a veracidade da atuação que não conseguiu completar a cena.

– Ainda em Cães de Aluguel, o papel de Mr. Blonde foi oferecido a um ator iniciante chamado George Clooney, que o recusou.

– O personagem de John Travolta em Pulp Fiction lê o conhecidíssimo livro Modesty Blaise. Nesta obra, um assassino profissional sempre recita um trecho da Bíblia antes de executar o “serviço”. Tal qual o personagem de Samuel L. Jackson no filme de Tarantino. Esta é só uma das milhares de referências deste filme.

– Em Jackie Brown, o papel de Robert DeNiro era originalmente de Sylvester Stallone. Que medo…

– Ainda falando de Jackie Brown, Michael Keaton repetiu o papel do agente do FBI Ray Nicolette em Irresistível Paixão (Out of Sight, 1998), filme baseado em um livro do mesmo autor.

– Um trecho de Kill Bill: Vol. I foi rodado nos estúdios da empresa Shaw Bros., em Hong Kong. Tarantino é muito fã dos filmes produzidos neste estúdio, tanto que achou importante filmar lá. Não à toa, o logo ShawScope é exibido no início do filme, em seguida ao logo da Miramax.

– A música usada na cena em que a Noiva chega a Tóquio é a mesma usada na série The Green Hornet (1966), e foi usada como tema de abertura do programa Rock Gol da MTV.

– Em Kill Bill: Vol. II, Samuel L. Jackson faz uma aparição relâmpago, completamente disfarçado. Piscou, perdeu!


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