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Artigo adicionado em 09/07/2004, às 01:02

OSAMU TEZUKA (1928 – 1989)
1928 a 1945 – O Nascimento do Osamushi Há algum tempo um estilo de animação vem sendo um dos principais fenômenos de audiência e sucesso na tv. Com seus olhos grandes e expressivos até demais, cheio de gotas brotando das suas faces, e abrindo a boca exageradamente, os animes vieram pra fazer sua história no […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Há algum tempo um estilo de animação vem sendo um dos principais fenômenos de audiência e sucesso na tv. Com seus olhos grandes e expressivos até demais, cheio de gotas brotando das suas faces, e abrindo a boca exageradamente, os animes vieram pra fazer sua história no Ocidente. Aproveitando os grandes eventos de animes que estão ocorrendo em São Paulo no início desse mês, nada mais justo que falar sobre o “pai” desses elementos da cultura pop japonesa: Osamu Tezuka.

No fim do ano passado, a Editora Conrad lançou a primeira parte de Osamu Tezuka – uma Biografia Mangá. Como o próprio nome diz, é a biografia de Tezuka em forma de mangá, quebrando um pouco aquele aspecto cansativo de algumas biografias escritas em narrativa normal, e ficando assim bem no estilo que o inovador roteirista e desenhista de mangás gostaria. O narrador da história é Higue-Oyaji, um dos personagens famosos de Tezuka – é ele quem conta a vida de seu criador, mas não é o único a ter falas no mangá. Os quadrinhos mostram partes mais importantes da vida do autor, representando ele, sua família e amigos.

Essa biografia foi lançada em quatro partes (três delas lançadas no Brasil até agora), sendo que a primeira delas conta da parte da infância de Osamu até seus 17 anos. Contarei aqui, então, do que trata esse primeiro volume da biografia, mas ainda assim sugiro que o leiam, porque foi escrito de forma bem gostosa de ler, além de ter bem mais detalhes que esse resumo aqui =o).

:: A INFÂNCIA DE OSAMU TEZUKA, DE 1928 A 1945

Tudo o que vivemos e gostamos tem reflexo em alguma atitude nossa, principalmente na parte artística. A infância, então, é o período em que mais se absorve os elementos que exercerão influência no futuro. E isso não foi diferente com o menino Osamu. Tudo o que conheceu na infância teve grande influência em seu trabalho tanto em mangás quanto em animações.

Osamu Tezuka nasceu em 3 de novembro de 1928 (dia da cultura), em Takarazuka, e ali morou durante sua juventude, junto com sua família (mãe, pai, um irmão e uma irmã mais novos). Naquela região moravam diversas cantoras e aprendizes de ópera, que fascinavam Osamu quando era criança. Mais tarde, essas óperas iriam ser de grande influência no desenho do menino: a maquiagem, dando expressividade aos olhos, foi base dos traços dos rostos desenvolvidos por ele, e o figurino da ópera de Takarazuka foi representado nas roupas das personagens do primeiro mangá dirigido ao público feminino: A Princesa e o Cavaleiro.

Ainda pequeno, já desenhava durante horas. Desenhava tanto que ficava mal humorado quando não encontrava seu caderno de desenho ao lado de sua cama, e sua mãe era obrigada a apagar seus rabiscos, devolvendo-o limpo, para economizar, já que ele gastava muitos cadernos.

A mãe de Osamu foi bastante responsável pela criatividade do filho, contando historinhas e lendo mangás a ele, interpretando os contos (essas histórias contadas por ela ganharam uma versão em livro, lançadas por Osamu Tezuka – Era Uma Vez da Mamãe).

O pai de Osamu, além de ser empresário, era poeta e fotógrafo artístico. Tinha um projetor em sua casa, onde passava algumas animações da Disney e alguns animes (que ainda eram raridade na época) para seus filhos assistirem. Ele gostava de mangás e os comprava aos montes para o filho.

Mas é interessante notar que os mangás daquela época não eram como os de hoje em dia, que são fortemente influenciados pelos traços de Osamu Tezuka. Naquele tempo, por volta de 1935, os mangás eram livretos pendurados em quiosques e vendidos por preços bem baratos. Tinham bastante vermelho na capa para chamar a atenção, e por isso eram chamados Ala-hon (livro vermelho). Também existiam edições mais caras, com capa dura.

Quando atingiu a idade certa, Osamu ingressou numa escola com alunos de classe média alta, e lá se destacou por sua criatividade. No primário, Osamu Tezuka era franzino e tinha o cabelo grande, sempre bagunçado. Foi seu cabelo que lhe rendeu o apelido Gadja-Boy no primário – e também foi a inspiração para um de seus animes mais famosos, o Astro Boy.

Na primeira série, foi o único aluno a ter coragem de contar uma história na frente de vários pais numa reunião, com bastante desenvoltura e criatividade para uma criança de sua idade. Assim que aprendeu a escrever, começou a criar histórias, que fizeram o menino ser conhecido na escola. Tezuka inventava muito em seus textos, mesmo quando era necessário fazer uma redação sobre alguma coisa real.

Com oito anos, o garoto estava na 2ª série. Nesta época, havia um mangá que Osamu lia alucinadamente antes de ir à escola: General Miniatura, de Suiho Tagawa. Foi mais ou menos nesse período que seus primeiros mangás foram sendo desenhados. O menino não tinha abandonado seu hábito de desenhar a todo instante, e sempre que podia, o colocava em prática, desenhando até em janelas de trem embaçadas.

Em 1937, quando Tezuka passou para o 3° ano, começou a Guerra Sino-Japonesa e, como conseqüência, as editoras de mangás passaram a sofrer severas restrições, sendo consideradas “fabricantes de materiais vulgares e comerciais que se aproveitavam do interesse infantil”. Ocorreu, então, uma redução na quantidade de mangás, que na época ainda não eram reconhecidos como arte. Outra conseqüência da guerra foi a maior rigidez no ensino, mas isso não afetou a turma de Osamu Tezuka. Um professor, chamado Inai, um dia flagrou seu aluno artista desenhando em sua aula, e pegou o mangá que Osamu fazia. Reconheceu então seu talento, e o devolveu dias depois, incentivando o menino. Esse mesmo professor foi muito querido pelos alunos, até meio século depois, pois desenvolveu um método diferente de educação: nesse método, cada aluno era valorizado pelas suas melhores habilidades, e nem as invenções de Tezuka eram proibidas.

Foi então que Osamu passou a melhorar cada vez mais, desenvolvendo também seu gosto por animação, fazendo mangás “para-para” – animaçõezinhas feitas nos cantos de folhas de cadernos e livros (ao passar as páginas rapidamente, os desenhos pareciam ganhar vida). Com o tempo, o garoto quis fazer animações maiores, e passou a desenhar mangás para-para nos grossos livros jurídicos de seu avô. Osamu demonstrava admiração pelo movimento, metamorfose, mudança – assuntos constantemente presentes nos seus roteiros.

Nessa época do primário, os mangás de Tezuka começaram a ganhar enredos, e a base de seu estilo mangá foi criada. O menino desenhou séries, que passaram a ser conhecidas na escola, fazendo sucesso dentre os alunos. Uma dessas séries foi Pin-Pin-Sei-Chan, que ressurgiu em revistas em 1958.

Os interesses de Osamu Tezuka foram sendo descobertos, não apenas na parte de desenhos; Osamu também gostava muito de astronomia e ficção científica – interesses que devem ter tido grande influência nos seus mangás de ficção científica, sobre o espaço sideral. Filmes e livros com esses assuntos eram adorados pelo menino, que lia incrivelmente rápido. Outra paixão do “pai dos animes” foi entomologia. Quando tinha cerca de 10 anos, ele começou a colecionar insetos, coletando-os e pesquisando sobre seus nomes – seu apelido Osamushi deve-se à descoberta de um besouro cujo nome era esse, parecido ao de Osamu.

Osamu Tezuka cresceu em um ambiente que privilegiava sua imaginação, permitindo que desenvolvesse seu talento sem que tivesse restrições de seus pais. Com seus irmãos, brincava de desenhar, pegando rabiscos deles e transformando-os em personagens de seus mangás. Osamu pegava a câmera de seu pai, gravando alguns filmes de brincadeira, e já tentava criar animações com a ajuda de sua irmã.

Uma frase que Osamu Tezuka dizia em sua vida era: “É vantagem para o ser humano fazer de tudo um pouco” – e desde pequeno já colocava ela em prática. Além das atividades artísticas, ele gostava muito de Ciências, e chegou a editar, em mimeógrafo, livros de ciências com seus amigos.

Quando Osamu foi para o ginásio, a 2ª Guerra Mundial se arrastava, e o treinamento militar passou a ser obrigatório. Lá, apesar de pintura ser considerada antipatriótica, o menino ingressou no Clube de Artes, que sofreu as restrições de produtos da guerra. Com essas restrições, até o papel ficou escasso, restando para Osamu escrever e desenhar em papéis fotográficos de seu pai. Seus desenhos acadêmicos eram muito bem feitos, sendo bem desenvolvidos no clube de artes.

Um dia, sendo pego desenhando a caricatura de um instrutor na lousa, Tezuka apanhou e foi castigado, mas isso não o impediu de forma alguma que parasse de desenhar. Aliás, esse castigo até o incentivou a empenhar-se nos esportes, o que era duro para ele, pois não era de natureza forte. Ainda no ginásio, Osamu fez à mão uma enciclopédia sobre insetos, desenhada detalhadamente, mas que não foi concluída.

Apesar de ser freqüentemente censurado por professores, Osamu Tezuka foi encorajado pelo professor de artes, que o ensinou técnicas, como desenhar mangás em nanquim e não a lápis, e fazer esboço de lápis antes do desenho definitivo. Foi nessa época que surgiu o esboço de Metrópolis, lançado depois da guerra. Nesse período entre 2° e 3° anos do ginásio, foram criados os primeiros personagens mais conhecidos do autor, como o velhinho narrador da biografia em mangá (Higue-Oyaji) e o coelho Mi-Chan. Estes apareceram na história Mundo Perdido, que apesar de não ter traços muito bem desenvolvidos ainda, teve um roteiro diferente e inovador, acabando em tragédia, diferentemente do usual naquele tempo.

Apesar de serem absolutamente proibidas publicações estrangeiras no Japão naqueles anos da Guerra, Osamu vasculhava publicações antigas e encontrava quadrinhos norte-americanos, cujas idéias que o agradavam eram copiadas de cor pelo rapaz.

Osamu foi obrigado a entrar num centro de treinamento para garotos que precisavam se esforçar mais em esportes, e lá a disciplina era rigorosa. Graças a uma doença, teve que ser dispensado algum tempo depois. Essa doença era uma espécie de micose que se iniciou nas pontas dos dedos, e foi diagnosticada como sendo um tipo de psoríase, que atingiu os dois braços. Felizmente, o diagnóstico foi precoce – do contrário, o menino poderia ter perdido seus dois braços. O tratamento foi demorado, impedindo-o de desenhar durante todo o tempo, o que o deixava terrivelmente mal humorado. Enfim, curou-se e pôde voltar a desenhar à vontade.

Então, quando bombardeios norte-americanos eram freqüentes no Japão, Osamu Tezuka foi escalado para trabalhar numa fábrica de armamentos, junto a outros estudantes. Lá, sempre arranjava um tempo para desenhar mangás, que deixava nos banheiros para que o público lesse, mas não foram utilizados da forma que Osamu queria…

Os ataques aéreos viraram um tema para os mangás de Tezuka, direta ou indiretamente, pois o marcaram muito nesse período de sua vida. Numa cidade afetada por esses ataques, Osamu Tezuka foi ao cinema e assistiu a uma animação japonesa – O Soldado Sagrado do Mar, e ficou encantado com a tecnologia disponível na época. Decidiu produzir ao menos uma animação na sua vida!

Em 1945, Osamu formou-se, e matriculou-se em Medicina, na Universidade de Osaka. Mesmo assim, continuou desenhando mangás, e os encadernava, mas sem intenção de publicá-los algum dia. Todos os seus mangás e desenhos ficavam guardados em sua casa, e até o ano de seu ingresso na faculdade, Osamu tinha produzido umas 3 mil páginas! Após ouvir rumores de bombardeios em sua cidade, que o deixaram desesperado, porque não queria perder seus mangás, ficou realmente aliviado quando recebeu uma ótima notícia: a guerra tinha chegado ao fim.

Finalmente a guerra havia acabado, e seu sonho como desenhista e animador podia ter livre curso, enfim.


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