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Ninguém disse que lidar com esta máquina de dinheiro que atende pelo nome de Harry Potter era uma missão fácil. Mas, se fazer um filme com um personagem que representa tantas cifras para um estúdio do tamanho da Warner já é complicado, que tal acrescentar a esta fórmula uma legião fanática de fãs ao redor do mundo? Sim, aí você tem um problema. Mesmo assim, o mexicano Alfonso Cuáron não se intimidou diante da grandiosidade da tarefa e fez, sem sombra de dúvidas, o melhor filme da franquia até agora.
Em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Cuáron não se deixou abater pelo “pecado da ultra-fidelidade” que fez Chris Columbus, diretor dos dois primeiros filmes, tentar transpôr todo e qualquer detalhe do livro para as telonas, com medo da reação daqueles que decoraram página a página do livro. Muito pelo contrário: para facilitar o entendimento da trama, Cuáron abusou da tesoura e cortou uma série de gorduras indesejadas, amarrando a trama de maneira inteligente e segura, de modo que a pessoa que não têm a menor familiaridade com o livro também tenha diversão garantida. Isso tudo, sem comprometer a ambientação e muito menos os personagens.
Desta forma, Cuarón ainda tem teve a liberdade de acrescentar detalhes pessoais ao filme – como algumas pitadinhas de humor negro e aquelas estranhas cabeças encolhidas que aparecem dentro do Noitibûs e também na porta do bar na cidade de Hogsmeade, tiradas diretamente da tradição mexicana do cineasta.
“Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” é melhor editado e dirigido, mais sombrio e humano, menos mágico e mais tétrico. Isso significa, portanto, que não se trata exatamente de um filme infantil. Mas o que poderia parecer um defeito, é na verdade uma qualidade: afinal, nos livros da escocesa J.K.Rowling, a trama de Potter vai ganhando ares mais macabros a cada livro. Era simplesmente inevitável que a transposição para as telonas fosse seguir um caminho semelhante. Por mais que os pais reclamem na hora de carregar a molecada para os cinemas.
A história mostra o terceiro ano do bruxinho Harry – interpretado por um cada vez mais insosso Daniel Radcliffe, a grande falha do elenco – na escola de magia de Hogwarts. Desta vez, ele está às voltas com o perigo eminente de Sirius Black (Gary Oldman, impecável apesar da curta aparição), um bruxo que fugiu da prisão mágica de Azkaban. De alguma forma, ele tem relação com o passado de Potter e sua família, o que acaba deixando o menino intrigado. No entanto, o maior perigo à espreita são mesmo os dementadores – criaturas malignas que servem como guardas em Azkaban e estão em busca de Black dentro do castelo de Hogwarts.
Destaque especialmente para os dois coadjuvantes de luxo: o divertido Rupert Grint, que deixa Rony Weasley ainda mais cativante e carismático, e a competente Emma Watson, que com sua Hermione Granger prova que, do trio principal, é aquela com maior potencial para o futuro. E, é claro, para o simpático hipogrifo – animal mítico que mistura cavalo e águia e que, por mais que seja quase todo feito em computação gráfica, mostra mais personalidade que… bem, do que o próprio Radcliffe (que, por sinal, nem chorar direito consegue).
Também valem menção o professor Lupin (David Thewlis), que acaba se tornando uma espécie de mentor de Harry, e a engraçadíssima participação de Emma Thompson como Sybil Trelawney, a bizarra professora de adivinhação. Por sinal, os embates velados do gênero ‘ciência x espiritualidade’ entra ela e Hermione funcionam perfeitamente na telona.
Como não podia passar em branco, Cuáron comete um único defeito na película. No final, mesmo lidando de maneira inteligentíssima com as idas e vindas da conclusão do livro (que, de tão complexa, podia acabar ficando um tanto confusa caso a tesoura do editor cortasse alguns minutos a mais), ele acaba deixando uma ponta solta – que poderia ter sido facilmente resolvida em menos de dois minutos. Além dos que já sabem a história do livro de trás pra frente, este é um detalhe que os mais atentos certamente vão perceber. Mas isso a gente não vai contar aqui, para não estragar o final. Quem quiser saber, basta escrever para elcid@a-arca.com
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