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No ano em que o bruxinho Harry Potter, da Warner, e o Homem-Aranha, da Columbia, prometem arrebatar as bilheterias sem deixar nada pra ninguém, a Fox investiu uma boa grana na produção e, principalmente, na divulgação do terceiro filme-catástrofe da carreira do diretor Roland Emmerich. E deu certo: afinal, os efeitos especiais são embasbacantes, definitivamente os melhores que Hollywood consegue comprar. Mas, mesmo assim, O Dia Depois do Amanhã não consegue deixar de ser um filme raso, mediano, facilmente esquecido durante a pizza que você e seus amigos vão comer depois da sessão de cinema. O que é mais triste, no entanto, é que neste caso em particular, não precisava ser assim.
Depois de produções pavorosas como Independence Day e Godzilla, Emmerich conseguiu fazer seu filme mais maduro. Não pense você, por exemplo, que a história é ruim. A trama até que é razoável, falando sobre uma onda relâmpago de aquecimento global que acaba trazendo uma nova Era Glacial para a Terra – mais especificamente para o Hemisfério Norte. Para deleite dos cinéfilos, o diretor fez diversas homenagens a outros filmes clássicos como O Planeta dos Macacos (na sequência da Estátua da Liberdade) e o também catastrofista O Destino do Posêidon (durante a sequência da biblioteca). Aliás, é na biblioteca pública de Nova York, quando um grupo de sobreviventes começa a queimar livros raros para se aquecer, que estão duas das melhores cenas do filme.
Surpreendentemente, é possível captar pelo menos duas belas cutucadas à política externa americana no decorrer do filme – o que é realmente estranho, especialmente se analisarmos os trabalhos anteriores de Emmerich, todos direitistas e cheios de patriotadas.
Mas…
….não, nada disso é suficiente para fazer o filme ser bom. As atuações estão forçadíssimas, os diálogos são horrendos de tão artificiais e…bom, o Emmerich insiste em reciclar os próprios clichês, o que é o grande defeito do filme. Além dos clichês estéticos que ele mesmo já usou antes (Meu Deus, o cara deve odiar Nova York! Ele destrói a cidade em todo filme!), estão lá os personagens básicos, estereótipos bobos e irritantes que ele facilmente podia ter evitado. Tem o mártir, o pai herói que vai salvar o filho (no caso, vividos respectivamente por Dennis Quaid e Jake Gyllenhall), o cachorro simpático que se salva da morte, o mendigo adorável, o nerd adolescente que vira machão no último minuto por causa da menina por quem ele é apaixonado. Ninguém merece.
O que torna O Dia Depois do Amanhã uma película decepcionante é perceber que estes clichês não permitem que um assunto tão importante seja realmente levado a sério. Em Independence Day, os inimigos são os alienígenas invasores (e a voz irritante do Will Smith). Em Godzilla, a ameaça vem na forma de um lagartão de 17 metros de altura (e que ainda consegue sumir dos radares do governo. Mas não vamos discutir isso aqui). Já neste filme, a ameaça é 100% real e está mais próxima do que imaginamos. Mas como diabos pensar nisso depois da profusão de frases-chavão do personagem de Quaid? Não dá.
Tudo bem, tudo bem. O filme é melhor do que Independence Day, no fim das contas. Mas aí já é chutar cachorro morto. É a mesma coisa que dizer, por exemplo, que o Star Wars: Episódio 2 é melhor do que Episódio 1.
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