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Artigo adicionado em 22/05/2004, às 12:20

DUBLAGEM: afinal das contas, como funciona isso?
Saiba os “porquês”, “quandos”, “ondes” e “comos” Muitas vezes, assistindo a algum programa ou filme na televisão, a gente pára e pensa: “peraí… eu conheço essa voz de algum lugar”. Provavelmente deve ser a voz de algum dos muitos profissionais de dublagem brasileiros. Ser dublador é visto por muitos como uma profissão mágica, porque é […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Muitas vezes, assistindo a algum programa ou filme na televisão, a gente pára e pensa: “peraí… eu conheço essa voz de algum lugar”. Provavelmente deve ser a voz de algum dos muitos profissionais de dublagem brasileiros. Ser dublador é visto por muitos como uma profissão mágica, porque é incrível saber que a voz de seu personagem preferido tem um dono, e que é esse dono um dos responsáveis por dar a vida a ele.

Acontece que não é todo mundo que sabe como é feita a dublagem. Tem gente que subestima toda e qualquer mídia dublada, mas não tem noção de todo o processo que envolve esse trabalho. Apertem os cintos e preparem-se pra conhecer os bastidores da dublagem. Não se levantem no meio do trajeto, e ergam as mãos em forma de X se quiserem que paremos o passeio.

:: O PROCESSO DA DUBLAGEM

O filme, o desenho ou série a ser dublada é enviada para um estúdio escolhido pela distribuidora. Às vezes para o Rio de Janeiro, às vezes para São Paulo, que são os maiores centros de dublagem no Brasil.

Dependendo do que está para ser dublado, a distribuidora recebe com um maior ou menor tempo de antecedência. Uma grande produção, como as da Disney ou da Dreamworks geralmente são enviadas um bom tempo antes para que o trabalho seja melhor preparado e mais bem produzido. Já o resto, muitas vezes, é feito com tanta pressa que acaba infelizmente saindo prejudicado. É esse tratamento industrial dado à dublagem hoje em dia uma das causas de críticas, ainda mais se comparando com as dublagens feita há décadas atrás.

Recebendo o produto, entra aí o tradutor, que é quem tem que passar para o português as falas e expressões, sem perder o sentido do filme e se preocupando se essa ou aquela frase no português não será pequena ou grande demais para que haja uma boa sincronia (nem sempre o tradutor está de bom humor pra fazer isso, e o talento do dublador é testado então, porque é obrigado a, várias vezes, adaptar as expressões às pressas da melhor forma que puder).

Textos traduzidos e roteiros prontos: quem trabalha agora é o diretor de dublagem. Como os diretores de filmes ou teatros, a função dele é escalar os nomes que acha interessante pra determinado papel e, na hora da execução da dublagem, dar as dicas do que deve ser mudado ou melhorado. É função dele também esquematizar os horários de gravação de cada ator (um dublador é um ator, o que será explicado melhor mais abaixo).

Mas e as vozes, onde entram? Logo, logo. Assim que o diretor escalar cada dublador que ele achar a melhor alternativa para determinado personagem, aí existe o teste. Na maioria das vezes, mesmo os melhores profissionais da área devem participar desse teste, que é geralmente entre poucas pessoas, e seu resultado é escolhido pelos empresários das distribuidoras. Infelizmente, ultimamente os tios lá de fora têm privilegiado a voz que é mais parecida, não se importando se a personagem poderia ser interpretada de forma mais legal por algum dublador que não tem o timbre tão parecido com o original. Por isso às vezes vemos que personagens clássicos com a voz estampada em nossa memória mudam de voz de repente.

Feitos os testes, o elenco está pronto. É hora de morfar… digo, de dublar. Ao contrário do que muita gente acha, a dublagem não é feita como se fosse uma rádio novela, com os dubladores atuando juntos. Antigamente era assim, mas hoje em dia, por questões de qualidade do som e praticidade -muitas vezes era difícil encaixar um horário em que os atores de determinada cena poderiam comparecer juntos – cada um grava suas falas separadamente, em “canais” separados.

O esquema é assim: no estúdio geralmente ficam o dublador e o diretor de dublagem. O filme é dividido em cenas de 20 segundos, que são chamados anéis em São Paulo, ou loops no Rio de Janeiro (se a cena não for muito complexa, podem ser gravados mais de um anel por vez, não necessariamente apenas 20 segundos). Pro ator gravar um anel, ele primeiro assiste a esse pequeno trecho a ser dublado, ouvindo o som original, e depois de algumas vezes vendo as adaptações que deve fazer no roteiro em português, com base na intuição e/ou na prática, grava suas falas. Se o diretor achar que ficou bom, pronto, passam para o próximo anel.

Achou fácil? Então tente fazer isso com um fone nos ouvidos para que possa ouvir o som original, dizendo a frase em português, com um olho no roteiro e outro na tela a sua frente, encaixando as sílabas da melhor forma na boca do ator ou personagem, e tudo isso, claro, com uma boa interpretação. Outro ponto que envolve muito talento e criatividade de um ator em dublagem é o fato de que ele precisa preparar em alguns minutos a atuação que o ator de cinema preparou e estudou durante meses. Bem, é por essas e outras que em dublagem muita gente quer entrar no mercado, mas poucos são os que se destacam no meio.

Depois de cada ator em dublagem ter exercido seu papel, e o vozerio (que é o grupo de pessoas, geralmente aspirantes a dubladores, que gravam as cenas onde existe uma multidão) ser gravado, o trabalho é dos técnicos de som. São eles que mixam os canais da forma certa, com os sons originais do filme, e a fala de cada personagem em seu devido lugar.

:: O MERCADO DA DUBLAGEM

Muitas pessoas, principalmente fãs de animes, tem vontade de ser dubladores. Mas o que se deve fazer pra conseguir realizar essa vontade? O jargão da dublagem é esse: todo dublador é ator, mas nem todo ator é dublador. Portanto, por lei, pra trabalhar na área, é necessário que os maiores de 18 anos (em São Paulo – no Rio, a idade limite é 14 anos), tenham o registro de ator no SATED. Você consegue esse registro depois que fizer um curso profissionalizante de ator (entrando aí cursos superiores e técnicos), ou, se já tiver outros trabalhos como ator mas não tiver obtido o registro, deve levar os comprovantes para esse Sindicato. Se quiser outras informações, é bom ligar para o órgão do Sindicato em seu Estado, pois certamente é o mais indicado para solucionar as dúvidas.

Um dublador deve ser um ator, exatamente pra que não ocorra o defeito das personagens serem pessimamente interpretadas. Ninguém gosta disso, afinal!

Existem cursos de dublagem, mas é bom lembrar que nenhum pode fornecer esse registro. Esses cursos geralmente são interessantes para que a pessoa aprenda como é o esquema de uma dublagem, e ver se leva jeito pra coisa. Não é necessário ter um curso de dublagem para trabalhar em um estúdio, embora às vezes isso ajude pra que o futuro profissional já tenha uma idéia de como é o funcionamento da profissão.

Hoje em dia, devido à insistência das emissoras em legendar seus programas (principalmente porque os custos com as legendas são menores), o mercado de trabalho em dublagem está ficando cada vez pior para os iniciantes. São poucos os serviços, e são muitas as pessoas que se encantam com a coisa, querendo iniciar uma carreira. Mesmo assim, pra que os estúdios não corram o risco de perder o pouco que têm, os dubladores mais conhecidos é que são escalados para quase todos os papéis de importância, porque já são garantia de desempenharem um bom trabalho, sem perda de tempo.

:: O MALDITO PRECONCEITO

As opiniões em relação aos filmes ou outros programas dublados são muitas. Mas ultimamente anda acontecendo um preconceito generalizado em relação a eles.

Cada um tem o direito de preferir ouvir as vozes originais dos atores ou resolver aprender inglês lendo as legendas, mas vamos chegar a um consenso. Se você é dos que começam a espirrar só de ouvir falar de “Versão brasileira Herbert Richers”, me responda: o que você não gosta no trabalho dos dubladores? Respostas com bons argumentos são raras. Na maioria dos casos, para quem tem essa opinião, o “problema” em relação aos filmes dublados é simplesmente o fato de serem dublados.

Não vou entrar no mérito técnico da coisa, ilustrando com dados reais o número de pessoas cegas, analfabetas ou que apenas preferem ver os filmes com mais detalhes, sem perder cenas importantes por estarem tentando entender o que está escrito (afinal, não é todo mundo que entende inglês), pois minha intenção não é obrigar as pessoas a só assistirem filmes dublados. Os DVDs existem para que cada um escolha a versão com o áudio ou legendas que preferir. Eu, por exemplo, prefiro animações dubladas e filmes no original, sem legendas quando possível, mas isso não é motivo para que jamais assista a alguma animação legendada ou a algum filme dublado. E muito menos motivo para que eu saia por aí falando que dublagem não presta!

Esse preconceito que bastante gente tem, dizendo que qualquer dublagem estraga o filme, não deveria existir. Os próprios profissionais da área admitem que existem casos em que a dublagem é mal feita, ou preparada às pressas, mas isso não é o que acontece sempre. Existem casos em que o trabalho é tão bom que realmente melhora a atuação.

Novelas mexicanas, por exemplo, são muitas vezes citadas como exemplo de dublagem ruim, mas se prestarmos atenção dá pra notar que a culpa da má interpretação é dos atores e produtores das novelas. As vozes em português tentam dar o máximo de realidade às vilãs cheias de laquê, ao mesmo tempo em que tentam sincronizar o português com as exageradas aberturas de boca do espanhol da melhor forma. Isso é só um dos inúmeros exemplos pra citar como criou-se um mito em torno da dublagem: “se todo mundo diz que é ruim, é porque é ruim mesmo”.

Agora que já sabe como funciona a coisa, antes de torcer o nariz pros produtos dublados, assista e compare. Então poderá dizer com razão o porque de gostar ou não do trabalho dos nossos profissionais brasileiros. Ou vai me dizer que nunca achou o máximo o Gordo de Os Goonies só por causa do jeito que ele falava, na primeira dublagem?

Leia mais:

:: Veja aqui a entrevista com o dublador Guilherme Briggs, a voz do Freakazoid
:: Veja aqui a entrevista com o dublador Ricardo Juarez, a voz do Johnny Bravo
:: Veja aqui a entrevista com o dublador Mauro Ramos, a voz do querido Pumbaa
:: Veja aqui o árduo trabalho dos tradutores para Dublagem e Legendagem


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