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Houve uma época em que o universo Marvel sentia falta de um bom vilão. Mas um vilão bom mesmo, daqueles de meter medo nos principais heróis do panteão clássico. Daqueles que apenas a união das forças dos Vingadores, dos X-Men, do Quarteto Fantástico e até dos Defensores e demais grupinhos meia-boca de uniformizados poderia derrotar. E foi então que Jim Starlin injetou vida nova num titã louco que, de coadjuvante do Homem-de-Ferro, tornou-se uma verdadeira ameaça intergaláctica: Thanos.
Mas, ao que tudo indica, esta época já passou. E deixou saudades. Depois dos atentados de 11 de setembro, certas histórias de super-heróis não colam mais. Simplesmente não convencem, por mais que se passem no espaço sideral ou na Zona Negativa. O público cresceu, deixou de ser inocente e bobinho. E este público espera o mesmo de seus heróis. Grant Morrison entendeu isso e nos deu os Novos X-Men. John Ney-Rieber também, e nos entregou a versão “Marvel Knights” do Capitão América. Mas parece que Jim Starlin ficou ali, bonitinho, parado no tempo. E foi capaz de apresentar uma bobagem cósmica como é o recente Abismo Infinito.
A história, que traz de volta um dos maiores vilões do universo, simplesmente ignora suas aparições em outros títulos da editora (especialmente sua passagem pela revista do Thor, na qual Thanos teria sido morto em um combate épico com o Deus do Trovão), tapando o buraco da cronologia com uma explicação estapafúrdia: eram todos cópias do original. Ahhhhhhhhhhhhhhhhh, é claro, como eu não percebi isso antes? Uma justificativa quase tão condizente quanto afirmar que aquele que morreu era, na verdade, um clone do Homem-Aranha! Aliás… o que diabos o Aranha está fazendo em “Abismo Infinito”? Quando diabos os autores vão entender que ele é um personagem urbano, o sujeito comum e típico, que simplesmente não combina com batalhas espaciais e cósmicas? Se este aspecto de estranheza fosse devidamente explorado, vá lá… Mas não, ele está passeando por ali, ao lado do Capitão Marvel e da Serpente da Lua, meramente como chamariz.
Nesta história, escrita e desenhada por Starlin, um mal que se manifesta sob a forma do nada absoluto começa a ameaçar o universo. Ao mesmo tempo em que estes pedaços de nada começam a tomar conta do universo, surgem quatro duplicatas rebeldes de Thanos em busca da nulificação plena e absoluta. E que o Universo caia de joelhos perante seu poder. Então tá.
O que incomoda em “Abismo Infinito” é o aglomerado de clichês que Starlin insiste em continuar usando. São os mesmos personagens, a mesma postura e os mesmos dilemas de Adam Warlock, as mesmas piadas de Pip, as mesmas entidades estelares em conflito, a mesma obsessão niilista de Thanos pela morte… Funcionou de maneira emocionante em Desafio Infinito, mas em Guerra Infinita e Cruzada Infinita, a coisa já estava ficando chata, repetitiva. Imagine agora. A conclusão de “Abismo Infinito” consegue ser ainda mais enfadonha do que as de seus antecessores. Deus do céu.
Fato: na segunda edição da série, lançada aqui pela Panini em “Marvel Apresenta”, a revista tem um único mérito, que já valeria o dinheiro gasto: a história solo do Dr. Destino. Embora não tenha a menor relação com a história principal do gibi, é uma excelente prova de que o ditador da Latvéria é um dos vilões mais interessantes da Casa das Idéias, mal-aproveitado por uma turma de argumentistas ruins que passaram pelo Quarteto Fantástico.
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Ah, sim, esta era uma crítica sobre o “Abismo Infinito”. Mas o próprio gibi não aguentou tantas referências ao abismo de Nietzche e acabou se atirando rumo ao esquecimento absoluto. Vá com Deus.
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