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Eu já trabalho com jornalismo de entretenimento há seis anos, indo de estagiário a editor (é, já fui editor, vê se pode?). No entanto, nunca tinha me deparado pessoalmente com uma destas criaturas míticas que o cinemão americano blockbuster criou: os astros de Hollywood. No fim das contas, conheci o primeiro deles na quinta-feira passada (dia 6), quando estive na coletiva de imprensa com o ator Viggo Mortensen – sim, aquele mesmo que interpreta o Aragorn na trilogia de O Senhor dos Anéis.
Quando adentrou a sala de um imponente hotel de São Paulo, Mortensen posou pacientemente para os fotógrafos enquanto as mulheres suspiravam pelo astro, inteiraço apesar dos 45 anos de idade (ei, eu sei admitir quando um cara é bonito). Tudo bem que, conforme dá pra ver nas fotos, o atual visual dele está bem distante da barba rala e dos cabelos compridos do herdeiro de Gondor. Mas, ainda assim… tinha muita jornalista ali querendo levar o sujeito pra tomar um café em casa, apresentar pra mãe…
Simpático e bem-humorado, o ator chegou cumprimentando a todos num português bem ensaiado – afinal, ele passou alguns anos na Argentina e fala espanhol fluente. Brincou com o tradutor (excelente, por sinal) que trabalhou muito graças ao traduzido bastante falante. Chegou até a trocar as fitas dos gravadores que estavam em cima da mesa, prestando uma gentileza aos repórteres ali presentes. Praticamente um gentleman – apesar de não ser inglês ou irlandês, como pensam alguns. Viggo nasceu nos Estados Unidos, em Nova York. O nome estranho é herança do pai dinamarquês.
“Quando peguei o trabalho, ainda não tinha lido os livros e eles já estavam ensaiando juntos há muito tempo. As filmagens já tinha começado há duas semanas”, começou a revelar ele a respeito do trabalho em ‘O Senhor dos Anéis’. “Eu li muitas sagas e mitologia quando era pequeno. Quando li as primeiras 100, 200 páginas do primeiro livro de Tolkien ainda no avião voltando pra casa depois das negociações, comecei a pereceber todos aqueles arquétipos básicos das coisas que lia na infância”. Segundo o ator, embora difíceis, os momentos da gravação eram prazerosos, tinham um quê de lúdicos. “Quando crianças, todos nós transformamos gravetos em espadas e lutamos contra monstros imaginários. Isso ajudou bastante, dando um elo a mais na corrente”.
Para Viggo, um dos maiores problemas no set de filmagem era o dialeto élfico – especialmente ao pensar nas adaptações e mudanças que o personagem teria no futuro. “O trabalho com a espada também foi complicado. No entanto, a parte dos cavalos foi fácil. Desde pequeno, sempre gostei de cavalgar e os animais percebem quando você gosta deles”.
Fã de literatura medieval e mitologia (graças a herança de seu pai e também de sua mãe, que tinha origem escandinava), ele acabou gostando muito dos tomos do escritor sul-africano. “Se analisada com cuidado, a obra de Tolkien pode se tornar um verdadeiro labirinto, um quebra-cabeças de referências. Os livros e o filme vão além das meras influências”. Para Viggo, os conceitos de Tolkien podem ser aplicados a qualquer cultura. Ele cita como exemplo o medo que a New Line tinha da recepção dos filmes em território japonês por uma questão cultural. “Eu jamais tive este tipo de preocupação. Afinal, o código de honra, o respeito pelo bem comum, alguns conceitos de design e vestimentas, tudo tem muito a ver com a cultura japonesa”.
E quanto aos puritanos e fiéis fãs da obra de Tolkien? Será que eles aprovaram a interpretação de Mortensen na pele (e armadura) do herdeiro do trono? “Os fãs geralmente são respeitosos quando os encontro. Felizmente, na maioria, eles ficaram satisfeitos e entenderam meu trabalho”. Ele considera positivo não ter lido o livro antes, porque acabou descobrindo as coisas na medida que estudava o personagem. “No começo, eu achava que tratava-se apenas de elfos, anões e contos de fadas. Mas a literatura de Tolkien vai muito além disso, é muito mais complexo e vasto. Só conferi esta loucura e adoração de certas pessoas obsessivas muito tempo depois (risos)”.
Sobre o diretor Peter Jackson, ele se rasga em elogios. “Além do óbvio, que é a maestria visual num projeto tão complicado, gosto de citar suas qualidades como homem – acima de suas qualidades técnicas. Não só pelo seu relacionamento com a família, mas também pelo seu relacionamento com a família que se formaria nestes quatro anos de filmagens”. O cineasta teria muita paciência a carinho com todos. “Não lembro de nenhum diretor com quem eu tenha trabalhado e que fosse assim. Ele não gritava, mesmo quando estava cansado e com a paciência no limite. Ainda assim, mantinha o bom humor e alegria”.
Depois de tanto suor e lágrimas nas filmagens de um épico como estes… diabos, ele tinha que levar alguma coisa no fim da história. “Ganhei a Narsil na despedida das filmagens. Posso brincar com ela quando quiser (risos)”.
:: MÚSICA, FUTEBOL E MULHERES!?
Um dos grandes momentos da coletiva foi quando Mortensen revelou que a história a respeito do selo musical que Elijah Wood (Frodo) estaria abrindo é mesmo verdade. E mais: ele mesmo gravou um disco com um grande amigo de experimentos musicais, o guitarrista Buckethead (é, aquele mesmo que fez – ou ainda faz – parte dos Guns ‘n Roses e tocou no Rock in Rio 3). “Trabalhávamos quando tínhamos tempo, com muita improvisação”, explicou Viggo. Eis que, certo fim-de-semana, Elijah, Billy Boyd (Pippin) e Dominic Monaghan (Merry) chegaram a Los Angeles e ligaram para o amigo Mortensen, perguntando se ele já tinha algum programa marcado para que os quatro saíssem juntos. “Calhou de ser justamente o mesmo fim-de-semana em que eu iria mixar algumas faixas com Buckethead. Quando contei a eles sobre o projeto e sobre a pessoa com quem eu trabalhava, os hobbits ficaram malucos e quiseram participar”.
Mas ele não podia chegar assim, sem mais nem menos, com três convidados. E acabou ligando para Buckethead para avisar. “Ele é um sujeito muito calmo, concentrado, equilibrado. Mas é um grande fã dos filmes de ‘Senhor dos Anéis’. Quando revelei quem seriam as nossas participações especiais nesta jam session, ele ficou em silêncio no telefone por alguns minutos e depois disse: ‘Você está brincando, não é?'”. Mas não estava. “Pela primeira vez, Buckethead chegou ao estúdio no horário. Aliás, chegou até antes”, divertiu-se o ator.
No final, esta história toda rendeu uma proveitosa e barulhenta tarde de gravações, muito mais tumultuada do que as costumeiras e solitárias sessões de Mortensen e Buckethead. “Billy, que já teve experiência com uma banda em Glasgow, tocou baixo. Dominic canta muito bem e Elijah toca um pouco de piano e bateria. Quanto a mim? Ah, eu toco o que for necessário”. O encontro foi registrado no disco ‘Pandemonium from America’, a ser lançado em território americano na semana que vem pela Percival Press. “O título vem de uma música que é um fragmento do poema de mesmo nome do escritor William Blake. A letra é meio profética, parece ter sido escrita pensando no dia 11 de setembro”.
Embora nunca tenha vindo para o Brasil antes, Viggo Mortensen já conhecia o nosso país por meio de fotos, músicas e filmes. “Sei que o seu país é conhecido pelo bom futebol e pelas mulheres bonitas. Só não entendo porque não dá pra unir as duas coisas. Afinal, a sua seleção de futebol feminino…”, brincou Ara… quer dizer… Viggo, deixando no ar a afirmação de que nossas jogadoras de futebol são uns canhões.
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