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Qual a maior HQ de todos os tempos? Todos sabemos que não há resposta unânime para essa questão. Também sabemos que rotular em categorias e montar listas dos 10 melhores é uma tentação a qual a maioria de nós, aficionados da cultura pop, não podemos resistir; mais do que isso, para muitos de nós é um verdadeiro vício. Quem é capaz de não defender sua obra ou autor prediletos quando, em meio a uma conversa, alguém coloca-os em segundo ou terceiro lugar numa lista dos melhores? Eu certamente não sou. Na verdade, adoro montar essas listas – é um de meus passatempos favoritos. Em rodas de amigos (a maioria nerds, é claro), sempre surjo com uma pergunta: qual é a melhor banda de Heavy Metal? Qual é a melhor música do Iron Maiden? Quem é melhor pintor, Frank Frazetta ou Boris Valejo? Dentre esses tópicos, o mais recorrente é o que discuto neste artigo:
Qual a maior HQ de todos os tempos?
:: FRANK MILLER OU ALAN MOORE
Se não há unanimidade quanto à maior obra dos quadrinhos, é quase unânime a opinião de que trata-se de um dos trabalhos de Alan Moore ou Frank Miller.
Há muitos escritores bons escrevendo para HQs – Mark Waid, Kurt Busiek, Neil Gaiman -, mas não há como errar ou ofender opiniões ao apontar os dois grandes Ms como os melhores: Miller e Moore. Os trabalhos de ambos foram marcos na indústria.
Em geral, assume-se que O Cavaleiro das Trevas, de Miller, e Watchmen, de Moore, sejam suas respectivas obras-primas. Naturalmente, é discutível. Uns dirão que é Elektra Assassina, outros Os 300 de Sparta, outros Ronin; ainda Sin City. Quanto a Moore, é realmente muito difícil decidir-se entre ‘Watchmen’ e V de Vingança, sem contar Monstro do Pântano e A Piada Mortal. Para escolher dois finalistas, utilizo como parâmetro a opinião da maioria e a minha própria: fico entre ‘O Cavaleiro das Trevas’ e ‘Watchmen’.
:: O CAVALEIRO DAS TREVAS vs. WATCHMEN
Como fã de ambas as histórias, sinto que é uma tarefa ingrata ter que escolher a melhor; mas como escreveu Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Imagino que assim se sentiram Moore e Miller ao decidirem-se criar essas duas grandes obras: gigantes.
Sim, vou escolher uma das duas, e essa não é somente a minha opinião: muita gente famosa e profissionais da indústria concordam comigo. Lá vai:
‘Watchmen’ é superior a ‘O Cavaleiro das Trevas’. Ponto.
É interessante notar a sincronicidade, para usar um termo jungano, da criação das duas obras; foram ambas escritas, desenhadas e publicadas, grosso modo, em 1986; isso mesmo: há 17 anos. E é duas vezes mais interessante notar as semelhanças no tom e nas inovações que trouxeram aos quadrinhos: uma visão mais pessimista, mais dark e mais realista do mundo colorido dos super-heróis. As duas retratam de forma assustadoramente cínica, realista e inovadora a interação entre superseres e a sociedade comum. Maior exemplo disso, e das semelhanças que as duas compartilham, é a relação do Super-homem, em ‘O Cavaleiro das Trevas’, e do Dr. Manhattan, em ‘Watchmen’, com o governo norte-americano: ambos são retratados como agentes a serviço de interesses políticos; ambos vencem guerras para seu país de escolha. Moore vai ainda mais longe: seu superser, capaz de modelar o universo em escala subatômica, revoluciona todas as facetas da tecnologia da civilização humana, e Moore também especula quais efeitos psico-sociais a existência de um deus entre nós teria em nossas mentes. Acredito que aí resida a diferença que torna ‘Watchmen’ superior a ‘O Cavaleiro das Trevas’: Moore vai mais a fundo em todas as direções. Bem, talvez não em todas; considero que o desenvolvimento e a exploração de personagem seja brilhante em ambas as histórias. Particularmente memorável é a cena em que Batman, quase transformado num justiceiro, vence seu lado sombrio, a tentação de matar seu arqui-inimigo, deixando-o apenas paralítico; então o próprio Coringa, num esforço sobre-humano, retorce a medula e suicida-se – o ato macabro e derradeiro de uma personalidade puramente caótica. Em poucas palavras, considero o ‘Cavaleiro das Trevas’ “meramente” brilhante, enquanto ‘Wachtmen’ não é, mas chega perto de ser, genial.
Pode-se argumentar que, comercialmente e em termos de ousadia e formato, ‘O Cavaleiro das Trevas’ tenha sido muito mais importante e inovador que seu oponente. Certamente é o caso. Mas o que estou discutindo aqui – deveria ter esclarecido isso antes – é qual é a melhor história, não qual a revista mais importante para a indústria. Neste último quesito, acho que ambas tiveram peso semelhante, tanto intelectual quanto comercialmente; contudo, ‘Watchmen’ é uma história melhor elaborada e contada. Tem mais finesse. É mais literária. Não estou dizendo que ‘O Cavaleiro das Trevas’ não o seja; seu ritmo, técnicas narrativas, flashbacks, etc., são brilhantes, mas acontece que Alan Moore utiliza tudo isso e muitos mais, e melhor, do que Miller – Moore é simplesmente genial.
E ainda há um tópico que muitos podem considerar irrelevante em obras cujo personagem principal são as histórias, mas que muito me incomoda: a arte. Será que alguém é capaz de considerar os desenhos efetivos mas pobres e apressados de Miller melhores do que os meticulosos e profissionais painéis de Dave Gibbons?
É isso aí, pessoal. Esse assunto ainda dá muito Pano Prá Manga. Se você tiver uma opinião enfurecida, bajuladora ou mesmo uma carta bomba, aproveite e escreva aí embaixo, no A VOZ DOS NERDS. O espaço é de vocês!!! (plagiando o desenho Capitão Planeta…)
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