A ARCA - A arte em ser do contra!
 
Menu du jour! Tutu Figurinhas: o nerd mais bonito e inteligente dessas paragens destila seu veneno! GIBI: Histórias em Quadrinhos, Graphics Novels... é, aquelas revistinhas da Mônica, isso mesmo! PIPOCA: Cinema na veia! De Hollywood a Festival de Berlim, com uma parada em Nova Jérsei! RPG: os jogos de interpretação que, na boa, não matam ninguém! ACETATO: Desenhos animados, computação gráfica... É Disney, Miyazaki e muito mais! SOFÁ: É da telinha que eu estou falando! Séries de TV, documentários... e Roberto Marinho não está morto, viu? CARTUCHO: Videogames e jogos de computador e fliperamas e mini-games e... TRECOS: Brinquedos colecionáveis e toda tranqueira relacionada! Tem até chiclete aqui! RADIOLA: música para estapear os tímpanos! Mais informações sobre aqueles que fazem A Arca Dê aquela força para nós d´A Arca ajudando a divulgar o site!
Artigo adicionado em 12/09/2003, às 09:15

Crítica: LIGA EXTRAORDINÁRIA
Vamos analisar a coisa com cuidado… Trancado num pub inglês bebendo até cair, o autor inglês Alan Moore pode ser classificado exatamente como os personagens que ele retrata em As Aventuras da Liga Extraordinária: um verdadeiro anti-herói. Com Watchmen, minissérie que navega totalmente na contramão do mundo dos quadrinhos ‘mainstream’, o escritor fez a indústria […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


Trancado num pub inglês bebendo até cair, o autor inglês Alan Moore pode ser classificado exatamente como os personagens que ele retrata em As Aventuras da Liga Extraordinária: um verdadeiro anti-herói. Com Watchmen, minissérie que navega totalmente na contramão do mundo dos quadrinhos ‘mainstream’, o escritor fez a indústria engolir sua visão cínica e sombria dos super-heróis e mudou a forma como todos os roteiristas escreveriam osjusticeiros mascarados a partir da década de 80.

Mesmo se tornando um dos autores favoritos das HQs comerciais, o britânico nunca se ‘vendeu’. Então viriam clássicos como O Monstro do Pântano, A Piada Mortal – a históriadefinitiva da relação doentia entre o Batman e o Coringa – e Supremo, sua interpretação do que deveria ser o Super-Homem a partir de um herói medíocre de um tal de Rob Liefeld. Com Do Inferno, ele fez sua primeira incursão pelo universo da literatura vitoriana e revisitou o mito de Jack, oEstripador. Anos depois, em 99, Moore finalmente voltaria ao ‘mercadão’ e daria vida a um grupo formado por alguns dos seres mais clássicos do mundo dos livros do século 19: A Liga Extraordinária. Os textos do barbudão não são fáceis, sempre repletos de metalinguagem, non-sense, uma pitada de humor negro e diálogos muito inteligentes.

Esta introdução é só para dar uma medida da minha estranheza; afinal, ainda não consigo entender porque a Fox escolheu, entre tantos super-heróis de quadrinhos que caberiam como uma luva num blockbuster, um bizarro grupo saído diretamente de uma HQ voltada para um público muito mais adulto. Nos dias de hoje, basta usar a expressão ‘baseado em uma história em quadrinhos’ para deixar em polvorosa os produtores de Hollywood, desesperados para conseguir faturar um mísero tostão da fortuna que Homem-Aranha gerou. Nos EUA, foi graças ao sucesso da ‘Liga’ que Jim Lee criou o America’s Best Comics, selo exclusivo de Alan Moore dentro da Wildstorm. Depois de assistir ao filme de Stephen Norrington (que dirigiu o primeiro Blade), cheguei a uma conclusão óbvia: é melhor esquecer que se trata de uma adaptação e divertir-se com uma aventura que é, no mínimo, interessante.

‘A Liga Extraordinária’ não funciona como adaptação do gibi, porque carrega pouquíssimo do conceito dos escritos de Moore. Se você vai ao cinema querendo ver uma transposição perfeita, esqueça. É muito mais um filme de ação do que uma brincadeira intelectual com personagens clássicos de literatura. Se tivesse um outro título, talvez fosse mais acertado e incomodasse menos. Mesmo como adaptação dos originais literários, a coisa desanda. Os protagonistas do filme ficaram muito mais ‘super-heroísticos’ e politicamente corretos, justamente para tentar agradar a uma audiência mais generalista.

Ainda assim, eu tentei ir mais além e – vejam só – consegui me divertir bastante. É uma diversão com certo charme, que está acima da média dos filmes do gênero. Muito melhor do que Tomb Raider 2 e infinitamente superior ao Exterminador do Futuro 3. Apesar das concessões, o diretor não tira o carisma de grande parte dos personagens – cujas interpretações sãocoerentes e não comprometem. Se você, que é fã da HQ original ou mesmo dos livros nos quais Moore buscou inspiração, conseguir se desvencilhar das referências, vai achar uma película na medida para quem quer desligar o cérebro e injetar adrenalina na veia. Os clichês estão todos lá:perseguições de carros, romance, lutas de espada, tiroteios a la John Woo. Mas funciona. É um feijão com arroz básico… mas com um temperinho bem gostosinho.

A história caminha por uma trilha diferente daquela seguida nas HQs. Em ‘A Liga Extraordinária’, um misterioso homem conhecido como Fantom (referência clara ao Fantasma da Ópera) começa a criar, em plena virada do século, uma gama de armas totalmente inimagináveis até então e, para alavancar seus novos negócios, não pensa duas vezes em começar a provocar um início de guerra mundial entre as grandes nações. Para deter o avanço do maníaco, o governo inglês convoca o aventureiro aposentado Allan Quatermain (do livro ‘As Minas do Rei Salomão’, de H. Rider Haggard, interpretado por Sean Connery). Nos gibis, quem reúne o grupo é Mina Murray – que, no cinema, ganha o nome de Mina Harker -, a pedido do agente secreto Campion Bond (cujo sobrenome já denuncia o parentesco).

Então, Quatermain é levado a reunir um grupo totalmente atípico de indivíduos com passado duvidoso para ajudá-lo em sua missão: a própria Mina (do livro ‘Drácula’, de Bram Stoker, e interpretada por Peta Wilson, da série de tv Nikita), Capitão Nemo (do livro ‘20.000 Léguas Submarinas’, de Julio Verne, e interpretado pelo ator indiano Naseeruddin Shah), Dr.Jekyll/Mr.Hyde (do livro de Robert Louis Stevenson, interpretado por Jason Flemyng) e o homem-invisível Rodney Skinner (Tony Curran). Este último personagem, porsinal, é um substituto ‘simpático’ para Hawley Griffin, o inescrupuloso homem-invísível do livro de H.G.Wells que aparece no gibi mas cujos direitos cinematográficos já tinham sido vendidos para um outro estúdio. Skinner é o bandido bonzinho, perdoável – bem distante da amoralidade de Griffin.

Para completar o time, Norrington optou por incluir mais dois personagens – o sedutor Dorian Gray (do livro ‘O Retrato de Dorian Gray’, de Oscar Wilde, interpretado por Stuart Townsend), que insinua um estranho affair com Mina, e o jovem e impetuoso Tom Sawyer (do livro de Mark Twain, interpretado por Shane West). Sawyer é a grande cagada da película: além de não acrescentar nada à trama, o sujeito só está lá porque os diretores decidiram que queriam um personagem americano na telona – afinal, quem conhece a história original sabe que as histórias de Twain se passavam quase cinco décadas antes daquelas vividas por todos os outros personagens do filme/gibi em seus respectivos livros de origem. Bizarro e desnecessário, ele só serve como o clássico ‘aprendiz inexperiente’, para reforçar a predominância de Quatermain como centro da história e líder da equipe (diabos, ele era só umpobre infeliz viciado em ópio!).

Outra coisa que me incomodou, embora menos do que a estúpida presença de Sawyer: a radical mudança de Mina. Enquanto nos gibis as referências a sua relação com o conde romeno são sutis e delicadas, aqui a coisa é descarada: além de usar o sobrenome do marido (uma das vítimas de Vlad Tepes), ela ainda tem estranhos poderes vampíricos, coisa inimaginável nos quadrinhos. Não vai atrapalhar a molecada procurando apenas um acompanhamento divertido para as pipocas, mas…

A direção de arte em ‘A Liga Extraordinária’ é um ponto muito alto – especialmente quando somos apresentados ao impressionante submarino Nautilus, do Capitão Nemo (que é, por sinal, um dos personagens mais interessantes e bem caracterizados). Tá bom, senhores puristas: a embarcaçãoestá diferente do visual apresentado pelo desenhista Kevin O’Neil nas páginas do gibi. Mas achei algo tão interessante, tão… Castelo Falkenstein (os RPGistas vão me entender). Atende perfeitamente ao conceito de futuro retrô em pleno século 19.Em resumo (porque eu sei que já falei demais): é ação do início ao fim, da melhor qualidade que só Hollywood pode oferecer. No entanto, os maníacos por HQ (como eu) com certeza vão enxergar na obra sinais claros de que a indústria do cinema americano jamais vai conseguir fazer uma adaptação fiel dos trabalhos de Alan Moore. Deus me livre do que David Hayter está preparando para ‘Watchmen’

PS: Num ponto eu concordo com a legião de críticos que detonaram o filme desde os primeiros trailers: cacete, pra que diabos precisamos de um carro ali, meu Deus????

E ainda:
Crítica do Filme | Os Personagens do Filme | Quem é Alan Moore | O Gibi


Quem Somos | Ajude a Divulgar A ARCA!
A ARCA © 2001 - 2007 | 2014 - 2025