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Quando anunciaram, eu não acreditei: Stan Lee? DC Comics? Bom, nunca se imaginou o criador da "Casa das Idéias" trabalhando para a editora rival – com certeza, a notícia sacudiu um pouco o mercado. Eu mesmo (assim como a maioria dos fãs) fiquei extasiado, numa expectativa imensa. Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Flash e tantos outros como se tivessem sido criados por Stan Lee: parecia uma ótima idéia, já que o homem não escrevia há tanto tempo, era tudo que os fanáticos sonhavam desde que este papo de crossovers começou…
O problema é que, pelo menos até agora, ficou tudo na boa idéia, porque as versões que ele fez para Batman, Mulher-Maravilha e Super-Homem são decepcionantes. No caso da Amazona, ainda há uma ou outra coisa legal, mas o Batman e principalmente o Super-Homem…são de chorar…Bom, como já dizia meu amigo Jack, a gente vai por partes:
— Batman (ou: Um Morcego com uma baita cara de Aranha)
Basicamente trata da história de Wayne Washington, um homem negro preso injustamente por assalto à mão armada. Conforme vai cumprindo pena, ele desenvolve resistência e condicionamento físicos excepcionais…tudo pensando somente na vingança contra os responsáveis por sua prisão (nossa! que original, não acham?). Para se vingar, ele acaba assumindo uma fantasia de morcego. Ah…agora, pensem a respeito: este seria um motivo forte o suficiente para sair por aí numa fantasia peluda (sim, este Batman é peludo, exatamente como os morcegos)?
Como o Coringa disse várias vezes para o Bruce Wayne: só mesmo sendo louco para usar uma roupa como estas! E este é o segredo: o Batman de Bob Kane é tão doido quanto os vilões que enfrenta, a imagem do morcego veio no meio de um surto psicótico como a única resposta para amedrontar o coração dos criminosos. E quanto ao senhor Wayne Washington? Ele optou pelo morcego porque este era…seu melhor amigo na cadeia. Nós concordamos em unanimidade aqui n’A ARCA: Stan Lee parou no tempo. Talvez os motivos apresentados para o surgimento deste Batman funcionassem há 30 ou 40 anos, quando a visão e a cabeça da galera que lia gibi eram completamente diferentes do pessoal de hoje. Una isso ao tempo que o Lee ficou sem escrever nada (fora o terrível Ravage 2099) e ao tempo que ele, como homem ocupadíssimo, não tem para ler as coisas novas que andam saindo por aí e você tem uma história fraca, entediante, sem timing (tudo corre o tempo todo) e sem nada a acrescentar. Os personagens são rasos – principalmente o vilão, sem nenhum carisma.
Outro ponto negativo: Washington, ao sair da cadeia, faz sua fama e fortuna como lutador de luta-livre. Isso te faz lembrar algum outro personagem em início de carreira? Talvez…um certo escalador de paredes? Está aí outro problema do Mr.Excelsior: se ele se tentasse criar histórias com um jeitão de quadrinhos antigo, tudo bem. Seria até uma brincadeira que nos levaria a entender que ele teria criado estes personagens de verdade. Mas as histórias não tem só aquele aroma de clássico, elas parecem amálgamas de tudo que o cara já escreveu até então. Não tem nada de novo, simplesmente um clichê atrás do outro – clichês que ele mesmo criou, diga-se de passagem.
Em resumo: vale pela curiosidade. E só. Há também a magnífica capa de Adam Hughes e arte de Joe Kubert, que está meio que aposentado dos quadrinhos tradicionais. Não é todo dia que temos a chance de ler algum material desta verdadeira lenda vida das HQs.
— Mulher-Maravilha
(ou: Ninguém avisou que Odin tinha uma filha)
A história, apesar de bem fraca, é melhor que a do Batman e até que poderia ter algum crédito…se não fosse a origem dela uma cópia descarada da origem do Thor – por sinal, um personagem criado pelo próprio Lee. Voltamos, portanto, ao argumento já apresentado na análise do Batman: ele se apega aos clichês que ele mesmo criou e vai embora… O visual dela, elaborado por Jim Lee, ao menos é cabuloso (eu gostei!). Ainda mais na contra-capa desenhada por Adam Hughes (mais uma vez!). As armas (um cetro-lança e um escudo) até que são legais, com capacidades bacanas e tudo mais. Eu gostei até mais do que o laço da verdade, pois ela fica com mais cara de guerreira, que é o que ela realmente é. Apesar disso, gosto do poder do laço e senti que falta alguma coisa parecida em relação ao cetro e ao escudo. Por mais que a moça esteja legaus, ainda falta um pouco do carisma da personagem original. No fim das contas, esta Mulher-Maravilha parece muito mais uma coadjuvante classe A.
Bom, os clichês estão todos lá: o pai que é morto pelo vilão, que por sua vez quer poder inimaginável para destruir tudo e dominar o mundo, a heroína que quer vingança e um transeunte passageiro (Steve Trevor), que quer desmascarar o vilão e que ajuda a mocinha…que no final arruma inexplicavelmente um emprego para servir de álibi. Acho que uma das piores falas da revista é a de encerramento, dita pela Mulher-Maravilha. Não tenho nem coragem de escrever isso aqui.
— Super-Homem
(ou: Coitados do Siegel e do Shuster)
Arghhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Esta sim foi a pior das três edições, que mistura todos os defeitos das duas anteriores – além de uniforme simplesmente horripilante do Azulão
(Nota do El Cid: Isso ele diz porque é fanático pelo Super. Eu, particularmente, gostei bastante da idéia do John Buscema, ilustrador desta edição).
Saca só: Salden, policial de um mundo tecnologicamente superior à Terra, vive uma vida de tranqüilidade até que um tal de Gorrock, bandido que ele ajudou a engaiolar, mata sua esposa por vingança. Cego de ódio, o cara acaba caindo numa nave junto com o criminoso, que dá de cara com a Terra. Salden cai direto em Los Angeles (e não Metrópolis) e descobre que a gravidade (e não o Sol amarelo) de nosso planetinha lhe confere habilidades além do comum. No meio do blá-blá-blá todo, ele conhece uma agente de artistas chamada Lois Lane, que trata de batizá-lo de…Super-Homem.
Além dos diálogos horríveis, o principal defeito deste gibi é que ele é cuspido e escarrado a própria origem do Super-Homem (com algumas pitadas da história do Homem-Aranha, verdade seja dita). Para ser sincero, esta história se parece muito com uma versão distorcida do longa-metragem do herói, estrelado pelo Christopher Reeve. Se ele transformou o Batman num negro, o Flash numa mulher e tirou até o anel do Lanterna Verde, o que custava fazer uma coisa mais ousada, mais distante do Super criado originalmente por Jerry Siegel e Joe Shuster? Ficou uma colcha de retalhos que carrega bastante do original – os poucos detalhes diferentes lembram nitidamente os outros heróis de Lee. O personagem principal é bobo, quase manipulável, o vilão (novamente) é uma criatura apagada, sem nenhum carisma, e é impossível ler uma fala sequer sem pensar num "manual básico de clichês para quadrinhos de super-heróis".
Ai, ai, ai…eu, que tinha tantas esperanças nessa série…Bom, vou rezar para que melhore, embora eu não acredite muito nisso. Por quê? Espere só até ver a versão do Flash que ele fez: uma garota que tem seu DNA misturado ao DNA de um colibri??? Aí é sacanagem…
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