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Eu aprendi a ler sozinho com os quadrinhos de super-heróis. Na verdade, lembro até hoje do primeiro gibi que li sem a providencial ajuda da minha avó (que era quem tinha que ler tudo quanto era HQ que meu avô comprava pra mim): era um número do Capitão América com o Bucky e o Falcão numa capa laranja, estrelando uma história que era uma espécie de flashback, desenhada pelo John Byrne. Isso foi em meados de 86, quando eu tinha 7 anos de idade. No entanto, antes mesmo do meu vício pelo Homem-Aranha, eu só me tornaria colecionador alguns anos mais tarde, quando descobri os X-Men de Chris Claremont, na época da Fênix Negra. E me apaixonei.
O especial Os Maiores Clássicos dos X-Men, da Panini, reúne as edições americanas de Uncanny X-Men 248, 256, 257, 258, 268 e 269, todas desenhadas por Jim Lee (estreando nos X-Men, antes do estouro de vendas de X-Men 1) e escritas por Claremont, voltando ao título. E foi justamente nesta época que perdi completamente o tesão pelos X-Men. Quando a Psylocke se transforma na sexy ninja japonesa, quando a Vampira vai para a Terra Selvagem e se envolve com o Magneto… Tudo muito chato.
Antes de mais nada: não gosto da arte do Lee. Não adianta querer fazer eu engolir isso. No começo, chegou até a me empolgar… mas fiquei cansado do estilo plástico demais, cheio de poses e expressões sempre muito iguais. O que era inovador e criativo, ficou repetitivo e sem graça. Mas, para ser bem sincero, nem foi tanto a arte que me afastou dos X-Men nesta época. Mas sim os roteiros.
Claremont já tinha definitivamente perdido a forma, transformado os X-Men em guerreiros ultra-poderosos e mega-coloridos enfrentando ameaças intergalácticas, perdendo o conceito original da série: onde estavam as discussões sobre o preconceito? De uma hora para outra, parece que a questão ‘humanos x mutantes’ foi simplesmente deixada de lado, descaracterizando o que são os X-Men de verdade: párias da sociedade. E ponto.
Os personagens perderam um pouco do carisma original, tornando-se descerebrados homens com músculos na gengiva e deliciosas mulheres semi-nuas disputando pra ver quem fazia a entrada triunfal mais bacanosa (e que se encaixasse perfeitamente numa splash page). Todo mundo queria ser mais estiloso, mais mortal, mais violento, mais espalhafatoso. Porra, isso enche o saco. Fora o fato de que, nesta época, a cronologia do grupo começou a dar nós e mais nós na cabeça dos coitados dos fãs, ajudando a afastar, durante décadas, as novas gerações de interessados atraídos pelo novo desenho da TV…
Em tempo: gosto muito de uma história desta edição, chamada Cavaleiros de Madripoor, que reúne Wolverine, a Viúva Negra e o Capitão América. Suas duas tramas paralelas, que ficam se alternando entre a década de 40 e os tempos ‘atuais’, sempre com um detalhe de uma trama complementando outro da posterior. Pra mim, é uma divertida lição de como contar uma história sem cair no clichê básico do ‘herói-mais-mortal-e-perigoso-que-os-vilões-que-enfrenta’. E o que é pior: a história é do próprio Claremont!!!! Dá pra entender????
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