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Reunir na mesma telona diversas gerações da família Douglas só ajuda a tornar Acontece Nas Melhores Famílias um filme ainda mais vívido e simpático. Afinal, saber que alguns daqueles problemas familiares podem ser claramente reprises do que acontece na vida real aumenta a identificação e simpatia com os personagens. Exatamente por isso, a película pode ser um excelente programa familiar, tornando-se uma divertida terapia em grupo, um exorcismo daqueles pequenos problemas que guardamos do lado de dentro das portas de nossos lares.
É fato: a família Gromberg é uma família como qualquer outra. Como a minha, como a sua. Formada por pessoas comuns, sem estereótipos fáceis, sem dicotomias sobre o bom e o mau. Eles são três gerações de uma família americana comum, formada por pessoas comuns, cheias de pequenas idiossincracias e que tentam encarar os defeitos uns dos outros para manter um mínimo de felicidade (e sanidade) na sala de estar a cada noite.
A história que o diretor Fred Schepisi conta não tem supervilões ou um objetivo final a ser atingido, não tem determinações de começo, meio e fim. É simplesmente um pedaço do dia-a-dia da família de Alex Gromberg (Michael Douglas), um advogado ambicioso que, ao lado da mulher Rebecca (Bernadette Peters), tenta criar da melhor maneira possível os filhos Asher (Cameron Douglas, filho de Michael Douglas) e Eli (Rory Culkin, irmão de Macaulay Culkin). Enquanto vai superando uma pequena crise de relacionamento, o casal resolve entender melhor seus rebentos, dando mais espaço para diálogo do que Alex sequer sonhou em ter um dia com seu pai, Mitchell (Kirk Douglas, pai de Michael Douglas), um velho resmungão e tradicionalista casado com a compreensiva e pacificadora Evelyn (Diana Douglas, mãe de Michael Douglas), que tenta evitar os conflitos entre pai e filho. Não parece alguma família que você conhece?
“Acontece Nas Melhores Famílias” vale especialmente para acompanhar a impressionante recuperação de Kirk Douglas depois de um derrame. Embora ainda tenha dificuldades para falar, seu personagem é, sem dúvida, o mais apaixonante e envolvente da trama. Kirk é responsável pelos momentos mais divertidos e, ao mesmo tempo, pelos mais emocionantes, arrancando risos e lágrimas com a mesma boa forma. A química do pai com Michael Douglas é perfeita – afinal de contas, ninguém podia garantir que eles interpretassem bem juntos. Mas funciona surpreendentemente, de uma maneira tragicômica e especialmente corriqueira, deixando aquela pergunta no ar: será que eles são assim mesmo?
Também é bom ficar de olho em Rory Culkin, que interpreta um garoto de 11 anos maduro demais para a sua idade (aliás, ele parece ser o homem mais maduro da família). Ao lado do irmão Kieran, ele é uma grata promessa que pode ajudar a reescrever a história dos Culkin no cinema, esquecendo o destino atribulado de Macaulay.
Resumindo – tudo bem que não tem nenhum lutador de kung fu de roupa de couro e óculos escuros atravessando a tela em saltos fenomenais. Mesmo assim, duvido que você não se sinta em casa quando Alex e Mitchell (ou seriam Michael e Kirk?) começarem a discutir durante o jantar…
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