Todo grande gênio tem seus momentos de fraqueza, mas nunca perde completamente o talento que o faz entrar para a história. O grande mérito da edição especial Sin City: O Assassino Amarelo (Pandora Books) é justamente provar esta teoria, mostrando que o escritor e desenhista narigudo Frank Miller ainda está no auge de sua forma, apesar da escorregadela com a terrível série O Cavaleiro das Trevas 2.

Seja bem-vindo de volta à cidade de Basin City, um paraíso do pecado e da corrupção apelidado apropriadamente de Sin City (Cidade do Pecado). Esta é uma história sobre o destino trágico de John Hartigan, possivelmente o último policial honesto da cidade. No seu último dia de emprego antes da aposentadoria, Hartigan, quase sessenta anos, se empenha em capturar um psicopata conhecido como Júnior Roark, homem sem qualquer escrúpulo ou moral que abusa e mata jovens garotas abaixo dos 18 anos. Todos na cidade sabem que ele é o culpado pelos crimes que comete… mas o garoto acaba protegido pelo dinheiro e pelo prestígio de seu pai, um poderoso senador local. Mas não esta noite. Não com Hartigan disposto a impedir que a pequena Nancy Callahan, 11 anos, se torne a quarta vítima de Roark.

Embora consiga libertar a menina e dar fim ao odioso Roark, o sofrimento de Hartigan está apenas começando. Sob a mira do senador Roark, o ex-policial acaba acusado de tentar estuprar a garota e é atirado na cadeia por oito longos anos de privações e abusos. Ele não pode contar a verdade a ninguém, nem mesmo à sua esposa, ou vai colocar a vida de Nancy em risco. Mas, depois de oito anos, um estranho homem de pele amarela começa a perseguir a menina, agora com 19 anos. Para proteger a vida da única pessoa no mundo que ainda importa a este velho e combalido policial, ele planeja uma desesperada saída da prisão…

Em uma história vibrante e cheia de energia, Miller apresenta mais uma deliciosa galeria de personagens imorais e violentos… mas nem por isso menos interessantes. O nosso herói cabeça-dura e politicamente incorreto é tão cativante quanto Nancy, que revela uma impressionante surpresa no último arco da história. No entanto, o grande personagem deste arco de histórias continua sendo a embasbacante narrativa visual de Miller. O autor usa o jogo de sombras com preto e branco e a linguagem cinematográfica de tal forma que é impossível não pensar em ‘Sin City’ como um romance noir contemporâneo, que incorpora todos os elementos da violência das ruas dos anos 90. Eu passei todo o tempo tentando imaginar que ator caberia na pele de John Hartigan (e só conseguia pensar no Clint Eastwood).

Vencedora do prêmio Eisner Award, dá pra entender porque esta história é considerada a melhor do universo de ‘Sin City’. Pelamordedeus, alguém deixe um volume de ‘O Assassino Amarelo’ na escrivaninha de Frank Miller para o caso do sujeito querer escrever mais alguma coisa como ‘Cavaleiro das Trevas 2’… ou mesmo como aquele detestável especial Spawn vs. Batman. Por que o Miller não faz um especial do Batman usando estes mesmos elementos em preto e branco? Ia encaixar como uma luva… e a gente ia ficar muito feliz, na boa…

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