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Recentemente, os nossos jornais foram povoados por uma discussão entre representantes da Abril e da Panini Comics a respeito de uma certa crise recente nos quadrinhos de super-heróis. Eu discordo de ambos os lados. Acho que esta tal crise é, na verdade, uma peste… e que já povoa o gênero há muito anos, não é nada recente. A quantidade de clichês, bobagens e idéias (mal) recicladas que nós vimos na década de 90 não é mole. Tudo bem que os atentados de 11 de setembro forçaram os heróis a se tornarem menos infantis e mais inteligentes, mas eu já vinha esperando um movimento neste sentido (especialmente na Marvel) desde a explosão da Image Comics, quando a testosterona passou a valer mais do que o cérebro nos gibis americanos. As coisas que li de X-Men e Homem-Aranha eram insultos à minha inteligência e a de qualquer um. Graças a Deus, alguns bolsões de resistência a esta postura se mantiveram e injetaram uma abençoada inteligência num gênero brutalecido por heróis sombrios e musculosos. Um destes títulos foi, justamente, Astro City.
A coletânea de histórias curtas que forma este delicioso encadernado Astro City: Vida na Cidade Grande (Pandora Books/R$ 12,50) é o ponto de partida perfeito para conhecer o universo de heróis criado por Kurt Busiek. Menos catastrofista que a série Watchmen, Astro City mantém a inocência e essência dos clássicos heróis da Era de Prata, mas mostrando sua influência numa sociedade como se eles realmente existissem. E contando, com muita inteligência, como diabos isso afetaria a vida dos pobres mortais como nós, vivendo numa cidade que tem um combatente do crime fantasiado a cada esquina.
Astro City: Vida na Cidade Grande traz seis histórias sobre a vida numa metrópole cheia de antíteses e recheada de pessoas como eu e você. Tanto é assim que quatro destas histórias são contadas por cidadãos comuns, que vão tendo suas vidas modificadas, de uma forma ou de outra, pela ação destes homens e mulheres cheios de poderes maravilhosos. São como crônicas urbanas, exatamente como sugere o título em português. Mesmo as duas histórias restantes, protagonizadas pelo Samaritan (uma espécie de Super-Homem com mais consciência de seus poderes e do que deve fazer com eles), revelam o ser humano por baixo do uniforme mesmo cheio de poderes além da nossa compreensão, ele tem tantas qualidades e defeitos como nós.
Aliás, todos os justiceiros mascarados de Astro City são assim, do soturno Jack-in-the-Box (um Batman que se veste de palhaço) ao divertidíssimo falastrão conhecido como Crackerjack. A última história é ainda mais especial porque faz referência ao romance velado entre o Super-Homem e a Mulher-Maravilha, que só se tornou realidade em O Reino do Amanhã. Em seu primeiro encontro, Samaritan e Vitória Alada (uma versão ainda mais radical e feminista da amazona da DC Comics) revelam insegurança, medo e até mesmo vergonha. E chegam até a discutir depois de descobrirem posições divergentes quanto às suas identidades secretas, quase arruinando o encontro. Te lembra alguém? 🙂
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