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Tudo bem, eu confesso: quando os polivalentes e reclusos irmãos Wachowski anunciaram que Matrix fora desde o início pensado como uma trilogia, achei no mínimo estranho. Afinal, sempre vi a trama do primeiro filme como um conjunto muito bem fechado e amarrado, sem a necessidade de uma continuação. As primeiras críticas publicadas na imprensa estrangeira contribuiam para esta crença. Ao me deparar com o aguardadíssimo Matrix Reloaded, principal aposta dos estúdios da Warner para este ano (mais até do que o capítulo final da trilogia O Senhor dos Anéis), admito que tive uma surpresa. Embora o segundo capítulo da saga de Neo esteja muito aquém da película anterior, ainda assim trata-se de uma excelente diversão. Mas não espere muito mais do que isso, já aviso…
Para tentar superar a perda do aspecto surpresa (que, afinal de contas, foi o responsável pelo interesse do público na trama do primeiro filme), os Wachowski injetaram boas doses de adrenalina e testosterona neste segundo filme. ‘Matrix Reloaded’ é muito mais anabolizado e grandioso do que seu antecessor: os cenários são monumentais (especialmente quando surge Zion, a última fortaleza da resistência humana), os efeitos especiais são espetaculares, as lutas continuam de cair o queixo (novamente coreografadas pelo genial Woo-ping Yuen)…
Neo (Keanu Reeves) assume de vez o papel de ‘predestinado’, tornando-se uma espécie de ‘Super-Homem’ capaz de malabarismos muitos mais fantásticos do que qualquer fã sequer imaginou. Os vôos que ele protagoniza em alta velocidade fazem pensar: “sim, é possível fazer um filme decente do Homem-de-Aço”. Resumindo: visualmente, ‘Reloaded’ é embasbacante – segure o fôlego para a emocionante cena da perseguição na via expressa, que é muito melhor do que sequer podemos imaginar ao ver o trailer.
Ressalva: embora as lutas estejam muito bacanas, algumas sequências parecem demasiadamente longas, dando aquela impressão estranha: “Hummmm, eu já vi esta luta antes… Ah, claro, foi há cinco minutos atrás!”.
No entanto, falta alguma coisa. Um tempero que torna o primeiro ‘Matrix’ muito mais do que um mero filme de ação. Além de demorar para engatar e capturar a atenção do público (a primeira meia-hora chega a arrancar bocejos), este segundo filme perdeu o aspecto político e contestador da trama anterior, quando Morpheus instiga Neo – e o espectador – a se questionar o que é ou não real no mundo ao seu redor. A trama de ‘Reloaded’ é mais auto-contida, fechada dentro do próprio universo de ‘Matrix’. Por sinal, em alguns momentos os diálogos podem parecer especialmente confusos (especialmente quando Neo começa a descobrir a verdadeira história por trás da Matrix e seus criadores) e chatos, o que requer um grau de atenção redobrado por parte do público mais interessado na boa e velha pancadaria de sempre, especialmente graças ao exagerado uso de termos técnicos.
A história – Passaram-se alguns meses desde a libertação de Neo, que foi descoberto como ‘o escolhido’. A aliança dos libertos ‘desplugou’ mais humanos neste período do que nos 6 anos anteriores de luta. É exatamente como uma medida desesperada que as máquinas organizam um ataque em massa contra Zion, tentando deter o avanço dos homens livres com uma tropa de mais de 250.000 sentinelas (aqueles robôs estilo polvo, lembra?). Somos apresentados ao comando da cidade, liderada por um conselho de anciões e pelo inflexível Comandante Lock (Harry Lennix), um homem que não acredita nos oráculos e profecias decantados por Morpheus (Laurence Fishburne). No entanto, o mentor de Neo é tido pela população de Zion como o verdadeiro líder da revolução, e ele deposita todas as suas fichas para a salvação da cidade e para o fim da guerra… em Neo. A profecia estaria próxima de se concretizar.
Depois de um contato do Oráculo (Gloria Foster), Neo descobre que precisa encontrar um programa desgarrado chamado O Chaveiro (Randall Duk Kim), que finalmente vai poder revelar ao confuso salvador da humanidade como diabos ele deve agir para acabar com as Máquinas. Entrando de cabeça nos meandros da Matrix, ele deve destruir a mainframe do sistema… enquanto esquenta a cabeça com uma série de estranhos sonhos que o afligem à noite, sobre um possível destino terrível envolvendo sua amada Trinity (Carrie Anne-Moss, de longe um dos personagens mais interessantes da história).
Para piorar tudo, eis que Neo tem que se deparar com o retorno de um inimigo que julgava morto: o Agente Smith (Hugo Weaving, numa interpretação divertidíssima). Embora não seja mais agente da Matrix, ele quer vingança… e agora tem o poder de se replicar, gerando a sufocante sequência na qual Neo enfrenta, ao mesmo tempo, mais de 100 cópias do famigerado agente.
Os novos personagens acrescentam pouquíssimo à trama. Tanto falou-se dos fantasmagóricos gêmeos ‘albinos’ que, no final, sua participação acaba sendo decepcionante. O mesmo vale para a Persephone de Monica Bellucci – atriz italiana que, além de belíssima, é muito talentosa e poderia ter sido melhor aproveitada. Quem chama a atenção, pelo aspecto surreal, é Merovingian (Lambert Wilson), que arranca risos como um programa de computador em busca de poder que assume, dentro da Matrix, a forma de um falastrão ‘afrancesado’.
Lembrete: fique até o final dos créditos. Além de uma amostra da interessante trilha sonora (que reúne nomes como Linkin Park, P.O.D e Rage Against the Machine), você vai ver um trailer com cenas inéditas de ‘Matrix Revolutions’, a terceira e última parte da saga dos irmãos Wachowski (que chega ao Brasil no segundo semestre)
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