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Ele montou um império do entretenimento de dentro do seu quarto, na casa dos pais. Harry Knowles, um texano ruivo de 31 anos e 200 quilos, se tornou o maior pesadelo da indústria cinematográfica ao montar um exército de espiões dentro dos estúdios de Hollywood, divulgar em seu site notícias escondidas a sete chaves pelos estúdios e democratizar a informação – a principal proposta, afinal, da Internet.
A idéia nasceu de um acidente: Harry ficou tetraplégico por alguns meses, deitado em uma cama. Quando recuperou o movimento dos braços, procurou algo que pudesse ocupá-lo e afastá-lo da depressão. Comprou um computador e, viciado em cinema, começou a cruzar informações de sites sobre o assunto. Depois, fez amizade com muita gente dos baixos escalões dos estúdios e contou com a colaboração de um exército de cinéfilos espalhado pelo mundo.
O site de Harry, o Ain´t It Cool News (significa ”Estas notícias não são legais?” e fica no endereço www.aint-it-cool-news.com) publica notícias sobre a indústria da sétima arte antes de qualquer outro meio de comunicação do mundo. Recebe dois milhões de visitas por mês. Seus colaboradores são gente que frequenta sessões de teste secretas dos estúdios (feitas para avaliar a opinião do público e identificar possíveis sucessos) e mesmo empregados destes mesmos estúdios.
O maior feito do site foi publicar, dois meses antes da estréia, uma crítica completa de Star Wars – Episódio 2 – O Ataque dos Clones, que o próprio Harry viu, escondido em um quarto de hotel, por meio de uma cópia desviada da Lucasfilm por um empregado da companhia. Não foi o único: Titanic também estava lá meses antes da estréia. Homem-Aranhaidem.
O resultado é que Harry virou celebridade entre fãs de cinema de todo o mundo, é convidado para celebrações, festivais e premiéres e, agora, é o pai que mora com ele. Sua empresa tem seis funcionários fixos (fora os espiões, que são meros colaboradores) e representantes na Europa, América Latina e Ásia. Os estúdios usam seus comentários como forma de promover uma produção. Virou referência, tanto para a indústria quanto para fãs. Agora, depois de lançar um livro – Ain´t It Cool?, pela Warner Books -, pensa em dirigir um filme e, no meio de um de seus dias tradicionais, em que assiste a cinco ou seis filmes inéditos e atualiza seu site com notícias que mais tarde serão copiadas por jornais, revistas e tevês de todo o mundo, concedeu a entrevista exclusiva a seguir.
A ARCA – Como e por que você começou o Ain´t It Cool?
Harry Knowles – Comecei o site em fevereiro de 1996. Nesta época, estava paralizado da cintura para baixo e odiava não poder sair para ver filmes, preso em meu quarto sem poder nem mesmo conversar com as pessoas sobre cinema, algo que sempre gostei. Criar o Ain´t It Cool me deu a chance de tanto falar quanto aprender sobre a sétima arte. Desde então, virou uma paixão, da qual não me imagino vivendo longe.
A ARCA – Que tipo de criança era Harry Knowles?
Knowles – Quando era garoto, meus pais me deram a oportunidade de perseguir o caminho que me agradasse. Não houve aquela pressão para escolher a profissão da família ou coisa parecida. Então, eu vendia objetos de filmes, criava e vendia objetos de arte feitos em bronze, atuei no teatro fazendo Shakespeare, fui aprendiz de mágico, fui assistente de uma companhia de dança e até ajudei um treinador de aves. Era um consumidor voraz de quadrinhos e livros sobre filmes. Também viajei muito, muito mesmo, pela América Latina, explorando a civilização maia e asteca com meus pais, que eram arqueólogos. Também ia para a escola, fazia lição de casa e tinha uma vida comum a qualquer garoto.
A ARCA – Você alcançou o sonho de qualquer garoto fã de cinema: conversar com as grandes cabeças do mundo do cinema, diretores, produtores e atores. Chegou até a ficar amigo de alguns, ser chamado para dar conselhos e até fazer participações especiais em filmes. Há um lado ruim nisso tudo?
Knowles – O lado ruim é a perda da privacidade. Não posso mais ir a convenções ou a um festival de cinema apenas para ver filmes. Eu adoro conversar sobre filmes mas, de vez em quando, eu perco filmes apenas para ser cordial. Outro lado ruim é a inveja. Mas os benefícios superam em muito os problemas.
A ARCA – Que filme você considera o melhor de todos os tempos?
Knowles – É uma questão quase impossível. Se eu pudesse falar de dois, citaria o Robin Hood de Errol Flynn e a versão de 1933 de King Kong. Gosto muito, também, de O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston.
A ARCA – Como você descreveria seu dia de trabalho?
Knowles – Viver, respirar e dormir com filmes. Meu dia de trabalho começa no momento em que abro meus olhos. Acordo, me viro na cama e já estou no meu computador. Enquanto estou dormindo, o site está em movimento constante, com os comentários de todo o mundo sobre as notícias da última noite. Durante o dia, elaboro a pauta e as notícias da noite seguinte, retorno telefonemas, respondo a e-mails, a entrevistas como esta. Saio, então, de casa, para assistir a um filme ou dois, comer alguma coisa e flertar com uma possível futura namorada. Volto para casa, respondo mais e-mails, atualizo o site, vejo uns três ou quatro filmes em vídeo e DVD, que chegam por correio, e depois durmo. Talvez. Talvez permaneça acordado noite afora, trabalhando. Às vezes, fico 46 horas sem dormir, simplesmente porque gosto tanto do que faço que não quero parar.
A ARCA – Como você consegue aquelas notícias exclusivas? Tem espiões ou simplesmente conhece as pessoas certas?
Knowles – Um mágico nunca revela seus truques. Eu também. Na verdade, é uma combinação das duas coisas, além de saber o momento exato de estar no lugar certo e estudar a aprender a ganhar. Ganhar é uma questão de nunca ter aprendido a perder.
A ARCA – Quais são seus planos para o futuro? Pretende dirigir um filme, ou escrever um roteiro, ou produzir?
Knowles – Sim.
A ARCA – Desde o início do site, você conheceu muita gente famosa. Quem são os mais legais e os mais chatos de Hollywood?
Knowles – Não conheci muita gente chata, mas posso falar de vários caras bem legais de quem fiquei amigo: Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Peter Jackson, Guillermo Del Toro, Sylvester Stallone, Paul Dini, Paul Thomas Anderson e William Friedkin, para citar alguns.
A ARCA – Se você tivesse a chance de cometer o crime perfeito e a certeza de que não seria descoberto, quem mataria? O Freddie Prinze Jr.?
Knowles – Hahahahaa, acho que não mataria o Freddie Prinze Jr. Eu roubaria a Sarah Michelle Gellar e o deixaria chorar de arrependimento pelo resto da vida dele.
A ARCA – Você conhece filmes brasileiros além de Cidade de Deus, sobre o qual já escreveu?
Knowles – Adorei Cidade de Deus. É um filme tremendo. Gostei também de Alô!, Amores Possíveis, O Bandido da Luz Vermelha, Delírios de Um Anormal, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Estupro, Exorcismo Negro e um monte de outros. Gosto especificamente do trabalho do Zé do Caixão.
A ARCA – O que faz Harry Knowles além dos filmes? Sobra tempo para outras paixões?
Knowles – Bom, obviamente eu gosto muito de comer. Sexo também é muito bom quando está à disposição entre pessoas que se amam. Gosto de escrever, de ouvir música (todos os gêneros). Não vejo muita televisão, quase nada, porque não dá tempo. Cresci dentro de uma loja de quadrinhos, portanto não leio nem curto muitos dos atuais lançamentos, apenas quando ouço que alguma coisa é realmente muito boa. Leio roteiros, livros, histórias. Gosto de esculpir e de pintar. Também tenho uma vida normal: saio com amigos, bebo cerveja.
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