O mar tem sido palco das mais diversas histórias fantasmagóricas. O mundo literário, por exemplo, é uma das maiores fontes do armageddon oceânico: temos Os Lusíadas e o poderoso Gigante Adamastor, a onipotência misteriosa de Moby Dick, o maldito capitão Van De Straten, vulgo Holandês Errante, e tantas outras lendas e misticismos subaquáticos.
A literatura, entretanto, não detém essa exclusividade. O cinema, em especial, tem criado diversas produções acerca do tema. E os navios não são os únicos possuídos por entidades do além: há naves espaciais fantasmas, trens fantasmas, aviões fantasmas e até mesmo caminhões fantasmas. Infelizmente (ou felizmente!) o tema está deveras batido, mas ainda assim os estúdios insistem nesses filmes. Navio Fantasma (Ghost Ship), produzido em 2002, acabou de chegar aos cinemas brasileiros e é o mais novo exemplo da fantasmagoria naval.
:: CAÇA AO TESOURO
No início da película o espectador é apresentado a um grupo de caçadores navais: pessoas que buscam embarcações e tesouros perdidos. A bordo do Arctic Warrior estão o capitão Sean Murphy (interpretado por Gabriel Byrne) e uma equipe de técnicos, cada qual especializado numa tarefa ou num assunto. Também faz parte da turma a comandante Maureen Epps (intepretada por Julianna Margulies, da série de TV Plantão Médico), única mulher do grupo.
Durante o festejo por causa de um barco salvo, chega ao conhecimento da equipe – através dum estranho – o seguinte: um imenso barco estava à deriva perto do Estreito de Bering e no tal navio poderia haver itens valiosos e tesouros. Todos acabaram atraídos ao resgate como uma abelha ao mel. Ao chegarem à misteriosa embarcação, o capitão constatou, atônito, um achado: tratava-se do transatlântico italiano desaparecido desde 1962: o Antonia Graza. De fato, foi como se houvessem descoberto petróleo! O melhor de tudo, porém, residia na possibilidade do navio lhes pertencer, uma vez que foi descoberto em águas internacionais. A partir desse ponto – da entrada dos “saqueadores” a bordo – os problemas dos personagens começam. As coisas pioram ainda mais quando barras de ouro são encontradas num compartimento do barco.
:: NAVIO PREVISÍVEL>
Apesar do início diferente para um filme de (suposto) terror e das primeiras cenas interessantes, o espectador logo é levado a praticamente todos os clichês previamente vistos nos filmes do gênero: frases “feitas” e de “efeito”, sustos premeditados, cenas mal iluminadas, personagens pouco explorados e toda a sorte de coisas manjadas: é como se você já o houvesse visto. É de espantar, isso sim, o fato de Navio Fantasma ter sido produzido por dois pesos pesados do cinema: Robert Zemeckis (diretor de De Volta Para o Futuro e ganhador do Oscar por Forrest Gump) e Joel Silver (de Matrix). Algo que não espanta, em contrapartida, é a presença do diretor Steve Beck, o mesmo do fraco Os Treze Fantasmas. É triste, mas deixou-se de lado o terror psicológico, que tão bem caberia num filme como esse, e apelou-se exclusivamente ao farto ketchup.
Os efeitos visuais, pelo menos, são um atrativo; especialmente nas cenas em que o salão de festas do navio é recriado – como num passe de mágica – em frente a um dos personagens amedrontados. Outro bom momento dos efeitos são as cenas finais da película, realmente interessantes e bem executadas.
As fracas atuações dos atores também ajudam Navio Fantasma a naufragar mais rapidamente. Nem mesmo Gabriel Byrne esteve bem. Ele, que impressionou a crítica ao interpretar D´Artagnan – em O Homem da Máscara de Ferro – não convence ninguém de que pode capitanear um barco. A cena na qual o personagem retoma o alcoolismo, por exemplo, é patética. Um ponto positivo vai para a garotinha intérprete da menina-fantasma Katie, a atriz Emily Browning.
:: FINAL A LA SEXTO SENTIDO?
Não, não espere um final como o do filme do diretor indiano. Não há nada de revolucionário ao término de Navio Fantasma, cuja conclusão mais se parece com o desfecho de um dos episódios da clássica série “Além da Imaginação”. Como se pode constatar, tudo foi sumariamente copiado de outras produções e nada é original. Poder-se-ia ter feito algo diferente, nos moldes de Hitchcock, em que teríamos o horror sugerido, sutil e belo.
Verdade, nalgumas vezes é preferível nos atermos à literatura, pois naufragar com o Navio Fantasma não assusta nem uma criança de dez anos. E pior: não serve nem como diversão de final de semana.
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