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Artigo adicionado em 19/02/2003, às 04:11

20 Anos de Videogames no Brasil
Aniversário e muita nostalgia! A criançada de hoje em dia, acostumada às partidas de Playstation 2 e Gamecube, nem se dá conta de que neste ano o mercado de videogame no Brasil está fazendo aniversário. Porém, quem estiver na casa dos trinta – como eu – se lembrará do agitado ano de 1983, época em […]

Por
Marcus "Garrettimus" Garrett


A criançada de hoje em dia, acostumada às partidas de Playstation 2 e Gamecube, nem se dá conta de que neste ano o mercado de videogame no Brasil está fazendo aniversário. Porém, quem estiver na casa dos trinta – como eu – se lembrará do agitado ano de 1983, época em que os jogos chegaram ao país. Há vinte anos.

A grande novidade apareceu por aqui com quase sete anos de atraso em relação ao mercado que a inventou, o norte-americano, e também por causa disso a evolução do videogame no Brasil aconteceu de maneira bem pitoresca. Apesar das extintas lojas Mappin e Mesbla terem importado um grande lote de aparelhos em 1981, o videogame genuinamente produzido no país somente surgiu após dois anos.

Eis que, no ano de 1983…

:: ODYSSEY: O Pioneiro

A responsável pelo debute foi a Philips, que lançou o Odyssey em maio daquele ano. Através de forte campanha publicitária – até mesmo um programa de videoclipes foi patrocinado pela empresa – com propagandas na tevê e em revistas especializadas, a empresa atingiu um bom número de vendas do console. O Odyssey, criado na Europa, não foi bem aceito pelo consumidor norte-americano, mas aqui deslanchou devido ao marketing e também por ter sido o primeiro. Jogos ótimos como Didi na Mina Encantada, Come-Come e Senhor das Trevas garantiram a boa aceitação do aparelho, que teve 60 títulos lançados.

Infelizmente, dois motivos levaram o Odyssey ao ostracismo. O primeiro teve a ver com uma besteira cometida pelo fabricante: a Philips, passado um tempo do lançamento, declarou que o videogame só funcionaria em televisores da própria marca; obviamente, num plano para a venda conjugada de ambos os aparelhos. O outro fator teve a ver com o lançamento do Atari 2600, principal concorrente.

:: A RESERVA DE MERCADO

É preciso explicar o que é essa tal Reserva de Mercado antes de prosseguir, pois ela foi o outro determinante responsável pela ímpar história do videogame no Brasil. No início dos anos oitenta criou-se uma lei por meio da qual proibiu-se as importações de aparelhos eletrônicos computadorizados (microcomputadores e videogames). Ao mesmo tempo em que houve a proibição, incentivou-se a fabricação nacional de tais aparelhos, que supostamente estariam “protegidos” pela lei.

No fundo, criou-se uma saudável pirataria legalizada através da qual algumas empresas nacionais lançaram “clones” de videogames norte-americanos. Esse processo de clonagem industrial é conhecido como engenharia reversa, pois se aprende a fabricar determinando aparelho a partir da desmontagem e do estudo do produto original. Uma curiosidade: alguns clones, inclusive, trouxeram melhorias em relação aos “verdadeiros”. O fator que não pode passar despercebido ao leitor: as empresas nacionais responsáveis pelos clones nunca pagaram um tostão sequer de royalties e de direitos autorais aos respectivos fabricantes; e isso graças à Reserva de Mercado.

:: ATARI: O rei dos videogames, o mais popular

No final de maio, logo após a novidade da Philips, a primeira empresa a ter lançado outro videogame foi a Sayfi Eletrônica, que depois teve o nome alterado para Milmar (a conhecida fabricante de calculadoras). A Sayfi fabricou o primeiro clone do sistema Atari 2600: o Dactari. Curiosidade: o nome do produto foi posteriormente mudado para Dactar e foram produzidos quatro modelos diferentes, incluindo-se o famoso Dactar Maleta 007. O Dactar, a propósito, é parecidíssimo com o Atari e não trouxe nenhuma modificação significativa.

A Dynacom, que já fabricava cartuchos clones, seguiu a Sayfi e lançou um similar do Atari 2600: o Dynavision. O aparelho, criado com design totalmente único, saiu da fábrica dotado de uma série de melhorias, como plugs frontais para conexões de joysticks e com o silenciador de ruído de tevê.

O Atari 2600 somente apareceu oficialmente no Brasil entre agosto e setembro de 1983 e tornou-se a “febre” de consumo do Natal. O aparelho foi produzido pela Polyvox, extinta empresa do grupo Gradiente. O Atari oficial vinha acompanhado do cartucho Missile Command e podia ser adquirido por módicos 200 mil cruzeiros em qualquer loja de departamentos ou videoclube. Infelizmente, a Polyvox lançou poucos títulos – somente os oficiais Atari – e, portanto, não teve a vendagem de cartuchos esperada, ao passo que os concorrentes, como a Dynacom, venderam bem mais jogos. Enquanto a empresa possuía apenas os direitos sobre os jogos da Atari, as fabricantes de cartuchos clones duplicavam os cartuchos da Activision, da Parker Bros., da Imagic, da Coleco e de outras softhouses. Outra curiosidade: a Polyvox lançou três modelos diferentes de Atari e encerrou as atividades no final dos anos oitenta. Ao contrário das concorrentes, a empresa pagava royalties à Atari americana, fato que encareceu os produtos da marca no Brasil.

Demais empresas também lançaram os respectivos clones de Atari, como a CCE e a Dismac, contudo, o console favorito dos fãs, ainda hoje, é o Dynavision.

O Atari 2600 foi o sistema responsável pela popularização do videogame no mundo. Se hoje há o XBox, o Playstation II e o Gamecube, dê graças ao Atari por isso! Jogos como River Raid, Enduro, Decathlon, H.E.R.O. e tantos outros permanecerão nas nossas memórias para sempre.

:: INTELLIVISION: Jogos esportivos

Outra empresa nacional também não quis ficar para trás no mundo dos videojogos. Trata-se da extinta Digiplay, empresa coligada à Sharp, que adquiriu os direitos de um forte concorrente da Atari nos EUA: o Intellivision. A Digiplay lançou o videogame no segundo semestre de 1983 e, embora o aparelho fosse superior ao comercializado pela Polyvox, não fez o sucesso desejado. Lançado com a máxima “a inteligência na televisão”, o console trouxe controles esquisitos (discos direcionais) e muitos jogos esportivos; o forte do sistema, inclusive. Infelizmente, talvez devido ao alto preço, o Intellivision ficou relegado a uma pequena elite endinheirada. Jogos como Desafio Estelar, Burgertime e Shark Shark eram mania naquela época!

Em 1984 a Digiplay lançou o Intellivision II: igual ao primeiro, mas com design bem menor e na cor branca. Nada de mais! Também não foi sucesso de vendas.

:: SPLICEVISION: O Coleco nacional

O ColecoVision, coqueluche nos EUA em 1982, também teve uma versão brasileira: o SpliceVision. Lançado em 1983 por uma empresa do ramo de telefonia, a Splice, o clone nacional do Coleco mostrou-se mal feito em termos de acabamento: feio, desengonçado e ordinário. Apesar disso, a parte eletrônica do aparelho foi bem feita e só não fez sucesso devido ao elevado preço de venda; chegou a custar cinco vezes o valor de qualquer clone de Atari.

O Coleco foi superior aos concorrentes, pois tinha capacidades gráficas e sonoras muito melhores. A especialidade do ColecoVision foram as conversões dos jogos de Fliperama. A Splice, por conseguinte, procurou atingir o nicho de mercado em que os adultos, já trabalhadores, demandavam jogos melhores. Infelizmente, o videogame foi menos vendido do que o Intellivision. Outro agravante: a Splice lançou poucos títulos de jogos e o proprietário do console precisou se virar com os cartuchos originais da Coleco, extremamente caros à época.

:: O QUE VEIO DEPOIS?

Após o marco inicial de 83, uma imensa gama de videogames chegou ao Brasil. Tivemos o Master System, o NES (Nintendinho), o Mega Drive, o Super NES, o Neo-Geo e tantos outros. Todavia, devemos comemorar o aniversário dos videogames e nos lembrar dos primeiros aparelhos que fizeram as alegrias das crianças no início dos anos oitenta.

:: HÁ 20 ANOS ATRÁS…

Parece ontem… Mas há 20 anos, no Natal de 1983, ganhei meu Atari 2600 da Polyvox. Sinto-me sortudo por ter acompanhado o nascimento do videogame no Brasil, por ter participado, de certo modo, de tudo aquilo. Lembro-me das coisas como se fosse hoje e sinto muitas saudades daquela época mágica na qual só pensava em voltar do colégio para jogar River Raid e Enduro.

Parabéns ao videogame nacional! Parabéns às pessoas que fizeram essa história! Parabéns aos idealizadores dos clones nacionais, engenhosamente feitos! E parabéns aos criativos programadores dos jogos de outrora, que fizeram muitas crianças felizes ao movimentar naves “quadradas” e de uma cor só pela tela, mas que, em contrapartida, sempre imaginaram tremendos combates espaciais em galáxias distantes.

E isso, há 20 anos atrás…

Eduardo Luccas, 31 anos, especialista na história dos videogames, colaborou com esse artigo.


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