A partir de hoje, A ARCA inaugura na sua área de quadrinhos (conhecida pela alcunha de GIBI) uma nova série de matérias, intituladas: "Coisas que eu nunca deveria ter comprado", relembrando alguns dos piores momentos dos quadrinhos e tentando responder à pergunta: "Por que diabos eu gastei o meu dinheiro nesta MERDA?". Como bom aracno-maníaco, eu não poderia deixar de começar esta série com a sofrível SAGA DO CLONE, que acometeu a vida do pobre Peter Parker nas finadas revistas "Homem-Aranha" (nos números de 165 a 186) e "Teia do Aranha" (89 a 110), ambas da Editora Abril Jovem.

E…, respondendo à sua pergunta: sim, eu comprei esta saga…inteirinha. E…sim, eu morro de vergonha até hoje. Na verdade, não me entenda mal: acontece que sou aquele tipo de fã que gosta de colecionar tudo que é possível a respeito do seu ídolo. Tudo bem, eu já tinha lido em uma série de veículos especializados americanos (como a revista Wizard, por exemplo) que o tal retorno do clone que o Chacal criara nos anos 70 era horrível. Mas precisava ver para crer. E o que vi era difícil de acreditar…

Na verdade, esta "Saga do Clone" representa o ápice da bisonha gestão de Bob Harras como editor-chefe da Marvel Comics. No comando da cara, a Casa das Idéias virou um caos, fracasso de crítica e público. Foi na gestão Harras que surgiu a máxima: "Morreu? É personagem da Marvel? Então ele volta logo, fica tranquilo". Todos os principais personagens da Marvel foram arrassados: Vingadores, Capitão América, Demolidor, Hulk… No entanto, ninguém sofreu mais do que o Aranha e os X-Men (alguém aí lembra de "Inferno", com suas cadeiras e extintores de incêndio falantes e com presas ameaçadoras?).

:: MAS…

Sabe que a tal série poderia não ter sido de todo ruim? O grande problema aqui é que ela foi muuuuuuuuuuito longa. E foram surgindo mais e mais personagens, pipocando inimigos bobos e sem criatividade… Judas Traveller? Os Scriers? O Aracnocida? KAINE? KAINE? KAINE? Pelamordedeus! Além de não ter a menor necessidade de tanta gente envolvida numa espécie de conspiração idiota contra o pobre do Aranha, nenhum deles tinha metade do carisma e do glamour de um Dr.Octopus.

E, como parece que os roteiristas não estavam preparados para os desdobramentos que teriam que lidar com o retorno de Ben Reilly, tiveram que mudar um monte de coisas na cronologia do herói, dizendo que isto e aquilo que tínhamos lido há quase dez anos…eram mentiras e mais mentiras. Algumas explicações, como a que o Alto Evolucionário dá em "Aranha Escarlate Especial" sobre o antigo clone de Gwen Stacy, são tão infantis que você fica se perguntando: "Alô? Alguém aí me chamou de idiota ou é só impressão minha?".

E aí você descobre que Peter Parker é na verdade um clone…e em seguida descobre que não, ele é aquilo que sempre foi. E aí nasce a filha de Peter e Mary Jane…e ela é sequestrada por uma enviada da tal organização que arma o complô contra Peter, fazendo o casal achar que a menina está morta, num dos maiores chavões da história. E aí eles matam a Tia May, a única lembrança viva da perda de seu Tio Ben (o que faz dela, apesar de uma mala, personagem-chave na vida do herói)…e depois ela volta, como se nada tivesse acontecido. Quem morreu foi um…ser humano geneticamente alterado. Ah, tá.

:: O QUÊ????

Mas o pior momento foi, sem dúvida, a volta de Norman Osborn – ah, ele sim, o super-vilão, o grande responsável por toda esta armação, que comandou a todos desde o início. Mas…ele morreu naquela que é a melhor história que o Homem-Aranha já viveu! Por que diabos remexer num clássico de forma tão bobinha, fútil, sem qualquer propósito? Alguém vá perguntar ao Bob Harras.

:: QUERIAM TRAZER O CLONE DE VOLTA?

Tudo bem, eu até aprendi a gostar do Ben Reilly – por incrível que pareça, um dos únicos personagens bem-trabalhados desta história toda. Além de simpático, no uniforme do Aranha Escarlate ele provou ser realmente diferente de Peter: mais selvagem, descontrolado, sem nada a perder. Mas se queriam fazer uma saga que mostrasse o retorno do clone, ela deveria ter só UM CLONE…e ponto final. Nada de Kaine ou o cacete a quatro.

A série deveria ter sido mais curta, concisa, com menos personagens e menos referências pseudo-científicas. São estas coisas que matam o conceito original do Homem-Aranha, que é um herói essencialmente urbano, que combate os problemas das grandes cidades. Nada de ameaças espaciais, enormes monstros mutantes ou coisas do gênero.

O centro da história deveria ter sido, desde o começo, na vida de Peter Parker, não na carreira do Homem-Aranha. E sem estas bobagens de "tudo-que-você-leu-antes-era-mentira". Nada de mexer na cronologia. Bastava apenas lidar com as situações do dia-a-dia de Parker. Nem precisava inventar esta coisa de "ele-é-o-original-e-eu-sou-o-clone".

Brincando com o trio Peter-Mary Jane-Ben Reilly já dava pra gerar situações interessantíssimas. Esqueçam a morte da Tia May e, principalmente: ESQUEÇAM O NORMAN OSBORN!

É como diz o Fanboy: "um feijão com arroz bem temperado funciona melhor do que um caviar mal-feito".

E tem gente que ainda se pergunta porque diabos o Homem-Aranha do Universo Ultimate fez tanto sucesso aqui e lá fora? BACK TO BASICS na veia, meu chapa!