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Na verdade, não vejo outra forma de dizer isso mas, com o perdão do trocadilho infame, o trabalho que a galera da Mythos (especialmente na figura do editor Fernando Bertacchini) vem fazendo com o Conan é BÁRBARO. De verdade. Com todo o respeito ao que era feito na Abril Jovem enquanto o personagem pertencia à editora…mas simplesmente não dá pra comparar. E quem tem sido o maior beneficiado com esta mudança é você, meu caro leitor e viciado pelas aventuras sanguinolentas do bárbaro cimério.
A cada número, a Mythos dá mostras de respeito ao fã de quadrinhos como nunca se viu antes no mercado editorial brasileiro. Com o gibi CONAN, O BÁRBARO (Mensal/R$ 3,90), eles abriram um elogiável canal de comunicação com a pequena mas fidelíssima comunidade de fanáticos pelo herói. No editorial e na seção de cartas (A Taverna Hiboriana), Bertacchini usa de muita humildade e, principalmente, de muita sinceridade para lidar com o leitor. Ele deixa claro, por exemplo, que a estrutura da Mythos ainda é pequena, e vai revelando, a cada edição, as novas conquistas e promessas para os próximos meses. Afinal, em se tratando de um personagem como o Conan, é muito complicado conseguir as edições originais de certas histórias antigas – que, sem dúvida nenhuma, são as preferidas dos fãs. Aos pouquinhos, no entanto, a Mythos vai conquistando material como a saga "A Rainha da Costa Negra", talvez uma das melhores histórias do Conan já publicadas. E vai dividindo as dificuldades e pequenos sucessos com o conanmaníaco, criando uma deliciosa relação de cumplicidade com a revista.
Eles já deixaram claro que é impossível adquirir exemplares de todas as séries antigas de Conan, já que alguns números não existem em nenhuma revenda do exterior. Mas, mesmo assim, os caras surpreendem: conseguiram, por exemplo, as tiras de jornal de Conan. Os primeiros estudos de diagramação já foram feitos e, em breve, este material também vai estar na revista. Estão sendo negociadas também as histórias inéditas criadas pela editora espanhola Planeta. E, por mais que eu ache que o Conan é o tipo de personagem que funciona muito melhor em preto e branco, eles ainda estão atrás de uma cópia colorida, raríssima, de "Red Nails", simplesmente o melhor trabalho de Barry Windsor-Smith com o cimério de bronze.
Outro ponto de destaque são, sem sombra de dúvida, as capas. Numa iniciativa ousada, a editora preferiu apostar no talento de um artista nacional para criar capas exclusivas, diferentes de tudo que os americanos já publicaram. E a bela arte pintada de Alexandre Jubran não tem decepcionado nem um pouco – apesar das críticas de alguns puristas…
Na verdade, o único ponto fraco da revista não está diretamente relacionado ao trabalho da Mythos. O fato é que, pela dificuldade de obtenção do material mais antigo, a revista tem nos trazido sempre uma história antiga e uma das histórias mais recentes, da década de 90, ainda inéditas no Brasil. E, cá entre nós, este é um material muito fraco. Histórias sem personalidade, desenho de segunda – porra, fala sério, o que diabos era aquele Conan desenhado pelo brasileiro Joe Bennett em "Matando Deus" (Conan – O Bárbaro nº5 e nº6)? Musculoso até à gengiva, parece uma espécie de lutador de Street Fighter da era hiboriana!!!
Realmente, é complicado comparar este material com os maiores clássicos de Alfredo Alcala, Frank Frazetta (o maaaaaaaaster), além, é claro, do reverenciável John Buscema, o maior desenhista da história do Conan. Mesmo assim, a revista vale justamente pelos clássicos republicados: o Conan desenhado por Buscema e escrito por Roy Thomas é divertidíssimo, cheio de carisma e estilo – por mais que se trate de um bárbaro.
Tenho um amigo que costuma dizer: "As histórias do Conan são todas iguais: cavalgada-briga na taverna-mago maligno rapta donzela-luta com monstro das trevas-mata o mago maligno-salva a donzela-fim". Pode ser. Mas, pelo menos, este é um personagem que se mantém fiel às suas origens e a todo um conceito que os fãs adoram – bem diferente do que andou acontecendo, por exemplo, com um certo herói aracnídeo (e como me dói dizer isso…).
O preço é razoável, a impressão está bem bacana, o papel não é ruim…enfim: um brinde ao pessoal da Mythos com o melhor vinho brituniano e vida longa ao bárbaro da Ciméria!
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