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Artigo adicionado em 23/10/2002, às 02:45

Crítica: O AMOR É CEGO
O filme água com açúcar é, na verdade, um dos mais ofensivos da carreira dos diretores Pôster do filme Desde que os irmãos Peter e Bobby Farrelly resolveram mostrar ao mundo a sua vizão bizarra do que é o cinema, fomos presenteados com comédias "politicamente incorretas" como Debi & Lóide (1994), Quem Vai Ficar Com […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim

Ah, isso é porque vocês não viram a cena na qual ela tira a roupa!!!!

Pôster do filme

Desde que os irmãos Peter e Bobby Farrelly resolveram mostrar ao mundo a sua vizão bizarra do que é o cinema, fomos presenteados com comédias "politicamente incorretas" como Debi & Lóide (1994), Quem Vai Ficar Com Mary? (1998) e Eu, Eu Mesmo e Irene (2000) – todas elas recheadas de personagens bizarros e situações que jamais pouparam deficientes físicos, mentais, crianças, idosos, animais e quem quer que viesse pela frente. "Tudo em nome de uma boa piada", é a sua filosofia. No entanto, justamente naquele que é aclamado pela crítica como seu filme mais leve está a sua piada mais ofensiva e desmedida. O Amor é Cego (Shallow Hal) tem momentos divertidíssimos, mas é preconceituoso até a alma…e se torna até militante na defesa da ditadura da beleza.

Quando assisti o trailer pela primeira vez, percebi que as manifestações de protesto das associações de obesos nos EUA poderiam fazer algum sentido. Ao assistir o filme…tive absoluta certeza disso. Bom, para quem não conhece a história: conquistador barato e amante completamente superficial, Hal Larson (Jack Black, de "Alta Fidelidade") não consegue ver nada além da beleza exterior das mulheres, tratando-as como verdadeiros objetos. Seu companheiro de caçadas, Mauricio Wilson (Jason Alexander, o George de "Seinfeld") é ainda pior, o principal incentivador deste tipo de atitude. Quando Hal fica preso com o guru televisivo Tony Robbins em um elevador, tudo muda: o guia espiritual liberta as algemas da alma do Don Juan…e ele passa a ver somente a beleza interior das pessoas. Desta forma, acaba se apaixonando pela gordinha Rosemary (interpretada por Gwyneth Paltrow), já que só consegue enxergá-la como uma bela e esguia loiraça (verdade seja dita: a magrela Paltrow está lindíssima).

Mas nem é o milk-shake de Ovomaltine, meu!

Hal e Rosemary
em momento romântico

Admito: algumas piadas são muito bem sacadas e poderiam salvar o filme. Não sou do tipo "politicamente correto", que defende os direitos das minorias todo o tempo e censura piadas como estas – afinal, desta forma nós não teríamos sequer uma boa comédia nas prateleiras. Mas sou rigorosamente contra exageros. Contra tudo que ultrapassa os limites do próximo. Tudo tem seus limites…e O Amor é Cego consegue ultrapassar os seus com louvor. Boa parte dos diálogos e referências são descenessários, imbuídos de um duplo sentido que chega a dar nojo. Basicamente, a filosofia do filme é a seguinte:

1) Todos os gordos são feios
2) Exatamente por isso, Hal só os enxerga como garanhões sarados ou loiraças turbinadas
3) Todas as mulheres bonitas são burras e entediantes – só servem para transar
4) Todas as mulheres feias são inteligentes e interessantes – só servem para ser suas amigas ou casar

E…é isso. Em nenhum momento os caras fazem entender que um gordo pode ser bonito, ou que uma mulher bonita pode ter algum conteúdo para oferecer. Os estereótipos estão lá, inabaláveis, imutáveis…e é assim que o mundo funciona. Pelo menos é o que o filme quer fazer entender. Quando descobre a verdade e passa a enxergar as pessoas normalmente, Hal começa a fugir da gordinha que tanto diz amar. Pede até para voltar a enxergar como antes, a viver o "sonho" que estava vivendo (naquele que é o diálogo mais revolvante de todos). E é com muito custo que aceita seus quilinhos a mais para viver um final feliz. "Ela ainda é uma criatura repulsiva, com toda aquela gordura e tal…mas como sei que ela é, na verdade, a Gwyneth Paltrow por dentro, dá para tentar encarar, já que ela é legal e tudo mais".

Agora eu entendo o Ben Affleck...

Gwyneth Paltrow:
de magérrima a gordinha

Em alguns momentos, parece que a dupla de diretores tenta se redimir – como quando Tony Robbins dá uma verdadeira lição de moral, dizendo que estamos "hipnotizados pela indústria da moda, e que este tipo de conceito de beleza que conhecemos nos é imposto pela tevê, pelo cinema…". Muito bonito. No entanto, o argumento se perde em um mar de estereótipos furados e idiotas, típicos do adolescente babaca no fundo da sala que adora tirar sarro dos defeitos de todo mundo. Por sinal, o texto de Robbins serve exatamente como argumento CONTRA o filme. Mea-culpa, talvez? Agora é tarde, meus caros. A lição do guru parece até se transformar noutra tiração de sarro dos Farrelly, do tipo "Quem acredita nesta bobagem?". Bom…eu acredito.

Para fazer rir, basta apelar para um bom pastelão inteligente como o da recente Tá Todo Mundo Louco, com Rowan Atkinson (o Mr.Bean) e John Cleese (do grupo Monty Python). Ou mesmo para as piadas com tortas e escorregões do "Chaves" e do "Chapolim". Mas não: é muito mais fácil humilhar alguém e rir dele. Está na hora do cinema americano aprender um pouquinho sobre a vida… Eu tenho amigos gordos, que sofreram a vida inteira todas as humilhações que vi no filme…e não gostei nada do que vi. Agora, fica a seu critério julgar o que é certo. Só o que tenho a dizer é que "pimenta no cú dos outros é refresco". Mas arde pra caralho.

Shallow Hal, EUA/2001. Dir. por Peter e Bobby Farrelly. Com Jack Black, Jason Alexander, Gwyneth Paltrow, Joe Viterelli, Rene Kirby, Anthony Robbins


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