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Artigo adicionado em 15/03/2006, às 11:57

GATÃO DE MEIA IDADE: charme não é nada sem conteúdo
E com um final daqueles, então… afe! :: Trailer Oficial: em Streaming Em outros tempos, eu declamaria um belo e inflado discurso patriótico só de ouvir qualquer um falar uma vírgula maldosa sobre cinema nacional. Em outros tempos, eu venderia meus parentes para correr àquele cineclube pulguento que ninguém visita só para conferir o último […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


:: Trailer Oficial: em Streaming

Em outros tempos, eu declamaria um belo e inflado discurso patriótico só de ouvir qualquer um falar uma vírgula maldosa sobre cinema nacional. Em outros tempos, eu venderia meus parentes para correr àquele cineclube pulguento que ninguém visita só para conferir o último longa brazuca a chegar às telonas. Em outros tempos, falar de festivais de cinema me empolgaria apenas pela oportunidade de assistir uma pá de fita nacional que jamais seria distribuída comercialmente nas nossas salas de projeção.

Hoje em dia, eu peço para ver um filme do Martin Lawrence com o Ashton Kutcher e depois dou um tiro no meu próprio pé, mas não peço para ir ao cinema e torrar dez pila assistindo a um filme brasileiro. Dói dizer, mas é fato (bem, melhor dizendo, eu daria um tiro no pé antes de ver o filme do Martin Lawrence com o Ashton Kutcher).

Ok, eu exagerei DEMAIS nesta última linha. Vamos corrigir: continuo o mesmo louco viciado em qualquer tipo de cinema que sempre fui, e jamais deixaria de assistir a TODOS os longas de um gênero, uma categoria ou um país só por não curtir um ou outro título. Sempre haverá filme bom e filme ruim, não importa de onde venha. Mas ando mesmo muito decepcionado com a nossa capacidade de fazer cinema. Céus, o que está acontecendo??? Só tem saído troço RUIM!!! Cada um pior que o outro!!! Bastou uma retomada e um punhadinho de películas geniais para que os produtores enxergassem cifrões no lugar de roteiros de qualidade e decidissem investir em troços descartáveis, mal-feitos, grosseiros e totalmente ofensivos à inteligência do espectador. O pior de tudo isso é que o nosso glorioso público médio, lobotomizado pela banalização da TV, caiu direitinho e não pára de fazer o sucesso deste tipo de cinema.

É aí que entra Gatão de Meia Idade (Idem, 2005), adaptação para as telas do conhecido personagem de HQ criado por Miguel Paiva (o mesmo de “Radical Chic”). O caso é que “Gatão” só não consegue ser comparado ao baixíssimo nível da bomba atômica Coisa de Mulher por um único motivo: o primeiro pelo menos não apela nas piadas. Em termos de qualidade, interpretação e roteiro, entretanto, dá no mesmo. Não, não é exagero: “Gatão de Meia Idade”, dirigido (?) com muita preguiça por Antônio Carlos da Fontoura, tem o poder de deixar o espectador de mau humor pelo resto do dia. Depois ainda dizem que as pessoas são amarguradas sem razão… hunf. 😛

Pra começar, o longa sequer tem uma história – o que já era de se esperar. O personagem, cujas tirinhas pretendem discutir as agruras e as manias do universo dos seres do sexo masculino da faixa dos 40 anos, foi criado apenas para ser a contraparte masculina da Radical Chic e, assim como sua “irmã”, até funciona em seu formato original, uma tirinha de jornal de três ou quatro quadrinhos. A Radical Chic já ganhou um programa de TV em forma de vinhetas de cinco minutos, que até divertiam e traziam uma Andréa Beltrão bastante inspirada. Mas daí a querer transformar um personagem de tirinha de jornal que não tem uma “história” em estrela de um filme de uma hora e meia já é demais! Um personagem construído para protagonizar pequenas piadinhas numa tirinha não tem estrutura para suportar noventa minutos.

Resultado: ao invés de preocupar-se em construir um mundo ao redor do Gatão, o horroroso roteiro deste filmeco (escrito pelo próprio Miguel Paiva em parceria com Fontoura) apenas reuniu algumas piadinhas curtas e sem conexão entre si, interligando-as de maneira meio “porquinha” e colocando no meio algumas mulheres bonitas para deleite visual dos marmanjões de plantão. Se é pra gastar dinheiro com ingresso apenas para ver mulheres bonitas…

Então, a coisa funciona (quer dizer, “quase” funciona) assim: o espectador acompanha mais um dia na vida de Cláudio, o Gatão (Alexandre Borges), atormentado executivo de design. O cara vive para sua filha adolescente Duda (a novata Renata Nascimento). O problema é que ele também precisa agüentar a chata da mãe dela, sua ex-esposa Betty (Júlia Lemmertz – ÓBVIO!). Uma série de problemas inundam a vida do Gatão. Primeiro, ele se envolve com a ninfetinha Patricinha (Thaís Fersoza), que tem praticamente a mesma idade de sua filha. Ao mesmo tempo, começa a sair com a executiva casada Marisa (Ângela Vieira), que só quer mesmo pular a cerca e pronto. Enquanto isso, o Gatão começa a sentir-se velho, e precisa da ajuda de sua mamãe (Ilka Soares) e de seus amigos para lidar com esta fase e com as zilhões de ex-namoradas, em especial a motoqueira Sandrão (Cristiana Oliveira).

Completam o caldo um insuportável come-quieto que é praticamente o Gatão quando jovem (Márcio Kieling, o glorioso Zezé Di Camargo), e o novo namorado de Betty, um sujeitinho chamado Aurismar (Antônio Grassi), que pretende levar Duda para morar em Miami. Uau, viram só como a história é interessantíssima? 😛

O problema maior nem chega tanto a ser a falta de enredo. A produção da fita parece ter sido feita nas coxas, de tanta falha visível. É tudo muito mal dirigido, com erros de continuidade gritantes! Em determinada seqüência, por exemplo, o Gatão e uma namorada qualquer acabam de transar e ele levanta-se da cama, revelando estar de cueca – “como” eles transaram é um mistério, visto que eles não dispunham de tempo hábil para se trocar… E dá-lhe cenários falsos, cenas em discotecas com meia-dúzia de gatos pingados dançando fora de ritmo ao fundo (e sorrindo para a câmera)… A péssima qualidade da produção do filme causa mais sorrisos amarelos que a própria película. E olhe que nem cheguei na parte da trilha sonora, que não combina EM NADA com o longa. Deus, alguém pode me explicar o que é aquilo???

As atuações correspondem a outro ponto negativíssimo. À exceção de Alexandre Borges (que carrega uma semelhança física notável com o traço de Miguel Paiva e está razoavelmente bem à vontade no papel), o elenco está perdido, e até atores de indiscutível talento, como Ângela Vieira, parecem estar ali só para pagar as contas. Os casos mais tenebrosos são mesmo o de Thaís Fersoza, até bonitinha mas com total ausência de talentos interpretativos; a sumida Cristiana Oliveira, pagando um mico federal como a masculinizada Sandrão, um personagem chato até não poder mais; e principalmente a novata Renata Nascimento, como a filha do Gatão. Meu, quando a menina aparece em cena, dá vontade de enterrar o crânio na parede initerruptamente. Ela é ruim demais – além de ser a protagonista da horrorosa conclusão da fita, uma das seqüências mais desconexas e sem sentido dos últimos tempos! Sério mesmo, não existe SENTIDO naquela cena final! Certamente o orçamento estourou, aí já viu. 😛

Num todo, o grande pecado capital de “Gatão de Meia Idade” é o mesmo pecado das muitas produções brazucas que infestam nossas salas atualmente: não respeita a capacidade do público de raciocinar. Não apresenta uma história coerente, e sim um punhado de piadas idiotas e sem graça, sem ligação alguma. O que os nossos produtores precisam aprender é que apenas carregar o rótulo de “filme brasileiro” ainda não é o suficiente para levar o público às salas. É necessário ter um enredo interessante, que traga um mínimo de coerência. E nisso, o Gatão passou longe. Se ele consegue sair com uma pá de mulher boa só por conta de seu charme, levar o público ao cinema já exige um pouco mais de lábia e papo consistente. E quem, assim como eu, sabe que o cinema nacional não se resume a estas joças e quer saber do que nós realmente somos capazes, clique aqui neste link e seja feliz. 😀

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– O cineasta Antônio Carlos da Fontoura é o mesmo que comandou o trash Rainha Diaba (com Milton Gonçalves e o jovem Stepan Nercessian recontando a história de Madame Satã) e o trágico infantil Uma Aventura do Zico. Fontoura assinará em breve o longa-metragem Religião Urbana, que contará a história da vida do ex-líder da banda Legião Urbana, Renato Russo. Que me desculpem os fãs, mas se a fita já prometia ser um engodo tão intragável quanto o filme do Cazuza por si só, agora então…

– O Gatão de Meia Idade nasceu em 1994, como lado masculino da Radical Chic, e suas tiras atualmente são publicadas no jornal O Globo. O personagem já protagonizou mais de 4.100 tirinhas.

Gatão de Meia Idade (Titulo original: Idem) / Ano: 2005 / Produção: Brasil / Direção: Antônio Carlos da Fontoura / Roteiro: Antônio Carlos da Fontoura, Miguel Paiva e Melanie Dimentas / Colaboração no roteiro: Tony Góes e Renata Boclin / Baseado nos personagens da tirinha “Gatão de Meia Idade”, criado por Miguel Paiva / Elenco: Alexandre Borges, Júlia Lemmertz, Renata Nascimento, Ângela Vieira, Thaís Fersoza, Cristiana Oliveira, Paulo César Pereio, Lavínia Vlasak, Rita Guedes, André de Biase, Flávia Monteiro, Bel Kutner, Ernesto Piccolo, Alexia Deschamps, Ilka Soares, Márcio Kieling, Paula Burlamaqui / Duração: 93 minutos.


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