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Artigo adicionado em 21/02/2006, às 09:49

TERRA FRIA: panfletário demais…
Discurso feminista deixa “bom” o que poderia ser “fenomenal”… :: Trailer: Alta | Média | Baixa :: Notícias relacionadas: aqui, aqui e aqui :: Visite o site oficial O plot é manjado: uma mulher, sem esperança alguma na vida, come o pão que o diabo amassou para poder viver com dignidade e, cansada dos maus […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


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O plot é manjado: uma mulher, sem esperança alguma na vida, come o pão que o diabo amassou para poder viver com dignidade e, cansada dos maus tratos, decide lutar pelos seus direitos e dá a volta por cima. Se a origem da repressão feminina vem do interior de uma empresa ou uma indústria, então, a coisa fica ainda mais batida – filmes como “Norma Rae”, com Sally Field, já trataram de temas similares, só para citar um exemplo bem conceituado. Sendo assim, que novidade este Terra Fria (North Country, 2005) poderia oferecer a nós, reles mortais espectadores?

Eu respondo: muitas. Antes de mais nada, “Terra Fria” recria (com muitas liberdades, claro) nada menos que o caso real que tornou-se o primeiro processo judicial por abuso moral e sexual da história dos Estados Unidos. Outra razão está no nome da pessoa que decidiu levar este projeto adiante, uma tal de Niki Caro, neozelandeza que responde por um dos grandes filmes de 2002, o fantástico Encantadora de Baleias, e tem cacife suficiente para não deixar a história central de “Terra Fria” cair na mesmice. E por último, a beleza e o talento sempre bem-vindos da maravilhosa Charlize Theron (“Monster”), acompanhada de outro ser bastante interessante chamado Michelle Monaghan (de Beijos e Tiros). Dois motivos fortíssimos para gastar dindim no ingresso, né não? 😉

O problema é que a empreitada não dá tão certo assim… tá, “Terra Fria” é uma produção bem legal, que sabe mexer com os sentimentos do público. Em seu geral, entretanto, ela luta, luta e luta mas não consegue escapar do discurso feminista. E olhe que esta história tinha tudo para transformar a fita num marco do cinema político… é uma pena mesmo. 🙁

Então, vamos ao enredo: Charlize Theron vive Josey Aimes, mulher que abandona o marido (de quem era saco de pancadas) e retorna à sua cidade natal ao norte de Minnesota, carregando seus dois pimpolhos e a promessa de uma vida melhor. Instalada na casa dos pais, Hank (Richard Jenkins, As Loucuras de Dick e Jane) e Alice (Sissy Spacek, Entre Quatro Paredes), Josey torna-se alvo fácil da atrasada cidade por ser mãe solteira. Pra piorar as coisas, quando percebe que o lugar vive uma época difícil e de empregos escassos, ela segue o conselho de sua melhor amiga, a respeitada Glory (a ótima Frances McDormand, queridinha dos Irmãos Coen e também do Benício), e decide trabalhar na principal fonte de empregos da região: as minas de ferro. E se você pensou “Uau, a Charlize vai pegar no ferro”, você tem a mente bem sujinha. Hehehe! 😀 Ok, esta piada foi horrorosa, então esqueça a última linha e sigamos em frente.

Enfim, a partir daí, a vida de Josey torna-se o inferno na Terra: a mina é um lugar de predominância masculina, e os mineiros, homens de mente fechada, acreditam que lugar de mulher é literalmente na cozinha; ter o grupo de garotas da qual Josey faz parte trabalhando como mineira – um emprego típicamente masculino – representa uma ameaça. Para manter seu emprego e poder sustentar sua família, Josey deverá engolir sapo dos colegas de trabalho, que a humilham, perseguem, zombam, ofendem e até chegam ao cúmulo de atacá-la. E quando tenta se impôr, Josey encontra resistência não só dos seus superiores, mas também de toda a comunidade e até de sua família – o que acaba desenterrando publicamente algumas podreiras de seu passado e deixando a pobre Josey ainda mais afogada…

Então, pode crer que o espectador enfrentará uma bela sucessão de injustiças abatendo nossa querida protagonista, que sofrerá muito, muito e MUITO nas mãos dos homens sem-coração para provar a si mesma e a todos que tem seu valor, e no final… bem, tenho certeza que você já sabe como tudo isto irá acabar. E este realmente é o grande problema de “Terra Fria”: o roteiro escrito por Michael Seitzman (do obscuro “Here on Earth”) é quadradinho demais, burocrático demais. Os mais descolados em películas do gênero serão capazes de matar até alguns diálogos, de tão “seguidor-da-cartilha-estadunidense-de-cinema” que o filme é. Isto incomoda e decepciona um pouco, principalmente quando sabemos que a diretora de “Terra Fria” veio de uma fita tão contundente e anti-clichê como “Encantadora de Baleias”.

“Terra Fria” também peca na posição na qual coloca os personagens masculinos, embora tente fugir deste estigma a todo tempo através das figuras de Woody Harrelson (de Quem é Morto Sempre Aparece, aqui como o advogado e suposto pretendente de Josey) e principalmente de Sean Bean (o Boromir, como o dedicado marido de Glory). Num saldo geral, os indivíduos do sexo masculino retratados aqui são intolerantes, sujos, vulgares e malvados, quando deveriam ser mostrados apenas como o que realmente são: pessoas ignorantes não por sua culpa, criadas com a mentalidade de que mulheres são feitas para ficar em casa e cuidar apenas dos afazeres domésticos, deixando para eles a parte “pesada” da coisa. O personagem de Jeremy Renner (S.W.A.T.), o bronco Bobby Sharp, então, é o cúmulo da vilania: se acontecesse hoje uma votação para escolher os vilões mais macabros do cinema, o cara ficaria na frente até do Darth Vader! 🙂 Infelizmente, não são poucos os momentos em que “Terra Fria” cai no estereótipo, mas isto é uma falha de roteiro, e não de direção.

Aliás, a direção de Niki Caro é o principal fator que impede “Terra Fria” de ser um filme ruim. Caro é tão perfeccionista e tão sensível em sua direção que é impossível o público não simpatizar com a história, o que rende vááários momentos tocantes e cheios de lágrimas. Aqui, ela só comprova o talento natural no comando de atores que demonstrou em “Encantadora de Baleias”, e arranca mais uma grande atuação tanto de Charlize Theron (a conversa de Josey com seu filho na porta de casa é de torcer o coração de qualquer um) quanto de Frances McDormand (magistral como a imbatível Glory – reparem na terrível degradação física da personagem, que sofre de esclerose amiotrófica) e Sissy Spacek (como a silenciosa mãe de Josey). Quando qualquer uma das três está em cena, o negócio fica brabo. 🙂

Então, “Terra Fria” é um bom filme? Sim, sem dúvidas (embora não justifique gastar tanto assim no ingresso – melhor esperar o lançamento nas locadoras). Tem uma história competente, traz grandes trabalhos de atuação de todo o elenco, é bem dirigido, faz os olhos do espectador encherem de lágrimas em muitos momentos… só não é a produção excelente que poderia ter sido se não se rendesse aos estreótipos do gênero – e para uma fita que reconta um dos momentos mais importantes da história judicial dos EUA, é um pecado a ser considerado. A ironia já vem estampada no cartaz; enquanto a tagline diz Ela só queria fazer sua vida, e acabou fazendo história, o longa de Niki Caro poderia ter feito história numa boa. Mas infelizmente, não passou de “apenas mais um filme”. Não foi desta vez. 🙁

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– Os, bem, “restos humanos” de uma nojentíssima cena envolvendo Michelle Monaghan (não vou detalhar aqui para não estragar a desagradável surpresa de quem assistir…) foram feitos de uma mistura de Gatorade e recheio de torta de abóbora.

– Em entrevistas, Frances McDormand comentou que, antes de saber qualquer detalhe do enredo, já decidira dizer “sim”. Afinal, ela quis participar do filme apenas pela oportunidade de aprender a dirigir um caminhão (?). Bem, esta eu não entendi. Ou pelo menos estou fingindo que não entendi… por favor, ninguém me explique! 🙂

– “Terra Fria” já rendeu a Charlize Theron seis indicações a prêmios. Frances McDormand foi indicada a cinco. Nenhuma delas foi bem-sucedida até o momento… Aliás, as duas atrizes também dividem a cena em Aeon Flux. É, em time que ganha não se mexe, né?

– Como não há muitas curiosidades sobre este filme, usarei esta última linha para declarar publicamente que, durante toda a projeção, fiquei tentando escolher de maneira justa e coerente qual das duas é mais linda: Theron ou Michelle Monaghan. Mas depois da tal “cena nojenta” descrita na primeira curiosidade, não consigo mais nem olhar na cara da última! 🙁

Terra Fria (Título Original: North Country) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos / Direção: Niki Caro / Roteiro: Michael Seitzman / Baseado no livro “Class Action: The Landmark Case that Changed Sexual Harassment Law”, de Clara Bingham e Laura Leedy Gansler / Elenco: Charlize Theron, Frances McDormand, Sissy Spacek, Woody Harrelson, Sean Bean, Richard Jenkins, Jeremy Renner, Michelle Monaghan, James Cada, Elle Peterson, Thomas Curtis / Duração: 126 minutos.


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