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Artigo adicionado em 02/02/2006, às 02:55

Crítica: BOA NOITE, E BOA SORTE.
Ex-Batman volta à direção e entrega o melhor thriller político do cinema desde “O Informante” :: Trailer: em QuickTime :: Visite o site oficial Nos anos 50, no auge da Guerra Fria e da disputa entre a URSS e os EUA pela hegemonia mundial, o então senador americano Joseph McCarthy empreendeu uma violenta busca apelidada […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


:: Trailer: em QuickTime
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Nos anos 50, no auge da Guerra Fria e da disputa entre a URSS e os EUA pela hegemonia mundial, o então senador americano Joseph McCarthy empreendeu uma violenta busca apelidada de Caça às Bruxas, onde propôs a perseguição a supostos membros do Partido Comunista aparentemente infiltrados em todos os cantos da Terra das Oportunidades. Este período negro da história dos EUA, que mais tarde recebeu o nome de Macarthismo, aterrorizou meio mundo: sem um padrão sequer, os tidos como “inimigos da sociedade” eram escolhidos quase aleatoriamente; qualquer manifestação pública de repúdio às atitudes de McCarthy era motivo suficiente para ter seu nome incluído na famigerada e conhecidíssima “lista negra” de “comunistas em potencial”. Se você vivesse nesta época e fosse considerado um comunista, você seria caçado, preso, excluído da sociedade, até mesmo morto de forma “acidental”. E nesta brincadeira, muitos inocentes levaram a pior.

O macarthismo atingiu principalmente o meio intelectual e artístico dos anos 50. Nomes conhecidos como Charles Chaplin, Walt Disney e John Wayne foram vítimas do movimento e, pressionados pelo governo, foram forçados a delatar colegas de trabalho supostamente envolvidos com o comunismo. Provas? Não precisava. Só a acusação era suficiente. Enfim, Joseph McCarthy morreu em 1957 (e cá entre nós, ninguém sentiu falta), e hoje o comunismo é, de certa forma, passado.

Ainda assim, o fantasma do macarthismo é uma mancha negra que os norte-americanos jamais conseguirão apagar. Uma prova incontestável disso é o polêmico Oscar honorário que a Academia cedeu em 1998 ao cineasta já falecido Elia Kazan, mais conhecido por ter sido um impiedoso “cagüeta” de McCarthy do que por seus méritos como diretor. Quem assistiu à cerimônia, lembra que Kazan, que mentiu sobre amigos para não perder as regalias de cineasta, não foi aplaudido por muitos, e ainda ganhou vaias.

Mas voltemos ao assunto central, pois já me desviei demais. Hehehe… Bem, o macarthismo ainda está de certa forma presente na vida dos estadunidenses, seja por seus traumas, seja pelas inúmeras semelhanças com a atual regência de George W. Bush. E o nosso querido amigo ator e cineasta George Clooney sabe muito bem disto. Afinal, não foi por acaso que Clooney, de forte posição política, decidiu usar um trecho marcante da caça às bruxas para ilustrar seu segundo trabalho na direção depois do bacana “Confissões de uma Mente Perigosa”, Boa Noite, e Boa Sorte. (Good Night, and Good Luck., 2005). Se o filme é bom? Bem… um “o melhor longa do ano” está bom pra você? 😀 Se não, eu digo apenas “o melhor thriller político desde O Informante.

Antes de comentar qualquer coisa sobre o longa em si, vamos à sua história: “Boa Noite, e Boa Sorte.” é o bordão de encerramento de um conhecidíssimo programa de jornalismo investigativo da CBS, uma das maiores audiências da emissora à época. O programa era apresentado por Edward R. Murrow (David Strathairn, de “O Rio Selvagem”). Murrow e sua equipe de jornalistas, da qual faz parte o produtor Fred Friendly (Clooney), o casal Joey (Robert Downey, Jr., Beijos e Tiros) e Shirley Wershba (Patricia Clarkson), e o redator Don Hollenbeck (Ray Wise), descobrem que o governo não possui prova alguma contra um membro da Força Aérea acusado e preso por comunismo. Com isto, dedicam-se a entregar os podres de Joseph McCarthy, apresentar ao público os dois lados da questão e, talvez, acabar com o controverso reinado do senador. Claro que a verdade dói, e quando envolve altos figurões, torna-se perigosa; e neste embate, Murrow tem tudo para se ferrar bonito…

Parece chato? Não, não é em momento algum. Bem, como qualquer thriller político que se preze, claro que “Boa Noite, e Boa Sorte.” despreza a ação propriamente dita para mergulhar nas palavras. Entretanto, assim como o fenomenal O Informante, o longa jamais deixa de ser tenso e aterrorizante por conta da ausência de correria. A sobriedade e o medo de Murrow, interpretado de maneira contida e soberba por David Strathairn, são tão eletrizantes quanto uma perseguição policial. Chega a doer a tensão nas palavras de Murrow a cada “boa noite e boa sorte”. Entre os atores, deve-se destacar também a impressionante atuação de Patricia Clarkson (“Dogville”) e principalmente de Ray Wise (o pai da Laura Palmer, lembra?) como o atormentado Hollenbeck.

A dedicação do elenco, entretanto, funciona apenas como a cereja do bolo. O grande mérito de “Boa Noite, e Boa Sorte.” é o excepcional trabalho de George Clooney na direção e no roteiro – escrito em parceria com Grant Heslov (“O Escorpião Rei”), também produtor da fita. A estética noir empregada na produção, auxiliada pela brilhante fotografia em preto & branco (cortesia do cinematógrafo Robert Elswit, de “Magnólia” e “Syriana”) e pelas cenas reais dos “julgamentos” empreendidos pelo próprio Joseph McCarthy e o controverso Comitê de Atividades Antiamericanas, formam um mosaico angustiante, contundente e claustrofóbico da situação dos jornalistas da CBS, sempre à espera de uma iminente punição por buscar a verdade, nada mais que a verdade. A sutileza de Clooney atrás das câmeras e no desenvolvimento do ótimo roteiro é surpreendentemente madura e funciona à perfeição.

No mais, não importa muito a perfeição técnica e interpretativa do filme (sim, o aspecto técnico da produção simplesmente não tem falha alguma). “Boa Noite, e Boa Sorte.” torna-se o espetacular filme que é por vários fatores: apresentar ao mundo o importante legado de um homem preocupado em instaurar a verdade acima de tudo; esmiuçar os horrores da Caça às Bruxas de uma forma totalmente lúcida e aparentemente ausente de glamour e posicionamento político; e talvez o fator principal, por ser extremamente ATUAL. Não duvido muito que, daqui a algum tempo, esta produção entre para o rol dos clássicos do gênero. Nada mau para um ator que cansou de declarar por aí que destruiu a carreira do notório Homem-Morcego nos cinemas, não?

Ok, Clooney. Depois deste filmaço, está mais do que perdoado. Mas continue assim, tá? A gente ainda te ama. 😀

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– A princípio, a idéia de Clooney era utilizar um ator para interpretar Joseph McCarthy ao invés de usar imagens reais. Clooney desistiu ao perceber, durante os testes de atores, que os candidatos a intérpretes de McCarthy abusavam do estereótipo do “político corrupto”; o diretor alegou que, para poder manter sua posição imparcial, era necessário apresentar um Joseph McCarthy totalmente neutro, imagem que o senador sempre passou, independente de seus atos.

– As canções de blues apresentadas durante o longa são interpretadas pela cantora e atriz Diane Reeves. A banda que a acompanha é a banda de jazz singer Rosemary Clooney, tia de George Clooney.

– Numa das imagens de arquivos reais de Joseph McCarthy no Comitê de Atividades Antiamericanas, é possível ver de relance ninguém menos que Bobby Kennedy.

Boa Noite, e Boa Sorte. (Título original: Good Night, and Good Luck.) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos, França, Inglaterra e Japão / Direção: George Clooney / Roteiro: George Clooney e Grant Heslov / Elenco: David Strathairn, George Clooney, Patricia Clarkson, Robert Downey Jr., Frank Langella, Ray Wise, Tate Donovan, Jeff Daniels, Grant Heslov / Duração: 93 minutos.


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