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Artigo adicionado em 26/05/2005, às 11:08

Crítica: NICOTINA
A Argentina dá de dez a zero no Brasil! Bem, pelo menos no cinema… Em matéria de cinema, digo numa boa e sem crises que os argentinos dão um banho violento nos brazucas. Quem assistiu o fenomenal Nove Rainhas (2000), o belíssimo O Filho da Noiva (2001) e o intenso Kamchatka (2002), sabe muito bem […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Em matéria de cinema, digo numa boa e sem crises que os argentinos dão um banho violento nos brazucas. Quem assistiu o fenomenal Nove Rainhas (2000), o belíssimo O Filho da Noiva (2001) e o intenso Kamchatka (2002), sabe muito bem do que estou falando. Além de dominar o lado técnico com uma desenvoltura fora do comum, os caras ainda trazem de quebra roteiros bem bacanas, com ótimas tiradas e diálogos divertidíssimos. E cito novamente “Nove Rainhas”, cuja estrutura dramática e final embasbacante põem tranqüilamente toda a filmografia do M. Night Shyamalan no chinelo. Tanto que os americanos, extremamente invejosos, precisaram até refilmar a fita; o resultado foi o mais-ou-menos 171 (Criminal), estrelado pelo ótimo John C. Reilly e o mexicano Diego Luna.

Aliás, Diego Luna – que integrou o elenco de O Terminal recentemente – é o nome mais conhecido do novo exemplar do cinema argentino a aportar aqui no Brasil, o divertidíssimo Nicotina, segunda incursão na direção do produtor Hugo Rodríguez, que foi co-produzida com o México e chega aqui com exatos dois anos de atraso. O que não dá pra entender: “Nicotina”, apesar do título incomum, é uma deliciosa fita policial recheada de humor negro (yikes!), que não deve nada aos Guy Ritchies da vida. Se não fosse o idioma espanhol, eu poderia jurar que esta trama maluca saiu da cabeça doente do inglês maridão da Madonna e criador do já clássico Snatch: todos os elementos típicos de Ritchie estão lá, desde os personagens perigosos e carismáticos, até os objetos de desejo que os bandidos buscam o tempo todo e ninguém sabe onde está. Pois é, enquanto isto, o Guy Ritchie genuíno perdia tempo dirigindo uma certa fitinha passada numa ilha deserta… ugh! 😛

Se você ainda duvida, dá só uma olhada: “Nicotina” começa exatamente às 21:17, num canto qualquer da Cidade do México. O hacker Lolo (Luna) está em seu apartamento, concluindo um serviço para dois bandidões de Buenos Aires, o novato Nene (Lucas Crespi) e o veterano Thomson (Jesús Ochoa, do ótimo Vozes Inocentes). Em pouco tempo, os meliantes chegarão ao apê de Lolo para buscar o “serviço pronto”, um CD com dados de uma conta milionária na Suiça. De posse do CD, Nene e Thomson deverão encontrar o gangster russo Svoboda (Norman Sotolongo) para trocar o valioso disquinho por nada menos que 20 diamantes.

Enquanto espera o negócio ficar pronto, Lolo espiona sua bela vizinha, a violoncelista Andrea (Marta Belaustegui). Lolo é apaixonado por Andrea, que também é sua inquilina. Tão apaixonado que tem a mania de observar todos os passos da moça através de câmeras escondidas. Além disso, o rapaz transforma estas imagens em video, gravando tudo em disquinhos; e sempre dá um jeitinho de atrapalhar os flertes da garota, seja com um homem mais velho, seja com o vizinho de cima… Nem um pouco várzea a menina, não? 🙂 Enfim, o problema é que Andrea desconfia que algo está errado. Quando ela finalmente descobre ser vigiada por Lolo, a maluca invade o apartamento do nerd, destrói seu computador, arremessa a estante de CDs longe e ainda quebra os óculos do rapaz. Na mesma hora, Nene e Thomson chegam, e Lolo, como era de se esperar, entrega o CD errado a eles… e eu paro por aqui!

Acha que contei muito da história? Que nada. Tudo isso aí em cima acontece em no máximo 15 minutos. Este é só o plot de uma salada que envolve ainda um farmacêutico grosseiro chamado Beto (Daniel Giménez Cacho, o padre Manolo de Má Educação); sua esposa, a sofredora Clara (a bela Carmen Madrid); o barbeiro Goyo (Rafael Inclán); sua ambiciosa e diabólica mulher, Carmen (Rosa Maria Bianchi, de Amores Brutos); além de um cachorro folgado, um punhado de policiais, os diamantes – cujo paradeiro ninguém faz idéia – e… uma bonequinha. Sim, é sério! 😀

Com um emaranhado desses, seria muito fácil para o roteirista Martín Salinas (do aclamado longa Gaby: Uma História Verdadeira) se perder no meio de tantas possibilidades e personagens. Felizmente, não é o que acontece. “Nicotina” é trabalho bem estruturado, escrito direitinho e com bastante atenção – embora seja meio confuso na primeira meia-hora, pra não dizer “praticamente incompreensível” – e prende a atenção do público com tiradas bacanas e até mesmo surpreendentes. Quando você pensa que a coisa está pegando fogo, a chaleira esquenta ainda mais! Prestem atenção para a idéia “genial” da esposa do barbeiro, Carmen, para encontrar os diamantes. A mulher é louca! Hehehe… Quanto ao restante, está tudo em seu devido lugar: os atores são bons e esbanjam carisma; a trilha sonora é, como diria o El Cid, o “maior bom”; e a direção, bem competente. Perfeito para uma fita de ação descartável, né? 🙂

Tudo bem, e o raio do título, catzo? Bem, o nome do filme refere-se ao envolvimento direto de TODOS os personagens com o cigarro. Rapaz, como esse povo fuma! E antes que algum militante anti-tabaco xiita apareça por aqui querendo explodir tudo, já vou avisando que não há nada que incite o espectador a fumar (é, estas coisas a gente tem que avisar, senão já viu!). Ao contrário, o cigarro parece ser até mesmo o precursor de acontecimentos trágicos. Boa parte da galeria de personagens da fita passa por algum aperto por causa do fumo, e a crítica chega a ser ainda mais ácida quando, em certos momentos, alguns se tornam mais brutais e tomam medidas mais violentas à medida que sentem no corpo a ausência de nicotina. É tal qual Nene responde, quando é questionado sobre os males do cigarro: “Fumar mata, mas a vida, por si só, é ainda mais perigosa”.

Discussões anti-tabagistas à parte, nota-se que, apesar de todas as metáforas, “Nicotina” foi realizado com o único intuito de divertir, e é desta maneira que deve ser visto. Uma produção muito bem-sucedida, que cumpre tudo aquilo que promete e carrega um grande diferencial chamado “roteiro”. Uma fita para se assistir com os amigos, numa sessão de sábado, e depois sair para comer uma pizza e dar boas risadas lembrando das situações do filme. Pena que não deve conquistar nos cinemas metade do público que merecia – o que deve mudar na ocasião de seu lançamento em DVD. Tomara! E se alguém aí torcer o nariz por causa do país de origem de “Nicotina”, lembre-se sempre que mais vale um argentino nos cinemas do que um Bruno Barreto ou um Sérgio Bianchi espalhados pelo mundo! Onde este país vai parar, desse jeito… 😛

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– A trama de “Nicotina” acontece em tempo real: o filme começa às 21:17 e termina exatamente às 22:50, o mesmo tempo de duração da fita (no caso, 93 minutos).

– O ator argentino Lucas Crespi, intérprete do marginal Nene, é popularíssimo em sua terra natal por conta das milhares de novelas que protagonizou na Argentina e no México, dentre elas “Amor En Custodia”, “Sangre Fria”, “Rincón de Luz”, “Enamorarte” e… “Chiquititas”. Sim, o rapaz tem um passado negro… 🙂

– Passado mais negro ainda é o do ator mexicano Rafael Inclán, que vive o barbeiro Goyo. Inclán era um dos atores centrais da tenebrosa novela mexicana Pequena Travessa, que ganhou uma, ahn, “refilmagem” no SBT. Medo, medo, medo, muito medo! Enquanto isto, a ótima Rosa Maria Bianchi, cujo currículo contém trabalhos de calibre como “Amores Brutos”, participou do deplorável folhetim infantil Alegrifes e Rabujos, exibida recentemente também pelo SBT, o canal do horror.

– Curiosamente, as três produções argentinas que citei no primeiro parágrafo são protagonizadas pelo mesmo ator, o ótimo Ricardo Darín. O ator, que é para a Argentina o que Javier Bardem é para a Espanha, é o astro de 9 entre 10 fitas do país atualmente. Eu, pra falar a verdade, até fiquei esperando que o cara aparecesse neste filme…

Nicotina (Título Original: Nicotina) / Ano: 2003 / Produção: Argentina-México-Espanha / Direção: Hugo Rodríguez / Roteiro: Martín Salinas / Elenco: Diego Luna, Lucas Crespi, Jesús Ochoa, Marta Belaustegui, Rafael Inclán, Rosa Maria Bianchi, Daniel Giménez Cacho, Carmen Madrid, José María Yazpik, Norman Sotolongo / 93 minutos.


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