A ARCA - A arte em ser do contra!
 
Menu du jour! Tutu Figurinhas: o nerd mais bonito e inteligente dessas paragens destila seu veneno! GIBI: Histórias em Quadrinhos, Graphics Novels... é, aquelas revistinhas da Mônica, isso mesmo! PIPOCA: Cinema na veia! De Hollywood a Festival de Berlim, com uma parada em Nova Jérsei! RPG: os jogos de interpretação que, na boa, não matam ninguém! ACETATO: Desenhos animados, computação gráfica... É Disney, Miyazaki e muito mais! SOFÁ: É da telinha que eu estou falando! Séries de TV, documentários... e Roberto Marinho não está morto, viu? CARTUCHO: Videogames e jogos de computador e fliperamas e mini-games e... TRECOS: Brinquedos colecionáveis e toda tranqueira relacionada! Tem até chiclete aqui! RADIOLA: música para estapear os tímpanos! Mais informações sobre aqueles que fazem A Arca Dê aquela força para nós d´A Arca ajudando a divulgar o site!
Artigo adicionado em 13/11/2006, às 10:46

Review: OS FILHOS DE ANANSI
Deixa “Deuses Americanos” no chinelo! ::: SHOPPING: COMPRE O SEU EXEMPLAR CLICANDO AQUI! No início de tudo, antes dos seres humanos, todas as histórias eram do Tigre. E eram sombrias, assustadoras, falavam sobre sangue, sobre caçadas, sobre medo, sobre a lei do mais forte. Chegou um dia, no entanto, em que todas as histórias passaram […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


::: SHOPPING: COMPRE O SEU EXEMPLAR CLICANDO AQUI!

No início de tudo, antes dos seres humanos, todas as histórias eram do Tigre. E eram sombrias, assustadoras, falavam sobre sangue, sobre caçadas, sobre medo, sobre a lei do mais forte. Chegou um dia, no entanto, em que todas as histórias passaram a ser do deus-aranha Anansi. E se tornaram histórias divertidas, a respeito do triunfo da inteligência e da esperteza sobre a força bruta. Depois de ler um livro como Os Filhos de Anansi, no entanto, tudo que nós pedimos ao Deus dos Nerds é que todas as histórias passem as ser, afinal, de sujeitos como Neil Gaiman. Me perdoe, Anansi. Sei que você concordaria comigo.

“Os Filhos de Anansi” é uma espécie de continuação não-oficial do premiado (e ótimo) Deuses Americanos, quarta incursão literária de Gaiman, retomando sua abordagem moderna da mitologia dos antigos deuses nórdicos, celtas e afins no mundo contemporâneo. Embora não seja uma seqüência direta da história do livro anterior, “Os Filhos de Anansi” acontece dentro do mesmo universo, fixando-se especificamente nas antigas divindades e no folclore afro-americanos, trazendo de volta um único personagem de “Deuses Americanos”: o cínico, sarcástico e absolutamente simpático Sr.Nancy, o homem de luvas verde-limão e chapéu panamá.

A grande diferença de “Deuses Americanos” para “Os Filhos de Anansi” e aquilo que considero sua maior virtude é o tamanho da trama, menos épica e grandiosa e mais comum e cotidiana, causando identificação imediata com os personagens, sejam eles estrelas ou meros coadjuvantes. Ao contrário do soturno ex-presidiário Shadow, “Os Filhos de Anansi” é protagonizado por um certo Charles Nancy, conhecido por todos pelo apelido de Fat Charlie. Tímido e um tanto atrapalhado, Fat Charlie deixou tudo para trás na Flórida e preferiu a vida pacata na cinzenta Londres, onde trabalha como contador de uma empresa que agencia celebridades. O próprio Fat Charlie, no entanto, opta mesmo por estar fora dos holofotes. É melhor assim.

Noivo da bela Rosie, Fat Charlie está à beira de casar-se com a mulher de seus sonhos – apesar dos empecilhos causados por sua sogra, que não vai com a sua cara desde que o sujeito comeu uma das maçãs de cera que a velha senhora mantém como enfeite. Mas as coisas estão prestes a mudar quando a Sra.Higgler, uma velhota que foi sua vizinha nos EUA, liga para avisar que seu pai morreu.

Sua lembrança mais concreta e dolorosa de seu pai, o Sr.Nancy, vem das piadas e constrangimentos que o velho lhe fez passar por toda a sua infância e adolescência – em especial o dia do festival dos presidentes na escola. Ele nem ao menos tem certeza de que conhece o pai de verdade ou se sequer o ama. Mas depois de seu enterro, Fat Charlie acaba sendo empurrado de cabeça num mundo que nunca imaginou existir ao descobrir: 1) que seu pai era, na verdade, um deus-aranha africano chamado Anansi, conhecido por suas travessuras e aprontos com outros deuses e seres humanos; e 2) que tem um irmão até então desconhecido chamado Spider, que parece ter herdado os poderes, o sarcasmo, o charme e o carisma de seu pai. Como a fofinha policial Daisy Day e o escroto executivo Grahame Coats (viciado em todo tipo de frases clichê) vão entrar na história? Isso, meu caro, você vai ter que descobrir sozinho.

Fat Charlie é muito vívido e real. Poderia ser eu, você, seu melhor amigo, seu vizinho ou aquele seu primo de Piracicaba. É claro que as histórias dos deuses-animais, a bruxaria, o xamãnismo e demais elementos fantásticos dão o toque surreal para a trama – mas Gaiman sabe balancear as coisas de tal maneira ao inserir tais maluquices na vida de uma pessoa comum que fica difícil que o leitor não se pegue pensando: “Caramba, já pensou se um treco destes acontece no MEU dia-a-dia?”. Com seu humor discreto, sutil, suave, tipicamente de inglês (e daqueles bem inteligentes e altamente versados em centenas de referências a cultura pop), o escritor conduz a história de maneira leve e deliciosa, que vai levá-lo até o final sem que você perceba.

Mas não espere aquelas viradas surpreendentes na trama, pretensamente bombásticas e feitas com o único objetivo de chocar o leitor. O choque pelo choque. Nada disso. Mesmo em suas surpresas, Gaiman mantém a sutileza de sua narrativa, como um desenhista levando o traço com delicadeza. Cada pequena descoberta tem pistas deixadas aos pouquinhos ao longo da história, que vão fazendo você desconfiar de cada detalhe, mas sem entregar nada diretamente. Acaba ficando tudo no ar, para os mais atentos montarem o quebra-cabeças. “Mas…será que…não, ele não faria isso”. E 20 páginas depois: “Nossa! E não é que isso aconteceu? E ainda mais deste jeito?”. Sugestão: mantenha os olhos bem abertos para as histórias de Anansi, contadas de tempos em tempos entre os capítulos e que, teoricamente, não teriam nada a ver com a história principal de Fat Charlie. Teoricamente, é claro.

Por último, uma dica: se um dia você visitar a ilha de Saint Andrews, saiba que basta apenas um limão para torná-lo famoso por lá. E boa viagem.

Os Filhos de Anansi (Título Original: Anansi Boys) / Ano: 2006 / Editora: Conrad / Escritor: Neil Gaiman / Páginas: 384 / Preço: 44,10


Quem Somos | Ajude a Divulgar A ARCA!
A ARCA © 2001 - 2007 | 2014 - 2024