Sei que já faz um tempinho que saiu, mas não poderia deixar de comentar esta excelente edição por aqui. Os Mortos-Vivos, ou “Walking Dead” no título original, traz o autor Robert Kirkman, ainda um desconhecido quando lançou este gibi. Kirkman começou com o polêmico “Battle Pope” em 2002, que mostrava um Papa no fim dos dias agindo como um super-herói, tendo como parceiro ninguém menos que Jesus. Hoje, além dos sucessos de “Walking Dead” e “Invencible”, ele foi contratado pela Marvel Comics onde produz a minissérie “Marvel Zombies” e os títulos mensais “Marvel Team Up” e “Ultimate X-Men”.
Mas quem já leu “Battle Pope”, viu que o autor tem predileção pela linha satírica, engraçadinha, e em “Marvel Zombies” você enxerga esta mesma forma de guiar a história. Mas se você acha que vai encontrar o mesmo estilo em “Os Mortos-Vivos”, pode esquecer. Pois nesta revista, Kirkman assume um argumento mais maduro, sério e bastante comportamental. E a exemplo do recente filme de horror Madrugada dos Mortos, os mortos-vivos em si servem apenas de pano de fundo das histórias. O que na verdade está em jogo é o comportamento dos sobreviventes, que são forçados a se adaptar a esta nova e imutável realidade – quase tudo está tomado por estas criaturas, e para os ainda vivos, só há uma perspectiva de futuro quando descobrirem como sobreviver aos ataques sem ser infectados pelo vírus que transforma pessoas vivas em cadáveres ambulantes, andarilhos e famintos por carne humana.
Seguindo a linha de outro longa-metragem de sucesso, o suspense Extermínio, este encadernado começa com o policial Rick Grimes acordando de um coma ao ser encurralado e levar um tiro. Quando acorda do tal coma por um milagre, já é tarde para a cidade que está dominada pelas criaturas zumbis. Grimes vê seu primeiro desafio em tentar sair vivo do hospital lotado de seres esfomeados. Num determinado trecho, é muito interessante ver o comportamento do personagem, como ele sofre ao ver uma das criaturas caída ao chão também sofrendo, despedaçadas e sem forças para caçar – e como, mais tarde, ele retorna para pôr fim ao sofrimento. Este é o grande “Q” do título: retratar o estado psicológico de pessoas reagindo a esta insólita situação; como pessoas reais, de carne e osso, reagiriam a uma catástrofe deste porte, sem aquela coisa de pegar o primeiro traje colante e correr como super-herói.
Rick Grimes acordou do coma, e viu que tudo o que deixou para trás não existe mais, e que a única coisa que lhe resta é procurar sua mulher e seu filho, que talvez não estejam mais entre os vivos. Kirkman soube lidar com situações-limite como inseguranças, carência, futilidades e honestidade. Como várias pessoas de lugares diferentes, de pensamentos diferentes e de “mundos” diferentes, podem se unir quando aquilo que existe está muito frágil, e a única coisa que eles tem, é um ao outro. Pode até parecer exagero, mas achei uma edição emocionante, e uma grande surpresa saber que a Image investiu em algo tão bom, que não está ligado só à arte.
Mais um encadernado muito bom, que chega até nós pela editora HQ Maniacs com um grande respeito na publicação, com papel de qualidade, impressão perfeita e uma ótima tradução – sem contar com a escolha de trazer as edições que foram republicados nos States há pouco tempo, e ganharam tons de cinza, que valorizaram a arte já muito boa de Tony Moore. Então, se você tiver um dinheirinho sobrando e uma vontade de ler algo bom, corra as bancas ou entre no site da HQ Maniacs clicando aqui.
Os Mortos-Vivos: Dias Passados (Título original: The Walking Dead – Days Gone By) / Ano: 2006 / Editora: HQ Maniacs (publicada originalmente pela Image Comics) / Roteiro: Robert Kirkman / Desenhos: Tony Moore / 144 páginas.
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