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Artigo adicionado em 04/08/2006, às 06:09

PAI E FILHO: um drama simples, ambígüo e emocionante
Mas não é pra qualquer um, já vou avisando! Provavelmente você nunca ouviu falar deste filme. E provavelmente nunca ouvirá falar. O caso é que é mesmo uma surpresa o lançamento do drama Pai e Filho nos cinemas brazucas. Afinal de contas, estamos falando de um obscuro longa-metragem co-produzido entre Rússia, Itália, Holanda e Alemanha […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Provavelmente você nunca ouviu falar deste filme. E provavelmente nunca ouvirá falar. O caso é que é mesmo uma surpresa o lançamento do drama Pai e Filho nos cinemas brazucas. Afinal de contas, estamos falando de um obscuro longa-metragem co-produzido entre Rússia, Itália, Holanda e Alemanha (antes da bisonha sci-fi Guardiões da Noite, não ouvia-se falar muito de produções russas nas nossas telonas) e datado de 2003. Nem mesmo eu, que assisti a este filme há exatos três anos atrás em uma mostra de cinema, poderia imaginar que ele chegaria às nossas salas.

Claro que “Pai e Filho” não chega por aqui no circuitão, e é por isto que eu digo que muitos sequer conhecerão esta película guiada pelo consagrado siberiano Aleksandr Sokurov (o mesmo de Arca Russa e Elegia de uma Viagem). Certamente dará para contar nos dedos de uma mão o número de salas que exibirão esta coisinha – até onde sei, é só uma no centro de SP e olhe lá -, e há grandes chances de sua permanência não ultrapassar duas semanas.

Quer uma dica? Se você está próximo de qualquer sala de cinema que esteja exibindo “Pai e Filho”, corra para lá. Agora! Mas termina de ler o texto antes, tá bão? 😀

Opa, opa, opa, peraí: a coisa não é bem assim. Tal qual todos os trabalhos de Aleksandr Sokurov, “Pai e Filho” não foi feito para qualquer espécie de público. Aliás, foi feito para uma grande minoria: é um longa parado, silencioso, intimista, ambígüo até não poder mais, recheado de imagens estáticas e carregadas de surrealismo, e com uma trama simplória contada através de diálogos que, de tão cheio de significados, chegam a ser confusos. Para quem não gosta desta espécie de cinema, quinze minutos de “Pai e Filho” demoram mais a passar do que 752 anos (!). Quem dispor de um tempinho e se aventurar nesta fita com a mente aberta, entretanto, não deverá se arrepender – além de ser uma excelente aula de cinema, também é tocante pela forma que narra o relacionamento entre os personagens centrais.

“Pai e Filho” conta a relação entre um pai, um soldado reservista sem nome (Andrej Shetinin, ótimo), e um filho, Alexei (Aleksei Nejmyshev), que dividem um isolamento em um apartamento. Ao contrário da maioria das produções neste estilo – que costumam focar conflitos e rebeldia -, aqui o relacionamento entre eles é pacífico. Na verdade, é BASTANTE pacífico, tão amistoso que não é difícil acreditar que tratam-se de dois amigos (a pouca diferença de idade entre eles também ajuda). O elo de ligação entre pai e filho é tão forte e tão carregado de manias e cumplicidade, que a crítica internacional chegou até a apontar várias “referências homoeróticas” na fita, já começando pela bizarríssima seqüência inicial – referências estas negadas pelo cineasta, mas tudo bem (sinceramente, pra mim isso é papo de quem procura cabelo em ovo, não enxerguei referência alguma na projeção).

Voltando, a história começa pra valer quando Alexei ingressa no serviço militar. Fora do seu mundinho particular, trava contato com outras pessoas, arranja uma quase-namorada e descobre que gosta de esportes. A tal namoradinha sente ciúmes da relação entre os dois, mas isso não dá dor de cabeça ao rapaz. Seu problema maior é saber que, um dia, naturalmente se afastará de seu pai para seguir seu curso. Este também sente o mesmo. E conseguirão, genitor e primogênito, sobreviver distantes um do outro?

E ponto. É só isso. Nada de história rocambolesca, nada de grandes revelações. Não falei que a trama era bem simplezinha? 😀

Mas por favor, não vamos confundir “simplicidade” com “filme chulé”. Acostumado a dirigir grandes “superproduções” carregadas de estilo e pirotecnias visuais, Sokurov entrega aqui um trabalho comedido, absurdamente tradicional, rodado da forma mais convencional e objetiva possível, mas que traz em sua curta duração (apenas 80 minutos) uma série de seqüências belíssimas e tocantes, todas inspiradas em pinturas (uma das marcas registradas de Sokurov), como quando pai e filho conversam sobre a jovem mãe deste, morta há anos. A desconstrução do sofrimento do pai ao tomar consciência de que precisa se afastar do filho para cada um seguir seu caminho, mote central da película, já vale por si só. Sério, não é difícil sair da sessão em prantos, e não é preciso ninguém morrer ou nada disso pra despertar este sentimento no espectador.

Então, vale a pena uma visita? Claro que sim. Porém, antes que você pense em torrar seu dinheirinho do ingresso para conferir este drama, deve ser grifado, sublinhado, posto em negrito e em itálico, que “Pai e Filho” é uma produção para muito poucos. Não apenas por seu parado, mas também pela ambigüidade que permeia cada milímetro da metragem da fita. Mas vale cada centavo do ingresso, pela forma singela, quase sagrada, de retratar o laço paterno. Um ótimo filme (se você gosta deste tipo de filme), perfeito para curtir o Dia dos Pais ao lado de seu paizão – mas isto, claro, se ele curtir estes troços cult (!). Sabe como é, se eu tentar levar o povo deste glorioso website nerd para assistir a uma fitinha desses, posso sair surrado! Hehehe. 😀

Nossa! Que crítica ENORME para os meus padrões! 😉

Pai e Filho (Título original: Otets I Syn/Father and Son) / Ano: 2003 / Produção: Rússia, Holanda, Itália, Alemanha / Direção: Aleksandr Sokurov / Roteiro: Sergei Potepalov / Elenco: Andrej Shetinin, Aleksei Nejmyshev, Aleksandr Razbash, Fyodor Lavrov, Marina Zasukhina / Duração: 82 minutos.


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