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Artigo adicionado em 04/07/2006, às 10:07

SUPERMAN RETURNS: A OPINIÃO DO CRÍTICO
Achou que seria ruim? Wroooooooooooong! Sim, esta é uma crítica do esperadaço Superman – O Retorno (Superman Returns, 2006) de Bryan Singer. Sim, esta crítica é assinada por aquele que atende pela alcunha de Zarko. Sim, este que assina a resenha é aquele mesmo que não entende pilombinhas de HQs. Bah, e quem disse que […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Sim, esta é uma crítica do esperadaço Superman – O Retorno (Superman Returns, 2006) de Bryan Singer. Sim, esta crítica é assinada por aquele que atende pela alcunha de Zarko. Sim, este que assina a resenha é aquele mesmo que não entende pilombinhas de HQs. Bah, e quem disse que isso é um problema, afinal?

Quando indagado sobre sua decisão de manter seu nome longe dos créditos da adaptação para as telonas de V de Vingança, o notório Alan Moore disse sabiamente que não importa se a origem do filme é uma HQ: são duas mídias diferentes e ponto final. Gibi é gibi, filme é filme, e dane-se se o protagonista da fita nasceu nos quadrinhos ou vice-versa. A raiva de Moore é que, independente do resultado final de “V de Vingança”, ele concebeu a obra como uma HQ e só o fato de ter sido transposto para o cinema já é, em sua idiossincrasia, uma sacanagem. Mas enfim, isto não tem nada a ver com o Azulão, mas tudo bem. 😀

Na verdade, fiz este comentário sobre Alan Moore para justificar o fato de que sou eu, aquele-que-não-tem-o-hábito-de-ler-HQs, o responsável por esta resenha. Pois é, não sou mesmo familiarizado com as origens do personagem criado por Joe Shuster e Jerry Siegel, mas… “Superman Returns” é uma produção para o cinema, antes de qualquer coisa. E a proposta desta crítica é justamente analisar a produção como um filme, deixando de lado as inevitáveis comparações com a HQ. Não podemos nos esquecer que boa parte do público pode não conhecer o Superman dos gibis, não é? E pra ser sincero, embora respeite bastante os elementos criados nos quadrinhos (eu não sei, mas o Emílio Elfo disse que respeita, então tá bão :-D), não é necessário conhecer um mínimo da cronologia do personagem para se deixar levar por este longa.

Sendo assim, como cinema, “Superman Returns” vale o ingresso?
TODO E QUALQUER CENTAVO.

Isto, claro, não será unanimidade. Alguns certamente reclamarão das poucas cenas de pancadaria e dos rumos da direção de Bryan Singer, que à exemplo de Batman Begins, preferiu focar a história em seu personagem ao invés de seus atos heróicos (o que não quer dizer nada: a parte-pauleira da fita é embasbacante mesmo assim).

Talvez seja até equivocado classificar “Superman Returns” como um simples longa de ação: o tratamento dado ao Homem de Aço está longe, muito longe, da superficialidade de fitas de “heróis inspirados em HQ” como Quarteto Fantástico, por exemplo, cuja preocupação resume-se apenas em “divertir”. O Azulão aqui está mais humano – e mais tridimensional – do que nunca, ainda que alguns poucos elementos insistam em não ajudar, mas disso falamos mais tarde.

Enfim, alguns provavelmente torcerão o nariz mesmo – assim como já ouvi e li comentários de alguns “críticos” que acreditam que “Superman Returns é ruim porque ninguém mais acredita num herói tão perfeitinho” (sabemos que a Internet é ferramenta do cabrunco quando somos obrigados a ler estas asneiras…). Não quero nem estar por perto quando o autor desta “pérola” descobrir que Metrópolis é, na verdade, uma cidade fictícia… Tadinho. 😛

Quer um conselho? Ignore este papinho chumbrega. Esqueça o que é Superman. Esqueça que seu uniforme traz uma “cueca por cima da calça”. Esqueça que o herói é um exemplar nato de um bom-mocismo que só existe na cabeça dele mesmo. E quem se importa se o alter-ego de Clark Kent é corretinho demais, catzo? Nas duas horas e meia de “Superman Returns”, só mesmo alguém muito cético (e muito CHATO, desculpe falar) para se prender a estes detalhezinhos bobos e não acreditar e não se emocionar com o que Bryan Singer prega com tanto carinho: o Homem de Aço, sim, é real. Ele voa, ele é ferradão, ele pode tudo. Cinema em estado bruto.

Numa única linha, “Superman Returns” é um grandioso longa-metragem de entretenimento e dotado de ALMA.

Em tempo: já me perguntaram qual é melhor, este ou “Batman Begins”. Acho que não dá pra comparar, já que o primeiro continua uma história e o segundo reseta a origem de seu personagem. Ainda assim, se for obrigado a escolher, eu ainda fico com “Batman Begins”, que realmente nos fez esquecer qualquer passagem do Homem-Morcego nos cinemas.

Voltando, o que se pode notar durante toda a projeção de “Superman Returns”, da primeira até a última cena, que a grande homenagem e a grande referência da fita não é exatamente o herói dos gibis, mas sim o herói imortalizado pelo saudoso Christopher Reeve no clássico longa-metragem de 1978. Se você, assim como eu, foi uma criança feliz acostumada a passar as tardes com os olhos grudados na Sessão da Tarde, prepare-se para ver pipocar na telona zilhões de referências aos dois primeiros longas da franquia do Super com Reeve – a começar pela arrepiante seqüência de créditos de abertura, idêntica ao primeiro longa (sim, a magnífica trilha de John Williams, os créditos voando e deixando um rastro pelo espaço… está tudo lá). Reparem, por exemplo, na rápida cena que mostra a fotografia de Glenn Ford, o Jonathan Kent do original de 1978, na fazenda dos Kent. Lindo! A referência, não o indivíduo, viu? 😀

Levando este fator em consideração, devo dizer que aqueles que têm os filmes anteriores fresquinhos na memória (pelo menos o primeiro e o segundo), “Superman Returns” será bem mais saboroso. O que não significa que seja obrigatório assistir os antecessores para a compreensão deste, pois pouco antes dos créditos, uma introdução em forma de texto deixa o espectador a par do que ele precisa saber: a descoberta de alguns fragmentos do que poderia ser seu planeta natal, Krypton, leva Kal-El (Brandon Routh) a desaparecer misteriosamente no espaço sideral em busca de suas raízes.

O longa começa pra valer com o retorno de Kal-El ao nosso planeta, depois de cinco anos de ausência. O sujeito, re-convertido em Clark Kent, está desapontado com a certeza de que nada escapou da destruição de Krypton e razoavelmente convicto de que seu lugar é mesmo a Terra. A fazenda Kent. Os braços de sua mãe adotiva, Martha Kent (Eva Marie Saint, de “Estrela Solitária” e grande atriz do passado). Metrópolis. O emprego no jornal Planeta Diário. A “casa, comida e roupa lavada” ao lado de seu grande amor, a intrépida e enxerida repórter Lois Lane (Kate Bosworth, Crimes em Wonderland).

Só que Kent/Superman não contava com três incômodas conseqüências de seu desaparecimento: primeiro, Lois Lane está “prostituta da vida” (!) e não quer nem ouvir falar no Homem de Aço, tanto que a mulher receberá um Pulitzer pela sugestiva reportagem “Porque o mundo não precisa do Superman” – afinal, ela também o amava e queria pelo menos um “tchau” que não existiu… Pra piorar o caldo, Kent experimenta um pouquinho de sofrimento humano ao saber que Lois está noiva – o sortudo é Richard White (James Marsden), filho do dono do Planeta Diário, Perry White (Frank Langella, de Boa Noite, e Boa Sorte.) – e ainda por cima é mãe de um simpático pivetinho.

O fato de ter perdido seu objeto de desejo não é, entretanto, o maior dos pepinos: como Superman sumiu sem deixar vestígios, não pôde desempenhar o papel de única testemunha das atrocidades do vilão Lex Luthor (Kevin Spacey, “Seven”) no tribunal. Resultado: Luthor escapou da prisão perpétua. Ao assumir uma generosa herança, Luthor ganhou poderes. Escalou um pequeno exército, descobriu nada menos que a localização da Fortaleza da Solidão, refúgio do superherói, e de posse de algumas “informações”, preparou mais um plano megalomaníaco que pode acabar com a raça de praticamente toda a população da América do Norte e Central. Na verdade, este plano pode também extinguir o Azulão de uma vez por todas, já que envolve uma mistureba de certos cristais da Fortaleza da Solidão e toneladas de um certo elemento verde (sacou, sacou, sacou?). 😀

Pra completar o caldo, Superman terá que enfrentar um grande desafio: a mudança dos tempos. Sua ausência desacreditou o povo de Metrópolis. Talvez ele não seja mais um bem necessário. Talvez ele tenha até mesmo perdido seu lugar no mundo. Superman voltou à estaca zero, voltou a ser um estranho no único lugar que sentia ser seu lar. E agora?

Bem, com uma idéia destas, é óbvio que a película não poderia trilhar pelo caminho da ação descerebrada – o que tirará o tesão de muita gente, isso é fato. Então, pode esperar por muitos momentos paradões e alguns diálogos até meio cansativos. Só que “Superman Returns” é dirigido por Bryan Singer. Não o Singer dos primeiros exemplares da franquia dos X-Men (que mesmo com um excelente roteiro, não deixam de ser apenas blockbusters), mas sim o Singer da complexidade de “Os Suspeitos” e “O Aprendiz”, aquele Singer que tem uma habilidade sobrenatural para contar histórias calcadas não só em ações, mas também em palavras.

Este é o Bryan Singer predominante em “Superman Returns”, o que não quer dizer que não haja seqüências de deixar qualquer um ofegante. Duas delas em especial merecem muita, mas muita atenção: a queda do avião experimental – que é também a primeira atuação do Superman em público – e a prática do tal plano de Luthor, que consiste em… bem, deixa pra lá. A técnica dos efeitos visuais (o vôo do Homem de Aço é perfeito em todos os detalhes), a ótima trilha sonora e a reconstituição dos cenários retrô de Metrópolis e da Fortaleza da Solidão, detalhadamente baseados nos outros filmes do herói, são um espetáculo à parte. Isto, porque nem vou entrar em detalhes com relação à mágica aparição do saudoso Marlon Brando como Jor-El. É ver pra crer. 😉

Mas justiça seja feita: “Superman Returns” é um filmão… com falhas. Então, vamos por partes – e direto ao que todo mundo quer saber: Brandon Routh. Bem, o cara comete umas gafezinhas quando precisa demonstrar seus dotes mais, digamos, “profundos” como ator, mas num saldo geral passa o recado muito bem. Mesmo. Routh consegue um feito impressionante ao atingir o tom certo tanto na ingenuidade de Clark Kent quanto na imponência do Superman. E como se não bastasse, carrega vários elementos caracteristicos da interpretação de Christopher Reeve sem transformar-se numa cópia descarada do falecido ator. Ele não É Reeve, mas quase chega lá – quando solta aquele “Espero que esta experiência não os desestimule de voar, pois os aviões ainda são o meio mais seguro de transporte”, você sente a diferença. E sim, aquele lance de “apagaram o Brandon Routh Jr. no CGI” deve ter acontecido, pois o uniforme não tem volume algum! Ou vai ver o troço é tão gigantesco que ele enrolou e amarrou lá atrás. Hehehe! 😀

O único problema de Brandon Routh é quando divide a cena com Kate Bosworth nos momentos mais exigentes em termos de interpretação. Ela é ruim e ponto; ele é legal, mas definitivamente não está preparado para segurar as pontas; então, a química entre os dois falha de vez em quando. Engraçado que a crítica em geral malhou o lado “romance” da questão, mas apontou o roteiro meio melado como um dos principais responsáveis; a meu ver, o único problema ali vem da (falta de) atuação. Poderiam ter escalado outra atriz mais simpática e mais talentosa, e certamente estas cenas soariam mais digeríveis…

Por outro lado, Kevin Spacey entrega um Lex Luthor tão psicótico, tão sarcástico e tão hilário quanto o Luthor de Gene Hackman. Sério, é Spacey aparecer na tela e automaticamente roubar a cena. Pena que seu personagem não é tão explorado pelo roteiro quanto deveria… mesmo mal, aliás, que aflige a desajeitada comparsa de Luthor, Kitty Kowalsky (Parker Posey linda e bizarra como sempre), e principalmente Martha Kent. Suas cenas somam dez minutos e olhe lá! Dos outros atores, não dá pra dizer muito. Sam Huntington e Frank Langella estão bem adequados como o fotógrafo Jimmy Olsen e o chefão Perry White (este último, por sinal, responde por uma das piadas sobre o Oscar mais legais de todos os tempos!), e James Marsden, mais conhecido como Ciclope, o amigo do El Cid, não dá trabalho – até porque seu personagem soa mais como um tapa-buraco mesmo. 😀

Só um comentariozinho: o roteiro retrata Richard White como um homem consciente de amar uma mulher que no fundo ama outro homem, e não cai no lugar-comum de fazê-lo sentir ciúmes ou ódio do “outro”. White não tem “raivinha” do Azulão ou qualquer coisa do gênero, e esta definitivamente foi uma ótima sacada. 🙂

Atuações à parte, as “falhas” ao qual me referi lá em cima consistem em certos detalhes que parecem ter passado batidos. Senti falta, por exemplo, de uma reação de Lex Luthor quando descobre que Superman está de volta (ele não reage, simples assim); Lois Lane passa por alguns perigos de morte na seqüência do avião e não sofre um hematoma sequer; em dado momento, Superman fica muito próximo de uma considerável lasca de kriptonita e parece não ser influenciado; e faltou uma exploração mais consistente dos “atributos” de um certo “elemento” que não posso contar, pois entregaria um spoiler gigantesco – por sinal, a grande surpresa do filme. Claro que estas falhas são pequenas diante do resultado final. E só um comentário perdido no ar: podem esperar continuações, afinal, há uma pá de pontas não amarradas ao final da projeção.

Enfim, como disse lá no início deste texto, a proposta aqui é analisar “Superman Returns” como cinema e nada mais. E dentro destes parâmetros, já que fico impossibilitado de tecer qualquer comparação ao Homem de Aço das HQs, digo que o grande “tchan” da película responde pelo nome de Bryan Singer. Nota-se a paixão do cineasta pelo herói e por sua história em cada fotograma, em cada diálogo, em cada personagem; esta paixão é exatamente o ponto-zero que eleva o longa do status de blockbuster da temporada para o status de experiência cinematográfica do ano, que provavelmente fará a alegria das Sessões da Tarde e alimentará os sonhos das gerações futuras. E se Lois Lane defende o contrário, Bryan Singer prova que sim, o mundo PRECISA de Superman.

É, ele está cruzando os céus de novo.

Superman – O Retorno (Título original: Superman Returns) / Ano: 2006 / Produção: Estados Unidos / Direção: Bryan Singer / Roteiro: Michael Dougherty e Dan Harris / Argumento: Bryan Singer, Michael Dougherty e Dan Harris / Baseado nos personagens criados por Jerry Siegel e Joe Shuster / Elenco: Brandon Routh, Kevin Spacey, Kate Bosworth, James Marsden, Frank Langella, Parker Posey, Sam Huntington, Eva Marie Saint, Kal Penn / Duração: 154 minutos.


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