“As pessoas podem dizer o que quiserem, mas é fato: as coisas mudam mesmo de contexto quando você olha dentro daqueles pequenos e inocentes olhinhos e ela diz, sem aviso: ‘Eu te amo, papai’. Os seus próprios olhos se enchem de lágrimas. O coração, de alegria. E você revê a sua vida inteira diante dos olhos em apenas alguns segundos.
Três anos atrás, eu era apenas o filho. Como diziam os meus pais, eu ainda era uma criança grande. Colecionava quadrinhos, bonequinhos, CDs, DVDs. Andava por aí com camisetas de bandas, sempre de bermudão e chinelo. E estava tentando deixar o cabelo crescer, da mesma forma que os cabeludos headbangers das bandas que eu ouvia.
O cabelo, é bem verdade, eu cortei. Mas eu ainda coleciono quadrinhos e todas aquelas coisas do Homem-Aranha. Ainda compro muitos CDs e DVDs. Ainda uso camisetas das minhas bandas favoritas. Ainda escuto heavy metal. E continuo não dispensando uma bermuda por nada neste mundo. O que mudou, então? Simples: as prioridades mudaram. Hoje em dia, não tem gibi, filme ou jogo de RPG qualquer que supere uma tarde de correria no Parque da Mônica ou à frente da TV vendo ‘Clifford, O Gigante Cão Vermelho’. É como diz a música do Ira: ‘só depois de muito tempo fui entender aquele homem’. Eu entendi. Só quando você tem o seu próprio herdeiro correndo por aí é que certas coisas a respeito do seu próprio pai ficam claras.
Afinal de contas, eu não era uma criança grande – era apenas um nerd tipo A, irrecuperável, mas já começando as acumular as responsabilidades da vida adulta. Hoje em dia, as responsabilidades são muito maiores. Nunca fugi de nenhuma delas – e devo dizer que até gosto da maior parte das sujeitas, sabe? Mas posso dizer que, por meio da minha filha, posso voltar a ser criança. Ali, sentado no chão, sem preocupações, curtindo cada pequena descoberta dela em um mundo que, sob o seu olhar curioso, ainda é muito maior e misterioso do que o meu. No fundo, este é o verdadeiro paraíso de ser pai”. — EL CID
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“Imagine que você tem uma filha e primeira palavra dela foi ‘jedi’ e não ‘papai’ ou ‘mamãe’ e você vai ter noção do que senti ao ser um pai nerd.
Ela assiste à Liga da Justiça Sem Limites, me implora pra eu contar as histórias de gibis como Homem-Aranha, Batman ou Guerreiras Mágicas de Rayearth, sabe de cor e salteado as falas do Abu do desenho Samurai Jack imitando-o com a perfeição que a idade dela deixa, consegue ficar horas do meu lado me vendo desenhar, pede incessantemente pra me ver jogar Marvel Super Heroes (e tem que ser com a Psylocke!), adora ficar brincando com meus dados de RPG (e perguntando pra quê servem), canta comigo a música de abertura de Cavaleiros do Zodíaco (em português e japonês!) e apontou para o aparelho de som e disse ‘Papai!’ quando tocava ‘Ain´t Talk About Love’ do Van Halen e isso, porque um mês antes, eu tinha tocado a bendita música na guitarra na frente dela e ainda assim ela lembrou.
E tudo isso, sem eu forçar nada, só com o interesse partindo dela.
Como eu poderia não estar mais orgulhoso?
E o meu caso, creio eu, é algo beeeem especial. Ah, mas vem você e fala algo como ‘Pelo amor de Deus, Elfo, nosso filhos sempre são algo especial!’ – concordo, amigo tupiniquim, mas meu relacionamento com ela é do tipo único porque ela não tem mãe. Sim, sou pai solteiro. Eu cuido dela sozinho, com meu sacrífício, com meus pais prestando grande ajuda na rabeta. A minha ex nunca quis a filha. Eu nunca fui de abandonar familiares, amigos e namorada. E nunca ia pular fora do barco como boa parte dos homens faz quando acontece uma gravidez surpresa. Quem me conhece bem, conhece essa história porque a testemunhou. Ou ouviu de mim ou de terceiros. Ainda assim, hoje minha filha é tudo isso que descrevi aí em cima.
Não sou um pai nerd e sim um ‘pãe nerd’. Mas isso pouco importa. Estamos juntos, felizes e ninguém muda isso. E foi a primeira filha da galera nerd, a primeira mascote.
Te amo, Alice!” — EMÍLIO ELFO
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