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Artigo adicionado em 16/06/2006, às 05:08

O CINEMA SAÍDO DO ARMÁRIO: PARTE 3
Te preocupa não, tá? Esta é a última parte… Eu acho! 😀 LEIA MAIS: :: O Cinema Saído do Armário: PARTE 1 :: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2 TRUQUES DA PAQUERA (Trick, 1999) – Diretor: Jim Fall – A história: Nada dá certo para Gabriel (Christian Campbell), jovem gay e aspirante a compositor […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


LEIA MAIS:
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 1
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2

TRUQUES DA PAQUERA (Trick, 1999)
– Diretor: Jim Fall
– A história: Nada dá certo para Gabriel (Christian Campbell), jovem gay e aspirante a compositor de trilhas para musicais teatrais. Além de sofrer um tenebroso bloqueio de inspiração e sentir-se absolutamente desmotivado, Gabriel ainda agüenta a “perseguição” da tentativa de atriz Katherine (Tori Spelling), que acredita que sua chance está nele; como se não bastasse, divide um microscópico apartamento com um heterossexual que traz uma garota diferente a cada noite – e sempre lhe pede a gentileza de “sair do apê durante algumas horinhas” em plena madrugada. Certa noite, Gabriel resolve afogar as mágoas numa boate de strip-tease e, na volta para casa, ao pegar o metrô, cruza olhares com o stripper Mark (John Paul Pitoc), o cara mais desejado da boate. Milagrosamente, Mark chega junto… conversam e decidem passar a noite juntos. Tem início, então, uma verdadeira odisséia em busca de um lugar para ficar; neste meio tempo, Gabriel tem a chance de redescobrir sua inspiração… ou afogar-se de vez em seu fracasso.
– Por que assistir? Premiado em Berlim e aplaudido no Festival de Sundance, “Truques da Paquera” segue a mesma tendência de “O Beijo Hollywoodiano de Billy”: o fato de os personagens centrais serem gays não é tratado como uma particularidade. Com um ótimo roteiro escrito por Jason Schaefer, é uma fita divertidíssima e bem corrida, com direito a um melado final feliz e muitas gargalhadas. Uma ótima sessão da tarde. Curiosidade: Christian Campbell é irmão de Neve Campbell.

ANTES DO ANOITECER (Before Night Falls, 2000)
– Diretor: Julian Schnabel
– A história: Cinebiografia de uma das mais importantes figuras da literatura subversiva, o poeta e escritor cubano Reinaldo Arenas (Javier Bardem), falecido em 1990. O longa acompanha a paupérrima infância de Arenas, sua adolescência e fase adulta em Havana, onde viveu uma relação de amor e ódio com o escroque Pepe (Andrea Di Stefano) e foi preso por dois anos e incansavelmente perseguido pelas autoridades cubanas, não tanto pelos seus textos de forte cunho político mas sim por ser homossexual. A jornada de Reinaldo Arenas terminou em Nova York, onde conseguiu se exilar e conquistar o merecido reconhecimento como escritor – e onde faleceu, vítima da AIDS.
– Por que assistir? O fantástico “Antes do Anoitecer” não é apenas um filme sobre Reinaldo Arenas; é também um apanhado bastante competente do que foi a Revolução Cubana e dos muitos fatos históricos que assolaram o país na década de 60. Além disso, traz o papel da vida do espanhol Javier Bardem, que papou cinco prêmios internacionais e ainda foi indicado ao Oscar por sua performance. “Antes do Anoitecer” deve ser visto não somente como uma cinebiografia de uma importante figura da história de Cuba, mas também como um libelo à vida e aos direitos humanos. E ainda tem pontinhas de gente como Sean Penn e Johnny Depp, este em papel duplo: como o travesti de cadeia Bon Bon e como o insinuante policial Victor, praticamente saído de alguma formação do Village People (!!!).

GOTAS D’ÁGUA EM PEDRAS ESCALDANTES (Gouttes d’Eau sur Pierres Brûlantes, 2000)
– Diretor: François Ozon
– A história: Na Alemanha dos anos 70, o executivo cinqüentão Leopold (Bernard Giraudeau) encanta-se pela beleza do jovem e totalmente ingênuo Franz (Malik Zidi), rapaz de apenas 19 anos. Leopold e Franz começam a sair, descobrem afinidades na cama e rapidamente decidem morar juntos. Certo dia, algo de pouquíssima importância resulta numa grande diferença de opinião. A partir daí, o caso entre os dois esfria gradativamente: Leopold admite se cansar fácil das coisas, enquanto Franz, carente de afeto, se deixa levar pela forma fria com que o primeiro comanda o relacionamento. As coisas complicam-se ainda mais quando o apartamento de Leopold e Franz é invadido por Véra (Anna Levine) e Anna (Ludivine Sagnier), suas respectivas ex-namoradas.
– Por que assistir? Utilizando como base uma peça teatral escrita por Rainer Werner Fassbinder aos 19 anos – e nunca montada -, “Gotas d’Água em Pedras Escaldantes” é um intrigante estudo das relações humanas que pode ser terrivelmente maçante para quem curte um cinema mais movimentado. Filmado praticamente como uma peça de teatro e fechada em um único ambiente, é um filme de diálogos, focado nas excelentes interpretações do quarteto central e no brilhante roteiro adaptado por François Ozon, também diretor do filme.

MENINOS NÃO CHORAM (Boys Don’t Cry, 2000)
– Diretor: Kimberly Peirce
– A história: Teena Brandon (Hilary Swank) não é apenas uma garota lésbica. Teena Brandon é um homem num corpo de uma mulher, e ela sabe disso. Tanto que, certo dia, decide passar a viver como um homem, agindo e vestindo-se como tal e adotando o nome Brandon Teena. Mas ela quer mais. Ela quer ser reconhecida como um indivíduo do sexo masculino. Assim, Teena/Brandon foge para a pequena Falls City, cidadezinha rural, onde o homossexualismo é visto com péssimos olhos; lá, apaixona-se perdidamente por Lana (Chloë Sevigny). Sabendo dos riscos que corre, começa a namorar com ela, ao mesmo tempo que faz amizade com os marginais John (Peter Sarsgaard) e Tom (Brendan Sexton III). Brandon parece encontrar o paraíso, mas quando sua verdadeira identidade sexual vier à tona, desencadeará um incontrolável acesso de fúria nos habitantes de Falls City.
– Por que assistir? Comentadíssimo longa-metragem que deu o primeiro Oscar de Melhor Atriz a Hilary Swank, talvez seja a fita mais dolorosa desta seleção. E tudo isto porque a história real de Brandon Teena/Teena Brandon, um dos crimes mais chocantes da história dos EUA, é tenebrosa por natureza e foi filmada a seco por Kimberly Peirce. Assista… se você for capaz!

O CLUBE DOS CORAÇÕES PARTIDOS (The Broken Hearts Club, 2000)
– Diretor: Greg Berlanti
– A história: Um grupo de amigos gays têm em comum a paixão pelo baseball e a parceria em um time chamado Broken Hearts. Howie (Matt McGrath) só tem olhos para a faculdade e para um ex-namorado que o despreza; Patrick (Ben Weber) é tão inseguro que espanta qualquer pretendente; Benji (Zach Braff) acredita que o segredo de um bom relacionamento é ter um corpo perfeito, o que geralmente o coloca em confusão; Cole (Dean Cain) é um ator de TV que troca de parceiros como troca de roupa (!); Kevin (Andrew Keegan) é o mais novo da turma e a nova “vítima” de Cole; Taylor (Billy Porter) quer um relacionamento estável, mas não consegue arrumar ninguém; e Jack (John Mahoney) é o paizão da turma, além de dono de um restaurante que serve de “segunda casa” para o grupo. As histórias de cada um são vistas pelo ponto de vista de Dennis (Timothy Olyphant), o mais maduro da turma, que apavora-se com a possibilidade de morrer sozinho.
– Por que assistir? Na verdade, não há muitos motivos. Este drama com toques cômicos compete pau a pau com “A Velocidade de Gary” pelo título de “o mais fraco da lista”. Com uma estrutura narrativa claramente chupinada de “Short Cuts”, não é um filme tão bom quanto poderia ter sido caso fosse melhor escrito e melhor interpretado. MAs vale pela curiosidade de conferir uma Zach Braff tosquíssimo e um Dean Cain (o Superman de “Lois & Clark”) em um personagem totalmente bagaceira… Assista, mas só se passar na TV, ok? 😀

PLATA QUEMADA (Plata Quemada, 2000)
– Diretor: Marcelo Piñeyro
– A história: Dois perigosos bandidões, Nene (Leonardo Sbaraglia) e Angel (Eduardo Noriega), conhecidos como “os gêmeos” por sempre agir em parceria, unem-se a um terceiro meliante, Fontana (Ricardo Bartis), para botar em prática um audacioso roubo a um carro-forte que transporta uma fortuna. O que deveria ser um trâmite tranqüilo, transforma-se em um banho de sangue quando o trio assassina um grupo de policiais sem dó nem piedade. Caçados pela polícia argentina, faminta por vingança, Fontana, Angel e Nene seguem o conselho de um mafioso local e escondem-se em um minúsculo apartamento no Uruguai, à espera de documentos fraudados para que possam fugir ao Brasil. Mas Angel e Nene, que são amantes, vivem um momento de crise em seu relacionamento, o que deixa o ambiente claustrofóbico e traz muitos problemas ao trio – além, é claro, de uma conclusão regada a muito sangue e violência.
– Por que assistir? Este é definitivamente um FILME DE MACHO (!). Violento, amoral e altamente sanguinolento, “Plata Quemada”, inspirado em um caso verídico, é um suspense policial de primeira linha que não deve nada aos melhores exemplares hollywoodianos. A “parte homossexual” da coisa é bem disfarçada e quase não é explícita: o que temos aqui é um delirante e nervoso embate entre os personagens de Leonardo Sbaraglia e Eduardo Noriega – este último, simplesmente excepcional como o depressivo Angel.

BEIJANDO JESSICA STEIN (Kissing Jessica Stein, 2001)
– Diretor: Charles Herman-Wurmfeld
– A história: Aparentemente nada mais que uma bem-sucedida jornalista novaiorquina, Jessica Stein (Jennifer Westfeldt) tem vivido dias de pura paranóia e horror: não consegue se relacionar com ninguém, não dorme direito e está desiludida e irritada com os homens. Certo dia, ela lê um anúncio de correio sentimental numa revista e acredita ser esta sua grande chance de encontrar alguém legal e disposto a manter um relacionamento sério. Jessica não nota de imediato, mas o anúncio é de uma mulher… procurando outra mulher. Num acesso de loucura, Jessica, que é heterossexual, decide arriscar mesmo assim. Então, conhece a carismática Helen Cooper (Heather Juergensen), com quem se dá muito bem. Sem querer, apaixona-se. Mas… pombas, Helen é uma mulher! Se fosse homem, seria o homem perfeito! Jessica Stein depara-se, então, com um dilema complicado: mesmo não sendo sua praia, será que esta relação pode dar certo?
– Por que assistir? Inesperado sucesso de bilheteria nos EUA, esta deliciosa comédia romântica acerta em dois pontos: a) é um dos poucos longas-metragens que fala sobre homossexualismo sem estereotipar seus personagens, e b) carrega em seu roteiro e em seus ótimos diálogos a mesma sutileza aplicada a seus personagens. Visivelmente inspirado nos elegantes trabalho de Woody Allen, o cineasta indie Charles Herman-Wurmfeld entrega uma fita engraçada, romântica e cativante que sugere a idéia de que, com relação a amor, tudo é valido.

CIDADE DOS SONHOS (Mulholland Dr., 2001)
– Diretor: David Lynch
– A história: Um terrível acidente de carro em Mulholland Drive, notória rodovia de Los Angeles, dá início a uma série de perturbadoras situações. A starlet Rita (Laura Harring) escapa com poucos ferimentos do tal acidente, mas perde a memória e começa a vagar pela cidade sem destino. Betty Elms (Naomi Watts) é uma ingênua aspirante a atriz que resolveu tentar a sorte em LA e aluga um apartamento no conjunto residencial da bizarra Coco (Ann Miller). É neste mesmo prédio que Rita aparece subitamente. Betty decide ajudar a nova amiga a descobrir suas origens, que podem estar ligadas ao cineasta Adam Kesher (Justin Theroux). Neste meio tempo, Betty e Rita desenvolvem um estranho relacionamento regado a muito sexo… e muito ódio… e um clube chamado Silencio…
– Por que assistir? Preciso dizer? É o David Lynch mais esquisito do que nunca! É a Naomi Watts mais linda do que nunca! É estranho! É pesado! É bizarro! Naomi Watts dá um malho impressionante na Laura Harring! Uau!

HEDWIG – ROCK, AMOR & TRAIÇÃO (Hedwig and the Angry Inch, 2001)
– Diretor: John Cameron Mitchell
– A história: A bizarra e infame roqueira Hedwig (John Cameron Mitchell) nasceu homem na Alemanha Oriental, com o nome Hansel, e passou boa parte de sua infância e adolescência viciado no rock que ouvia de uma rádio-pirata das Forças Armadas. Ao se apaixonar pelo soldado americano Luther, que promete levá-lo aos EUA, Hansel submete-se a uma fracassada operação para mudança de sexo, que a deixa com uma polegada sobrando… Anos depois, já convertida em Hedwig, ela/ele cai de quatro por um garoto (Michael Pitt) que adota o nickname Tommy Gnosis e inicia uma carreira de sucesso como músico… divulgando as composições de Hedwig como se fossem suas e ganhando uma fortuna com elas. Assim, a cantora segue com sua banda formada por amigos do Leste Europeu, perseguindo Gnosis em sua turnê e cantando a história de sua vida em bares e restaurantes fuleiros, até que consiga enfrentar o garoto, tomar o que é seu por direito… e botar um decisivo ponto final em sua história de amor.
– Por que assistir? Para se ter uma idéia de como este hilariante e criativíssimo musical é adorado, basta dizer que sua versão para os cinemas foi exigida pelo mesmo público que lotou incansavelmente as sessões do espetáculo off-Broadway na qual a fita se inspira. E com razão: esta belíssima homenagem ao glam rock, com sua mistura de comédia, melodrama e animação (é sim, animação), é de deixar qualquer um com um baita sorriso no rosto durante o dia inteiro!

UM AMOR QUASE PERFEITO (Le Fate Ignoranti, 2001)
– Diretor: Ferzan Ozpetek
– A história: A aparente felicidade do casal Massimo (Andrea Renzi) e Antonia (Margherita Buy) é tragicamente interrompida com a morte de Massimo em um violento acidente de carro. Traumatizada com o incidente e com os nervos em frangalhos, Antonia afasta-se do mundo e mergulha em depressão. O que Antonia não sabia era que Massimo manteve um “relacionamento paralelo” durante sete anos, e que só acabou com sua morte. Magoada, Antonia dedica-se exaustivamente a encontrar a amante de seu falecido esposo, até que se depara com um choque ainda maior: a amante, na verdade, é um homem, o jovem Michele (Stefano Accorsi), que também não se conforma com a morte de Massimo. Estranhamente, Antonia simpatiza com Michele, apoiando-se no rapaz e, conseqüentemente, apaixonando-se por ele…
– Por que assistir? Não se engane quanto ao título brazuca. “Um Amor Quase Perfeito” não chega a ser um drama excepcional, mas ganha pontos pela forma com que trata seus personagens. Dirigido de maneira bem simples pelo turco Ferzan Ozpetek, é um típico trabalho cuja força está centrada somente nas atuações dos personagens centrais, mas até que se sai bem ao lidar com a questão da visão preconceituosa dos heterossexuais com relação aos gays.

AS HORAS (The Hours, 2002)
– Diretor: Stephen Daldry
– A história: O clássico romance “Sra. Dalloway”, uma das obras mais cultuadas da história da literatura e o livro mais conhecido de Virginia Woolf, serve de ligação para três histórias em diferentes épocas. Na primeira, em 1923, a própria Virginia Woolf (Nicole Kidman) tenta concluir o romance em meio a uma grave crise de depressão e identidade; na segunda, em 1949, a dona-de-casa Laura Brown (Julianne Moore) tenta organizar uma festa-surpresa para seu marido Dan (John C. Reilly) quando, num momento de ócio, começa a ler o livro de Woolf e, dominada por crises de choro e idéias de morte, não consegue mais parar de ler; na terceira, em 2002, numa surreal “releitura” da história do romance, a editora Clarissa Vaughn (Meryl Streep) pretende organizar uma festa a um antigo namorado, Richard (Ed Harris), escritor depressivo e soropositivo em fase terminal. As três histórias seguem paralelamente a um desfecho trágico.
– Por que assistir? Porque é FENOMENAL, só por isto. Amargo, cruel, aterrorizante e magnífico. É o suficiente? 🙂

DELICADA RELAÇÃO (Yossi & Jagger, 2002)
– Diretor: Eytan Fox
– A história: Um grupo de jovens soldados, homens e mulheres, convivem pacíficamente à espera de um ataque numa base militar localizada na fronteira entre Israel e o Líbano – ataque que parece nunca acontecer. O grupo é liderado pelo jovem comandante Yossi (Ohad Knoller), linha-dura e altamente ríspido, mas dedicado, sábio, complacente e querido por todos. É o chefe, mas um “chefe amigo”. Jagger (Yehuda Levi), o líder do pelotão e subordinado a Yossi, é popular, brincalhão e totalmente extrovertido; praticamente o centro das atenções do grupo. Isolado do mundo e vivendo à sombra da guerra, o pelotão sequer imagina que, além de comandante e subalterno, Yossi e Jagger são também namorados. Enquanto isto, os dois sofrem e lutam para manter o equilíbrio e as aparências neste ambiente devastador. As ameaças vêm na forma da belíssima soldado Yaeli (Aya Steinovitz), apaixonadíssima por Jagger e decidida a conquistá-lo ali mesmo, e na forma de uma emboscada, que pode destruir os futuros planos do casal.
– Por que assistir? Realizado com pouquíssimos recursos, “Delicada Relação” fez uma inesperada carreira de sucesso no circuitinho alternativo de SP e do Rio. E não é pra menos: é um drama sutil, romântico, até melodramático (o final, memo doloroso, é coisa de novela mexicana, sério), mas que toca direto na ferida e precisa somente de uma minúscula metragem (a duração do filme é pouco mais de uma hora) e de ótimos atores, em especial o excelente Ohad Knoller, para traçar um instigante paralelo entre o homossexualismo e os horrores da guerra.

LONGE DO PARAÍSO (Far From Heaven, 2002)
– Diretor: Todd Haynes
– A história: O ano é 1957. Cathy Whitaker (Julianne Moore) é uma dona-de-casa com uma vida aparentemente perfeita. Ela tem uma bela casa, dois filhos bem educados e um marido ultra-dedicado, Frank Whitaker (Dennis Quaid), executivo em franca ascensão. Cathy tem uma vida social deveras atraente e costuma ser alvo constante da disfarçada inveja de suas vizinhas da pequena cidade de Hartford, em Connecticut. O mundo começa a desabar para Cathy quando, ao visitar Frank no escritório em uma noite de “serão”, encontra seu marido dando um belo malho… em outro homem. Aterrorizada, destruída por dentro e temerosa com “o que as pessoas vão dizer”, ela decide manter o casamento mesmo assim, nem que seja apenas por aparência. Os problemas chegam com a força de uma bala de canhão quando Cathy, carente de afeto, inicia uma amizade com Raymond Deagan (Dennis Haysbert), seu jardineiro, que é pobre e negro, duas “maldições” para a mesquinha sociedade da qual a senhora Whitaker faz parte.
– Por que assistir? Porque é um belo de chute nas partes baixas do conservadorismo e na hipocrisia que infesta os ideais familiares norte-americanos. Com fantásticas interpretações de Julianne Moore e Dennis Haysbert, este belo drama dirigido pelo mesmo Todd Haynes que entregou o mágico Velvet Goldmine ainda é um primor em termos de técnica cinematográfica: rodado bem aos moldes do cinema dos anos 50, “Longe do Paraíso” é tão sutil quanto explosivo. Merece uma visita.

FILHOTE (Cachorro, 2004)
– Diretor: Miguel Albaladejo
– A história: O dentista Pedro (José Luis García Pérez) é um homem responsável até a medula, gay e tem uma vida social bastante agitada, além de um numeroso círculo de amigos que praticamente vive em sua casa. Certo dia, sua irmã Violeta (Elvira Lindo) decide viajar com o namorado à Índia e deixa seu filho, Bernardo (David Castillo), garoto de 11 anos, sob a guarda do tio. O negócio não chega a ser um problema, já que Bernardo é um menino muito educado e não dá trabalho algum ao tio; além do mais, Pedro não precisa esconder sua condição, visto que o menino sabe o que ele é e não enxerga maldade alguma nisso. Entretanto, a responsabilidade de Pedro sobre Bernardo aumenta drasticamente quando Violeta e o namorado são presos na Índia por porte de drogas – e provavelmente ficarão por lá alguns anos. O que amedronta Pedro é o surgimento inesperado de Teresa (Empar Ferrer), avó paterna do garoto, que fará das tripas coração até que consiga tirar Bernardo da guarda do dentista. Afinal, não é bom para o menino viver ao lado de um “bicha”…
– Por que assistir? Além da história bem-amarradinha e bastante pé-no-chão, este belo exemplar do cinema espanhol ganha muitos pontos por lidar com uma questão ultra-polêmica: a adoção de crianças por homossexuais. O roteiro, também escrito por Miguel Albaladejo (diretor da fita), aproveita para questionar os avanços da AIDS e para traçar o painel da aceitação dos homossexuais pela sociedade atual. Até que ponto uma criança é “influenciada” pela presença constante de um gay em sua rotina? A condição sexual de uma pessoa realmente faz diferença? Como os pais devem guiar os filhos ao tratar deste assunto? Estas questões não chegam a ser totalmente respondidas, mas rendem uma hora e quarenta minutos de ótimo cinema aqui.

MISTÉRIOS DA CARNE (Mysterious Skin, 2004)
– Diretor: Gregg Araki
– A história: Aos 8 anos, Neil McCormick (Chase Ellison) é freqüentemente molestado pelo treinador de seu time de baseball (Bill Sage); não que isto seja um problema para ele, pois o garoto, que já tem consciência de sua condição mesmo com a pouca idade que tem, é apaixonado pelo cara (!!). Também com 8 anos, Brian Lackey (George Webster) era um menino tranqüilo até acordar certo dia do lado de fora de sua casa, com o nariz sangrando e sem lembrar de nada que acontecera nas cinco horas anteriores a este incidente. Depois disto, Brian nunca mais foi o mesmo. Dez anos se passam. Com 18 anos, Brian (Brady Corbet) encontra evidências que apontam para uma realidade assustadora e bizarra: ele pode ter sido abduzido por alienígenas (!). À medida que investiga fatos de sua infância, descobre que a resposta para o mistério pode estar na figura de Neil (Joseph Gordon-Levitt), agora um rebelde, explosivo e depressivo garoto de programa.
– Por que assistir? O cineasta Gregg Araki, familiarizado com o tema da diversidade sexual com o barra-pesada “Geração Maldita” e a divertida comédia romântica “Splendor”, realiza aqui sua fita mais séria, polêmica e pessoal. O longa não foi muito bem aceito pela crítica em geral, e chocou o público com suas idéias meio, digamos, “radicais” com relação à forma mais que incendiária com que formulou a pedofilia. Ainda assim, vale a pena por ser um belo exercício de atuação do subestimado Joseph Gordon-Levitt (o pivete do extinto seriado “3rd Rock From The Sun”). E prestem atenção em Brady Corbet: este cara é muito bom.

LEIA MAIS:
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 1
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2


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