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Artigo adicionado em 16/06/2006, às 05:05

O CINEMA SAÍDO DO ARMÁRIO: PARTE 1
E… céus, são 45 filmes!!! LEIA MAIS: :: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2 :: O Cinema Saído do Armário: PARTE 3 Realmente, 2006 parece ser o ano da diversidade sexual nos cinemas. Deixando os blockbusters de lado, quatro dos longas mais comentados do ano são focados neste tema ou pelo menos trazem protagonistas […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


LEIA MAIS:
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 3

Realmente, 2006 parece ser o ano da diversidade sexual nos cinemas. Deixando os blockbusters de lado, quatro dos longas mais comentados do ano são focados neste tema ou pelo menos trazem protagonistas gays. Senão, vejamos: temos a impressionante e premiadíssima atuação de Philip Seymour Hoffman em Capote e a elogiadíssima interpretação de Felicity Huffman no ainda inédito Transamérica, além de Café da Manhã em Plutão (que traz um fodáximo Cillian Murphy como um sofrido travesti) e, claro, aquele tal de O Segredo de Brokeback Mountain.

O surgimento destes quatro longas e seu já esperado destaque servem para provar que o mundo está cada vez mais liberal quando nos referimos às velhas e polêmicas questões envolvendo o núcleo GLBT – para quem não sabe, sigla que categoriza os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Mas pelo menos no cinema, este assunto não está em debate de agora. Muitos cineastas ousaram focar suas histórias neste tema tão espinhudo e tão caloroso. Não à toa, esta nova seleção de filmes conta com absurdíssimos 45 títulos (!!!) e precisou ser dividida em três partes (!!!!!). Ok, então já que estamos aqui, eis uma bela seleção de 45 ótimos longas-metragens que dissecam e desvendam a diversidade sexual no cinema! 🙂

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR (Some Like It Hot, 1959)
– Diretor: Billy Wilder
– A história: Na Chicago de 1929, os músicos desempregados Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon) testemunham acidentalmente o conhecido Massacre do Dia dos Namorados, uma chacina de gangues perpetuada pelo gangster Spats Colombo (George Raft). Perseguidos pelo bando do criminoso, que quer apagá-los a qualquer custo, Joe e Jerry arriscam uma manobra inusitada e bastante perigosa: vestem-se de mulher, transformando-se respectivamente em Josephine e Daphne, e empregam-se numa banda só de mulheres, que segue para Miami. Os problemas: Joe/Josephine apaixona-se perdidamente pela vocalista da banda, a ingênua Sugar Kane (Marilyn Monroe); Jerry/Daphne é perseguida pelo milionário Osgood Fielding III (Joe E. Brown), que tarou na “garota”; e a gangue de Spats Colombo está cada vez mais perto…
– Por que assistir? Tá bom, tá bom. Na verdade, “Quanto Mais Quente Melhor” não chega a ser um longa-metragem com temática GLBT. Ele é apenas o título considerado por muitos críticos como a melhor comédia americana de todos os tempos… A fita de Billy Wilder utiliza o tal do crossdressing (homens que vestem-se de mulher) apenas como alívio cômico para o enredo (e o faz de uma maneira absolutamente respeitosa e engraçada), mas ninguém pode negar que o antológico e já clássico diálogo final entre Jerry e Osgood Fielding carrega uma apologia gigantesca à diversidade sexual nas entrelinhas. Só por esta cena, já merece figurar aqui na nossa listinha. Se você ainda não assistiu, faça a gentileza de CORRER à locadora! 😀

MORTE EM VENEZA (Morte a Venezia, 1971)
– Diretor: Luchino Visconti
– A história: O renomado compositor Gustav Von Aschenbach (Dirk Bogarde), em plena meia-idade, decide passar uns tempos num resort em Veneza, para se recuperar de um turbulento período de stress artístico e pessoal. Chegando lá, entretanto, Aschenbach encontra a ruína ao apaixonar-se perdidamente pelo adolescente Tadzio (Bjørn Andresen), menino de 14 anos que está de férias com sua família em Veneza. O garoto, dono de uma beleza andrógina e totalmente esquisita, parece perceber a paixão do músico e dá início a pequenos, ambígüos e quase imperceptíveis jogos de sedução, que funcionam em Aschenbach como um tortura de precisão cirúrgica e o levam a um estado de depressão e horror quase psicóticos.
– Por que assistir? Simplesmente porque é considerado um dos maiores clássicos do cinema intimista. Adaptado do romance de Thomas Mann, que por sua vez inspirou-se levemente num período da vida do compositor Gustav Mähler, o cineasta italiano Luchino Visconti construiu um doentio mosaico silencioso de apavorar qualquer um, e de quebra entregou um dos mais significativos exemplares do chamado cinema do olhar. E a perfeita construção do personagem do grande Dirk Bogarde isenta Gustav Von Aschenbach de qualquer culpa moral. Obrigatório.

A GAIOLA DAS LOUCAS (La Cage Aux Folles, 1978)
– Diretor: Edouard Molinaro
– A história: O cinquentão Renato Baldi (Ugo Tognazzi) vive em St. Tropez, é dono da casa noturna Gaiola das Loucas e “casado” com a estrela da casa, Albin (Michel Serrault), mais conhecido como Zazá. A vida segue tranqüila para o casal, até o momento em que o filho de Renato, Laurent (Rémi Laurent), fruto de uma “pulada de cerca” vinte anos antes, anuncia que está noivo – e que trará os pais da noiva para conhecê-los. Só que o casal Charrier, conservadores até o último fio de cabelo, acredita que Laurent é filho de um casamento, digamos, convencional. Cabe a Renato e Zazá arrumar uma forma de manter as aparências enquanto recebem a visita dos ilustres convidados.
– Por que assistir? Um dos mais conhecidos e populares exemplares do cinema de comédia francês, esta hilariante adaptação de uma peça teatral de Jean Poiret conquistou o público e tornou-se um dos grandes fenômenos de bilheteria em termos de filme estrangeiro no Brasil. Exaustivamente exibido nas Sessões da Tarde da vida, ganhou duas continuações que não têm o mesmo brilho do original, e um equivocado remake norte-americano (sempre eles…) em 1996. Obrigatório porque é de rachar o bico de tanto rir!

QUERELLE (Querelle, 1982)
– Diretor: Rainer Werner Fassbinder
– A história: O marinheiro francês Querelle (Brad Davis) chega à Alemanha e passa freqüentar uma estranha casa de prostituição à beira do cais. Lá, ele descobre que seu irmão mantém um caso com Lysiane (Jeanne Moreau), esposa do dono do prostíbulo, Nono (Günther Kauffman). Querelle é desafiado a jogar dados com Nono. Se ele ganhar, terá o direito de dormir com Lysiane; se perder, será forçado a dormir com Nono. Querelle perde o jogo… e desencadeia uma série de trágicas e bizarras situações.
– Por que assistir? Inspirado no polêmico romance do dramaturgo gay Jean Genet (notório membro da Resistência Francesa na segunda guerra), “Querelle” é um trabalho difícil e que certamente não agrada qualquer tipo de público. Ainda assim, entrou para a história como um dos filmes mais importantes da carreira do aspirante a astro Brad Davis (morto em decorrência da AIDS em 1991) e do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (que cometeu suicídio, aos 37 anos, logo após o término das filmagens deste longa). A crítica considera um “Querelle” uma fantástica aula de como se fazer cinema, embora este termo esteja restrito à sua técnica.

MINHA ADORÁVEL LAVANDERIA (My Beautiful Laundrette, 1985)
– Diretor: Stephen Frears
– A história: O jovem paquistanês Omar (Gordon Warnecke), radicado na Inglaterra, recebe a tarefa de cuidar da quase falida lavanderia de seu tio. Com boas idéias na cabeça e nenhuma grana no bolso, Omar arrisca pedir dinheiro emprestado a um traficante para reformar o estabelecimento. Assim, convida seu mais novo amigo, Johnny (Daniel Day-Lewis), para trabalhar com ele. Só que Omar e Johnny descobrem-se tremendamente apaixonados um pelo outro. Com a empolgação do novo romance, Omar não percebe os problemas formados à sua volta, como a iminente perseguição do traficante, a pressão de sua família (que não sabe da preferência sexual de Omar) e a revolta da antiga gangue de Johnny, que não vê com bons olhos sua amizade com um “imigrante indiano”.
– Por que assistir? Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro em 1986, um dos primeiros grandes trabalhos de Stephen Frears traçou um elogiado panorama da era punk na Europa e ainda alçou ao estrelato um sujeitinho chamado Daniel Day-Lewis. Na verdade, “Minha Adorável Lavanderia”, baseado num popular romance de autoria de Hanif Kureishi, não é focado no relacionamento do casal central, e sim na crescente onda de violência que chegou com a febre dos imigrantes ilegais na Europa – tanto que a história é contada com uso de vários elementos do western. Divertidíssimo, sujo e altamente sarcástico: se você curtiu Sin City, este é fundamental.

MAURICE (Maurice, 1987)
– Diretor: James Ivory
– A história: No início do século, num conceituadíssimo colégio em Cambridge, Inglaterra, o estudante Maurice Hall (James Wilby) inicia um romance com seu colega de classe Clive Durham (Hugh Grant). Romance este sustentado por encontros raros, rápidos e sempre às escondidas. Alguns anos mais tarde, Maurice torna-se corretor na bolsa de Londres e Clive trilha pelo caminho da política. Tudo parece correr bem até que a homossexualidade de um amigo em comum vêm à tona e causa um escândalo sem precedentes. Com medo de perder seus privilégios políticos, Clive decide abandonar Maurice e casar-se com uma velha conhecida. Começa o inferno astral de Maurice, que tentará encontrar um pouco de felicidade ao lado de um novo amor, Alec (Rupert Graves)… por sinal, guarda-caça de Clive.
– Por que assistir? Adaptado da obra escrita por E. M. Forster em 1914 (e publicada somente 58 anos depois, após a morte do autor), “Maurice” gerou certa controvérsia por onde foi exibido, pela maneira totalmente escancarada com que trata o romance entre Maurice e Clive e a hipocrisia da burguesia britânica. O que nada interferiu em seu bem-sucedido desempenho nas bilheterias da Inglaterra. Não à toa, é tido como um dos melhores trabalhos de James Ivory (de “Uma Janela Para o Amor”). E realmente o é.

MEU QUERIDO COMPANHEIRO (Longtime Companion, 1990)
– Diretor: Norman René
– A história: Em 1981, é publicada no jornal The New York Times a primeira notícia acerca de uma epidemia de uma doença desconhecida e categorizada como “câncer gay”, por supostamente afetar apenas homossexuais. Aos poucos, a doença toma forma, ganha uma nome – AIDS – e aprende-se as formas de se contraí-la e também de prevení-la (mas não, óbvio, de curá-la). De 1981 até 1990, o longa acompanha o cotidiano de uma comunidade de homossexuais em Fire Island, que atravessam os vários estágios da doença: o medo da contaminação, a convivência com a degradação física de quem contraiu, a proximidade da morte e a perda de amigos próximos. O drama é visto pela ótica de Willy (Campbell Scott), um dos poucos remanescentes do grupo a não contrair a doença.
– Por que assistir? Apenas porque “Meu Querido Companheiro” entrou para a história do cinema como a primeira produção estadunidense a tratar com coragem o espinhudíssimo tema AIDS. Vencedor de muitos prêmios em 1991 (quase todos para a brilhante atuação de Bruce Davison), a fita retrata o drama vivido pela comunidade gay para superar a tenebrosa realidade da presença da doença. É um drama tocante e muito, muito sofrido, embora, a meu ver, perca forças ao estereotipar demais a caracterização de alguns personagens. Curiosidade: o título original do longa refere-se à forma com que o New York Times denominava os parceiros das vítimas da AIDS em seus obituários; na época na qual o filme se desenrola, o jornal recusava-se a tratá-los como “namorados” ou “parceiros”.

GAROTOS DE PROGRAMA (My Own Private Idaho, 1991)
– Diretor: Gus Van Sant
– A história: Os amigos Mike Waters (River Phoenix) e Scott Favor (Keanu Reeves) sobrevivem como garotos de programa nas ruas de Oregon. Enquanto Scott se prostitui com o único intento de provocar o pai, que é prefeito da cidade, Mike não possui outra forma de garantir seu sustento a não ser vendendo seu corpo. Além do ganha pão, Mike trabalha dia e noite nas ruas com o objetivo de juntar um dinheiro e seguir até Idaho, onde supostamente estaria sua mãe, desaparecida quando Mike ainda era uma criança. Scott decide acompanhar o amigo até Idaho, e no caminho, Mike encontra a perdição ao se apaixonar violentamente por Scott.
– Por que assistir? Um dos principais longas indie da fase áurea de Gus Van Sant (iniciada com o fantástico “Drugstore Cowboy”) antes de cometer sandices como “Psicose”, “Garotos de Programa” é uma bem-sacada e perturbadora releitura de “Henrique IV”, de Shakespeare. Não é um trabalho fácil de digerir, mas nem por isto deixa de ser embasbacante: prova disto é a surpreendente entrega do saudoso River Phoenix a seu papel. Os ianques conservadores, com os cabelos em pé, até tentaram encasacar o conteúdo homoerótico da película divulgando imagens montadas dos personagens com mulheres (no filme, os garotos de programa saem apenas com homens), mas não adiantou muito… Muitos consideram este um sucessor mais do que digno do clássico “Perdidos na Noite”.

NOITES FELINAS (Les Nuits Fauves, 1992)
– Diretor: Cyril Collard
– A história: Ao retornar a Paris depois de uma viagem a trabalho ao Marrocos, o fotógrafo bissexual Jean (Cyril Collard) descobre que contraiu o vírus do HIV. Revoltado com esta condição e com a iminente chegada da morte, Jean não se intimida e decide que isto não interferirá em sua rotina de encontros gays casuais e com o relacionamento que mantém com a modelo Laura (Romane Bohringer) e seu namorado Samy (Carlos Lopez). Crente em sua “recuperação”, Jean inicia um doloroso tratamento com AZT, enquanto vê sua vida desmoronar aos poucos: ao descobrir que o fotógrafo tem AIDS, Laura arrepende-se de ter transado com ele sem camisinha e desaparece; enquanto isto, Samy mergulha em depressão e envolve-se com um grupo fascista e a prática de sadomasoquismo. O negócio todo acabará mal, muito mal.
– Por que assistir? “Noites Felinas”, um pesadíssimo drama francês quase-autobiográfico, representa o único trabalho para o cinema do compositor e escritor Cyril Collard. É uma película forte, embrulhada em uma roupagem pop (com trilha sonora recheada de músicas de bandas como INXS e New Model Army) e que não poupa o espectador com situações bem barra-pesada. Vale a pena pela forma despojada e caricata com que trata a polêmica da AIDS. Curiosidade: o longa recebeu vários prêmios no César (o Oscar francês), mas Cyril Collard não chegou a ver o sucesso de sua fita; visto que ele próprio faleceu de AIDS quatro dias antes da premiação.

AMOR E RESTOS HUMANOS (Love and Human Remains, 1993)
– Diretor: Denys Arcand
– A história: Numa obscura e anônima cidade do Canadá, David (Thomas Gibson) e Candy (Ruth Marshall) dividem um pequeno apartamento. Ele é um garçom gay, que vive da esperança de um dia voltar a ter o prestígio que possuía em sua infância, quando foi um astro da TV. Ela é uma editora de livros heterossexual, e no passado foi amante de David. Ambos na faixa dos 20 anos, com zilhões de dúvidas e à procura do par ideal, convivendo com uma bizarra galeria de amigos de David e pretendentes de Candy – entre eles, uma professora lésbica -, e ignorando os ataques de um serial killer especializado em apagar garotas na região. Por acaso, o tal assassino em série é um deles…
– Por que assistir? Depois de ganhar atenção da crítica com “O Declínio do Império Americano” e antes de conquistar também o público com sua “continuação”, o ótimo “Invasões Bárbaras”, o cineasta canadense Denys Arcand mandou ver neste obscuro e instigante drama sobre a tida geração X, como era chamada a juventude cheia de dúvidas e perspectivas dos anos 90. Embora traga uma gama de personagens gays e lésbicas, o foco aqui não é a diversidade sexual, e sim a busca da felicidade, o drible dos iminentes fracassos e a tentativa de alcançar um futuro bem-sucedido profissionalmente. De todos os longas-metragens similares que entupiram os cinemas da década de 90 (como “Caindo na Real” e “Vida de Solteiro”), “Amor e Restos Humanos” é provavelmente o melhor e mais divertido.

FILADÉLFIA (Philadelphia, 1993)
– Diretor: Jonathan Demme
– A história: Andrew Beckett (Tom Hanks) é um jovem e promissor advogado empregado em uma das mais tradicionais e importantes firmas de advocacia da Filadélfia. Além de ser bem-sucedido profissionalmente, Beckett mantém um duradouro romance com o espanhol Miguel Alvarez (Antonio Banderas). Tudo parece perfeito, até que Beckett descobre ser soropositivo. Quando seu chefe toma consciência da homossexualidade e da doença de seu subordinado, este é sumariamente demitido. Consciente das razões de sua demissão, Beckett decide processar a empresa – o que é considerado de imediato uma causa perdida. Mas Beckett está confiante e, para “botar a empresa no pau”, contrata os serviço do único advogado disposto a enfrentar a barra pesada: o homofóbico Joe Miller (Denzel Washington). Um caso praticamente impossível de se vencer, visto que estamos falando de um gay sendo defendido por um homem negro…
– Por que assistir? Assim como “Meu Querido Companheiro”, “Filadélfia”, o primeiro trabalho de Jonathan Demme após “O Silêncio dos Inocentes”, ficou marcado como o primeiro longa-metragem do mainstream (afinal, foi produzido pela TriStar, uma das grandonas da época) a mexer com o tema da AIDS. Embora seja renegado pela massa ativista dos direitos gays, que consideram a obra “falsa, romanceada demais e cheia de erros médicos e legais”, ninguém pode negar que “Filadélfia” é um trabalho capaz de destruir qualquer um. E a hipnótica atuação de Tom Hanks é simplesmente uma das dez melhores da década (sim, sou eu mesmo, o Zarko, que está dizendo isso). Um Oscar realmente merecido. 😀

O BANQUETE DE CASAMENTO (Hsi Yen/The Wedding Banquet, 1993)
– Diretor: Ang Lee
– A história: Radicado nos Estados Unidos, o chinês Wai-Tung Gao (Winston Chao) torna-se um bem-sucedido empreendedor no ramo imobiliário e leva uma vida bastante sossegada e promissora ao lado de seu namorado americano Simon (Mitchell Lichtensein) em Manhattan. A única dor-de-cabeça na vida de Gao é sua tradicionalíssima família chinesa, que jamais pode sequer desconfiar de suas preferências. O pior é que os pais de Gao inventaram de pressionar o rapaz para arrumar uma namorada e um casamento. Quando o executivo descobre que seu clã decidiu sair da China para apertá-lo pessoalmente, ele inventa um suposto casamento com Wei-Wei (May Chin), uma de suas inquilinas, apaixonada por ele.
– Por que assistir? Porque é o primeiríssimo grande sucesso de Ang Lee, o longa-metragem que lhe deu projeção internacional e lhe possibilitou realizar trabalhos tão diversificados quanto “O Tigre e o Dragão”, Hulk e, mais recentemente, “O Segredo de Brokeback Mountain”. Vencedor do Urso de Ouro em Berlim e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é uma comédia leve, divertida e deveras bem-humorada, que nem por isto deixa de ter sua importância para o tema. Uma prova concreta de que não importa o gênero: Ang Lee é mesmo um mestre na arte de trabalhar o sentimento de seus personagens.

ALMAS GÊMEAS (Heavenly Creatures, 1994)
– Diretor: Peter Jackson
– A história: Em 1954, na Nova Zelândia, as adolescentes Pauline Parker (Melanie Lynsky) e Juliet Hulme (Kate Winslet), conhecem-se no colégio e rapidamente fazem amizade, que já de início não é bem vista pela família rica de Juliet – afinal, Pauline é pobre. O que não é empecilho para as duas, que estabelecem uma relação obsessiva e quase doentia. Juntas, Pauline e Juliet criam uma espécie de “universo paralelo próprio”, chamado Quarto Mundo, e dedicam-se exaustivamente a estudar um local chamado Borovnia, descoberto em um conto medieval. À medida que Pauline e Juliet tornam-se mais e mais unidas, suas respectivas famílias discutem uma forma de separá-las. Temendo ficar longe uma da outra, as meninas desesperam-se, e Juliet decide assassinar a mãe de Pauline…
– Por que assistir? Inspirado num pavoroso caso real que assombrou a Nova Zelândia dos anos 50, “Almas Gêmeas” é o quarto trabalho dirigido pelo excelentíssimo senhor Peter Jackson, e a fita que provou aos quatro cantos que ele não é apenas capaz de produzir criativas jóias do terror gore. Com um ótimo roteiro, narrativa absolutamente surreal (em certo momento, Pauline e Juliet “entram” em um filme de Orson Welles) e na base do boca-a-boca, “Almas Gêmeas” tornou-se cult instantâneo, conquistou vários prêmios e ainda lançou uma certa desconhecida chamada Kate Winslet.

MORANGO E CHOCOLATE (Fresa y Chocolate, 1994)
– Diretor: Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabio
– A história: Em Havana, 1979, o estudante David (Vladimir Cruz), defensor ferrenho do comunismo e das virtudes da Revolução Cubana, cai em depressão ao descobrir que sua namorada irá casar-se com outro homem. Certo dia, conhece o artista Diego (Jorge Perugorría), homossexual e dissidente que luta incansavelmente contra a discriminação que sofre em seu próprio país. Diego interessa-se por David, e decide alimentar esta amizade com o objetivo e a esperança de quebrar a barreira entre eles e conseguir levar o rapazola para a cama. Só que, imprevisivelmente, a amizade entre os dois cresce e toma outros rumos.
– Por que assistir? Polêmico e melancólio, o drama “Morango e Chocolate” foi um dos primeiros longa-metragens estrangeiros e fora do circuitão ianque a ser lançado em grande circuito no Brasil. É também a fita que chamou a atenção do mundo para o cinema produzido em Cuba, e que despertou o interesse do próprio público cubano em seus filmes – lançado inicialmente em apenas uma sala, conquistou uma impressionante média de 4 milhões de espectadores. Inspirado no conto “El Bosque, el Lobo y el Homem Nuevo”, do roteirista Senel Paz, “Morango e Chocolate” usa o homossexualismo para questionar os alicerces da ditadura de Fidel Castro e incitar o povo cubano a lutar por dignidade e por respeito com relação às suas vontades. Tão tocante quanto subversivo!

O PADRE (Priest, 1994)
– Diretor: Antonia Bird
– A história: Desginado para trabalhar em uma paróquia de Liverpool, o idealista padre Greg Pilkington (Linus Roache) impressiona-se com o fato de que o pároco local, Matthew Thomas (Tom Wilkinson), vive abertamente com uma mulher. A modernidade do pároco faz com que Greg questione sua própria posição. Pra piorar ainda mais as coisas, Greg, que é gay, não consegue evitar seus impulsos e apaixona-se por um cara que conhece em um pub, o sensível Graham (Robert Carlyle). Ao ouvir a confissão de uma garota que sofre abuso sexual de seu próprio pai, Greg entende que o problema não está nele, e sim em Deus, e sofre ao conviver com a dor silenciosa – o que o motiva a assumir seu namoro com Graham. Mal sabe o padre que esta atitude criará uma crise sem precedentes na instituição católica de Liverpool, e em sua própria vida.
– Por que assistir? Provavelmente o mais polêmico título desta lista, “O Padre”, dirigido por Antonia Bird (a mesma de “Mortos de Fome”), decididamente é para poucos. Além de criticar duramente a instituição religiosa católica, prega que há muitos erros e muitas injustiças na Igreja, além de apresentar uma pesadíssima cena de sexo entre Linus Roache e Robert Carlyle (descoberto nesta película). Difícil sim, mas não ruim; é um dos poucos longas dissecados aqui cuja exibição é praticamente obrigatória.

LEIA MAIS:
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 2
:: O Cinema Saído do Armário: PARTE 3


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