A ARCA - A arte em ser do contra!
 
Menu du jour! Tutu Figurinhas: o nerd mais bonito e inteligente dessas paragens destila seu veneno! GIBI: Histórias em Quadrinhos, Graphics Novels... é, aquelas revistinhas da Mônica, isso mesmo! PIPOCA: Cinema na veia! De Hollywood a Festival de Berlim, com uma parada em Nova Jérsei! RPG: os jogos de interpretação que, na boa, não matam ninguém! ACETATO: Desenhos animados, computação gráfica... É Disney, Miyazaki e muito mais! SOFÁ: É da telinha que eu estou falando! Séries de TV, documentários... e Roberto Marinho não está morto, viu? CARTUCHO: Videogames e jogos de computador e fliperamas e mini-games e... TRECOS: Brinquedos colecionáveis e toda tranqueira relacionada! Tem até chiclete aqui! RADIOLA: música para estapear os tímpanos! Mais informações sobre aqueles que fazem A Arca Dê aquela força para nós d´A Arca ajudando a divulgar o site!
Artigo adicionado em 10/03/2006, às 08:39

V DE VINGANÇA: uma boa surpresa para os pessimistas
Eu quero ser o V quando crescer! ^_^ LEIA MAIS: :: Criador e Criatura: confira a BIOGRAFIA DE ALAN MOORE :: Machine Boy elege as 10 OBRAS ESSENCIAIS DE ALAN MOORE :: Zarko faz a lista dos 12 FILMES MAIS SUBVERSIVOS DO CINEMA :: Links: SITE OFICIAL | TRAILER :: Outros Filmes Inspirados na Obra […]

Por
Emílio "Elfo" Baraçal


LEIA MAIS:
:: Criador e Criatura: confira a BIOGRAFIA DE ALAN MOORE
:: Machine Boy elege as 10 OBRAS ESSENCIAIS DE ALAN MOORE
:: Zarko faz a lista dos 12 FILMES MAIS SUBVERSIVOS DO CINEMA
:: Links: SITE OFICIAL | TRAILER
:: Outros Filmes Inspirados na Obra de Moore: Constantine | Do Inferno | Liga Extraordinária

“Uma visão descompromissada do futuro pelos criadores da trilogia Matrix”

Quando a frase acima apareceu nos pôsteres de V de Vingança, vários fãs do gibi ao redor do mundo ficaram simplesmente revoltados (que ironia) com a possibilidade de os irmãos Andy e Larry Wachowski simplesmente destruírem a adaptação para o cinema de uma das produções gráficas mais aclamadas do mundo. Ok, é impossível agradar gregos e troianos e isso com certeza não ocorrerá, mas aposto que uma coisa vai acontecer: você, se é fã de quadrinhos e em particular, da obra original, provavelmente vai ter uma positiva surpresa. É sabido que apesar do brilhantismo de Matrix, suas sequências, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, respectivamente, não são grande coisa e isso colocou em dúvida o talento dos dois. Dessa forma, aliada à frase de abertura desta crítica e mais outros variados fatores (como por exemplo, um estreante na direção, mas já falo disso mais adiante), a chance do filme ser uma bomba eram enormes. Eram.

Este que vos escreve não só é um grande fã da história criada originalmente por Alan Moore, como é a minha história favorita escrita por ele. Devido a isso, claro, fiquei muito, mas muito nervoso com o que iria ver. Inicialmente, algumas coisas não estavam me agradando, como a transposição de Evey, uma das personagens principais, para as telonas. Entretando, aos poucos, as coisas foram se encaixando e culminando em um filmaço, tanto para quem leu o gibi quanto para quem é marinheiro de primeira viagem. Inclusive, a técnica de narrativa do roteiro escrito pelos irmãos Wachowski me lembra e muito as técnicas usadas no inteligentíssimo Os Suspeitos. Sim, aquele mesmo que levou o Oscar de Melhor Roteiro Original uns anos atrás e deu um outro para Kevin Spacey de Melhor Ator Coadjuvante.

Bom, como as partes técnicas demandam muito espaço (que veremos depois), vamos à história: em um futuro não muito distante, guerras mudaram radicalmente o panorama político e geográfico mundial. Uma das nações mais afetadas foi a Inglaterra, imersa no caos. Porém, desse caos, um grupo aproveitou e aplicou um golpe de estado, conseguindo o poder. De forma quase subconsciente, esse grupo fez com que a população acreditasse que eles eram a solução. A paz e a ordem seriam trazidas, mas ao custo da liberdade em todos os sentidos. As formas de arte foram praticamente banidas (pois incitam à filosofia, pensamento crítico, enfim, ao questionamento), sendo divulgado só aquilo aprovado pelo governo. No meio desse cenário, surge um homem, conhecido apenas como “V” (o fantástico e macabro Hugo Weaving), que através de técnicas terroristas, começa a atacar os pilares desse sistema ditatorial e subversivo. Porém, em um desses ataques, ele é obrigado a trazer para seu esconderijo uma garota chamada Evey Hammond (a belíssima e quem sabe minha futura esposa – né, Zarko? – Natalie Portman), uma trabalhadora simples e sem grande futuro na vida. Todas as atitudes e ideologias de V acabam sendo questionados por ela, o que faz com que ele se revele uma pessoa única. Ao mesmo tempo em que é um assassino sanguinário, é um homem educado, letrado e galante. O governo, claro, precisa dar cabo dele ao mesmo tempo em que manipula a população na tentativa de minimizar os planos de V. E é durante as investigações que o passado e o plano de V vão sendo revelados até culminar em um clímax envolvente e empolgante.

O governo é opressão, é fascismo e ordem. V é anarquia, transformação e liberdade. Porém, é através de Evey, que nada mais é do que uma analogia da figura do povo em uma personagem que os questionamentos, as dúvidas e as incertezas (ou não) de até onde o ser humano pode ir para buscar sua liberdade, seja individual ou coletiva. “V de Vingança” não promete e nem dá todas as respostas, mas faz todas as perguntas pertinentes e por isso, dessa forma, é muito bem sucedido.

Por outro lado, deve-se agora analisar a coisa toda como adaptação. Em primeiro lugar, “V de Vingança” é uma obra complicada e o tempo disponível de filme são meras duas horas e quinze. Como toda adaptação, cortes foram feitos. Graças ao bom Deus, todas as cenas essênciais estão ali. Isso, quando não transposta de forma literal, ao menos bem adaptada, sem perder o seu significado. O que contribui bastante para isso na verdade não é o número de cenas cortadas, mas sim o fato de terem cortado ou mesclado vários personagens. No original, há uma personagem, Rose, que fica viúva. No filme, ela não dá nem as caras ou ao menos é citada. Em outras palavras, ela não existe na produção. Analisando isso, o longa não sofre do pecado da ultrafidelidade, que geralmente afunda várias adaptações (sim, Sin City é uma rara excessão onde a ultrafidelidade não só não atrapalha como deixa tudo mais perfeito). Outro ponto positivo do corte é que o roteiro pôde focar nas personagens propostas. V, por exemplo, é retratado muito mais como uma ideologia do que como um homem. Uma das razões de ele ser tão invencível é que você pode matar um homem, mas não um ideal. V representa verdade, resistência e individualismo. Entretanto, um passado misterioso, que o faz agir vingativamente, pode condenar seu idealismo político. Até mesmo Evey, que me incomodou no começo (não por culpa de Natalie, que está impecável, mas pelo modo como a personagem foi escrita) por ser bem diferente do original, vai se tornando aos poucos a mulher que todos os fãs da graphic novel curtem.

Outra nítida preocupação foi a idéia de ser um filme acessível a todos, leitores de quadrinhos ou não, sem fazer a história perder sua natureza e isso eles conseguem. Não há ação demais nem é parado demais. O suspense, os plots, tudo é bem dosado. Até o “dagger time” (em alusão ao efeito “bullet time” criado pelos irmãos Wachowski, mas adaptado para adagas) só é usado uma única vez, não sendo um “filhote de Matrix”. Inclusive, uma ou outra solução em relação a algumas coisas ficaram melhores do que as idéias de Alan Moore. Sei que provavelmente vão me xingar por isso, mas enfim, se eu consegui enxergar isso, por que não outra pessoa?

Quanto às caracterizações, uma única coisa me preocupava em V: a voz de Hugo Weaving. Tendo sido imortalizado como o Agente Smith da trilogia Matrix, com sua voz característica e inconfundível, fiquei imaginando quando apareceria o momento em que ele diria algo como “É inevitável, Srta. Hammond”. Mas não, não é isso que acontece. Quase não dá pra reconhecer a voz de Weaving, que, combinado com maneirismos e certos modos de se portar, dão um toque único a V, já que com a máscara não é possível ver nada de seu rosto, o que limita bastante a interpretação. Porém, Weaving é tão brilhante que nada disso atrapalhou, realizando um ótimo trabalho. V, ainda bem, foi muito bem escrito e interpretado. E não se preocupem, fãs, ele não tira a máscara! Já Evey, é um caso diferente.

Natalie é uma ótima atriz. Claro, deslizes como Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith existem e nem é culpa dela (maldito seja, George Lucas!), mas aqui houveram alguns probleminhas, que talvez estejam ligados a como a personagem foi escrita e a como o filme possa ter sido dirigido inicialmente. A Evey das telas é muito mais forte do que no gibi. No celulose, ela é mais frágil, mais nova, bem inocente e coisas assim. Aos poucos ela vai passando por mudanças que a tornam mais forte e a fazem enxergar os propósitos e idéias de V, culminando em uma transformação radical. Nas telas, Evey é mais forte, decidida e questionadora. Porém, conforme a película vai caminhando, ela vai se transformando na personagem dos quadrinhos, ao menos da metade para o final, na mesma forma, mantendo uma certa essência. A relação dela com V é 95% perfeita, ainda bem. Digo “95%” porque os roteiristas insistiram em colocar no final, um climazinho de romance entre ela e V, coisa que é inexistente no quadrinhos e completamente desnecessária. Bem, é como disse um amigo meu: “Todo mundo que leu a HQ ficaria muito revoltado… mas o espectador médio – essa divindade abstrata cultuada pelos grandes estúdios nos grandes templos da pesquisa qualitativa de opinião – adora esse tipo de lenga-lenga sentimentalóide…”

Outro personagem que está bem diferente é o Inspetor-Chefe Finch (através do ótimo Stephen Rea). Nos quadrinhos, ele passa de um cara até certo ponto tranquilo e com vida tediosa e rotineira para alguém que se vê preso na necessidade de pegar V, transformando-se em alguém ora paranóico, ora perseguidor e ora lunático. No longa, é alguém caçador, implacável, parecendo em alguns momentos com o personagem de Tommy Lee Jones em O Fugitivo, mas com mais profundidade. Já um personagem modificado que eu curti bastante foi o Líder (no caso do filme, renomeado como “Chanceler”). Nos quadrinhos, ele interage bastante com seus subordinados, variando entre o grosso e estúpido e o ponderado e estratégico. Já tanto a idéia para o personagem quanto o esquema de interpretação foram mudados. Na película, o Chanceler é muito mais autoritário, mal-educado, exigente e ditatorial, graças à performance do talentoso ator John Hurt. A idéia diferente para o papel foi o simples fato de mantê-lo numa tela de vídeo, agindo com seus subordinados como se estivessem em uma vídeo-conferência. Isso passou uma ótima impressão de que se tratava de alguém intocável, praticamente invulnerável. Lógico que, V mostra que não é bem por aí, hehehe…

A direção de “V de Vingança” ficou por conta do novato James McTeigue. Ele sempre trabalhou nos bastidores, como, por exemplo, sendo assistente de direção na trilogia Matrix. Para um estreante, que ainda por cima pega uma obra complexa pela frente, o cara realizou um ótimo trabalho. Inicialmente, eu senti que tudo estava ainda um pouco perdido, com alguns personagens (como a própria Evey) mal adaptados ou perdidos, mas rapidamente as coisas tomaram um rumo certo, criando o clima perfeito para a produção, que ainda bem, não ficou “pop” demais. Sua “pegada” impôs um ritmo bem cadenciado, sem ser algo só com ação sem cérebro ou meio “geração MTV”. Claro que, como fã da obra, fico imaginando essa história na mão de alguém mais acostumado à essa cadeira tão importante, como David Fincher (diretor de pérolas como Clube da Luta), por exemplo. Não só eu, como meu amigo Zarko teria surtos, claro.

Em suma, é um ótimo filme no geral, que poderia ter se aprofundado ainda mais nas questões políticas, mas que trouxe isso na medida necessária para não ficar chato ou tedioso demais e em prol dos que não lêem quadrinhos. As questões foram levantadas, algumas respondidas, outras ficam por sua conta. E lembre-se, meu caro, lembre-se do cinco de novembro…

V de Vingança (Título Original: V for Vendetta) / Ano: 2005 / Produção: EUA-Alemanha / Direção: James McTeigue / Roteiro: Andy & Larry Wachowski / Elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Stephen Fry, John Hurt / Duração: 132 minutos


Quem Somos | Ajude a Divulgar A ARCA!
A ARCA © 2001 - 2007 | 2014 - 2024