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Artigo adicionado em 29/03/2006, às 07:34

O CINEMA SUBVERSIVO EM 12 EXEMPLOS
Anarquia, caceta! LEIA MAIS: :: Crítica: V DE VINGANÇA :: Criador e Criatura: confira a BIOGRAFIA DE ALAN MOORE :: Machine Boy elege as 10 OBRAS ESSENCIAIS DE ALAN MOORE Então, o controvertido V de Vingança finalmente chega aos cinemas brasileiros. Como todos aqui já devem estar cansados de saber, trata-se de uma adaptação para […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


LEIA MAIS:
:: Crítica: V DE VINGANÇA
:: Criador e Criatura: confira a BIOGRAFIA DE ALAN MOORE
:: Machine Boy elege as 10 OBRAS ESSENCIAIS DE ALAN MOORE

Então, o controvertido V de Vingança finalmente chega aos cinemas brasileiros. Como todos aqui já devem estar cansados de saber, trata-se de uma adaptação para os cinemas de uma das mais cultuadas sagas em HQ da história, escrita pelo mestre Alan Moore e ilustrada por David Lloyd. E a palavra controvertido não vem apenas do fato de o longa-metragem ser produzido pelos mesmos Irmãos Wachowski de Matrix (o que nos dá uma dose generosa de MEDO, sejamos sinceros) ou do temor dos fãs da graphic novel em ver sua obra destruída nas telonas. Vem, e muito, do fato de “V de Vingança”, o gibi, ser uma obra altamente rebelde e subversiva*.

Subversiva? Não, não, impressão sua. A história da HQ só fala de um homem mascarado resistindo contra um sistema autoritário e repressor numa Inglaterra “paralela”, pregando a anarquia e inspirando o povo a lutar a favor do que acha certo. Só isso, nada mais adequado e politicamente correto, concorda? 🙂

* (Vejam bem: quando digo “REBELDE”, não me refiro àquela coisa exibida pelo SBT com um bando de pirralhos filhinhos-de-papai que acreditam que ser “rebelde” é andar com a gravatinha frouxa e os cabelitchos coloridos em pé. Aquilo só é subversivo porque cinco minutos de exibição são suficientes pra fazer todo mundo se rebelar e invadir a central da emissora na base da porrada!)

Este lance de usar o cinema como palco para destilar posições socialistas (ou anti-socialistas), claro, não é novidade alguma. Uma série de filmes polêmicos ousaram usar seus enredos para questionar política, sociedade, religião, sexualidade e outros assuntos considerados tabus. Alguns cineastas, como o dinamarquês Lars Von Trier, o italiano Pier Paolo Pasolini, o brasileiro Glauber Rocha e o norte-americano Oliver Stone, usaram os filmes para se posicionar perante a hierarquia e transformaram suas filmografias em manifestos tão inovadores quanto perigosos, deixando censores com os cabelos em pé, a crítica dividida e o público extasiado. Será este o destino de “V de Vingança”, o filme? Tornar-se um marco do cinema subversivo e mudar opiniões? Ou apenas sumir no limbo cinematográfico com um rótulo de “adaptação chumbrega”? Vai saber… a gente nunca sabe o dia de amanhã, não é mesmo?

De qualquer forma, se você adora ver a telona pegando fogo (como eu… hehehe), o momento é agora. Portanto, eis uma bela seleção com 12 longas explosivos, polêmicos e nada menos que excelentes! Mas não vá ter idéias subversivas… vai que apareça aí uma facção rebelde querendo me sacrificar só porque não curto Harry Potter ou algo do gênero… 🙂

:: TERRA EM TRANSE, de Glauber Rocha

Cultuado por muitos, odiado por outros tantos (que o acusam de ser intelectualizado e vazio demais) e com uma lista de fãs com nomes impressionantes como Martin Scorsese, o brasileiríssimo Glauber Rocha (1938-1981), criador do chamado Cinema Novo e idealizador da máxima “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, era também um garoto-problema que gerou obras polêmicas até a medula, como “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Seu longa mais falado, entretanto, é o cruel Terra em Transe (1967), que representa um belíssimo chute nas bolas da nossa “política” em plena época de ditadura militar. Não à toa, bastou um dia em exibição para que o governo proibisse a fita em todo o território nacional… Na história, ambientada na fictícia cidade de Eldorado, o idealista e anarquista poeta e redator Paulo Martins (Jardel Filho) lidera um movimento contra o odioso senador Porfírio Diaz (Paulo Autran). O escroto Diaz não tem problemas em declarar que odeia seu povo e pretende eleger-se imperador de Eldorado apenas para ver seus “súditos” fazendo-lhe suas vontades mais absurdas… Recentemente, “Terra em Transe” ganhou uma versão restaurada em 35mm nos cinemas. :: Disponível em DVD

:: TEOREMA, de Pier Paolo Pasolini

Um filme sobre um anjo poderia ser subversivo? Yep. Ao menos quando estamos falando de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), um dos nomes mais trágicos e controversos do cinema italiano. Especialista em realizar trabalhos de forte cunho intelectual, político e sexual, Pasolini era mestre em escandalizar a política fascista, a intocável burguesia e o público de sua época com roteiros pra lá de metafóricos. Cá entre nós, acho a filmografia do indivíduo meio indigesta (para não dizer escatológica demais), já que com Pasolini não tinha meio-termo. Era 8 ou 800.000: ele não queria nem saber e tascava nudez, sexo e profanações a rodo em seus longas. Era amar ou odiar com todas as forças infinitas do universo (!). No magnífico Teorema (1968), entretanto, o papo é outro. O cineasta utiliza uma leveza impressionante para contar a história de um viajante misterioso (Terence Stamp, Elektra), que chega a uma pequena vila em Milão e, aos poucos, envolve-se sexualmente e intelectualmente com cada um dos membros da casa na qual está hospedado: empregada, mãe, filho, filha, e por último, o pai. Quando o hóspede (que, mais tarde, descobre-se ser um anjo) se vai, o caos impera. Se você assiste a “Teorema” superficialmente, vê nada menos que um drama meio sem sentido. Um olhar mais profundo e enxerga-se uma crítica explosiva à burguesia fria e uma incitação clara à anarquia religiosa. Depois disto, Pasolini escandalizaria o mundo mais uma vez (com “Saló, os 120 Dias de Sodoma”) e seria brutalmente assassinado em 1975. :: Disponível em DVD

:: LARANJA MECÂNICA, de Stanley Kubrick

Este aqui ninguém é louco de dizer que é ruim (bem… talvez a Srta.Ni :-D). Comentado à exaustão até hoje, o embasbacante Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) é nada menos que o mais elogiado e também o mais polêmico longa comandado pelo genial Stanley Kubrick (1928-1999). “Laranja Mecânica” é também o estado robótico e praticamente vegetativo na qual o marginal, líder de gangue, niilista, estuprador e assassino Alex DeLarge (Malcolm McDowell) é convertido após ser capturado pela polícia depois de mais um de seus atos ultraviolentos. Para ter sua pena reduzida, o homicida fanzoca de Beethoven recebe uma proposta do governo e serve de cobaia a um novo experimento. Submetido a este esperimento, que consiste numa “terapia inovadora” (bem, tratamento de choque e lavagem cerebral seriam termos mais condizentes…), Alex – ou 655321, como é chamado depois da operação – perde seus instintos assassinos e adquire repúdio à qualquer manifestação de violência, por menor que seja – e como conseqüência, torna-se presa fácil para o próprio mundo em que vive. Inspirado num ácido best-seller escrito por Anthony Burgess (que defendia que era “melhor optar pela violência do que não optar por nada”), “Laranja Mecânica” foi proibido em diversos cantos do planeta e tornou-se cult instantâneo por supostamente romancear a violência e pregá-la como única forma de defesa. Ao contrário: num de muitos significados para sua obra, Stanley Kubrick defende que a violência já está impregnada no sistema e que não há formas de fugir dela. :: Disponível em DVD

:: ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO, de Luis Buñuel

Acostumado a contar enredos cruéis com uma sutileza fora do comum, o espanhol Luis Buñuel (1900-1983), também conhecido como o pai do surrealismo no cinema, possui uma filmografia marcada por violentas pauladas na elite européia – vide os perturbadores “A Bela da Tarde”, “O Discreto Charme da Burguesia” (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1972) e o esquisitão “O Anjo Exterminador”, na qual retrata um grupo de ricaços que não conseguem sair de um casarão. Seu longa mais subversivo, porém, é também o aparentemente mais sutil e o tido como o melhor de sua carreira: em seu último trabalho, Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet Obscur Objet du Désir, 1977), Buñuel aproveita uma trama simplista para destilar seu derradeiro golpe na sociedade burguesa, acostumada a rotular a parcela humilde como fracassada. Assim, inverte as cartas do jogo e conta o martírio do milionário sessentão Don Mateo (Fernando Rey), obsessivamente apaixonado pela bela e pobretona dançarina Conchita, de apenas 18 anos – e convertido em um títere nas mãos da diabólica garota. Conchita, vivida aleatoriamente por duas atrizes, Carole Bouquet e Angela Molina, faz Don Mateo de gato e sapato. Apenas um drama romântico? Nada disso: o excelente roteiro de Buñuel e seu habitual colaborador Jean-Claude Carrière (de Reencarnação) abrange a política e o eterno conflito de classes sociais, representando um belo de um giro de 180º na submissão do pobre para com o rico, e pregando as vantagens de tomar as atitudes da maquiavélica Conchita como exemplo a ser seguido.

:: MAD MAX, de George Miller

Com a única pretensão de ser um longa independente de ação para puro entretenimento do público, o excelente Mad Max (1979), terceiro filme do australiano George Miller (“As Bruxas de Eastwick”) e primeiro papel central da carreira do excelentíssimo senhor Mel Gibson, foi muito mais que isto. Pra começar, custou apenas US$ 350 mil e rendeu mais de US$ 100 milhões no mundo todo, gerando até duas continuações legais pero no mucho. Como se não bastasse, o enredo de “Mad Max”, disfarçado de fita de pancadaria, trouxe nas entrelinhas uma ácida visão de um futuro dominado pela anarquia e pela violência descontrolada – há quem diga que esta visão é sugerida como solução, mas enfim… Na história, ambientada numa utópica e perigosíssima Austrália paralela, o policial Max Rockatansky (Gibson), mais conhecido como Mad Max, persegue e elimina um integrante de uma gangue local. Em represália, o líder da gangue mata a esposa, o filho e o melhor amigo de Max. O ato enlouquece o indivíduo, que decide mandar as poucas regras às favas e mergulha numa espiral de sangue para capturar os algozes de sua família. A suposta apologia à violência escondida nas entrelinhas do roteiro certamente passou despercebida pela censura, que preocupou-se apenas com o forte sotaque australiano de Mel Gibson. Melhor para nós: subversivo ou não, ganhamos um filmaço com F maiúsculo! E também uma música bacanésima da Tina Turner no terceiro filme… 😉 :: Disponível em DVD

:: AKIRA, de Katsuhiro Otomo

Alguém aí acreditaria se eu dissesse que um dos mais impressionantes banhos de sangue no cinema dos anos 80, senão “O” mais impressionante, veio de um desenho animado? Pois é. No final dos anos 80, o já clássico Akira (1988), de Katsuhiro Otomo, chocou o público com uma história pra lá de sanguinária, uma fantástica e inovadora técnica de animação do próprio Otomo e uma visão altamente apocalíptica do futuro devastado pela guerra química. Em resposta à inovação técnica e à ousadia do escritor (que adaptou seu próprio mangá para o cinema), o público lá fora lotou as salas de projeção. O roteiro de “Akira” ambienta a ação em Neo-Tóquio (na verdade, Tóquio reerguida depois de devastada pela 3.ª Guerra Mundial), uma metrópole dominada pelo caos. O jovem Tetsuo envolve-se em um acidente e é seqüestrado pelo governo para ser submetido a um experimento militar. Seu melhor amigo, Kaneda, integrante de uma gangue de motociclistas, decide unir-se a facções terroristas para peitar o Poder Militar e resgatá-lo. O que Kaneda não sabe é que os tais experimentos revelaram um enorme e tenebroso poder psíquico em Tetsuo – poder este que, uma vez libertado, domina Tetsuo e transforma-o numa ameaça ao futuro da humanidade. É subversivo simplesmente por ousar colocar marginais e terroristas como heróis e o governo e o exército como os vilões. Assista usando um babador! 😀 :: DVD, só importado…

:: ELES VIVEM, de John Carpenter

Sim, eu sei. John Carpenter sabe ser bem tosquinho quando quer. Mas também sabe ser divertido, genial e também politizado quando acorda de bem com a vida. Falo de Eles Vivem (They Live, 1988), uma descarada homenagem aos bizarros filmes B de ficção-científica dos anos 40/50. Embora seja um título obscuro na irregular carreira do cineasta, os entusiastas de Carpenter (eu incluso, hohoho) não titubeiam em afirmar que este é seu trabalho mais importante até hoje, já que, ao melhor estilo George A. Romero, Carpenter usa um enredo qualquer nota para tratar de questões bem mais profundas. “Eles Vivem” bombardeia um alvo delicado: a mídia. Então, conhecemos o trabalhador braçal John Nada (o ex-campeão mundial de luta livre Roddy Piper), homem humilde que, durante uma operação de choque entre manifestantes e a polícia de Los Angeles, encontra uma caixa com óculos especiais que permitem enxergar uma pavorosa verdade: o planeta JÁ FOI invadido por seres alienígenas que, disfarçados de humanos, controlam nossa existência através de mensagens subliminares escondidas em jornais, TV, outdoors, propagandas, placas… Assim, John Nada funda um movimento de resistência para desmascarar os ETs. De um filme engraçadíssimo (sim, isso mesmo) e criativo, “Eles Vivem” passou a representar uma metáfora explosiva para a alienação do povo pela mídia e pela televisão. Obrigatório!

:: SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, de Peter Weir

E aqui é o momento em que você certamente me xingará. 🙂 Digo isto pois não sou mesmo muito fã de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), uma produção cultuada ao extremo. Bem, o fato é que até curti o filme, mas do jeito “assisti-uma-vez-na-vida-e-chega”. Ainda assim, não há como negar a importância deste belíssimo e lacrimejante trabalho do cineasta Peter Weir (Mestre dos Mares), acostumado a retratar personagens comuns em situações-limite – e Robin Williams que o diga, já que este foi um de seus primeiros (elogiados) passos no drama. E o que há de subversivo aqui? Ah, nada não. Só a história de um grupo de estudantes reprimidos do ultra-hiper-mega-rígido internato Welton, em Vermont, que sofrem o diabo depois de conhecer e cultuar o novo professor de inglês, John Keating (Williams), recém-chegado da Inglaterra. Keating, de espírito libertário, desafia o Welton ao “animar” suas aulas, despertando nos alunos a paixão pela poesia e pela liberdade, além do senso de rebeldia para com a rigidez dos pais e das absurdas normas do colégio. Dizer mais é um pecado; se você ainda não assistiu a este surpreendente sucesso de bilheteria, faça a gentileza de correr até a locadora mais próxima – mas leia a matéria inteira primeiro, tá? 😉 :: Disponível em DVD

:: O ÓDIO, de Mathieu Kassovitz

Não dá nem pra acreditar que o simpático Nino Quincampoix, o namorado da Amélie Poulain, seria capaz de comandar este barril de pólvora ambulante num passado não muito distante. Aliás, é correto dizer que o ator e diretor francês Mathieu Kassovitz deve muito de seu prestígio internacional à dona Jodie Foster, que fez a gentileza de descobrir e distribuir em terras gringas o aterrorizante O Ódio (La Haine, 1995), uma das gratas surpresas do cinema dos anos 90. Narrado em P&B e sem nenhum pudor, o enredo de “O Ódio” utiliza a odisséia de três camaradas e imagens reais para traçar um painel da intolerância étnica em Paris – e para dizer indiretamente que vivemos num mundo onde a violência parece ser o único meio de sobrevivência. Mais subversivo que isto, impossível! A história: um garoto árabe, Abdel (Abdel Ghili), é baleado por policiais durante uma manifestação num bairro de periferia e está em coma. Um amigo seu, o judeu Vinz (Vincent Cassel, Fora de Rumo), encontra a arma usada pelo detetive. Durante uma noite, Vinz e seus amigos, o negro Hubert (Hubert Koundé, O Jardineiro Fiel) e o árabe Said (Said Taghmaoui, “I Heart Huckabees”), três categorias marginalizadas pela sociedade, seguem cometendo pequenos delitos. Mas Vinz jura que, se Abdel morrer, ele usará o revólver encontrado para matar o primeiro tira que atravessar seu caminho… “O Ódio” não é para qualquer um, definitivamente. Mas quem arriscar descobri-lo, encontrará um pequeno grande filme. Se a Srta.Ni assiste isto, desiste de casar com o Nino no ato! 😀

:: AS BRUXAS DE SALEM, de Nicholas Hytner

Como “resposta artística” para o inferno astral que foi o macarthismo e para seu então colega Elia Kazan (dedo-duro e mentiroso assumido), o dramaturgo Arthur Miller escreveu a peça teatral “The Crucible”, que comparou a caça aos comunistas promovida pelo senador-e-psicótico-nas-horas-vagas Joseph McCarthy à Inquisição. Uma brilhante tacada de mestre que, no final dos anos 90, foi adaptado para as telonas com uma importância ainda maior. O ótimo As Bruxas de Salem (The Crucible, 1996), dirigido por Nicholas Hytner, pode ser visto como um tapa na cara das instituições religiosas acostumadas a alienar seus fiéis. No enredo, ambientado em Massachussets no ano de 1692, um grupo de garotas praticam alguns “feitiços de amor”. Uma delas, Abigail Williams (Winona Ryder), apaixonada e rejeitada pelo fazendeiro John Proctor (Daniel Day-Lewis, O Mundo de Jack e Rose), quer prejudicar a inocente Elizabeth Proctor (Joan Allen, A Supremacia Bourne), esposa dele. Ao serem flagradas num pequeno ritual e acusadas de bruxaria, a vingativa Abigail corrompe suas amigas e faz uma série de acusações contra os habitantes do vilarejo de Salem, dando o pontapé inicial numa bola de neve que pode destruir a tudo e a todos. Histérico, tenso, injusto e devastador, “As Bruxas de Salem” passou meio em branco por nossos cinemas, mas foi merecidamente descoberto no VHS. :: Disponível em DVD

:: CLUBE DA LUTA, de David Fincher

(Ok, tentarei conter o entusiasmo aqui) Um dos marcos do cinema da década de 90 foi ignorado pelo público médio – que não entendeu bulhufas do recado – e considerado um fracasso em termos de bilheteria. Por outro lado, conquistou fãs devotadíssimos, apresentou um personagem que já é um ícone pop e constatou o talento sem limites de seu diretor. Inspirado no fabuloso livro do mecânico Chuck Palahniuk, o maravilhoso Clube da Luta (Fight Club, 1999), do master David Fincher (“Seven”), é a própria subversão em pessoa! Senão vejam só: o maluco Tyler Durden (Brad Pitt) e seu glorioso amigo Jack (Edward Norton) fundam o tal Clube da Luta, onde homens extravasam a tensão do dia-a-dia na base dos sopapos. Embora uma de suas regras seja “não fale sobre o Clube da Luta”, o grupo ganha cada vez mais adeptos. O que Jack não sabe é que Tyler Durden tem um plano: converter os integrantes de seu clube em seus soldados (ou “macacos espaciais”) e botar em prática o Projeto Caos, cujo objetivo é destruir todas as corporações e recomeçar tudo do zero. Segundo Tyler Durden, “o homem precisa voltar às origens para se sentir humano”. E olhem que isto não é nem uma linha do complicadíssimo e amedrontador enredo da película! Como o espaço é curto aqui – e eu, como fã n.º 1 do filme, poderia falar horas e horas e horas -, só o que digo é: assista. Mas prepare-se para o soco no estômago, o chute nas partes baixas e o peteleco na orelha. :: Disponível em DVD

:: DOGVILLE, de Lars Von Trier

Não se deixe influenciar negativamente pela tão comentada “falta de cenários” aqui, pois nem faz falta: não apenas um fascinante exercício cinematográfico, Dogville (2001), do polêmico dinamarquês Lars Von Trier, é também um trunfo de roteiro e representa o primeiro ato de três chutes nas balls da problemática estrutura governamental dos Estados Unidos – para quem não sabe, trata-se de uma trilogia. Filmado em um enorme galpão e usando em cena apenas alguns elementos cênicos e desenhos no chão para delimitar o espaço das casas, Von Trier inicia aqui a saga de Grace (Nicole Kidman), que chega à pequena cidade de Dogville na tentativa de fugir de um bando de gangsteres. Estamos nos anos 30. Grace é acolhida pelos habitantes do lugar, em especial pelo sonhador Tom Edison (Paul Bettany), que apaixona-se pela graciosa moça. Mas eis que, aos poucos, o povo de Dogville mostra suas garras. E… não, não dá pra contar mais. E se eu ousar explicar por qual razão “Dogville” é subversivo, entregaria de sopetão a grande charada do longa. Basta saber que Lars Von Trier tem idéias bastante semelhantes às dos nossos amigos superheróis do Authority. Hehehe! “Dogville”, considerado pela crítica um dos melhores filmes dos últimos anos, ganhou uma seqüência igualmente ácida, “Manderlay” (2004), e em 2007 ganhará sua terceira e última parte, “Wasington” (isto mesmo, escrito sem o H). :: Disponível em DVD

Então, beleza! Eis aí 12 títulos bem bacaninhas, que provam que o cinema definitivamente não foi feito apenas para entreter e pode muito bem servir de arma, pavio, detonador… Claro que não são os melhores, ou mais importantes: há uma série de fitas tão boas (e tão perigosas) quanto estas, mas como não é possível citar tudo aqui… Enfim, aí está! Mas se você sentir ganas de sair por aí quebrando tudo ou destruindo megacorporações ao ler esta matéria, faça o favor de se controlar e tomar um copo de suco de maracujá. Depois vão dizer que a culpa é minha, aí já viu… 😉


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