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Artigo adicionado em 24/02/2006, às 11:33

Crítica: SERENITY – A LUTA PELO AMANHÃ
Este filme merecia um destino melhor no Brasil… Se você é do tipo que odeia uma crítica longa, vamos ao que interessa: Serenity (2005), a versão para as telonas de Firefly (seriado criado, escrito e dirigido por Joss Whedon) é um filmaço! Aventura Sci-Fi de primeira, cheia de personagens e situações fascinantes, envoltos por uma […]

Por
Os Master


Se você é do tipo que odeia uma crítica longa, vamos ao que interessa: Serenity (2005), a versão para as telonas de Firefly (seriado criado, escrito e dirigido por Joss Whedon) é um filmaço! Aventura Sci-Fi de primeira, cheia de personagens e situações fascinantes, envoltos por uma trilha sonora belíssima – a música que abre o filme ficará na sua cabeça por dias – e tudo muito bem amarrado num ótimo roteiro. Agora eu entendo do quê os tais browncoats (apelido dos fãs da série) tanto se gabam pela internet: se já teve a oportunidade (pra não dizer o privilégio) de assistir, sabe que nenhum elogio é exagerado. Se não… Bem, o propósito deste review é um tanto diferente: é um convite para que todos conheçam um pouco do enredo e personagens, e procurar entender os motivos do fracasso nas bilheterias dessa fantástica produção.

::: A História – 500 anos no futuro: a Terra está morrendo. O número de pessoas é tão grande que seus recursos naturais não bastam para todos. A saída para a humanidade é abandonar o planeta e buscar outra casa. Um novo sistema solar é encontrado, com centenas de mundos; e cada um deles é modificado para servir como uma “nova Terra”. Os líderes dos mundos centrais – que se auto-intitulam “A Aliança Universal” – decidem que todos os outros devem se submeter ao seu controle. Os Independentes, que fazem parte do aglomerado de planetas contrários a essa imposição, enfrentam a Aliança num sangrento conflito e são derrotados. Aos sobreviventes dentre esses rebeldes, resta apenas uma saída: fugir para mundos o mais distantes possível da Aliança e sobreviver à própria sorte de uma vida sem regras. Uma nave pode garantir um trabalho. Uma arma pode garantir que ela permaneça operando.

E nesta situação é que somos apresentados a Serenity, lar e sustento de renegados em comum apenas com a dedicação ao serviço (honesto ou não) que estiver acontecendo. Aqui, um rápido “quem é quem”, pra você não assistir ao filme tão perdido quanto eu. Entre parênteses, o nome do ator/atriz.

Serenity – É a nave, o verdadeiro centro do universo do filme. Tá certo que chamá-la de nave pode ser exagerado: é na verdade um grande pedaço de sucata que pode viajar pelo espaço. Apesar disso, é o ganha-pão de muita gente que ficaria ofendida em ouvir um comentário desses…

Capitão Malcolm “Mal” Reynolds (Nathan Fillion) – Lutando ao lado dos Independentes durante a Guerra pela Unificação, liderou um pelotão de 4.000 soldados durante a batalha de Serenity Valley, um conflito aonde os browncoats foram massacrados, só restando Malcolm e mais dois comandados. É o proprietário da Serenity, e vive por sua tripulação e pela nave – não necessariamente nessa ordem. Também é um sujeito de poucas palavras: atira primeiro, toma o que quer para si e nunca faz perguntas.

Zoe Washburne (Gina Torres) – Um dos dois únicos browncoats a sobreviver a Batalha em Serenity Valley, Zoe é da mais alta confiança e estima de Reynolds. Casada com o piloto Wash, é daquele tipo de mulher capaz de transmitir confiança com um só olhar… e que também parece ser capaz de detonar qualquer um na porrada!

Hoban “Wash” Washburne (Alan Tudyk) – Um exímio piloto e a presença mais bem- humorada da nave – prova disso é que são dele as tiradas mais bacanas num filme que só tem diálogos bacanas. Já perdeu as conta de quantas vezes salvou a Serenity da destruição.

Kaywinnit Lee “Kaylee” Frye (Jewel Statie) – A faz-tudo da nave. Quase sempre enfiada entre as ferragens da SERENITY para algum conserto de última hora, é a doce garota dos sonhos de muito nerd: linda, esperta e intima no conhecimento, manutenção e operação de tudo o que anda, tem luzes e não é feito de carne. Vive com a cabeça nas nuvens pelo Dr. Simon, que parece brevemente notar que ela existe.

Jayne Cobb (Adam Baldwin) – Apesar de fazer o tipo “Eu penso, mas dói muito”, Jayne é uma espécie de consciência da nave: se ele diz que algo está errado, pode acreditar que a coisa vai ficar feia! Adora quebrar braços e pernas, mas tem especial predileção por armas pesadas – de preferência aquelas que estouram coisas.

Simon Tam (Sean Maher) – Médico de grande gabarito e prestigio, jogou tudo para o alto para ajudar a irmã. Hoje, ele paga pela “estadia” de ambos na Serenity ajudando na restauração física da tripulação. Não tem qualquer medo de confrontar o Capitão e é o único que conhece os mistérios no passado de River.

River Tam (Summer Glau) – A primeira vista, não é possível imaginar nada de ruim da frágil garota, quase sempre em estado catatônico devido ao autocontrole de seu latente poder sensitivo. Mas a coisa funciona de outro jeito. Se houvesse uma briga entre River, A Noiva (personagem de Uma Thurman em Kill Bill) e Miho (a ninja que Frank Miller criou para Sin City), eu arriscaria o seguinte palpite: A Noiva terminaria numa cadeira de rodas e Miho, correndo e chorando à procura do buraco mais escuro que existe, e por lá se escondendo. River Tam poderia ser descrita (bem superficialmente) assim: uma máquina destruidora de pessoas.

Inara Serra (Morena Baccarin) – O trabalho de Inara é um tanto semelhante ao das gueixas: o serviço de acompanhante é uma profissão de destaque e respeitabilidade, já que as mulheres são treinadas desde cedo para desempenhá-lo com classe, elegância e refinamento. Há um passado obscuro entre Inara e Malcolm; e dá pra perceber o quanto ela o afeta já que são os únicos momentos em que ele fica sem fala.

Pastor Book (Ron Glass) – Apesar de pouco aparecer no filme, Book é um importante apoio para Malcolm e um balanço espiritual para o seu comportamento rude, além de conhecer muito sobre as atividades e o modo de operação da Aliança.

O Operativo (Chiwetel Ejiofor) – Personagem que não existe no seriado, é sua a missão de caçar a Serenity e recobrar a guarda de River Tam. Um frio assassino que não mede esforços nem questiona a moral dos seus atos para atingir seus objetivos.

::: A Crítica – O senhor Isaac Asimov, um dos mais emblemáticos divulgadores da ciência e da literatura mundial (sendo ele mesmo um escritor com mais de 500 obras completas!) propôs o seguinte tratado: “O escritor deve ser guiado apenas por sua imaginação. Com esta ferramenta, ele pode até mesmo recriar as leis que regem o universo, desde que seu leitor esteja a par dessas mudanças. E essa é a maior das regras: nunca engane seu leitor”. Bem, pode ser até uma divagação desnecessária, já que falamos num filme de longa metragem para o “terrível” cinema “comercial” americano… mas achei interessante citá-la para melhor clareza do que eu queria conversar. E também pra dar uma idéia da impressão que tive de “Serenity” e do respeito que agora eu tenho por seu criador, Joss Whedon.

Whedon nunca me despertou muito interesse. Apesar de já aclamado por fãs do mundo todo como criador das series Buffy e Angel, acho que o único contato que tive com seu material foi em Toy Story e Alien: A Ressureição (que é outro filme que precisa ser redescoberto e – acho eu – onde começou toda a idéia para “Firefly”) antes dele topar o cargo de roteirista da nova revista The Astonishing X-Men. Confesso também: o que me chamou a atenção para esta foram os desenhos do maior FDP das HQs, John Cassaday. Mas isso é outra história.

O fato é que “Astonishing” é a melhor X-magazine que boto os olhos nos últimos, sei lá, vinte anos. Melhor que a fase Morrison. Melhor até que muita coisa surgida na fase Byrne/Claremont: a crescente tensão entre os membros do grupo, sem abrir mão da ação desenfreada e das preocupações a respeito do futuro da raça mutante e do seu lugar no planeta, junto aos diálogos mais descolados que já li em X-Men… Num tempo em que os malditos leitores americanos parecem preferir as musculosas mulheres de Rob Liefeld, juro que não esperava mais ter tanto prazer ao ler uma revista dos mutantes da Marvel. E foi o que me levou a pensar: “Ah, droga. O que mais estou perdendo desse cara?”.

E foi por aí que tive o primeiro contato com “Firefly” (2002), o seriado misto de ficção cientifica com faroeste sobre a colonização espacial forçosamente empreendida pela raça humana – já que a Terra está morrendo após séculos de total descaso com a saúde do planeta… e que também fiquei sabendo do cancelamento do seriado após apenas 15 episódios. É verdade que fiquei desapontado, mas nada muito surpreso: nesses tempos de governo pós-Bush, a salvação do planeta ou do homem em detrimento do lucro rápido e fácil não parece ser o tipo de situação que prenderia o consumidor de Sex And The City à frente do televisor. E aqui começa a minha briga: por mais que eu me esforce, não consigo entender o público americano. Ano após ano, somos massacrados por bobagens competindo por ser o “filme idiota mais visto da temporada”, enquanto filmes com abordagens diferentes e interessantes são jogados à obscuridade – salvo um e outro que ganha nova chance de vida no mercado caseiro. Posto tudo isso, qual é o problema com “Serenity”? O filme, que recebeu ótimas críticas das revistas e sites especializados, arrecadou pouco menos do que seu modesto orçamento (cerca de 45 milhões de dólares) nos cinemas ao redor do mundo. Como explicar toda essa indiferença por parte da audiência, num ano em que o campeão das bilheterias foi um filme com temática semelhante?

“Serenity” não é “Star Wars”, mas existem gritantes referências aos filmes de George Lucas aqui: o Capitão Malcolm Reynolds (personificado com gosto e alma por Nathan Fillion) é uma escancarada homenagem ao Capitão Han Solo que aparecia no filme original de 1977. Solo, contrabandista de certa fama, era um tremendo vigarista: quando em aperto, não hesitava em largar a mercadoria que estivesse transportando para se safar de um perigo. Quase sempre o escolhido dos fãs, quando perguntados sobre seu personagem favorito na série, é realmente uma figura cativante, e não pra menos: Solo é uma pessoa de verdade, sendo o mais acessível de toda a galeria criada por Lucas. Tem milhares de defeitos, é rude, ranzinza (chato até) e nem mesmo acredita na tal “Força que a tudo envolve”, preferindo a companhia de uma pistola que nunca hesitou em usar caso lhe fosse dada à oportunidade…

Quem conhece “Star Wars” já percebeu aonde eu quero chegar.

Reynolds é uma pessoa bem desagradável. Não hesita em chutar para fora de seu bólido um caronista que atrapalhe uma fuga. Ao passo de que Lucas busque por saídas simplórias ao querer evitar o choque de um potencial público alvo, indo por vezes ao absurdo de negar a natureza de seus personagens (se você não concorda com o isso, fique a vontade para discordar. Mas não fui eu quem violentou Solo numa das mudanças mais absurdas já realizadas num filme… preciso dizer do que se trata?) para Malcolm não há redenção: Whedon lhe propõe uma vida indigna, longe de casa e do amor. É uma pessoa embrutecida pela guerra, que lamenta a perda de entes queridos e os erros que poderiam mudar os rumos do conflito. Sua nave é um grande ferro-velho, mas que precisa ser mantido a todo custo, junto a uma tripulação de comparsas briguentos, sempre a mingua de qualquer ocupação que lhes garanta o sustento do dia.

E é aí que começa a quebra entre as duas mitologias: “Serenity” quase não aposta no fantástico. Não existem aliens de seis braços, nem sons de explosões em pleno espaço sideral ou centelhas de uma força salvadora: há apenas pessoas. Pessoas e o que elas fazem para continuar sua luta, sempre em atrito com o que consideramos certo e errado, tomando decisões todos os dias e tendo de conviver com as responsabilidades advindas delas. Mais do que imitar a fórmula de Lucas em “Star Wars”, o que Whedon faz é dar a ela um sentido quase crível em nossa realidade. O “mal” também existe aqui, mas ele é extremamente familiar: os planos da “Aliança” não são diferentes das ações da maioria dos burocratas e políticos de gabinete: é menos complicado destruir toda a cultura e vontade própria de um povo do que abrigar seus problemas, ajudar com soluções e semear a tolerância. “Se der certo, faturamos. Se não, escondemos”. Típicos pensamentos dos que estão no poder.

Perfeito, o filme não é: ficaria interessante o esclarecimento de alguns detalhes. Aparentemente, as culturas oriental e ocidental (predominantemente, norte-americana e chinesa) se fundiram ao longo dos séculos no universo do filme: alguns detalhes interessantes, como painéis de vídeo com caracteres em mandarim, o nome de alguns personagens e até xingamentos, expressos nessa linguagem, levam a crer isso. Também é sutil e efetivo: eles não são entendidos, mas os palavrões estão lá! E algo também sobre a função da personagem Inara Serra: foi necessária alguma pesquisa pra descobrir qual é a sua real função na trama. Pode soar injusto, mas é o preço a pagar pela pretensão do filme: resumir bem uma trama tão complexa em duas horas seria heróico, mas não chega a atrapalhar o entendimento e a diversão. Mas quem me mandou não ter visto o seriado em sua época, né?

O fracasso em terras americanas decretou o cancelamento das duas continuações programadas para o filme. É realmente muito triste saber que não poderemos ver a conclusão para as aventuras do “Serenity”. O que fica (pra mim) da pequena aventura espacial de Whedon é o trabalho vigoroso de um criador habilidoso e versátil, e que entende o que as pessoas são: tentativas e acertos da sorte, procurando amor, comida e um lugar para descanso, ao mesmo tempo em que tem de lutar e sobreviver para isso. Enquanto grandes produções se enterram na própria mediocridade, apoiadas por campanhas de marketing monstruosas, pequenas histórias como essa ficarão em segundo plano. Pra quem busca esse tipo de entretenimento como puro escape, ótimo! Mas, num tempo em que os estúdios investem cada vez menos em histórias corajosas e em pessoas de talento, será do tipo de trabalho cada vez mais raro.

Serenity: A Luta Pelo Amanhã (ah, esses nomes nacionais…) estará nas locadoras brasileiras a partir de 26 de Abril de 2006.

:: ALGUMAS CURIOSIDADES:

– Firefly é o nome da classe de cargueiros ao qual a Serenity pertence. O nome vem do seu aspecto, similar ao de um vaga-lume (firefly, em inglês) e foi trocado para não confundirem o filme com a série de TV;

– A atriz Morena Baccarin (que interpreta a personagem Inara Serra) é brasileira, nascida na cidade do Rio de Janeiro e um dos nomes mais comentados para ser a Mulher-Maravilha no filme escrito e dirigido por Joss Whedon. No que depender de mim, está dentro: ela é mesmo maravilhosa;

– Em determinado momento, Malcolm faz menção a um poema sobre a morte de um albatroz, executado sem motivo algum por um marinheiro. Esse poema é “A Balada do Velho Marinheiro”, de autoria de Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês do século 18 que foi grande influência na obra de nomes importantes na poesia do próximo século, como Lord Byron e Percy Shelley;

– A frase usada pelo Dr. Simon Tam para colocar River para dormir é: “Eta Kooram Nah Smech!” Em russo, esse palavrão todo significa: “Isto é muito ridículo!”;

– “Nee TZAO ss-MA? Nee-YOW wuh-KAI CHANG?”. Isso é (acho) chinês, e é o que grita Malcolm para o Dr. Simon, após levar uma tremenda muquetada. Segundo eu pude apurar, significa algo como: “Quer levar um tiro? Quer levar uma bala bem na p**** da sua boca?” A resposta do doutor é de mais fácil identificação;

– O comercial de TV que River assiste só pôde ser visto inteiramente na versão americana do DVD. Segundo Joss Whedon, a grande inspiração para o conceito deste filme publicitário é o anuncio do “Mr. Sparkle”, que apareceu no episódio “Em Marge Nós Confiamos”, do hiper-cult desenho animado Os Simpsons.

:: Enquanto o DVD não chega ao Brasil, aproveite para levar para casa a espetacular trilha sonora de SERENITY!

Serenity – A Luta Pelo Amanhã (Título Original: Serenity) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos / Direção e Roteiro: Joss Whedon / Elenco: Nathan Fillion, Gina Torres, Alan Tudyk, Morena Baccarin, Adam Baldwin, Sean Maher, Summer Glau, Chiwetel Ejiofor, David Krumholtz / Duração: 119 minutos.


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