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Artigo adicionado em 24/02/2006, às 02:31

AEON FLUX: isso é que dá tentar vender underground para a massa
O estiloso desenho da MTV perde toda a graça para poder entrar no circuito oficial Vamos do começo: você conhece Aeon Flux? Um dos primeiros desenhos animados que a MTV produziu para sua programação, e que foi criado pelo animador Peter Cheung? Chegou a passar aqui no Brasil durante um tempo, e a série chamava […]

Por
Paulo "Fanboy" Martini


Vamos do começo: você conhece Aeon Flux? Um dos primeiros desenhos animados que a MTV produziu para sua programação, e que foi criado pelo animador Peter Cheung? Chegou a passar aqui no Brasil durante um tempo, e a série chamava a atenção principalmente pelo seu visual bizarro, composto de personagens longuilíneos e de tomadas de câmera impossíveis (como a famosa cena do beijo, onde a câmera parecia estar grudada em um dos dentes, pegando toda a ação das línguas se esfregando).

Lembrou? Não? Uma outra dica: os primeiros curtas da personagem passaram naquele programa experimental da Emetevê, o Liquid Television, e a personagem principal que dá nome à série, sempre usando uma roupa meio sadomasô preta, sempre morria no final, em um comportamento antecessor à outra figura animada que sempre dá um jeitinho de bater as botas no final de cada episódio de South Park, Kenny.

E agora? Nada? Bom, eu entendo: Aeon Flux não é um desenho para qualquer um. Seu estilo visual, sua narrativa, questionamentos sobre guerra e futilidades, sobre civilação e política, nada era linear, nada fazia muito sentido. Ou fazia? O que importa é: o desenho animado nunca foi feito para agradar às massas, atingindo muito mais aqueles que se amarravam em histórias de ficção da revista Heavy Metal. E eu quero deixar muito claro que isso não é uma crítica, não, muito pelo contrário! ^_^ Mas é fato que você não poderia colocar qualquer moleque que goste de animê, por exemplo, e esperar que ele ADORASSE essa animação da MTV.

E aí que entram os produtores de Hollywood, sem mais nenhuma criatividade (tipo a Record, sabe?), tentam pegar um produto cult por natureza e “adaptar” para o público pipoca. Pelo menos com Constantine os produtores conseguiram desenvolver um filme divertido pacas, mesmo detonando todo o conceito original dos quadrinhos. Pena que em “Aeon Flux”, que estréia nessa sexta-feira, 24, isso não aconteça.

No desenho, a história de Aeon Flux é um grande mistério. Pouco se sabe sobre seus objetivos e seu alvo, o inimigo/amante Trevor Goodchild, regente de Bregna, a cidade utópica. Quem ele é? O que ele quer fazer com tantos experimentos? Como tudo aconteceu? Nada. Zip. Zero. Já no filme, tudo ganha um sentido, depois de uma mega-adaptação de diversos temas recorrentes no desenho: em 2011, um vírus conseguiu dizimar 99% da população mundial. Os poucos que sobreviveram – depois de achada a cura – conseguiram criar uma cidade isolada do resto do mundo, conhecida como Bregna. 400 anos depois, em 2411, essa cidade se tornou uma utopia, um paraíso na Terra. Mas, como toda boa perfeição, há sempre algo podre por trás. Liberdade, boa vida, tudo é fachada para um controle total sobre a população, e com regras severas. Aeon Flux (Charlize Theron, de Terra Fria), é uma agente do grupo rebelde Monica, com apenas um objetivo: matar Trevor Goodchild, um descendente da família que ajudou a desenvolver a cura para o vírus mortal e que rege Bregna há 400 anos.

Qual o problema do filme? Pode escolher: síndrome do politicamente corrento, falta de criatividade, transformar a película numa diversão família… eu poderia passar horas soltando uns adjetivos bacanas. Para resumir a questão, tudo o que fazia de Aeon Flux uma história interessante – o mistério, o visual, a narrativa – foi deixada de lado. O que sobrou foi só o bagaço, com atores de calibre como Charlize Theron, Frances McDormand (que interpreta a líder monicana, Handler) e Pete Postlethwaite (o Keeper) desperdiçados, um visual que não inspira, uma trilha sonora fraquíssima de Graeme Revell, cenas de ação insossas, uma edição cansativa e uma direção mole de Karyn Kusama. E olha que o roteiro até que tinha idéias boas, viu?

Traduzindo? Se você quiser ir, beleza. Mas não diga que eu não avisei.

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– Charlize Theron chegou a machucar seriamente o pescoço enquanto tentava fazer uma das muitas acrobacias do filme. A produção do filme chegou a parar durante um mês. Quando se recuperou, a atriz ainda insistiu em fazer as próprias sequências de ação, mesmo com seu contrato contendo uma cláusula para uso de dublês. Tem gente que não aprende mesmo, né? ^_^

– De qualquer maneira, Theron foi treinada pelos melhores: trapolim, por exemplo, ela teve como tutor Terry Bartlett, vindo direto do Cirque du Soleil.

– A atriz Michelle Rodriguez foi originalmente escolhida para interpretar Aeon Flux quando o filme foi anunciado oficialmente em 2003.

– E alguém quer me explicar de onde surgiu aquela gracinha da Amelia Warner, que interpreta a irmã de Aeon, Una? Que fofura… 🙂

Aeon Flux (Título Original: idem) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos / Direção: Karyn Kusama / Roteiro: Phil Hay e Matt Manfredi / Baseado no desenho animado “Aeon Flux”, de Peter Chung / Elenco: Charlize Theron, Marton Csokas, Frances McDormand, Pete Postlethwaite, Jonny Lee Miller, Sophie Okonedo / Duração: 93 minutos.


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