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Antes de qualquer coisa, devo dizer algo: já não era sem tempo! Depois de mais de um ano de atraso e incerteza, finalmente estréia em solo brazuca O Assassinato de Richard Nixon (The Assassination of Richard Nixon, 2004), drama independente escrito e dirigido pelo estreante Niels Mueller. Digo isto porque a fita, embora faça parte daquela inglória categoria de “filmes-que-quase-ninguém-viu”, é bastante elogiada por quem já pôde conferir. Motivos para isto não faltam, e eu pelo menos tenho duas grandes razões para querer até uma cópia desta coisinha na minha prateleira: Sean Penn (eu adoro este sujeito!), e sobretudo Naomi Watts… ai, ai… 😉
Mas bora lá falar do filme. Bem, depois de conferir “O Assassinato de Richard Nixon” (filmaço, por sinal), não é mesmo difícil entender por qual causa, razão, motivo ou circunstância (!) a película foi tão ignorada pelo público médio estadunidense. Não creio que, ainda à sombra do governo Bush e da comoção pós-11/9, os norte-americanos estejam preparados para apreciar um filme sobre um indivíduo revoltado com o “sistema”, que acredita que a morte do presidente da nação seja a única solução para seus problemas.
Entretanto, engana-se quem acha que “O Assassinato de Richard Nixon” é apenas uma sub-variação de “Clube da Luta”. Muito, muuuito longe disso. Embora carregue um pouco na subversão, na verdade, esta pequena produção está mais preocupada em expôr as mazelas de uma comunidade baseada em utopias e as frustrações dos americanos médios tidos como “fracassados”, que não desejam muita coisa além de sentir-se importantes para a sociedade. Só por isto, “O Assassinato de Richard Nixon” torna-se obrigatório! 🙂
O tal sujeitinho fracassado retratado aqui é Samuel Bicke (Penn, numa interpretação genial), um vendedor pacato, tímido e desengonçado, que vive um inferno astral em sua vida por conta da recente separação. Bicke é um homem inseguro e até mesmo um tanto bobo, que deseja tornar-se um homem de sucesso para impressionar sua quase ex-esposa Marie (Naomi Watts… de cabelos negros! Uau!) e, quem sabe, voltar para ela e para suas filhas. Só que o cara perde o emprego, e também a mulher.
Aos poucos, o indivíduo toma consciência de outros acontecimentos mundiais, como o escândalo de Watergate, o tal atentado que se tornou uma das primeiras manifestações abertas de terrorismo, os vestígios da guerra do Vietnã (a ação do longa ocorre em 1974)… Desorientado, sem um tostão furado no bolso e sem ter pra onde correr, chega à conclusão de que o grande responsável por seu infortúnio e também pelos grandes males do planeta é o governo dos Estados Unidos. Para sanar a questão, planeja o seqüestro de um avião com a finalidade de assassinar o então presidente dos EUA, Richard Nixon.
Como todos podem ver, o enredo de “O Assassinato de Richard Nixon” possui uma notável conotação política. Não é este lado, entretanto, que a fita quer evidenciar. O verdadeiro foco do competente roteiro é o dilema moral (ou a falta dele) de Bicke, um homem à margem da sociedade, tão desesperado para sentir-se aceitopor ela que não hesita em tomar atitudes drásticas para cumprir seu objetivo e, acima de tudo, sentir-se amado. Grande parte do sucesso de “Nixon” se deve à excelente atuação de Sean Penn (cuja última aparição nas telonas se deu em A Intérprete). O sutil e comedido trabalho de Penn não deixa o personagem cair no estereótipo: ele é apenas uma pessoa normal, desesperada por atenção e sem a menor idéia do que fazer para atingir seus objetivos, sendo forçado a partir para o caminho da violência. Não é difícil o espectador entender e até aceitar as atitudes do protagonista.
Mais que apenas um trabalho de ator, no entanto, é um trabalho de roteiro. “O Assassinato de Richard Nixon” é um filme simples, intimista, quase verborrágico, com o poder concentrado nas palavras ao contrário da ação propriamente dita, mas que não deixa de ser chocante, trágico e triste, demasiadamente triste no retrato de um homem comum, como tantos por aí, que finalmente enfrenta o fato de que é apenas mais um no mundo. Vale cada centavo do ingresso, numa boa. 😉
E tem a Naomi Watts! Se a Naomi está no elenco, nada mais importa! Yeah! Ai, ai… 😀
:: ALGUMAS CURIOSIDADES
– A primeira versão do roteiro de “O Assassinato de Richard Nixon”, que era bem diferente da versão final, foi concebido como uma trama ficcional. Mais tarde, o roteirista Kevin Kennedy descobriu que Nixon realmente passou por um atentado, e reescreveu o script com base nas informações reais.
– Sean Penn comprometeu-se a viver o personagem central do longa nada menos que seis anos (!) antes de o projeto ser viabilizado. Penn e Naomi Watts trabalharam juntos pela primeira vez em 21 Gramas, de Alejandro González Iñarritú.
– “O Assassinato de Richard Nixon” rendeu menos de US$ 1 milhão em solo gringo… 🙁
– É impressão minha ou este texto ficou ENORME para os meus padrões? 😀
O Assassinato de Richard Nixon (Título original: The Assassination of Richard Nixon) / Ano: 2004 / Produção: Estados Unidos, México / Direção: Niels Mueller / Roteiro: Niels Mueller e Kevin Kennedy / Elenco: Sean Penn, Naomi Watts, Don Cheadle, Jack Thompson, Nick Searcy, Michael Wincott, Mykelti Williamson, April Grace / Duração: 95 minutos.
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